Cada dia que passa me sinto mais forte, mesmo que ainda não passe de uma completa despreparada pra lidar com as mudanças impostas pela vida…

Meu melhor e mais breve amigo de todos os tempos acabou de voltar pra Argentina. Deixei ele no aeroporto, prometi escrever, mas ainda não consigo. Gonzalo me fez lembrar novamente do valor da amizade, da alegria, da sintonia que nos basta. Achei que eu fosse morrer de chorar vendo ele ir embora, mas não foi o caso. Nunca precisei me separar de amigos que moram a mais de dois mil quilômetros da minha casa e achava que, no caso dele que é o cara mais legal e engraçado dos últimos anos da minha vida, doeria mais do que me separar de uma porção de namorados. Foi o contrário, acabei descobrindo que ver um amigo ir embora não é, nem de longe, uma situação dramática e sentimentalóide como é com alguém que gostamos de amor apaixonado e não de amor de amizade. Voltei do aeroporto de Guarulhos muito melhor do que já voltei de outras cidades vizinhas. Dessa vez, sem lágrimas, sem inseguranças, com vontade e disposição para nos encontrarmos de novo e assim que possível. Sem drama, sem nenhum tipo de não. Talvez, essa seja a diferença entre as relações de amor de paixão e as de amor de amizade… As de amizade não tentam nos fazer feliz, mas abrem espaço pra simplesmente sermos.

Mas vamos deixar isso pra lá, depois eu falo mais de Gonzalo. Agora, tenho que assistir um filme de terror e não faço ideia de como fazer isso com atenção. Minha vida no mundo do cinema está cada vez mais intensa, fechei com mais duas produtoras de cinema o trabalho de coordenação das redes sociais e estou mais segura e satisfeita com a minha decisão de ter escolhido priorizar escrever e me deixar levar por esses caminhos que o cinema tem me levado.

Mas vamos deixar isso também pra lá…Preciso parar de enrolar escrevendo esse monte de nhenhenhem, essa tentativa descarada de evitar os dois DVDs de terror que estão na minha frente. Como perder o medo de tudo o que é visivelmente uma bobagem? Como é que faço pra ver um tipo de filme que sempre me recusei a assistir? E o pior é que dessa vez nem namorado pra segurar a minha mão e me contar as partes que vou perder fechando os olhos, vou ter. Nem namorado, nem meu amigo argentino querido que se estivesse aqui, estaria se divertindo com a missão de ver sangue, terror, criaturinhas sinistras e dona Katie Holmes…

Algumas distâncias são arregaçadoramente tristes… Não vai ser fácil deixar de ser medrosa, não vai ser fácil deixar de ter medo do escuro. Não vai, mas eu vou.



Escrito pela Alê Félix
20, agosto, 2011
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Querido Deus, essa semana prometo lavar minha boca com sabão, ser menos tagarela sobre relação, pegar leve com os bons drinks e voltar a fazer o dever de casa sem reclamação sobre a sua pessoa. Por favor, continue achando que tenho menos de dez anos e cuidando de mim como de costume, tranquilo? Sei que no ar, no ar, você é assim… Brilho do farol, além do mais, amargo fim, simplesmente sol. Mas sei também que você sabe que o que sai de mim vem do prazer de querer sentir o que eu não posso ter. E que o que faz de mim ser o que sou – você sabe – é gostar de ir por onde ninguém for. Sendo assim, caro Deus, não vou fugir meu bem, pra ser feliz só pólo sul. Prometo viver, viver e não fingir, esconder no olhar, pedir não mais que permitir. E juro por você que vou continuar com a imaginação e a disposição necessárias pra me manter na lista da pivetada do alto coração, mais alto coração. Sem mais por essa semana, valeu aí, beijo, sou fã, te clicaria em curtir se a página tivesse sido criada por você e não pelos paga-paus, não é xaveco, valeu de novo, se me ajudar a fechar aquele contratinho fico te devendo essa, amém e até a semana que vem. Fui, mas na falta de um rock do bom ou quem sabe jazz, som sobre som… Bem mais, bem mais…



Escrito pela Alê Félix
15, agosto, 2011
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Desmoronamos no chão… No mesmo instante senti suas pernas entrelaçarem minha cintura. O cansaço era tanto que me permiti repousar o corpo por um instante. O cheiro, o suor, a adrenalina, os sentidos se misturavam e eu sentia a cabeça girar. Desde que o conheci, não conseguia controlar meus pensamentos. Não, eu nunca havia sentido nada tão forte. Os quadris perfeitamente encaixados se movimentavam vez ou outra e me confundiam ainda mais. Mas não… Não podia ser assim. Tentei lutar, sabia que não resistiria a outro golpe como aquele.

