Faça amor, não faça guerra!

Nos anos setenta, era essa a palavra de ordem de uma renca de gente que se opunha ao envolvimento dos EUA na guerra com o Vietnã. Em um tempo cheio de puritanismos, sempre achei que a frase foi a chave certa pra destravar o cinto de castidade que não prendia só o corpo, mas também a mente de muitas pessoas.

No final dos anos oitenta, na turma de vermelhinhos que eu andava quando era adolescente, o que se dizia era que os jovens que haviam nascido no meio daquela confusão toda (diante do consumismo desenfreado e depois da segunda guerra mundial), passaram a criticar esse sistema principalmente pelo fato de que ele transformava o mundo em uma massaróca de gente coxinha, igualzinha, sem características próprias definidas. Dávamos graças a Deus pelas músicas e influência dos Beatles, Janis Joplin, Jim Morrison, Jimi Rendrix e outras criaturas iluminadas, não só porque o som era bom aos nossos ouvidos, mas principalmente por terem sacado a total inversão de valores e contribuído para que uma boa galera começasse a cultuar o amor livre, o desprendimento ao sistema capitalista e a criação de sociedades mais alternativas. O que, bem ou mal, ao menos serviam para repensarmos rotinas, modelos e comportamentos diferentes dos que já existiam.

Como tudo que é bom dura pouco, nas décadas seguintes os slogans mudaram para “Diga não as Drogas!”, globalmente espalhado aos quatro cantos do Brasil por ninguém mais ninguém menos do que a nossa rainha dos baixinhos. Bem ali no mesmo período, o Ministério da Saúde divulgava na TV, pela primeira vez, a imagem de uma linda camisinha! Tava lá a borrachinha santa, apresentada em 1987 como a nossa única salvação por tantos anos de orgia e pelo juízo final do HIV, que estava matando cruelmente quem havia se acabado na farra dos anos anteriores.

Mas… Por que diabos eu tô falando sobre isso? Eu te conto… Porque ando muito encafifada com umas coisas que tenho visto e ouvido nos últimos anos e porque ando morta de medo de viver em um mundo igual ao daquele filme “Demolidor”, com o Stallone e a Sandra Bullock. Já viu? Era uma história que mostrava uma sociedade paranoica por limpeza e educação. As pessoas não se tocavam, as saudações eram feitas com um aceno de mão e sexo era uma parada feita com o auxílio de uma máquina responsável por transmitir a sensação de prazer. Filhos? Só na base da inseminação artificial. Eles tinham meio que nojinho da troca boa e saudável de fluídos que costuma rolar no sexo. Lembrou? Então…

Eu nasci na época do slogan “faça amor, não faça guerra”, cresci ouvindo discussões que quase colocavam a maconha e o sexo no mesmo pacote e, nos últimos anos, ando com uma forte impressão de que um dia vou acordar e ver alguma campanha do tipo… “Diga não ao sexo!”. Assim, com todas essas letras. Dúvida? Olha só o que tenho encontrado ultimamente…

Matérias assim: http://www1.folha.uol.com.br/folhateen/931773-jovens-com-repulsa-a-sexo-usam-web-para-encontrar-semelhantes.shtml

Sites assim: http://assexualidade.com.br

E conhecendo pessoas (não religiosas e não somente mulheres) que falam abertamente sobre o fato de se manterem virgens até o dia do casamento.

E conhecendo casais que vivem juntos há anos, há anos não transam e ignoram ou acham até melhor a vida sem sexo.

E ouvindo mulheres dizerem que sentem asco só de imaginar ter relação com seus namorados, casos e maridos, mas que ainda assim dormem com eles.

E lendo e ouvindo terapeutas e urologistas dizerem que entre os casos mais recorrente dos consultórios estão os de homens confessando a própria assexualidade ou a falta temporária de interesse, mas precisando de ajuda para continuar se passando por garanhões entre os amigos ou para impressionar alguma namorada nova.

