Acho que minha capa equatoriana com super poderes mexe estranhamente com o universo… O Tungurahua entrou em erupção, refens foram libertadas pelas Farcs depois de anos… :-/
Governo colombiano e guerrilha das Farcs chegam a acordo humanitário
O Monte Tungurahua – um dos vulcões mais ativos do mundo – entrou em erupção… 07/01/2008
Vários povoados foram afetados pela queda de cinzas do vulcão Tungurahua, no sul do Equador, que aumentou sua atividade intensamente desde o início de dezembro… 08/01/2008
O vulcão, cujo nome em idioma quéchua significa “Garganta de Fogo”, tem 5.020 metros de altitude… 10/01/2008
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Escrito pela Alê Félix
10, janeiro, 2008
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Para os meus crueis amigos que em off, no nosso bat esconderijo, disseram que eu havia seduzido Hugo Chaves para sair da cadeia. Cês acham mesmo que do lado do presidente do Equador eu perderia meu tempo com o lelé do Huguinho? Poupem-me! 🙂
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Ju, obrigada pela dica. 😉



Escrito pela Alê Félix
8, janeiro, 2008
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Antes de viajar eu havia encanado que a Linha do Equador era um bom lugar pra fazer umas coisas diferentes, experimentar a energia, tacar um terror ou coisas assim e tal… Alguns amigos deram ideias do tipo tomar um porre e fazer o quatro do equilibrio em cima da linha, comer porquinho da india no restaurante mais proximo e dar uma banana pra droga do lugar, gritar vagina-power com o pulso direito estendido para o céu e sair correndo e coisas assim.
Como nao sou mulher de viajar e esquecer dos amigos: comi o bichinho de deus, batizei com tequila, mudei a plaquinha amarela de lugar (uma que fica bem em cima da linha mostrando as referencias de latitude e longitude) e aperfeiçoei a ideia da Gabis criando junto com a Unai (minha querida india equatoriana que me deu uma capa com super poderes em troca de uma blusa de la da Renner) a mandinga do vagina-power.
Eu nao ia dar detalhes sobre isso aqui no blog porque sou uma sujeita envergonhada (quem diz que nao sou, nao me conhece tao bem). Mas ja que a mulherada louca que le esse blog nao me da mais sossego atras dessa coisa, aí vai:
Vagina-power trata-se de um novo ritual sagrado que deve ser feito em cima da linha do Equador e com uma capa equatoriana comprada na primeira lojinha de artesanias na entrada da Ciudad Mitad del Mundo (procurar pela Unai, ela vai benzer voce e a capa antes).
Vestida de sua capa, vá para cima da linha, perna de um lado, perna do outro, respira, maos unidas ao centro… Abaixa, agacha, levanta, estica, respira, solta aos maos, balança, se balança, respira mais, estica o pulso direito para o céu e avante, e diz:
“Oh, linha que divide o hemisferio norte do hemisferio sul! Oh, linha que divide uma perna da outra perna! Oh, ventos das paixoes que sopram forte dos coraçoes as vaginas-powers… Continuem vindo em mim que nao tenho saco pra brisinha. E ergam-me agora para que eu continue voando. E a mantenham dividida, porem integra! Oh, fogo que arde em chamas e nem me queima, espalhe-me junto a ti pela terra e me reduza a cinzas somente nos braços dos homens de boa vontade, boa aparencia e boa ereçao. Amem.”.
Agora pronto. Me deixem em paz, parem de fuçar as coisas que eu escrevo nos scraps dos outros e boa mandinga do vagina-power para quem for até a linha. Ouvi dizer que tambem funciona reza-la a meia noite, em cima de uma estatua de cavalo e comendo uma fatia de melancia. Me contem se funcionar, ok? 🙂
Como eu nao tenho mais as fotos feitas em Mital del Mundo achei no google o album desse casal. Só pra voces terem uma ideia da plaquinha, da linha, de uma iniciaçao ao vagina-power, só pra eu ficar triste lembrando que perdi meu pent de memoria com um montao de fotografias legais… :-s