O cheiro… Que cheiro bom ele tinha. Cheiro de homem, cheiro de homem forte, que não se dá por vencido nunca. Um cheiro que me embriagava, um cheiro que me levaria à lona em questão de segundos se eu perdesse a concentração.

Mas era só tesão… Um tesão fincado na alma, um olhar de contemplação, inevitável e destruidor.

Não podia olhar em seus olhos… Eles me denunciariam. Denunciariam toda a minha fraqueza e fragilidade. Como era difícil resistir àquele corpo, aquela pele… Desviei o olhar o quanto pude.

Tudo o que eu queria era me entregar sem resistência, sem medo… Não, aquele não era o local apropriado. Queria acariciá-lo, beijá-lo, sentir a língua além da rigidez daquele maxilar. Queria que ele me penetrasse, me penetrasse profundamente a carne virgem e latejante.

Um friozinho gelado e entorpecente percorria minha espinha toda vez que seus lábios encostavam no meu pescoço, nas minhas orelhas. Nossas respirações ofegantes batiam em um só compasso… Uma sincronicidade de sons e gemidos que me faziam enlouquecer de desejo.

Bruscamente ele virou o jogo. Rolamos pelo chão até que ele segurou meus braços com força e ficou em cima de mim. Seu membro roçava minhas partes mais íntimas… Pude senti-lo por completo, pude sentir a espessura, o tamanho, pude imaginá-lo milimétricamente. Imaginei-o desavergonhadamente em minha boca, rijo e cheio de gozo. Minha imaginação me levaria à loucura se tivesse mais tempo. Aquilo precisava acabar logo.

Senti seus dentes em minha orelha. Gritei. Gritei um grito que misturava raiva e prazer. Não, não podia me deixar levar pela emoção, ele não podia fazer isto comigo. Aquilo não era certo. Revidei, revidei como pude às suas agressões. Revidei com dor, com hematomas e ferimentos que, certamente, o tempo não curaria. Revidei com todas as forças que ainda me restavam, até que ele desistiu.

Ao ver aquele homem, o homem que eu desejei, o homem que eu quis pra mim, ao vê-lo prostrado aos meus pés; eu chorei. Chorei como eu nunca havia chorado. Chorei diante de uma multidão que aplaudia, de pé, a minha vitória enquanto eu me dava conta da minha derrota.

Nada mais seria como antes em minha vida. Ele não sabia, ninguém poderia saber mas, ambos, estávamos diante de um grande fracasso. Para mim ficou claro que aquele era o nosso último encontro e o começo de uma vida que eu não me permitiria viver. Era o fim de uma carreira de vitórias. Vitórias que um dia afirmaram a minha masculinidade e que agora me traíam. Ele levantou, me abraçou e disse quase sem palavras…

– Parabéns, meu camarada! Grande luta. Prometo que no ano que vem eu tiro de você este cinturão e recupero meu lugar no pódio.

* Escrito no começo dos anos dois mil no site Clube da Lulu, publicado no livro Balde Gelo. Na época o título era só “A Primeira Vez” e muita gente não entendeu que o que eu havia feito era só uma brincadeira ao agarra-agarra das lutas de Vale Tudo que, aos meus olhos, eram altamente eróticas e não me deixavam acreditar que aqueles rapazes não achavam gostosinhas algumas daquelas encaixadas da luta. Como estou recuperando os textos do site antes que ele seja deletado, ao reler essa publicação depois de todos esses anos longe dela, quase não a salvei de tanta vergonha. Deus do céu como isso é ruim… Ruim e vulgar, mesmo sendo uma tiração de sarro. E olha que tiração de sarro tem passe livre no quesito coisa ruim da minha vida! Enfim… Tá salvo, mas que fique claro que é só pra eu nunca esquecer de que publicar na internet é uma coisa e em um livro pode se tornar a morte. Se arrependimento matasse, queria ver quantos escritores ruins estariam vivos nesse mundo!