E conhecendo adultos (homens e mulheres) que falam abertamente sobre o fato de não quererem pensar sobre a própria sexualidade, que não consideram muito importante ter uma vida sexual satisfatória e regular e dizem que ok, está tudo muito bem assim.

Se está tudo bem, está tudo bem. Nenhum problema, que eles sigam em frente em paz com suas opções. Mas, cá com meus botões, eu me pergunto… O que fizemos de errado com o sexo? Num mundo onde a boa comunicação é tão difícil de ser alcançada, acho honestíssimo quem admite suas posições, sejam elas quais forem. Respeito, compreendo, confesso que em algumas épocas até invejo. Mas por que? E como é que se faz quando as pessoas se sentem tímidas para falar ou lidar com a própria sexualidade ou intimidadas a se mostrarem diferentes? O que fazer quando são obrigadas a expressar uma libido que não possuem? Como é que se fala sobre isso? Como se aceita quando um quer e o outro não? Como é que se vai a fundo nos porquês dessa falta de interesse, temporária ou não?

Imagino que seja uma questão fisíca, hormonal, que pode naturalmente variar de pessoa pra pessoa. Mas também me pergunto se não é culpa do mundo, sabe? Da lei do ato e efeito, dessa linha toda de eventos que escrevi no começo do post. Não consigo deixar de ver o que há por trás, ignorar as emoções, de pensar sobre o medo de sofrer, ser traído, se decepcionar, machucar e considerar os estragos que podem causar essa nossa mania de gostar de mais ou de menos.

As vezes, acho que a gente tem desaprendido a amar, que não fazemos mais a menor ideia de como se entregar para alguém sem se pelar com as consequências emocionais do final. Penso que se divertir na cama não é mais uma opção a longo prazo e que, talvez, as pressões com as obrigações diárias ou outros interesses pessoais, façam a gente simplesmente desistir. Será que o nosso umbigo se tornou o orifício que nos causa a maior possibilidade de prazer? Será que é isso?

Penso sobre o bombardeio de bobagens estéticas anti feios, gordos, baixos, pobres, carecas, pintinhos e pintões e tantos outros imperfeitos. Penso no horror espalhado em forma de “humor” pela internet, TV e rodas de amigos onde as pessoas idolatram os “piadistas” que colaboram diariamente para um mundo de solidão e assexualidade.

Tenho comigo a opinião de que, quando alguém faz uma piada babaca sobre uma determinada característica física, essa pessoa deveria ser segregada ao invés de segregar. Mas não… A gente vai lá e dá ibope pro cara. Haja visto a quantidade blogs que fazem sucesso disseminando crueldade e preconceito sob a proteção do aviso final que lhe exime de qualquer responsabilidade sobre as merdas que diz “Este é um blog de caráter humorístico eu escrevo o que eu quero mas por favor não me processe ou me processe muito porque o que eu quero mesmo é chamar a atenção”.

Por que é que alguém dá audiência pra esse tipo de gente? O povo clica, paga as contas da figura, vicia na droga da internet e segue alimentando a impressão de que se somos verdes e tá todo mundo falando mal de gente verde, melhor ficarmos quietos no nosso canto porque a última coisa que seremos na vida é um verde desejado. Bando de bocós… Tanto quem semeia quanto quem colhe esse tipo de violência, essas ideias, esses blogs e programas de imbecis.

Estamos perdendo completamente a capacidade de aceitar o outro, o corpo do outro. Ninguém mais sabe dar, ninguém mais sabe receber. Estamos cavando uma sociedade de mulheres loucas, homens covardes, filhos confusos. Um mundo de gente esquizofrênica, com raiva e cheio de histórias de bullying ao invés das histórias dos beijos que demos, das pessoas que amamos, dos bons encontros que desfrutamos.

A gente tá sempre atrapalhando tudo, misturando tudo, amarrando o sexo na relação, a relação na obrigação, a obrigação num monte de mentira e, consequentemente, na falta de prazer sem nem sequer se dar o trabalho de pensar direito sobre isso ou perguntar pra outra figura se pra ela tá tudo bem também.