Escrito pela Alê Félix
7, janeiro, 2008
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As precarias condicoes dos onibus e a feira livre que sao os terminais rodoviarios no Equador sao capazes de acabar com todo o encanto que os moradores e as paisagens nos causam… É preciso ser forte e ter boa memória, caso contrario a saida é voltar correndo pra casa e beijar o piso da rodoviaria do Tiete. Fazia muito tempo que nao exercitava tanto minha paciencia. Pela primeira vez na vida tive vontade de voltar pra um lugar só pra dar uns tapas em alguem. Depois de sete horas expremida na merda de um onibus que prometia bancos reclinaveis e alguma entrada de ar, cheguei em Guayaquil.
Meus timpanos nao param mais de estalar… Acho que estao de saco cheio de escalarem montanhas e irem para o mar no dia seguinte. Ou vai ver é só a barulheira (rumbaria) que os motoristas dos onibus ouvem e obrigam os passageiros a ouvir (no ultimo volume e durante todo o percurso) para se manterem acordados (e me manter acordada!).
Nao para de chover desde que cheguei, acabou a mamata de pousadas lindas por sete dolares a diaria e entendo muito mal o espanhol-acariocado que as pessoas falam por aqui. Ainda nao consegui andar pela cidade nem dar oi as praias do Pacifico… Saudade da minha cama, acho que esta batendo o cansaco. Nao quero voltar agora. Ainda nao. Ta faltando algo e eu ainda nem sei direito o que é. 🙁



Escrito pela Alê Félix
5, janeiro, 2008
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Minha virada de ano pessoal e brasileira foi bem antes da meia noite quando encarei uma motoca (embora eu tivesse pavor de andar de motocas) e subi uma montanha pra ver melhor o tal do vulcao (ok, era um quadrones. Mesmo assim, ta!). Minha virada de ano teve fumacinha de vulcao, montao de fotos, paradas em curvas fechadas para dizer gracias e amem a tudo que tenho recebido da vida. La em cima, bem antes da meia noite, joguei no vento meus votos de felicidades para as pessoas que povoam meus pensamentos e só agradeci. Ando querendo o bem até para quem nunca me quis muito bem… Mas nao se preocupem comigo, esses acessos de amor no coracao uma hora passam e ja ja volto ao normal. Deus queira… Eu sei que boazinha sou um porre.
Por volta da meia noite a gringaiada toda da pousada se mexia para uma virada num bar de sinuca. Nao sou muito chegada a turistas e aos lugares eleitos por eles. Nao aguento aquelas carinhas alegres comprando pacotes para trenzinhos, manja? Nao que eu nao ande em trenzinhos. Minha alma brega acaba entrando nessas presepadas (sempre!) e se divertindo pra burro mesmo quando meu cerebro me empurra para as ruas onde vivem as pessoas reais. Curto passear pelas berimbocas, fotografar escondidinha, fotografar escancaradamente, conversar, conversar e conversar. Por sorte, ontem meu cerebro estava dominante e fui para as ruas mais afastadas onde festejariam os moradores de Banos…
Aqui nao se pula sete ondinhas, nao rola oferenda pra Iemanja, nao precisa usar roupa branca, nem brindar com champagne. Virada de ano pras bandas de cá é uma mistura de dia das bruxas, carnaval e festa junina. Desde Quito vinha impressionada com a quantidade de lojas vendendo mascaras e bonecos de pano. Achei que fosse mania nacional, mas era só por conta do ano novo mesmo.
Gracas a Camila (uma garotinha que brincava com velas de bolo como se fossem fogos de artificio e se encantou com a minha mascara de reveillon) conheci o significado dos rituais equatorianos e comecei o ano novo em familia. Sim, totalmente em casa…
Numa esquina familiar de Banos, a mae da Camila me explicou que eles escreviam os nomes das pessoas que desejavam o bem nos bonecos de pano para que essas recebessem boas energias e que a meia noite eles deveriam ser encendiados. Tambem deveriamos escrever em um papel as tristezas do ano anterior, tudo que quisessemos deixar para tras e depois esfregar esse papel nas cinzas… No final, pular dez vezes a fogueira nos traria forca e prosperidade.
Corri atras de um boneco, papel e caneta… Nao esqueci de ninguem que quero bem, nem mesmo de voce. Anotei no papel os medos que me assombram, minhas paixoes equivocadas, os sentimentos que nao quero mais carregar comigo e meus maus habitos. Quase perdi a virada cuidando da minha mandinga equatoriana. Pulei a fogueira dez vezes… De ladinho e com um pouco de medo de me queimar, mas pulei. E fui meio que adotada pela familia da Camila…
Passei o resto da madrugada aprendendo a dancar rumba com os tios da guria, rindo com as tias, comendo porquinho da india feito pela avó, bebendo canelaco feito pelo pai e descobrindo tradicoes equatorianas com a mae. Uma familia simples, divertida, que sorri e abre os bracos para novas amizades como se elas fossem velhas… É muito dificil nao encontrar gentileza nesse pais. Não há como não se sentir acolhido, acarinhado, em casa.
Fui embora feliz, feliz… Leve, como se algo tivesse saido do meu peito. E acho que havia muitas coisas para tirar dele, sabe? Tenho uma vida boa, só tenho o que agradecer, mas passei tantas viradas tristes nos ultimos anos que mesmo sorrindo parece que nao tenho mais como esconder algumas rugas. Tomara que realmente haja magia nos rituais indigenas, tomara que realmente minhas tristezas tenham sido deixadas para sempre naquelas cinzas.
No dia seguinte de manha, a mae da Camila passou na pousada para me dar bom dia e perguntar se eu queria conhecer o Spa que ela cuida… Benditas fogueiras! Massagem, hidratacoes, piscinas com aguas termais, jacuzzi com vista para as montanhas, jantar com amigos. Gracias… eu não sei direito porque busco respostas pelos cantos ao invés dos centros, mas é muito bom saber que apesar dos labirintos que crio, há encontros.
Indo para Guayquil amanha, depois Lima no Peru e depois só deus sabe… ou, assim espero, nem ele.



