Meu pai levantou da mesa, cravou um soco no tampo que sacudiu nossos pratos. Minha irmã começou a chorar, meus dois irmãos começaram a chorar, minha mãe começou a chorar. Diante do dramalhão mexicano causado por mais uma cena de ciúmes da minha mãe, ele achou melhor sair e dar uma volta. Eu não me mexi, não sai do lugar, lembro de ter sentido um pouco de medo de que ele não voltasse mais, mas nenhuma vontade de chorar. A única coisa que não entendia era porque eles continuavam casados, diante de tanto ciúmes. Naquela noite, fiz essa pergunta para a minha mãe pela primeira vez. Ela, secando as lágrimas enquanto se agarrava aos caçulas que instintivamente corriam para debaixo de sua saia, respondeu que era porque não tinha como sustentar a todos nós sozinha.

Eu tinha oito anos de idade, ouvi a explicação, fui até o quarto, peguei o meu cofrinho lotado de moedas e perguntei se aquela quantia ajudava (até aquele dia eu costumava ser econômica, depois virei “empreendedora”). Ela sorriu, disse que não e eu fui dormir. Ouvi o barulho dos passos de sapato do meu pai voltando pra casa no meio da noite e dos suspiros aliviados da minha mãe pegando no sono só depois de saber que ele estava de volta. Meus irmãos dormiram bem antes disso, eu passei a noite em claro. Eu não era de rezar, mas como ainda não sabia trabalhar, só me ocorreu pedir a Ele que me ensinasse como ganhar dinheiro pra ajudar minha a nos criar, caso voltasse a precisar. Quando o sol apareceu na janela, eu já tinha um plano… O primeiro plano, de muitos que eu viria a ter, para me tornar a primeira criança milionária do bairro pobre onde morávamos.

Acho que foi nesse dia que comecei a construir uma carreira repleta de escolhas erradas, mas nunca chego a nenhuma conclusão sobre o que me fez dedicar boa parte dos meus dias, a tão pouco… As vezes, prefiro acreditar que os erros começaram quando entrei na faculdade de Direito. Melhor do que botar a culpa na mãe.

Continua….



Postado por:Alê Félix
13/06/2011
1 Comentários
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Pamela

junho 15th, 2011 às 18:27

É melhor ter pais separados, do que pais juntos se odiando passando isto para os filhos.
A gente faz de tudo para não cometer os erros de nossos pais, mesmo assim quantos traumas que levamos para vida adulta, as escolhas deles nos afetam e muito…


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