A gente não se liga que vigor físico se vai, bons momentos deveriam ser desejados e zelados mais do que qualquer outra coisa nessa vida, que carinho é amor e que o sexo deveria caminhar de mãos dadas com a disposição e não somente com a ereção.

Acho triste ver o quanto a mídia tem vulgarizado e desvalorizado as pessoas e suas possíveis relações sexuais ao mesmo tempo que continuamos recebendo todos os alertas para as DSTs. Faz até sentido tanta gente não gostar de sexo, né? Como é que alguém normal pode confiar que vai se despir para uma pessoa que poderá olhar torto pro tamanho de sua barriga ao invés de enche-la de beijo, fazer de conta que nada aconteceu no dia seguinte e ainda correr o risco de pegar uma doença? São dúvidas comuns que muita gente costuma tirar de letra, mas se forem analisadas através do olhar de quem é marinheiro de primeira viagem ou sofreu alguma desilusão muito grande, chega a ser fácil concordar com a turma da abstinência.

Me arrisco até a dizer que adoraria que além de lançarmos campanhas que zelassem pelo cuidado da nossa saúde, alguém avisasse o mundo que também é necessário cuidarmos do coração uns dos outros. E nem me olhe com essa cara de que tô de mimimi. Por mais ridículo que isso possa parecer, não se iluda. Só soa ridículo porque vivemos um momento de cinismo e egoísmo tão grande que nos impede de ver que no lixo muitas vezes são jogados preservativos e sentimentos. Ou, em casos muito piores de irresponsabilidade sexual e afetiva pelo outro, muitas vezes, só os sentimentos. E que, talvez, seja só por não se sentirem amados, cuidados e desejados que tantos confessaram preferir a companhia de seus cachorros do que de gente, em pleno dia dos namorados.

Uma amiga minha – atualmente lésbica – me disse uma vez que até curtia ficar com homens, mas que não tinha estrutura nenhuma pra segurar a onda de mentira atrás de mentira e que era quase impossível achar um cara que jogasse limpo ou que não jogasse. Como ela também sentia atração por mulheres, há anos se mantém com a mesma namorada.

E aí eu lembro daqueles rapazes que ouvem uma história como essa e diz “não foi comida direito!”. É… não foi. Nem comida, nem cuidada, nem acarinhada, nem respeitados os seus receios, nem enxergada corretamente pelos seus atributos e defeitos, nem lembrada no dia seguinte, nem devia ter espaço pra falar sobre as fantasias, desejos, inseguranças, broxadas… nem sobre as dela e muito menos sobre a dos mal comedores que a fizeram mudar de time… Isso é o que ela diz e, de certa forma, eu compreendo.

Por outro lado, uma outra amiga, médica cirurgiã, conta que ficou chocada ao participar da cirurgia peniana de um rapaz com micro-pênis. E o choque nem foi com relação a cirurgia, mas com as histórias que ouviu do rapaz. Segundo ele, depois de anos a procura de uma solução para ter uma vida mais tranquila, aquela era sua última tentativa. Uma medida desesperada, feita com intuito de ganhar mais quatro centímetros e nunca mais ter que pensar muito sobre isso, nem ver nenhuma garota insensível, desumana, levantar da cama e ir embora no meio da transa sem nem sequer lhe dar até logo. Algo que ele via acontecer com certa frequência…

Nelson Rodrigues dizia algo que tento não esquecer… “O homem começou a própria desumanização quando separou o sexo do amor.”.

Eu falo brincando… “Só beijo na boca os homens que não gosto, assim não perco nada quando me separar deles.”. É brincadeira, isso não acontece.  Mas comecei com esse papo de boteco, depois de perceber que beijar alguém é o primeiro passo que podemos dar para – cedo ou tarde – ver destruído um envolvimento que deveria ser de amor e até mesmo de paixão até o fim,  mesmo que o fim chegasse logo. Sou incapaz de beijar alguém que não gosto, mas confesso que penso dez vezes antes de beijar um homem que possa se tornar um grande amigo. Culpa de uma outra frase de boteco… “Meus amigos vão no meu enterro, meus exs não.”.