Escrito pela Alê Félix
2, janeiro, 2008
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Nao tenho o habito de me colocar em situacoes de risco nem vejo a menor graca em testar meu corpo em busca de adrenalina. Desdenho as pessoas que fazem esportes radicais e sempre achei que ha algo de suicida ou uma tristeza muito maior e mais disfarcada na alma daqueles escaladores de montanhas e outros caras que brincam de arriscar a vida em troca de uma boa vista, a desculpa de que estam protegidos com os melhores equipamentos e outras tantas que nunca me convenceram…
Comecei a viajar sozinha com quatorze anos de idade, depois de muitos argumentos e algumas mentiras que precisaram ser contadas para que meus pais liberassem minha ida para um congresso de movimento estudantil. Mais de dezesseis horas num trem ferrado e cheio de adolescentes metidos a adultos e cinco dias alojada numa universidade discutindo politica, comendo mal, dormindo bem, descobrindo quem eu era e quais seriam meus vicios prediletos. Nao suporto correr riscos, mas tambem nao suporto ficar parada vendo minha vida passar toda certinha e bonitinha igual a da cartilha que a maior parte de nós segue sem questionar, sabe? Igual a de todo mundo que nem sabe porque trabalha, para quem vive, pelo que sonha, por quem goza… Pra que uma casa propria? Por que casamos? Por que tantas compras? Pra que tanta economia? Por que é tao importante ter filhos? Por que trabalhamos com o que nao gostamos? Por que nos sujeitamos a uma vida que nao vale uma vida? Por que mentimos para nós mesmos mais do que mentimos para as outras pessoas? Por que eu nasci eu, com a minha vidinha facil paulistana e nao uma das criancas indigenas que se fodem subindo e descendo mulas para socorrer turistas fora de forma no Quilotoa? Por que elas tambem seguem a cartilha de suas tribos?
Conheci um cara super bonitinho que vive sozinho num casebre construido no alto de uma montanha que dá vista para o vulcao Tungurahua (vulcao ativo que em agosto do ano passado obrigou os moradores a evacuarem a cidade). Ele monitora o bicho, passa informacoes constantemente para um centro que é responsavel pela seguranca local, nao bebe, nao fuma, nao tem preocupacoes comuns… Vive um dia depois do outro, vem a Banos para comprar comida, livros, cds e – de vez em quando – tomar café na varanda da pousada que to hospedada só para ouvir outros idiomas… Estuda esperanto sozinho sem saber explicar o porque, vive sozinho porque diz que nasceu sozinho e vai morrer sozinho e que isso nao tem nada a ver com solidao. Diz ele que casou uma vez, que a historia durou tres anos e que eles se separaram porque se sentiam muito solitarios, nao conversavam… Tambem me disse que deus mora no silencio e que é possivel escuta-lo diante das montanhas.
Ontem, depois de tres horas de serras e paisagens que nunca mais sairao da minha cabeca, dei de cara com a Laguna del Quilotoa… Aos quatorze anos, quando cheguei na estacao da Luz e a vi tomada por uma multidao de estudantes cantando musicas do Legiao Urbana como se fossem hinos, lembro que aquela vista me fez sentir um troco no peito que nunca mais senti. Hoje, falando assim, parece ridiculo mas foi uma sensacao de liberdade que nunca havia sentido e que busquei em cada viagem absurda e em cada decisao da minha vida. Eu nao sei o que os alpinistas pensam, o que realmente é de verdade na boca do bonitinho do vulcao, o que o povo dos esportes radicais quer da vida se jogando de despenhadeiros amarrados por cordinhas mas, depois de lacrimejar diante da laguna de Quilotoa, descer aquele lugar pensando que aquele tanto de areia no caminho devia significar que aquilo um dia devia ter sido mar, chegar até o final querendo o tempo todo voltar pelo pavor de saber que ali um pedido de socorro seria uma mula, meter a lingua na agua e sentir gosto de sal… e de deus; acho que os compreendo.
Voltar, praticamente escalar aquelas paredes novamente, foi das coisas mais dificeis que fiz na vida. Pedi socorro na primeira hora de subida, senti o maior medo que ja senti ao subir na mula que parecia querer se jogar (ou me jogar) em cada curva dos despenhadeiros… Nao andei em cima dela nem dez metros. Desci, fiz o trajeto a pé. Descobri que confio fielmente na minha forca, mas nunca no meu equilibrio. Foram quatro horas subindo e dando voltas nas paredes do Quilotoa… Doeu. Foi bom.
Pouco antes do fim parei numas pedras onde uma senhora e uma garotinha olhavam a paisagem nebulosa do fim do dia. Luz, a senhora moradora da regiao, me contou que nao conseguia mais subir e descer a lagoa, mas que ia até onde seu corpo aguentava todos os dias… Porque ali ela se sentia livre, porque ali ela conversava com deus, porque a caminhada lhe fortalecia as pernas.
Feliz ano novo pra voces… Arrisquem. Arrisquem sempre que for possivel. Arrisquem novos caminhos, pensem diferente, pensem no que realmente querem fazer com os poucos anos que ganhamos de presente. A cartilha pode ser quentinha, mas as vezes sentir frio na barriga, gelo na espinha e arrepio na nuca é o que precisamos para nos sentirmos vivos.

