Eles quase me convenceram, mas não será fácil assim. Eu ainda acho que sou outra coisa. 🙂



Escrito pela Alê Félix
28, janeiro, 2007
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Dia desses Ane me escreve, meio triste, falando sobre a morte da Meg. Meg, para quem não sabe, era (ou é, sabe se lá…) uma das blogueiras populares da velha-guarda. É engraçado falar assim… Vocês sabiam que já existem blogs famosos da nova geração? Pois é… Eu, que ando de férias por esse mundão de meu deus, estava desatualizada. Conheci um tal de Jacaré Banguela esses dias que é engraçadissimo e tem trocentas mil visitas. Nunca tinha ouvido falar. Só soube porque os louros da época da velha-guarda me renderam um convite bacanão na Fox Filmes. Lá – em uma sala meio de cinema, meio de reunião – foi feito um encontro onde a velha-guarda e a nova geração se uniram para assistir Eragon e encher a cara de bolinhas de queijo e coca-cola diet. Uma beleza. Tanto o filme quanto os risoles e os papos nerds que rolaram na mercedona que deixou blog por blog em suas devidas residências.
Adoro essa fase de vagabundagem juvenil que estou vivendo… Deus permita que eu viva assim pra sempre e me torne a última assombração blogueira. E que, se for pra morrer, seja em um acidente aéreo que é morte rápida e ainda gera visitas pra cacete. Google Adwords para meus herdeiros já está de bom tamanho. Sim! Falando em assombração, foi essa a minha resposta para o e-mail da minha querida amiga Ane.
A verdade é uma só: se eu não vejo o blogueiro, não acredito em seu blog. Se eu que sou um tremendo arroz de festa no babado, vivo enganando vocês por aqui, imagine o que já fez dona Meg que nunca ninguém viu mais gorda??
Um passarinho me contou uma vez que ela tinha um problema de saúde grave e que sofria muito com isso. Então, se morreu, foi com deus. Ninguém devia ficar muito triste quando alguém doente morre. É foda ficar doente. Ficar doente dói, sabia? Querer que alguém doente viva muito tempo é de um egoismo fora do comum. Se tiver chance de cura e não doer, ok. Caso contrário, reze pra figura ir em paz.
Não sei se era o caso da Meg, mas se ela e a doença existiam de verdade, tomara mesmo que tenha morrido. Adoro a idéia de que ela é a nossa primeira assombração blogueira. Espero que em algum lugar do além ela esteja tentando invadir o micro de quem não fez um post-solene sobre sua partida. Se não morreu, espero que vocês todos lembrem disso e não venham me encher o saco quando eu me matar nos meus primeiro-de-abril. Blogueiro bom tem problema. Seja lá qual era o da Meg, ela mandou bem.



Escrito pela Alê Félix
26, janeiro, 2007
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– Vontade de comer camarão…
– Vontade de comer camarão, em Florianópolis.
– Aquela sua ex-namorada não era de lá?
– Era.
– Não era ela que você dizia que era feia de cara, mas boa de parréco e de remelexo?
– Era. Mas, mesmo assim, tinha horas que eu preferia o camarão.
– Querido, na boa, você é meu amigo e eu gosto muito de você, mas… Você tem certeza que gosta de mulher?
– Adoro…
– “Adoro” é uma resposta meio gay… Tipo: “maravilhosa”, sabe?
– Não.
– Hum… Enfim. Às vezes, só às vezes, quando você diz coisas assim, eu tenho dúvidas.
– Eu gosto de verdade. Tanto que se mulheres custassem sessenta reais e viessem em seqüência, seriam melhores do que o camarão de Floripa.
– Ok, resposta completamente hetero.
– Mas é só por isso mesmo! Vinha um prato com três tipos diferentes, custava sessenta mangos e não tentava me foder em algumas horas.
– Hum… Sei. Vai ver o seu fetiche é jogar a cabeça fora.