Não vou me cansar de pensar e repetir que os hippies é que tinham razão… Se fizéssemos mais amor, se cuidássemos melhor uns dos outros…. Não dá pra imaginar decreto de guerra vindo de alguém que amou e gozou na noite anterior. Não dá…

Enfim… Nós vamos todos nos ferrar muito nesse futuro de gente assexuada que vem por aí. Sei que não vai adiantar eu dizer nada porque sou só mais uma mente confusa solta nesse mundo estranho, mas acho sinceramente que a opção pela abstinência sexual é uma das condenações mais tristes que podemos alimentar contra nós mesmos.

Boas companhias de cama, não deveriam ser só de cama, não deveriam ser tão raras. Principalmente antes e depois de dormirem, principalmente diante desse mundo de sonhos e pesadelos.

Obs. 1: Não reparem a meia explicação, nem sei se correta, sobre os babados dos anos 70, 80 e 90 que falei no início do post. Foi só pra desenhar uma linha do tempo na minha própria cabeça, tentar entender como foi que chegamos até aqui, se é que foi assim.

Obs. 2: Se te passou pela cabeça fazer algum tipo de comentário do tipo “ai…nem tudo numa relação é sexo”, como é que você conseguiu ler esse post desse tamanho até o final?

Obs. 3: Eu adoro cão, gato, passarinho e principalmente elefantes. Então, por favor, não me venha com o papo de que estou me posicionando contra o carinho que algumas pessoas nutrem por seus animais. Não é nada disso. A matéria da revista era focada no dia dos namorados e no fato de que as pessoas estão substituindo afeto humano pela companhia de seus animais de estimação. E, pelo menos na minha cabeça, animal de estimação é animal de estimação, gente é gente, sexo é sexo e – tirando o fato de que falo de amor – não entendo porque uma relação com um animal deveria ser cultivado em detrimento da outra com outro tipo de animal.

No mais, só sinto muito de ver tantas pessoas permitindo que o medo da descoberta afetiva e sexual as impeça de exercitar a capacidade de gozar em paz, através de um dos poucos gozos naturais que deus nos deu.



Escrito pela Alê Félix
20, junho, 2011
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E de repente passou a não ter nada a ver com quem a gente anda, mas com o jeito que se anda…
A noite não é mais o meu lugar, tornou-se uma roupa velha que permanece no meu guarda-roupa somente pelas lembranças e o mau hábito de não jogar fora o que já me caiu bem.
Nenhuma droga me abrirá a percepção mais do que  o dia seguinte. Nenhum copo de uísque, nenhum baseado, nenhum alucinógeno, nenhuma paixão. Nada disso, enquanto estiver sendo usado, terá o efeito que já teve.
E, de repente, nos últimos dias, sempre nos dias seguintes, enquanto abro os olhos e me situo sobre a balança de um travesseiro é quando percebo e sou capaz de pesar o presente. Não dá mais para viver entre sonhos e pesadelos, insistindo em não acordar, insistindo em não atualizar minha mente das experiências, das cicatrizes, de que o tempo só tem passado.

Procurei amor, verdade e coerência no lugar errado, procurei quase tudo no lugar errado…

E eu só queria mesmo era achar meu canto nesse mundo, um caminho que se tornasse passeio, mãos que soubessem como dividir o prazer e o pesar. Queria escrever sem me arrepender… Escrever e chorar ou sorrir depois de ler. Como já aconteceu algumas vezes, como era quando fazia sentido. Nunca vou desistir de procurar respostas. Não sei porque você me pediu um absurdo como esse. Nem tem mais nada a ver com as pessoas… Semprei andei cambaleando, não tenho como continuar pedindo que me segurem e ainda expliquem.

