Minha virada de ano pessoal e brasileira foi bem antes da meia noite quando encarei uma motoca (embora eu tivesse pavor de andar de motocas) e subi uma montanha pra ver melhor o tal do vulcao (ok, era um quadrones. Mesmo assim, ta!). Minha virada de ano teve fumacinha de vulcao, montao de fotos, paradas em curvas fechadas para dizer gracias e amem a tudo que tenho recebido da vida. La em cima, bem antes da meia noite, joguei no vento meus votos de felicidades para as pessoas que povoam meus pensamentos e só agradeci. Ando querendo o bem até para quem nunca me quis muito bem… Mas nao se preocupem comigo, esses acessos de amor no coracao uma hora passam e ja ja volto ao normal. Deus queira… Eu sei que boazinha sou um porre.
Por volta da meia noite a gringaiada toda da pousada se mexia para uma virada num bar de sinuca. Nao sou muito chegada a turistas e aos lugares eleitos por eles. Nao aguento aquelas carinhas alegres comprando pacotes para trenzinhos, manja? Nao que eu nao ande em trenzinhos. Minha alma brega acaba entrando nessas presepadas (sempre!) e se divertindo pra burro mesmo quando meu cerebro me empurra para as ruas onde vivem as pessoas reais. Curto passear pelas berimbocas, fotografar escondidinha, fotografar escancaradamente, conversar, conversar e conversar. Por sorte, ontem meu cerebro estava dominante e fui para as ruas mais afastadas onde festejariam os moradores de Banos…
Aqui nao se pula sete ondinhas, nao rola oferenda pra Iemanja, nao precisa usar roupa branca, nem brindar com champagne. Virada de ano pras bandas de cá é uma mistura de dia das bruxas, carnaval e festa junina. Desde Quito vinha impressionada com a quantidade de lojas vendendo mascaras e bonecos de pano. Achei que fosse mania nacional, mas era só por conta do ano novo mesmo.
Gracas a Camila (uma garotinha que brincava com velas de bolo como se fossem fogos de artificio e se encantou com a minha mascara de reveillon) conheci o significado dos rituais equatorianos e comecei o ano novo em familia. Sim, totalmente em casa…
Numa esquina familiar de Banos, a mae da Camila me explicou que eles escreviam os nomes das pessoas que desejavam o bem nos bonecos de pano para que essas recebessem boas energias e que a meia noite eles deveriam ser encendiados. Tambem deveriamos escrever em um papel as tristezas do ano anterior, tudo que quisessemos deixar para tras e depois esfregar esse papel nas cinzas… No final, pular dez vezes a fogueira nos traria forca e prosperidade.
Corri atras de um boneco, papel e caneta… Nao esqueci de ninguem que quero bem, nem mesmo de voce. Anotei no papel os medos que me assombram, minhas paixoes equivocadas, os sentimentos que nao quero mais carregar comigo e meus maus habitos. Quase perdi a virada cuidando da minha mandinga equatoriana. Pulei a fogueira dez vezes… De ladinho e com um pouco de medo de me queimar, mas pulei. E fui meio que adotada pela familia da Camila…
Passei o resto da madrugada aprendendo a dancar rumba com os tios da guria, rindo com as tias, comendo porquinho da india feito pela avó, bebendo canelaco feito pelo pai e descobrindo tradicoes equatorianas com a mae. Uma familia simples, divertida, que sorri e abre os bracos para novas amizades como se elas fossem velhas… É muito dificil nao encontrar gentileza nesse pais. Não há como não se sentir acolhido, acarinhado, em casa.
Fui embora feliz, feliz… Leve, como se algo tivesse saido do meu peito. E acho que havia muitas coisas para tirar dele, sabe? Tenho uma vida boa, só tenho o que agradecer, mas passei tantas viradas tristes nos ultimos anos que mesmo sorrindo parece que nao tenho mais como esconder algumas rugas. Tomara que realmente haja magia nos rituais indigenas, tomara que realmente minhas tristezas tenham sido deixadas para sempre naquelas cinzas.
No dia seguinte de manha, a mae da Camila passou na pousada para me dar bom dia e perguntar se eu queria conhecer o Spa que ela cuida… Benditas fogueiras! Massagem, hidratacoes, piscinas com aguas termais, jacuzzi com vista para as montanhas, jantar com amigos. Gracias… eu não sei direito porque busco respostas pelos cantos ao invés dos centros, mas é muito bom saber que apesar dos labirintos que crio, há encontros.
Indo para Guayquil amanha, depois Lima no Peru e depois só deus sabe… ou, assim espero, nem ele.



Postado por:Alê Félix
02/01/2008
0 Comentários
Compartilhe

Deixe um comentário