Escrito pela Alê Félix
22, janeiro, 2007
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– Tô precisando cair na gandaia. Forte, sabe? Dessas de esquecer da vida, dos compromissos…
– Vai. Se manda. Eu fico com o moleque…
– Sério?
– Não pergunta duas vezes. Viiii, arruma suas coisas. Você vai dormir lá em casa.
– Vou mãe??
– Corre. Antes que sua tia mude de idéia.
– Tia, você vai mudar de idéia?
– Em cinco minutos! Corre ligeiro, senão já era. Vai! Tá esperando o quê?
– Tá certo… Você nunca fica com seu sobrinho mesmo.
– Com chantagem emocional, rapidinho a irmã legal se transformará em uma babá cara. Nem começa!
– Corre, Viiii!
– Tô pronto!
– Ótimo. Dá tchau pra sua mãe e vambora pra farra!
Meia hora depois, no carro, com um fedelho de cinco anos que é sangue do meu sangue, carma do meu carma…
– McDonald’s, nem pensar! Eu conheço uma lanchonete que vende um hambúrguer delicioso e super saudável. Quase comida vegetariana. Esqueça comer porcaria esse fim de semana. E depois nós vamos no circo. Esqueça também o video game!
– Ahhhhh, tiaaaaa! Eu não gosto de circo! Eu quero ir no Mc!
– Não! Você não pode ser assim. Nem tudo tem que ser do jeito que você quer, sabia?
– Mas eu quero ir no Mc!
– Você precisa se abrir para novidades. Não quer conhecer lugares novos? Gente nova? Não quer conhecer o mundo?
– Não.
– Eu gosto de conhecer o mundo!
– Eu não gosto.
– Mas devia!
– Você gosta de conhecer o mundo e eu não gosto. Nem tudo tem que ser do jeito que você quer!
Deus do céu que crianças chatas essas de hoje em dia… Isso que dá ensinarem esses pivetes a respeitarem as diferenças. Grunf. Respeitar as diferenças uma ova!
– Vamos fazer assim: um pouco do seu jeito e um pouco do meu. Vamos no Mc e depois no circo. O que você acha?
– Não. Sö no Mc.
– E que tal voltarmos pra sua casa e adeus fim de semana de farra com a sua tia? Hein? Hein?
– …
Chatice… A tática dos meu avós era muito menos desgastante. Se ele folgar, na próxima usarei o “cala boca, moleque!”.
Ai, ai… Democracia o escambau, o que funciona é uma monarquia do bem. Mas na boa… Só três dias… Será que eu aguento ser uma rainha boazinha? Na dúvida, melhor mostrar o video da havaiana de pau pra criança. Pode ser um bom aviso.



Escrito pela Alê Félix
20, janeiro, 2007
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– Pobre é mesmo uma coisa tonta! A mulher morre no desabamento do metrô , os responsáveis pagam o enterro e, mesmo assim, a galera enterra a coitada no cemitério de Santo Amaro. Por que não enterraram em um cemitério bacanão? Era a chance que ela tinha de subir na vida… Morar em bairro de rico…
– Já morreu!! Que diferença faz??
– E vai ver é onde os familiares estão enterrados…
– Vixe, é verdade… Família se enterra junto. Deus do céu, se eu morrer vão querer me enterrar naquele cemitério horroroso do São Luis… Os dois únicos enterrados da minha família foram parar lá. Nunca pensei nisso…
– Como assim “os dois únicos enterrados”?? E o resto que morreu? O que foi feito deles?
– Não teve “resto que morreu”. Ninguém morre na minha família.
– Como assim se você acabou de dizer que dois morreram??
– Eram casados com gente da família, não tinham sangue de dondorô.
– Don-do-o-quê??
– Dondorô… Gente que envelhece até um ponto e pára. Fica meio velha pra sempre e não morre nunca.
– Então porque você está preocupada com o lugar que será enterrada, se você acha que é uma don-do-rê!?
– DON-DO-RÔ! Tô contando com o azar, né cabeçuda!?
– Dá pra vocês duas pararem com o papo de gente louca?? E você, avisa logo onde quer ser enterrada!
– Ai… Não sei. E agora? No São Luis não quero, não. Aquele lugar é horrível! Só tem pobre, bandido e indigente. Nem estátua tem! Uma ou outra lápide e, ainda assim, com erros de português e sem graminha aparada.
– Que diferença faz, criatura?
– Eu, hein! Vai que a gente morre e tem que conviver com o resto dos enterrados do local?
– É… Morrer é entrar para a Turma do Penadinho.