Queria tanto voltar a escrever…  Hoje, até as palavras parecem estar perdidas dentro do meu corpo. Ou, vai ver, para o  meu desespero, as escritas também decretaram voto de silêncio. Contra mim.

Bem feito… Lição pra tomar jeito.



Escrito pela Alê Félix
19, junho, 2011
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Winston, se o senhor fosse meu marido, eu envenenaria seu chá.
Nancy Astor, primeira mulher a obter um cadeira na Câmara dos Comuns do Parlamento britânico, em 1919, para o primeiro-ministro Winston Churchill.

Se eu fosse o seu marido, o tomaria.
Winston Churchill, respondendo na lata.

Típico diálogo entre duas pessoas que incendiariam uma cama… Mas só se tivessem coragem para dar o primeiro passo para transformar veneno em endorfina. Algo que, convenhamos, nenhum de nós está muito preparado. Normalmente preferimos governar, duelar, nos matar ou matar alguém do que aprender a dar e receber prazer.



Escrito pela Alê Félix
18, junho, 2011
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Tenho dormido um pouco além da conta nos últimos dias e, consequentemente, acordado mais tarde do que o normal. As vezes, por volta das duas da manhã, tenho ido a pé até um café que fica aberto vinte e quatro horas. O processo de caminhar, a cada dia que passa, faz com que eu me sinta mais e mais preguiçosa, fora de forma, com vontade de correr pra debaixo das cobertas. Porém, desde Roma (o lugar que me ensinou a caminhar, soluçar e morrer, apesar do que pensam as pessoas), é a atividade que tem me dado algum eixo, feito perceber que os passos me dão um mínimo bom de paz.

Também não tenho mais saído com o celular a tiracolo, pendurado na minha vida, colado na minha existência. Na medida do possível, tenho deixado ele em casa, junto com o carro e a agenda das pessoas que eu gostava de ver, até a semana passada.

Sigo passando frio o caminho todo, escondendo as mãos, soltando fumaça pela boca para brincar um pouco com o tempo. Chego, tomo um chá, folheio alguma revista ou livro, ouço as conversas das mesas ao lado sem que ninguém me recrimine por isso, pago a conta, pego um jornal, sigo em frente. As vezes, voltar chorando dói quando o vento decide cortar as lágrimas no rosto, mas isso torna tudo tão patético que acabo dando risada de mim mesma.

Torço muito pra nenhum vizinho me ver rindo e chorando no meio da madrugada, porque daí pra virar a maluca do bairro eu sei bem que é questão de horas…

Lembro do M dizendo que não me imaginava mais triste do que é considerado normal e do R zombando e ignorando – como sempre fez – o tamanho de tudo que sinto, como se eu tivesse obrigação de ser forte e feliz, já que minhas contas estão em dia e não tenho nenhuma doença.

Lembrar que estou saudável e rica me faz abrir a porta um pouco mais forte do que quando saí. Ciente de que se nem os meus amigos sabem direito quem eu sou, não tenho mesmo muitos motivos para falar tanto…

Tranco a porta, subo as escadas. Evito a poltrona, o computador e escrever tudo o que tenho pensado, pois não quero mais magoar ninguém nem ser magoada por mais ninguém, nunca mais. Evito congelar, pensar, tento dormir. Se durante meus dias normais eu conversava regularmente com uma média de trinta pessoas, curiosamente, impor um filtro a mim mesma, fez com que esse número soasse hoje muito menos barulhento, incomodo e me ferisse muito, muito menos do que feria quando eu permitia.