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Escrito pela Alê Félix
31, dezembro, 2007
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Quatro horas de viagem num onibus chechelento, sem banheiro, com paradas frequentes e neguinho subindo e descendo vendendo de churrasquinho de gato a salada de fruta. Duas horas depois uma pirralha no banco de tras vomitou e eu olhei pra cara de uns gringos ao meu lado como que pedindo socorro… Eles retribuiram o olhar e tamparam o nariz com as maos. Um cheiro insuportavel e o onibus virando de um lado para o outro nas curvas de uma descida que parecia nao acabar nunca. Pensei “Me ferrei de novo. Esse lugar deve ser uma droga.”.
Eu preciso largar mao de ser mimada… Nasci numa familia super simples, cresci brincando com a molecada da favela, dei um ralo danado pra conseguir o pouco que tenho e mesmo assim ainda pareco uma babaca diante de lugares e pessoas muito pobres. As vezes, quando nessas horas sinto vontade de sair correndo pra um lugar quentinho e aromatizado, tambem sinto vergonha de mim mesma. Parece que de nada valeram as dificuldades que ja passei… Nao passo de uma mimadinha arrogante e mal acostumada com a sorte que tem. É tudo que sou, por mais que eu me esforce para ser alguem decente.
O Equador é um pais muito pobre… Parte o coracao andar pelas estradas. Banos é uma cidade turistica, geograficamente impressionante e acabei de chegar… La da estrada, através dos vidros trancados, vi um vulcao, vi os borrões cinzas dos fogos se misturarem aos branquinhos das nuvens que o atravessavam. Um vulcão não passa de um inferno suspenso pela saudade do céu.
Sinto falta das minhas pessoas…



Escrito pela Alê Félix
28, dezembro, 2007
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O “namorado simpaticao” vai ficar com boa parte das minhas memorias de Quito (memória da camera perdida com quase oitocentas fotos feitas na linha do Equador e na Basilica da Cidade Velha). Triste, triste… Perder fotografias assim dá uma tristeza estranha, um clima de velório terrivel. Parece que parte da viagem foi perdida, como se nunca tivesse existido. É muito estranho.
Indo agora para Banos… Nao tao feliz como estava ontem a noite, mas tentando nao esquecer que ainda tenho a camera, outro cartao de memoria e alguns pen-drives cheios de fotos. A viagem continua…



Escrito pela Alê Félix
28, dezembro, 2007
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