Escrito pela Alê Félix
11, agosto, 2011
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Ela levanta antes do sol, prepara o café de olhos fechados, acorda os filhos com o coração apertado, sacode o marido sem nenhuma alegria e se prepara para mais um dia. Se maquia de fantasia, se veste de mulher maravilha e se equilibra no salto, do alto da independência que acredita que conquistou.
Chama todos para o café, chama mais uma vez, dá bronca na empregada, coloca os filhos no ônibus escolar, despede-se do marido com o beijo diário, marcado pelo atraso do horário.
Dispara seus gritos acumulados na buzina do carro, organiza sua agenda em pensamento, respira a saudade de um último trago de cigarro. Com o trânsito parado e a mente acelerada, segue para o trabalho que só que lhe dá é trabalho.
Distribui sorrisos de bom dia, almoça alface, devora chocolate, liga para os filhos para certificar-se de que está tudo sob controle na terceirização da boa educação. Dá ordens, recebe ordens, dá conselhos à colega ao lado e esquece dos próprios caminhos onde possa ter errado.
Corre para a academia depois do expediente, precisa estar em forma. Corre para casa, o jantar não demora. Na mesa, conversa com o marido sobre o dia. Com os filhos, verifica a lição de casa, faz papel de mãe. Sem vontade, desiste do papel de esposa, mas finge um pouco mais. Determina a hora de todos dormirem e lê um conto de fadas enquanto acompanha com o olhar o adormecer do seu lar.
Ela não dorme. Não consegue. Toma um banho, lava a alma e o cansaço, mas não consegue dormir.
Tenta distrair-se no computador, mas acaba pagando contas, lendo más notícias e o resumo da novela perdida. Olha com frio na barriga para uma sala de chat, pressiona o “Enter” com uma leve sensação de pecado, sorri diante da tela, mas foge antes que a brincadeira ameace o seu reinado.
Questiona-se por um instante, proíbe-se de pensar. Agarra-se as certezas da rotina, da inabilidade pra liberdade, da vida que acredita ter sido uma escolha…
Estica as pernas no confortável sofá da sala, folheia algumas revistas e se dá por satisfeita por ter uma família. Aperta os olhos em busca do sono perdido, o sono não vem. Ela abre os olhos, olha à sua volta, abre a janela, fecha a porta, volta pra cama, apagam-se suas luzes diante da falta de show. Ela também está só… Completamente só.

* Escrito em 2005 no site Clube da Lulu. Salvando o passado antes que o provedor o jogue na fogueira do delete.



Escrito pela Alê Félix
10, agosto, 2011
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Cortei o dedo com a faca do pão quando eu tinha uns cinco anos de idade e lembro, até hoje, do tanto que chorei achando que o corte me mataria. Um dia antes do acidente mortífero, uma vizinha havia falecido atropelada, ensanguentada no meio da rua. Eu não sabia nada sobre a morte, mas o zumzumzum da rua me dizia que tinha a ver com sangue, cabeça no mundo da lua e um passaporte para o céu.
Minha tia me deu um cutucão tentando ensinar a lição…

– Ó o que dá não olhar pro lado antes de atravessar a rua! Viu? Morreu de cabeça no mundo da lua! Igualzinho vai acontecer com você se não prestar atenção por onde anda.

Um homem na calçada dizia pro outro…

– Perdeu muito sangue… Já era. A morte é certa.