Não está fácil… Continuo chorando boa parte do tempo, pois o Y me disse que chorar é o unico jeito de sarar e que eu preciso parar de evitar, só pra parecer forte pra gente como R ou meu pai. Continuo pensando em ir a um médico e estranhando todos os topos e subsolos que tenho atingido emocionalmente. Voltar com a terapia foi como se eu estivesse pedindo socorro, adoro o grande profissional que é o Y mas ainda acho um saco o processo de cura através da análise. As vezes, penso em ligar para o E e pedir que ele me dê mais duas gotinhas, mas espero passar minha necessidade de cura através das ilusões e não importuno meu amigo implorando salvação, nem me arrisco a encontrar válvulas de escape disfarçadas de paixão.
Tenho dado graças a deus que a F e a N não fazem mais parte do roteiro semanal de festas e eventos. Nem elas nem os Ns… Ufa! Penso em parar de frescura, penso em voltar, penso em me mandar daqui, penso em paquerar, penso em me calar para sempre. Penso em mudar de cara, cabelo e coração. Penso em viver, penso em parar, penso em transar, penso em nunca mais oferecer meu corpo e coração expostos numa bandeja, penso em não pensar, penso em aprender a viver, penso em morrer… Apesar do que pensa o R.
Tantos amigos, tanta família e tenho descoberto que sinto mesmo é saudade do afeto que não deixa margem para dúvidas. Afeto que faz a gente cuidar da existência física do outro, ter cuidado com o que é dito e o que é sentido tanto por nós quanto pelo outro. Afeto que a gente dá e reza pra pessoa não fazer nenhuma merda, nenhuma que seja tão grande a ponto de nada mais fazer muito sentido…


Escrito pela Alê Félix
17, junho, 2011
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Meu pai levantou da mesa, cravou um soco no tampo que sacudiu nossos pratos. Minha irmã começou a chorar, meus dois irmãos começaram a chorar, minha mãe começou a chorar. Diante do dramalhão mexicano causado por mais uma cena de ciúmes da minha mãe, ele achou melhor sair e dar uma volta. Eu não me mexi, não sai do lugar, lembro de ter sentido um pouco de medo de que ele não voltasse mais, mas nenhuma vontade de chorar. A única coisa que não entendia era porque eles continuavam casados, diante de tanto ciúmes. Naquela noite, fiz essa pergunta para a minha mãe pela primeira vez. Ela, secando as lágrimas enquanto se agarrava aos caçulas que instintivamente corriam para debaixo de sua saia, respondeu que era porque não tinha como sustentar a todos nós sozinha.

Eu tinha oito anos de idade, ouvi a explicação, fui até o quarto, peguei o meu cofrinho lotado de moedas e perguntei se aquela quantia ajudava (até aquele dia eu costumava ser econômica, depois virei “empreendedora”). Ela sorriu, disse que não e eu fui dormir. Ouvi o barulho dos passos de sapato do meu pai voltando pra casa no meio da noite e dos suspiros aliviados da minha mãe pegando no sono só depois de saber que ele estava de volta. Meus irmãos dormiram bem antes disso, eu passei a noite em claro. Eu não era de rezar, mas como ainda não sabia trabalhar, só me ocorreu pedir a Ele que me ensinasse como ganhar dinheiro pra ajudar minha a nos criar, caso voltasse a precisar. Quando o sol apareceu na janela, eu já tinha um plano… O primeiro plano, de muitos que eu viria a ter, para me tornar a primeira criança milionária do bairro pobre onde morávamos.

Acho que foi nesse dia que comecei a construir uma carreira repleta de escolhas erradas, mas nunca chego a nenhuma conclusão sobre o que me fez dedicar boa parte dos meus dias, a tão pouco… As vezes, prefiro acreditar que os erros começaram quando entrei na faculdade de Direito. Melhor do que botar a culpa na mãe.

Continua….



Escrito pela Alê Félix
13, junho, 2011
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Existem fases na vida que nada do que possamos dizer, nenhuma atitude aparentemente coerente, trará resultados tão positivos quanto pode trazer o exercício do silêncio.

Nos últimos meses (talvez anos), cada dia que passa prometo a mim mesma alguma mudança comportamental relevante, que coloque freio na minha agressividade, impulsividade e vocação para a insanidade. E, como todos os movimentos sempre foram em vão, decidi declarar guerra contra mim mesma, contra o meu ego, contra a minha língua.

