Quem vê cara não mede o parreco

Dezoito anos, parda, estatura média, lenço no cabelo e um o avental preso no quadril arrebitado que fez seu Marcos perder a cabeça e a esposa.

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Escrito pela Alê Félix
16, agosto, 2003
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Abri os olhos e achei que estava sonhando ou que tinha morrido. O clone do “ex”, estava ao meu lado meio choroso e com um buquê de flores nas mãos.
Não tive dúvidas: “Morri e estou vendo meu próprio enterro”. Meus pais entraram no quarto no momento seguinte e me acordaram do pesadelo. Fui
obrigada a me defender das broncas, antes mesmo de comemorar a escapada que eu dei na morte. Passado o esporro, me dei conta do que aconteceu. De
tanto chorar, dormi no volante. Quis morrer de ódio, no instante seguinte.
Que coisa estúpida, dormir ao volante. Eu não durmo nunca! Logo no volante? Mas não lembrava de ter batido o carro e me estropiado toda. Eu não,
porque até dormindo eu dirijo bem. As poucas lembranças e os fatos indicavam que eu fui adormecendo, indo para o acostamento, o carro parando e
parou. Eu teria acordado, levado um susto, mas estava protegida pela arte da “pilota” sonâmbula. E nenhum acidente teria acontecido se não fosse por
causa de uma outra topeira sonolenta que cochilou e fez um strike de meia dúzia de carros na estrada. Eu não vi nada – me contaram – e ainda
bem que não vi. Seria como acordar em um grande desastre físico e emocional. Porque, maior do que a dorzinha dos poucos hematomas da batida, eram as
dores da cena do dia anterior.
O beijo que o crápula deu na loira foi o ponto final nas recaídas, na saudade e na história toda. Não havia mais o que extrair daquele
relacionamento, mas como doía! Uma dor egoísta que me fazia crer que eu podia e ele não. O clone ao meu lado, sem saber de nada, achando que eu era
namorada dele e eu acusando mentalmente o “ex” por não respeitar o prazo de validade da nossa separação.
Pra piorar, aquele escândalo. Que merda, que vergonha! Deixei o cara sem carteira, sem dinheiro, sem condução e com uma violinista linda, que
certamente o levou para dormir na casa dela. Que estúpida, que desequilibrada e que vontade de continuar chorando. Mas não podia.
No meio de toda a minha dor de cotovelo, ainda fui obrigada a mentir. Não podia dizer o motivo daquela presepada toda. Nem para o clone e muito menos
para os meus pais. Graças a deus meu orgulho sempre foi maior do que as minhas crises de insanidade. Eu não assumiria um chilique como aquele, nunca!
Além do mais, tadinho do clone. Todo atencioso, preocupado, não desgrudou de mim um minuto sequer. Dormiu no sofá do hospital, passou frio de noite,
me deu água na boca e quando eu acordei, ele não estava mais lá. Estranhei mas, pouco depois, ele chegou com o café da manhã, um presente e um
cartão.
Mordi a maçã, abri a pequena caixinha com um anel lindo, agradeci achando que era um agrado qualquer e tirei o cartão do envelope:

“Não tente parecer forte para sempre. Eu sei o quanto você é frágil.
Casa comigo? Eu cuido de você.”


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Escrito pela Alê Félix
16, agosto, 2003
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Na verdade, não me interessa mais se a notícia é fresca ou se é coisa antiga. Abro o jornal pra dar risada. Parece crueldade da minha parte, mas
juro que não é. Não dá pra não rir da tragicomédia estampada nas manchetes dos jornais.
Além de dar boas risadas, faz também com que eu agradeça. Sempre dei graças a deus por ter nascido pobre. Mais do que isso, sempre digo que todo
mundo deveria nascer pobre. Nascer rico é um atraso de vida. O dinheiro mata a coragem, torna tudo fácil e sem graça. O grande barato da vida é a
batalha pelo dia a dia. Nascer rico é perder metade da disposição para o combate. Sem contar que o cara que nasce rico tem tudo pra se tornar uma
figura despreparada para as horas de caos. Em momentos como
este
, agradeço também por ser brasileira e ter o humor daqueles que diriam: “Uêba, apagão! Sem luz, sem trabalho. Todos para o boteco, antes
que a cerveja esquente.”
Lá, ao invés disso, os caras se borram achando que é mais uma do Bin Laden e sua gangue.
E os nossos políticos? Ai, nossos políticos… Bendito o dia em que eu decidi dar uma banana pra vida de cidadã e parei de me dar ao trabalho de ir
votar. Aliás, é mais do que a questão do voto. É o enjôo todo que me dá qualquer universo metido a politizado, qualquer movimento que busque
militância ou coisas do tipo. Éca!
E o evento galinha preta? Uma beleza! Quando eu ouvi a
notícia pensei: “Vixe! Corre pra benzedeira que é macumba!”. Daí vai o Senhor Justiça e solta a maior merda que uma mente poluída, preconceituosa e
conservadora poderia produzir. Pra mim, o sujeito chamou a mulher de galinha em rede nacional. Ninguém me convence do contrário. O que ele disse
revela muito mais sobre os pensamentos dele do que sobre as intenções da figura que arremessou a galinha. E, como se não bastasse, vem a organização
da “bicharada unida jamais será vencida” e distorce tudo com o papo do veado (animal). Politicamente correto tem limite e a profundidade do babado é
outra, minha gente! Daqui a pouco até o Ibama vai querer um pedido de desculpas em nome dos veados (animais).
E pra terminar meu dia de jornal, um crime da melhor qualidade. Um crime passional que põe no chinelo muito pastelão americano e muito filme trash de
terror. O sujeito matou pai e mãe, mas matou por amor, um grande
amor.