Meu avô apareceu no meio do povo, viu minha tia urubuzando a tragédia, me arrastando com ela e tratou de nos tirar de lá…

– Já pra casa as duas!
– Eu quero ver!
– Ver o que, menina? Gente morrer?
– Por favor! É a primeira vez que eu vejo de perto! Quero ver se a alma sai realmente pelo nariz! Por favor, deixa eu ficar… por favor, por favor.
– Vô, o que é morrer? O que é vai sair do nariz da mulher!? Me contem!
– Tá vendo o que você fez? A menina tem cinco anos, não tem idade pra saber dessas coisas não. Você nunca viu a morte e ela nem sabia do que se tratava até você trazê-la até aqui.
– Com a idade dela eu já sabia o que era… Não tenho culpa que ela é mimadinha bunda mole.
– Eu não sou bunda mole!
– É sim! Tem medo de tudo, é cheia de nhenhenhê… Blerg!
– Então me conta o que é morrer já que você sabe!?
– Não vou contar nada! Por sua causa a gente tá indo embora…
– Vô… me conta vai… O que é morrer?
– É uma viagem… Sem volta. Para o céu.
– Tipo… de avião?
– Não, sua burra! Só a alma que vai embora, não o corpo.
– O que é alma?
– É o fantasma que fala na cabeça da gente e que sai pelo nosso nariz rumo ao céu quando o coração para de bater. Mas só vai pro céu quando a alma tá muito cortada de emoção, repleta de sentimentos vividos…
– Quer parar de falar besteira pra menina! Vamos embora. Venham… Venham pra cá que levo vocês de volta pra casa.
– A gente tem um fantasma que mora dentro da gente!?
– Tem. A alma.
– E porque ela vai pro céu quando a gente morre?
– Nem sempre… Pode ir pro inferno se você for ruim e não aprender a fazer carinho nas suas cicatrizes. Se a alma estiver cheia de feridas que dão nojo e te fizerem sentir ódio, você vai pro inferno sim.
– Vôôôô… é verdade isso?
– Lá vai a chorona começar a chorar.
– Não vou nada! Eu sou forte!
– Não ouve o que a sua tia diz… Vamos embora. Não quero mais ouvir conversa.

Não chorei na hora, mas senti muita vontade e me senti tão, mas tão fraquinha e sem conhecimentos das coisas que talvez nunca mais adiantasse dizer que eu era forte e devesse assumir que não passava de uma mimadinha bunda mole.

Mas… No dia seguinte, depois de cortar o dedo na faca de pão, ao entrar em desespero achando que eu ia morrer, minha mãe tentava me acalmar e segurar enquanto minha avó ligava a torneira e empurrava minha mão pra debaixo da água, na tentativa de lavar o sangueiro todo. Minhas tias olhavam a cena e eu achava de verdade que nunca mais voltaria a vê-las, que estava prestes a deixar as brincadeiras da rua e veria, numa fração de segundos, meu fantasma ir para algum lugar que eu ainda não era capaz de saber se seria bom ou não.

Apesar de nunca ter feito nada aparentemente muito errado, já tinha dúvidas se meu destino seria o céu ou o inferno e se alguma das minhas malcriações ou pirraças infantis poderiam ser interpretadas como feridas na alma. Como eu não sabia de nada, só me restava experimentar as novidades dos sentimentos como a culpa e os questionamentos sobre a brevidade do corpo e como lidar com as emoções.

Quando o corte estancou e eu vi que não morri, apesar de ter soluçado todo o resto do dia e sentido muito, muito medo… Percebi que alguns cortes são menos profundos do que parecem na hora que o sangue se mistura com a água corrente e as nossas lágrimas. Minha mãe chorou comigo naquele dia, de tanto que me viu sentida. E pediu que eu me tornasse uma moça mais forte, menos chorona. Já, minha avó, profetizou o tempo de todos os meus processos de cura…

– Daqui dois anos você nem vai mais lembrar que isso aconteceu, nem vai reparar na cicatriz e vai rir desse escândalo horroroso que acabou de fazer. Ouça sua mãe e seja forte. É importante se machucar…
– Mas eu não quero morrer!
– E eu não quero que você seja covarde. Não vai ser um machucadinho qualquer que vai te matar.
– Vai sim!
– Não vai. Isso é mimo. Ser uma garotinha mimada é uma falha dos pais, mas tornar-se uma mulher mimada será uma falha sua. Você vai querer ser assim quando crescer?

