Onze da noite, cólica, indisposição, fim de gripe e o meu nome em uma lista do show da Gretchen… É impressionante como a solterice atrai o nada e o bizarro. Não existe meio termo. Ou você mofa no sofá de casa durante dias, ou vai parar nos lugares mais sinistros. É o fim dos programas lights com namorado a tiracolo, amigos casados e papo furado regado a rodízio de pizza e promoções de churrascaria. Ai, ai… saudade. Eu nasci pra casar. Acho… Não gosto de ser solteira. Não gosto da superficialidade dos encontros atuais, não gosto de gente que beija na boca sem gostar do que sai pela boca.
Quando vi que eu passaria a noite jogada na cama e olhando para o teto, tomei coragem e decidi encarar o raio do show. Levantei da cama, tomei banho, fiz uns birotinhos no cabelo pra ver se ele ganhava alguma forma, procurei uma roupa vestida-pra-matar e quase morri de tédio ao me deparar com uma década de roupas bege-senhora que dominavam o meu guarda-roupa. Casar é bom, mas é quase impossível controlar o cheiro de naftalina.
Meus peitos foram a minha salvação. Meus peitos, não. Uma compra milagrosa de lingerie que, por sorte, eu havia feito. Adoro esses novos sutiãs que levantam até os ovários da gente. Decotão, batom, brincos, o preto-nosso-de-cada-noite e lá estava eu, num desses lugares detestáveis do Itaim, esperando a Bunda dos anos oitenta entrar em ação… Aliás, o que não faltava ali eram bundas. Bundas em bandos! Montes de mulheres em grupos fechados. Todas com um copo na mão e ovários erguidos dentro de decotes muito mais atualizados do que os meus.
Fui obrigada a beber – era um problema de equilíbrio. Uma dose e meia depois e lá estava eu dançando (dançando! Quem diria?) com as pérolas dos anos oitenta e achando a pombajira da Gretchen o máximo. Fazia tempo que não me divertia tanto… Mas, mesmo assim, voltei pra casa assim que acabou o show de três músicas da moçoila. Não deu vontade de ficar para o resto da festa trash. É a vantagem dos trinta anos: o desespero por diversão deixa de existir. Conferi minha cara em um dos espelhos gigantes do lugar, sorri pra mim mesma um sorriso de satisfação, passei a mão pela testa suada, peguei minha bolsa na chapelaria e senti uma mão deslizar pela minha cintura…
– Tá acompanhada, linda?
Virei o corpo pra conferir se a cantada era verdadeira, dei um suspiro leve tentando me recompor da surpresa de ser cortejada depois de tantos anos casada e, com um sorriso sincero nos lábios, menti com a naturalidade de uma senhora disposta a encarar o futuro:
– Estou… Desculpe.
A loira (muito bonita, para informação de vocês) sorriu de volta, despediu-se com um “que pena” e voltou pra pista de dança. Eu? Eu realmente me senti lisonjeada. É bom saber que se eu mudar de time, serei bem aceita do outro lado. Lisonjeada, mas fui dormir com meu travesseiro… Dormir e sonhar com o Sidney Magal e o Rick Martin do Menudo… Em situações separadas, que fique claro! Além de hetero convicta, estou cada dia mais careta. Tô frita, né? Eu vi… Vi e lembrei de uma frase que ex-maridon disse uma vez entre cerveja, maminha, coroas barrigudinhos e amigos casados: “O heterossexualismo é como o comunismo. Conceitualmente é melhor, mas historicamente nós fomos derrotados”.
Escrito pela Alê Félix
20, março, 2006
– Devo ter perdido uns cinco quilos desde que eu me separei. Dá pra acreditar? Não emagrecia nada há meses… Agora não como direito, não durmo, não nada.
– Tá reclamando do quê? Melhor do que SPA essa sua separação. Relaxa. É só uma reação sábia do seu corpo. Ele sabe que o mercado tá feio e que é bom você ficar gostosa logo se quiser voltar pra vitrine.
– Credo! Olha só como você fala… Parece até que a vida dos solteiros é um açougue onde as mulheres ficam penduradas atrás de um balcão e os homens entram e fazem seus pedidos.
– Exatamente isso. Com a diferença que hoje em dia raríssimos homens pedem uma peça inteira. Os caras ora querem uma maminha, ora carne branca, ora uma bistequinha…
– Eu não quero pensar nisso agora…
– Ótimo. Só não se deixe virar cupim novamente. Gordurinhas estão fora de moda.
O que foi que as pessoas fizeram umas com as outras nos últimos dez anos?
Escrito pela Alê Félix
14, março, 2006
Começa hoje a Bienal do Livro de São Paulo. Para quem for e quiser comprar qualquer um dos livros da Gênese (Depois que Acabou, Balde de Gelo, Malvados, Blog de Papel, Jogo do Eu, Prazer em Conhecer), basta procurá-los no estande da Siciliano.
Se você for na semana que vem e quiser marcar pra gente se encontrar e papear, me escreve para combinarmos. Estarei por lá alguns dias.