Não é maldade, jornais me divertem…



Escrito pela Alê Félix
14, agosto, 2003
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Olha isto que legal! Eu insisto para publicá-lo, mas ele me enrola
que não é brincadeira.



Escrito pela Alê Félix
14, agosto, 2003
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Chegamos à festa. Festa de músicos eruditos. Poucas mulheres e discussões sobre Mozart e Wagner. Ainda bem que eu fui. Dez minutos depois daquele
papo sem graça, a conversa mudou para bizarrices sexuais e a tara nossa de cada dia. Não há nada mais divertido do que falar de sexo. Pena que o
repertório seja limitado.
Na roda estávamos eu, quatro rapazes, o “ex” e uma violinista muito simpática, que tropeçou na minha frente logo que eu cheguei. Ela só não se
esborrachou no chão porque se apoiou em mim – um acidente que fez com que passássemos alguns minutos no hall de entrada. Foram minutos suficientes
pra eu ir com a cara da menina e apresentá-la para o “ex” e seus amigos. Fui gentil. Ela estava sozinha, não parecia ser uma mala sem alça e era uma
moça muito bonita. Os rapazes da mesa, certamente, me agradeceriam pela sociabilidade. Quanto ao “ex”, não havia o que me preocupar. Ele era
maravilhoso, mas era feio feito o cão chupando manga. Ela não se interessaria por ele, não aquela loira linda que poderia ter qualquer banana daquela
festa.
Duas horas depois de muito vinho e conversa boa, apareceu no meio do jardim um bolo e um aniversariante. Todos se levantaram para os parabéns e, na
hora do corte do bolo, perceberam que não havia como cortá-lo. Por mania de educação desnecessária, me ofereci para ir até cozinha buscar uma faca.
Revirei um armário inteiro atrás de uma bendita espátula e não encontrei. Tive que lavar uma faca de pão que estava melecada de manteiga dentro da
pia. Lavei, sequei e corri para entregá-la ao aniversariante. Atravessei a cozinha, segui pelo corredor, passei pela sala, abri a porta que dava para
a sala de estar e senti que a porta havia emperrado em alguém. Antes que eu pudesse me desculpar, me deparei com o “ex” e a loira se engolindo atrás
da porta.
Nunca imaginei que isso fosse possível, mas eu surtei. Joguei a carteira e a chave dele num matagal de terreno baldio, arranquei a minha chave do
bolso dele, disse um monte de absurdos com a faca a um milímetro do nariz dos dois e enfiei a mão na cara da loira no mesmo instante que ela abriu a
boca para dizer alguma coisa que eu não me dei ao trabalho de ouvir.
Eu sei que estávamos separados, sei que eu disse que queria ser amiga, mas ficar com alguém na minha frente? Assim? Tão rápido? E logo com a
bonitona? Meio bêbada e aos prantos, saí da festa com o cretino tentando me segurar pela bolsa. Não satisfeito, tentou segurar a porta do carro.
Quase perdeu as unhas dos dedos para sempre. Parti cantando pneus. E chorei tanto e corri tanto, que acordei em um pronto-socorro.

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Escrito pela Alê Félix
14, agosto, 2003
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Escrito pela Alê Félix
14, agosto, 2003
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A conversa por telefone com o ex-namorado…