Desligada que sou, me cortei diversas vezes depois daquele dia, chorei um pouco menos, mas nunca deixei de chorar toda vez que me machucava ou sentia medo ou perdia alguém pra vida ou pra morte. Nunca me senti forte, não consegui evitar alguns escândalos, mas disfarcei o suficiente pra não ver minha mãe chorando junto comigo ou deixar minha avó a par das minhas falhas de caráter. Percebi que os cortes doem mais na hora, que a dor passa, mas é ilusão achar que não vai doer mais um pouquinho nos dias seguintes. Aprendi que até cicatrizar é melhor deixar as facas de lado pra não correr o risco de sofrer de dor com um corte em cima do outro. E que a cicatriz pode ficar bem feia por um tempo, mas realmente se torna parte do nosso corpo em pouco menos de dois anos. Algumas mais largas, outras quase invisíveis, mas todas elas com uma história de vida ou de morte, de céu ou inferno, de família ou fantasma e um único remédio: aconteça o que acontecer, não esquecer de encher a alma de soluções antissépticas e rezar pra ela ter experimentado tudo o que precisava para – um dia – escapar pelo nosso nariz e se mandar direto para o céu.



Escrito pela Alê Félix
9, agosto, 2011
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Contar e recontar a história de como nos conhecemos, igual ao dia que passamos no Pé pra Fora.
Ver você chegando no meu portão, tocando a campainha, olhando pra janela e me esperando jogar a chave… Igual a primeira vez que veio aqui em casa.
Trocar emails como se fossem cartas, trocar cartas como se fosse amor, mensagens como se palavras nos bastassem, posts daí e de cá como se precisássemos nos manter em segredo.
Te beijar sem o desespero da minha saudade…
Banho quente jogando conversa fora, outros filmes no meu futon, mais cobertores e vinhos na sua cama, meu queijo e o seu tomate seco na minha mesa.
Andar de mãos dadas.
Suas mãos…
Conversar abraçada.
Quentinho…
Morder seu nariz.
Seu rosto que me faz sorrir…
Deslizar meus dedos pelas suas mãos enquanto tagarelávamos…
Acarinhar seu coração enquanto te sentia triste…
Cabular o dia, dar a partida, ignorar todo o resto da vida só pra cuidar um pouco de mim e de você.
Compartilhar amigos…
Esbanjar carinho…
Passar outras tardes, noites e manhãs sem nos darmos conta das horas, adivinhando as horas…
Outras estradas… Escrever outras histórias.
Ouvir suas músicas, passar as minhas…
Dirigir, ver você dormir…
Esperar a intimidade chegar…
Conseguir dormir.
Brincar de pensar…
Brinde de garrafa…
Brinde de arco-iris, brinde de estrelas…
Brinde no café da manhã…
Café misturado com leite frio e pão na chapa com muita manteiga toda santa vez, iogurte com frutas e inveja do seu pedido pra mim.
Ouvir você falando de política.
Ouvir você falando das crianças.
Ver o seu jeito e seus olhares diante da vida que passa a nossa volta…
Sentir tanta vontade de escrever…
Escrever.
Seu livro.
Meu livro.
Nossos livros.
Caminhar na praia…
Caminhar pelas ruas e praças de qualquer lugar…
Pararmos pra você fumar, pra eu pensar, pra bebermos, pra tentarmos enxergar, pra descansar, pra abraçar, pra viver.
Passarmos mais tempo em pousadas como aquela da serra…
Dormirmos até mais tarde em pousadas como aquela da praia…
Vivermos nossos dramalhões mexicanos em paz e encontrarmos um jeito de rir e contá-los depois de superados…
Passar no final da tarde no seu trabalho e me perder em pensamentos sobre nós e gravatas e paletós e vestidos pra embrulhar presentes.
E ir contigo até o seu Armazém e ir contigo até o meu Armazém…
E conhecer o seu Arpoador e ver você no sol do meu Arpoador…
Suas vindas pra São Paulo e o resto da tarde comigo depois das reuniões…
Passar mais tempo beijando em vez de falando, mais tempo namorando em vez de pensando, passar o tempo sem pensar no tempo, sem dar tchau com o coração apertado, sem pensar em tudo que queriamos deixar de lado.
E conseguir dormir ao seu lado, dividir o colchão, o chão, meu coração. Aprender a te dar fôlego para enfrentar os dias, tirá-lo durante as noites…
Acordar com café, com sorriso de bom dia.
Tentar te fazer feliz… Me manter feliz.
Dar um ponto final para a confusão de sempre, uma exclamação para o seu coração meio cheio ou meio vazio, tirar a interrogação da minha porta aberta, sem saber se fecha ou espera mais um pouco.
Interromper de vez minhas lágrimas, por nunca saber o que fazer pra jogar nessa barriga quentinha, pelo menos uma mísera larvinha.