Na maior parte dos casos, se eu não falasse absolutamente nada, se eu tivesse o mínimo de quietude pra esperar o tempo passar sem abrir a minha boca, além de evitar cansaço, desgastes e algumas tragédias, acredito que tudo se resolvesse naturalmente.

Como não consigo ser uma pessoa normal, que pensa antes de falar, que se expressa pra construir e não para destruir, decidi que meu primeiro ataque será um voto de silêncio. E para evitar que eu sabote o começo dessa minha guerra contra mim mesma (antes que eu acorde de bom humor e levante uma bandeirinha de paz , me permitindo abrir o bocão antes do tempo), decidi escrever para me comprometer e colocar algumas regras no processo para não prejudicar o dia a dia da minha vida profissional e familiar.

Levando em consideração o atrelamento da minha vida pessoal e profissional com a internet e o fato de que posso ser tão nociva escrevendo quanto falando, considerei nas regras abaixo que “falar” será o mesmo que “escrever”. MSN, e-mail, Skype, DMs, replys, retweets e e-etc serão usados no modo motorista de ônibus, ligado no “fale somente o necessário”.

Seguem as regras do meu primeiro ataque, as regras do voto de silêncio moderno.

Permissão Verde.

Eu sei que vai parecer campanha telefônica do tipo “fale a vontade”, mas @#$%-$#.

A “permissão verde” será usada para falar livremente nos seguintes casos e com as seguintes pessoas:

– Assuntos profissionais.
– Reuniões de Trabalho.
– Trabalhos voluntários.
– Funcionários, colaboradores, parceiros, sócios, clientes e quaisquer pessoas envolvidas direta ou indiretamente com minha vida profissional.

Permissão Amarela.

Sei também que os engraçadinhos dos meus amigos e parentes vão comemorar a decisão, dizer que enfim vou exercitar os ouvidos, mas já vou logo avisando que abusos na “permissão amarela” podem implicar em mudanças de categoria imediata.

A “permissão amarela” será usada para falar (escrever) com total atenção nos seguintes casos e com as seguintes pessoas:

– Amigos.
– Familiares.
– Desconhecidos que necessitem tratar de assuntos profissionais ou que falem somente o necessário, contanto que o assunto não seja pessoal.

Voto de silêncio.

– Desconhecidos e tentativas de comunicação sem propósito.
– Ex-namorados.
– Ex-maridos.
– Familiares e amigos de qualquer categoria de ex.

Prazo: três meses.
Objetivo: obter algum tipo de controle emocional, transformar a minha língua (mão) em uma língua (mão) e não na espada que ela se tornou.

Pareço maluca, né? Pois é…  Maluquice maior foi ter passado a vida defendendo meus pontos de vista, falando, escrevendo, tentando existir através das palavras. Saber ouvir e aceitar as diferenças é saber se comunicar, é construção de um bom caminho para ser trilhado junto. Mas o resto… O resto é só ego falando com ego, é nada, é lugar nenhum, é relação nenhuma.