Escrito pela Alê Félix
16, janeiro, 2007
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– Cadê o bebezinho da mamãe? Cadê?
– Pára de tratar o menino como se fosse bebê! Ele já tem cinco anos. Não quero meu filho um mimado.
– Vem no colo da vovó que daqui a pouco vamos viajar.
– E vai ser uma viagem linda! O vovô vai te mostrar a cidade onde seu pai nasceu, a praça onde brincávamos quando ele tinha a sua idade…
– Ah, nem acredito que vamos viajar!
– Adoro viajar!
– Planejei essa viagem há anos!
– Quatro horas de carro olhando as paisagens, a vista da serra…
– Curtiremos muito essa viagem!
– E vai ser a primeira viagem do filhinho da mamãe, né?
Ligaram o carro e partiram. Uma hora depois…
– Mãe, já chegamos?
– Não filho. Ainda não.
Duas horas depois…
– Chegou?
– Não ainda, não.
Três horas depois…
– Falta muito?
– Só mais um pouquinho.
Quatro horas depois…
– Chegamos!
– Ai minhas costas…
– Não vejo a hora de tomar um banho, dormir e acordar bem cedo.
– Cadê? Mãe, cadê?
– Cadê o que filho?
– Onde está a viagem??



Escrito pela Alê Félix
15, janeiro, 2007
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Escrito pela Alê Félix
14, janeiro, 2007
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– Por que você viaja tanto?
– Pra imaginar quem eu seria se tivesse nascido em outro lugar.
– E quem você seria se tivesse nascido aqui?
– Provavelmente, a menina sorridente que vive dentro desses seus olhos…
– Ela é uma menina bonita…
– Hum… Adoro esse lugar, essa cachoeira…
– Gosto que você goste.
– Podiam plantar mais girassóis por ali…
– Você bem que podia ser a menina sorridente dos meus olhos com mais frequência, não acha?
– … E o que eu faço com meu medo?
– Do que você tem medo?
– De cair… De você finalmente perceber que vivo distante e tentando me agarrar ao meu pouco tempo.
– Você não vai cair.
– Como pode ter tantas certezas?
– Não são tantas, só uma.
– Eu também tenho uma.
– A sua é a do fim, a de que tudo vai sempre acabar e dar errado. Não vale.
– E a sua qual é?
– A do começo.
– Que começo?
– O começo do nosso começo, Alê… Quer casar comigo lá na catedral?
– 🙂 Agora?
– Agora não dá porque você mora longe. Mas se você quiser de verdade ser a menina que mora nos meus olhos, podemos casar assim que o seu coração couber numa mochila e você conseguir arrastá-lo pra cá.
– Meu coração não vive mais tão longe… Só meu corpo.
– Você escolheu nascer lá, esqueceu?
– Será que a gente escolhe isso? Será que alguém escolhe nascer duas quadras de terra depois da porteira que dá pra essa cachoeira ao invés de nascer a duas quadras da praia de Copacabana?
– Quando eu era pequeno dizia que tinha nascido lá na catedral…
– Ela é linda… Acho que foi a única igreja que conheci que me deixou com vontade de casar.
– Ela é a certeza do meu começo. Agora faz sentido ter escolhido nascer no único lugar que te faz pensar em casamento.
– Você ficará bem quando eu for embora?
– Conhece alguém que ficou bem depois de separar da pessoa que amava?
– Se eu for antes de você, jura pra mim que vai se esforçar pra tristeza não ser muito longa?
– Li uma frase uma vez que dizia que só sabemos o que realmente sentimos por uma pessoa quando conseguimos imaginar o que seria de nós se ela morresse. Quando li isso, pensei no que seria de mim se meus pais morressem, meus irmãos, meu melhor amigo e você.
– E?
– E espero morrer antes de você…
– Você sabe que não será assim, sabe que meus dias serão menores que os seus.
– …
– Além do mais, pessoas mais velhas morrem primeiro… 🙂
– Eu te amo… Como é que eu posso pensar em continuar sem você por perto?
– Vamos combinar uma coisa? Quando acontecer, você chora tudo o que sentir de chorar. Quando não houver mais lágrimas você vai me prometer vir até aqui, descer todas essas pedras, fechar os olhos, deixar a água cair sobre o seu corpo, lembrar de hoje e de todos os dias que ficamos esparramados olhando para este céu e voltar lá para cima para seguir em frente com a sua vida. Em frente e bem! Vai deixar qualquer tristeza aqui embaixo e subir para voltar a sorrir. Eu prometo que se houver qualquer tipo de consciência depois da morte… Se ela não for uma brincadeira de mau gosto com começo, meio e fim injustificáveis, dou um jeito de te deixar um beijo.
– Jura?
– Juro se jurar ficar bem.
– Juro.
– Hum… Na catedral?
– No dia que você quiser, no tempo que for permitido.
– Eu quero…
– Eu quero que seja para sempre.



Escrito pela Alê Félix
13, janeiro, 2007
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