Amo você. E era o suficiente pra ter arriscado esperar o tempo nos dizer se ele se tornaria história ou estória. Mesmo diante da nossa imatura e dramática necessidade de deletar, amo você. E por tudo aquilo que desejei que vivêssemos, mesmo que fosse só um pouco mais.

Lembra se puder, se não der esqueça… De algum jeito vai passar.



Escrito pela Alê Félix
7, agosto, 2011
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zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz… Nada. Nada que preste.

No vazio. De novo. Com os dedos emperrados na tecla do nada, na falta de desejo, jogada de pijama nesse processo de queda, focado nos próximos tombos da realidade. Acordei com o coração armado, caçando ladrão. Levantei acendendo luz, procurando assombração. O notebook desligado embaixo do travesseiro ao lado. Sem mesa, sem muso, com as mãos e a imaginação ao alto. Cercada, imobilizada, com medo de reagir e contar tudo o que sinto, matar uns dois ou três. Um de susto, um de saudade, o outro de verdade. Não sei o que me faz mais mal… Estar sem escrever ou escrever sem estar.
O jeito é acordar e ir trabalhar… Encher meus dias com as mais sábias das distrações humanas, essa que nos recompensa com trocados, estrelas fora do peito, qualquer merda que não nos faça pensar nem gozar pelos motivos certos. Ou… Quem sabe? Posso tentar enganar de vez esse maldito vazio que teima em me manter sequestrada. Posso fazê-lo acreditar que é Síndrome de Estocolmo… Se funciona com os homens, há de funcionar com o vazio.



Escrito pela Alê Félix
3, agosto, 2011
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Não guarde mágoa de um final mal escrito. Fui sua amiga, amiga e amiga… Sempre. Acima da mulher e da amante, sua amiga. Você me ensinou a abraçar, eu te ensinei a arriscar. Não me ignore depois de tantos sorrisos, do nosso tanto de beijo molhado de esperança. Reinvente minha culpa, reescreva nossa história quando achar conveniente, mas não me diga que esqueceu as tardes de chuva. Não finja que o tempo não passou ao me encontrar por acaso na rua… Não há paixão sem uma dose de lágrima, não há choro apaixonado que mereça uma vida inteira de espera. Não minta para me manter distante, não minta para me afastar da sua cama. Seus maus pensamentos são orações de devoção pelo meu corpo, tanto faz se quiser jogar fora todos os lençóis. Sinto muito por ter ligado e te acordado. Sei que é tarde, mas queria saber por onde tem andado, mostrar que aprendi a abraçar demorado. Não precisávamos ter desligado pra sempre, não precisávamos ter nos enganado. Não finja que o tempo não passou ao me encontrar por acaso na rua… Me deixa saber que num pedacinho bom da sua memória, mesmo que hoje estejamos completamente cansados um do outro, ainda há saudade pra nos fazer sorrir e bagunçar os lençóis mais um pouquinho. E, no mais, quando for capaz, me perdoa… Porque sem perdão a gente não voa.

Outro post escrito por mim em 2007… Na época, também sem título e sem um ou outro detalhe que acabei mudando agora, ao reler. Em São Paulo novamente. Feliz pelos novos olhos, triste por ser essa mulher bocó, fraca e condenada a não sarar nunca dessa maldita doença que é a saudade.



Escrito pela Alê Félix
2, agosto, 2011
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