Escrito pela Alê Félix
8, março, 2006
O post “Três Mil Peças de Uma Separação” é ficção. O máximo que eu já fiz em um momento de separaçào foi arremessar uma carteira num buracão e deixar o falecido voltar a pé de Tatuí até São Paulo. Ex-maridon e eu dividiamos o mesmo carro. Ou seja, ele permanece intacto… O carro. Brincadeira. Está tudo em ordem, estamos intactos. E obrigada pelos e-mails e comentários de preocupação. Separação dói pra cacete, mas a gente sobrevive. Beijo pro cês e não me abandonem. Ando percebendo que são os amigos (novos e velhos amigos) que nos salvam nessas horas. E eu esqueci dos meus nos últimos anos…
Escrito pela Alê Félix
8, março, 2006
Talvez porque em Brasília seja possível tocar o céu com os pés no chão, eu voltei sorrindo…
Por enquanto o coração ainda aperta, mas me sinto mais tranquila. Aperta também de saudade quando lembro que “casa” agora é sudeste e não mais Asa Norte.
Fe, Guto, Jana, Jaque, Juju, Raquel, Wil e até a Mila (que infelizmente eu só consegui ouvir), obrigada pela companhia, ouvidos, ombros, mãos, risos, histórias, confiança, esperança e carinho dedicados antes e depois de me conhecerem.
Espero que nas próximas eu consiga ver a Mila, Kriscia, Alexandre, Rebecca, Gustavo, Felipe e o Lourenço. Volto logo. 😉
Escrito pela Alê Félix
4, março, 2006
Aí a minha vida virou de ponta cabeça pela milionésima vez e todos os planos de carnaval viraram junto. É sempre assim… Parece que todas as mudanças começam em fevereiro.
Não durmo direito há uma semana. Já tomei de tudo: passiflora, naldecon-noite, chá de pimenta do reino, até rezar eu tenho experimentado e nada. Pra piorar, inventei de ficar saltando arquibancada no raio do show do U2 e minhas pernas ficarão tão destruídas que me deixaram com o andar daquela velhinha surda do A Praça é Nossa. Ainda existe esse programa? Céus, eu tô velha… E devo estar pagando pela pior crise da meia-idade que uma mulher poderia pagar. Sim, crise da meia idade, sim! Ou você acha que eu passo dos sessenta sendo portadora desse coração idiota?
Preciso dormir… Dormir e acordar daqui a pouco pra vestir aquela fantasia-mico e fingir pra mim mesma que ficarei bem. Ok, ok… Posso ser dramática, trágica ou o que for. É só o que eu sinto. E infelizmente, quando eu sinto, não existe futuro. Futuro… Bah!
A Vai-Vai sairá as cinco e quarenta da manhã. Daqui a pouco… Ainda bem que deu tempo de desistir da Viradouro. O Rio ficará para o ano que vem… Ou pra nunca mais, sei lá. Vou sair na ala Os Kilombos (Trabalhadores Negreiros), uma das últimas alas da Vai-Vai. Devo chegar em casa umas nove da manhã, rezar para dormir, acordar, montes de coisas pra resolver antes que anoiteça, um casório, dormir de novo e esperar amanhecer domingo.
Pego um avião para Brasília domingo de manhã… E espero de coração encontrar amigos dispostos a me ajudarem a tomar um bom porre. Já que eu não posso com meus problemas, vou comemorá-los. Ou chorá-los… Que seja. Dá tudo na mesma quando há um final.
Pra quem for de Brasília e quiser sair pra falar bobagem e bebericar a vida, me escreva no alefelix@gmail.com que a gente combina. Vou pegar e-mails nesse endereço nos próximos dias.
Fui. Volto na quarta. Ou, de repente, se me abandonarem em Brasília, escrevo de algum cyber-café de lá.
Escrito pela Alê Félix
24, fevereiro, 2006
Acabei de descobrir que não adianta nada realizar uma lista de desejos quando não se é capaz de perceber o tanto que a vida já deu. Tô tentando abrir os olhos…
Estava zapeando a TV e parei numa cena onde perguntavam para uma garota o que ela julgava mais importante: fé, amor ou esperança. Deu falha de energia, a luz piscou, a TV desligou, ligou de novo e eu perdi a resposta. Quando o filme voltou, não conseguia mais prestar atenção em nada porque precisava chorar um pouco minha falta de fé, esperança… O filme acabou sem que eu ao menos soubesse do que se tratava. Acho que deixei a TV ligada só para as vozes dos locutores me fazerem companhia.
Quero meu blog diário de volta… Queria escrever confidências e ler comentários que me fizessem sentir amparada. Era bom ter desconhecidos que faziam eu me sentir menos sozinha, era bom. Como é que se volta? Alguém aí mora em Brasília? Tô pensando em chorar o pós-carnaval em algum lugar sem esquinas, samba, nossa tristeza senhora e registros de saudade.
Escrito pela Alê Félix
21, fevereiro, 2006
Tenho dois ingressos para o show do U2 – dia 20. Será que alguém aí tem dois ingressos para o dia 21 e toparia trocar comigo?
Escrito pela Alê Félix
16, fevereiro, 2006