Escrito pela Alê Félix
13, junho, 2011
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No começo dos anos 2000 eu dizia (e escrevia no blog) que “em breve” seria moda falar dos anos 80 e que rolaria uma avalanche de livros e filmes contando todas as histórias (principalmente as do cenário musical). Em Brasília, também por volta dos anos dois mil, meu ex-marido (na época um garoto que eu estava longe de conhecer), me contava que escrevia um roteiro de Faroeste Caboclo só para mostrar aos amigos do colégio, alegando que daria um puta filme. Ele tem isso guardado até hoje… Ou seja, todos nós pensávamos a mesma coisa, fosse por sermos naturalmente saudosistas ou porque aquela realmente foi a última década com algum encantamento envolvendo as pessoas, as artes, os comportamentos, a política.
Cheguei a achar que o “em breve” havia chegado com aqueles almanaques com fotos de Atari e Nina Hagen, mas eu estava errada.  A chuva das “produções de polaina” deve esquentar mesmo a partir desse ano e a TV, as editoras, o cinema e até a barraca de pamonha vai explorar isso ao máximo. Só essa semana, já ouvi falar de três grandes trabalhos em andamento e putz… Eu confesso: não consigo engolir o videozinho do dia dos namorados, adaptado para os tempos atuais, só porque é fundamental atender o cliente e vender tecnologia através das boas lembranças. Eu pensava nos livros, no cinema, em produções espontâneas que ganhariam espaço e, em seguida, poderiam até ser devoradas pelos oportunistas, até a gente não suportar mais ouvir Cazuza ou desejar enfiar uma batata na boca do Renato Russo.
Eu sei que é ingênuo, bocó à béça da minha parte esperar que, mesmo se tivesse sido um trabalho espontâneo, não se tornasse completamente comercial logo depois. Eu sei, mas fiquei triste de ver o começo dessa nova febre nas mãos de uma agência de publicidade, veiculada a uma marca, iniciada somente com o interesse de vender caixas de coraçõezinhos embalando celulares. Eu sei, eu sei e eu sei. O vídeo ficou engraçadinho, tô parecendo do contra, tenho o rabo preso com essa turma toda de publicidade, com as agências e não posso dizer nada (tô andando pra vocês, posso dizer sim! :b), mas tenho birra com empresas de telefonia que prestam um péssimo serviço mas, por serem as únicas opções do país, ganham fortunas para produzirem as publicidades certas e nos fazerem esquecer o quanto elas são escrotas e enriquecem as custas dessa nossa natureza de índio.
Enfim, relevem… Não é fácil pra uma adolescente que defendeu tanto o socialismo, crescer e ver uma produção tão capitalista, mesmo que hoje em dia eu não passe de mais uma consumidorazinha, uma capitalista babaca e… velha. Uma velha da melhor idade, melhor idade pros caras fazerem produtos e propagandas pensando em mim como “target”. Dá pra acreditar? Ainda não confio em ninguém com mais de trinta… Público alvo… Público alvo de adultos com dinheiro, lambedores de chefes, sem família, com família destroçada, sem tempo, sem vida, com ilusões afetivas e apegados a um passado tosco que misturava blusa verde limão com calça quadriculada. Que merda… Anos oitenta… Que é que eu tô falando? Vou tentar ter fé no futuro da nação, sabe? Porque o que deve ter tido de gente grande, nascida nos anos noventa, que viu o tal do vídeo e… “Eduardo e quem!?”.
Menos mau do que ver minha geração chorandinho com comercial no Youtube… Menos mau.


Escrito pela Alê Félix
9, junho, 2011
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É incrível como nosso ego nos faz procurar tanto amor fora e ignorar o tanto que há para ser cultivado dentro… Falo de família, falo dessa estrutura esquisita que nos condena a eternidade, oferece amor mesmo quando somos dignos de ódio, apresenta ao ódio mesmo quando somos dignos de amor, nos afasta, acolhe e – mesmo assim – trocamos por qualquer rapariga, rabo de saia, garoto bonito, festa de arromba, trabalho de adrenalina, trocado, qualquer bocado de amor que não se acha na esquina.

Passei o dia com o meu sobrinho, um pivetinho tagarela e afetuoso que – desde o dia que nasceu – me oferece muito mais do que recebe, me ensina sobre o amor muito mais do que fiz por merecer e me dá aulas sobre as verdades que procuro, embora eu tente cabulá-las só porque são dadas dentro de casa.

Vou cuidar da minha casa… Vou cuidar muito bem de todas as minhas moradias, todos os corações que permaneço, todos os lares que habito e me dão abrigo mesmo quando faço de tudo para não ser presente. Vou deixar de ser ausente, doente, demente… Juro.




Escrito pela Alê Félix
7, junho, 2011
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