– Oi.
– Alê?
Começamos bem. Se ele estivesse muito bravo, diria “Alessandra”.
– Tudo bem?
– Tudo…
– Então? Quanto tempo!
– Não pra mim. Espero passar muito mais tempo sem te ver.
Quando o conheci ele era um doce, mas o tempo o tornou um traste de grosseiro. Até hoje, ele diz que ficou assim por causa das mulheres que ele teve
o desprazer de conhecer. Eu não acredito. Acho que ele mentiu pra mim durante meses bancando o encantador. Mas, naquele dia, eu ainda tinha fé que
ele voltasse a ser a graça de garoto que eu conheci.
– Vai começar?
– Ligou por quê?
– Ai, pára! Pra que isso? Você sempre foi um cara legal. Antes de namorarmos fomos bons amigos. Por que não continuar a amizade?
Papo furado! Óbvio que eu não queria ser só a amiguinha, mas de forma alguma eu daria o braço a torcer. Por mais bravo que ele estivesse comigo, eu
sabia que ele cederia.
– E o babaca do seu namorado?
– Que namorado?
– Como, “que namorado”? Aquele idiota do sítio.
– Hum, ciuminho…
– Que ciúme, o quê? Diz logo o que você quer.
– Queria ver você, mas
– …
– Não, não quero voltar contigo. Só quero ser sua amiga.
– Isso não dá certo, Alessandra.
– Claro que dá! Custa tentar?
– Custa. Você sabe que custa.
– Vamos fazer assim: está uma noite linda. Eu passo aí, a gente sai, conversa melhor e eu provo pra você que é possível. O que você acha?
– Não vai dar. Tenho uma festa pra ir.
– Onde?
– Não te interessa.
– Olha, quer saber? Você tem razão. Se for pra bancar o estúpido é melhor a gente não se ver mais. Eu tentei! Mas já que você quer assim…
– Em Tatuí.
Foi a cidade que começamos a namorar. Hesitei um pouco, mas não resisti.
– Longe…
– É.
– Você vai com alguém?
– Não.
– Eu posso ir com você se você quiser…
– Não sei. Melhor não.
– Por quê? Está namorando alguém que estará na festa?
– Claro, que não! E mesmo se estivesse. O que você tem a ver com isso?
– Nada.
– Então?
– Então, está certo. Vou com você.
– Alê…
– Vamos com o meu carro. Melhor do que você vir até aqui para depois voltarmos. Pra mim é caminho. Ei, vamos tentar, vai?
Ouvi pelo bocal do telefone o som da longa suspirada até que ele decidiu.
– Está bem, eu te espero.
Fui, o caminho todo, confiante de que ele também teria uma recaída, de que os ares da cidade onde começamos o namoro nos seriam favoráveis e que, no
final, tudo daria certo, mas o tiro saiu pela culatra.

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Escrito pela Alê Félix
13, agosto, 2003
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Marilu adorou minha família – aquela que me dava nos nervos durante as vinte e quatro horas dos meus dias. Durante a tarde, ela brincou com os
atentados dos meus irmãos, conversou sobre os artistas da TV com a minha mãe e achou o máximo a conduta exigente e simpática, exercida pelo meu pai.
Fiquei surpresa como alguém tão sem limites poderia gostar tanto daquele quartel general. Almoçamos e em seguida, com a desculpa de que precisávamos
fazer as lições do dia seguinte, nos trancamos no quarto para falsificar as assinaturas.
– Isso não vai dar certo…
– Claro, que vai! Deixa comigo.
– E se a dona Olga perceber?
– Relaxa, Alê.
– Pra você é fácil! Não está na minha pele.
– Preciso ver a assinatura, você tem algum documento deles aí?
– Tenho. Tenho nesses documentos da escola.
– Hum… resolvo isto num piscar de olhos!
– Melhor correr. Se eles nos pegarem com esses papeis me colocam na Febem ao invés de me deixarem de castigo.
– Está mais difícil do que imaginei.
– Não é melhor desistirmos?
– Não. Tenha paciência.
– Ai, caramba! Não está ficando bom, não.
– Como não? Uma obra prima!
– Ridículo! Olha esse eme! Um horror! Me dá isso aqui!
– Toma sabichona, quero ver fazer melhor.
– Deixe-me ver… assim, assim e assim! Pronto.
– Uau! Você é o gênio da falsificação! Nunca vi ninguém fazer isso tão rápido.
Caímos na gargalhada.
– Até que ficou bom, mesmo.
– Bom é apelido! Isso está fantástico. Faz a do seu pai agora.
Respirei fundo e…
– Acho que é isso.
– Alê, está incrivelmente parecida. Não, pára tudo! Faz a minha.
Segundos depois…
– Alessandra, você tem o dom!
– Grande talento…
– Grande? Grandessíssimo! Podemos ganhar dinheiro se quisermos. Eu negocio e você assina. Dividimos meio a meio, o que acha?
Rimos, assinamos os bilhetes e fomos interrompidas pela campainha. Era a turma da rua chamando para andarmos de bicicleta. Mas, como estava muito
frio, minha mãe deixou que assistíssemos sessão da tarde juntos. Apresentei a Marilu para a Tieta , para a Lu e para o Murilo e o Ivo que logo que
entraram já se esparramaram pelo sofá e ligaram a TV.
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Escrito pela Alê Félix
12, agosto, 2003
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