Estava aqui me perguntando como posso ter dois casamentos longos desfeitos, ter sido tão incompetente emocionalmente e, ao mesmo tempo, ter resultados interessantes no que diz respeito a minha vida profissional… Pensei, pensei e me ocorreu que talvez eu não tenha sido assim tão incompetente, nem tenha sido tudo um grande fracasso. Afinal, ninguém deixou de amar ninguém, ninguém deixou de cuidar e de querer bem ninguém. Talvez, meus casamentos tenham sido como pequenas empresas que se tornam bem sucedidas depois de ralarmos muito… E cresceram e se tornaram tão prósperas que passaram a caminhar por conta própria, até nos tornarmos conselheiros um do outro.
Acho que tá tudo certo… Profissionalmente, emocionalmente. Agora só falta fazer balanço com deus, já que esse papo todo me fez questionar como andam as coisas “espiritualmente”. Pois é… É só eu achar uma desculpa esfarrapada pra me auto-perdoar pelas merdas que faço na vida e lá vem a minha cabeça cobrar pendência…
Bem… Acerto minhas contas com deus mais pra frente. Quem sabe até lá não rola anistia de dívidas ativas e passo batida na fila dos pecadores? Oremos. Oremos.



Escrito pela Alê Félix
28, setembro, 2011
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Anos atrás eu chamei um jardineiro para podar o pé de manga que tem no fundo do meu quintal. Chamei o rapaz, pedi que ele cortasse alguns galhos que estavam invadindo os limites dos vizinhos, tive que ir trabalhar e, quando voltei, achei que a árvore não sobreviveria ao tanto de corte feito.

Lembro de ter chorado durante um tempo, reclamado com o jardineiro, achado um absurdo toda vez que ele dizia que ela se recuperaria. Os anos seguintes não foram fáceis pra ela…

Ontem foi um dia de sol que me fez acordar e sacudir a poeira de um ano frio, intenso, que já já acaba e eu quase não vi passar. A vantagem de ter uma árvore no quintal é que faça o tempo que fizer, em setembro os frutos e os pássaros voltam pra me lembrar que não importa o tamanho do estrago que eu faça com meus machados, a natureza fará a sua parte.

2011-09-22 primavera


Escrito pela Alê Félix
22, setembro, 2011
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Ontem eu prometi a minha mesma que me tornaria uma pessoa insensível, quase ruim, fria e calculista. Não durou nem sequer um dia, mas talvez seja melhor assim… Por mais que eu me esforçasse, não daria pra me tornar uma pessoa fria, da noite para o dia. Além do mais, nem eu nem ninguém nessa história, merece sofrer mais. Seja o que deus quiser, vou continuar tentando ser alguém melhor, como eu nunca devia ter descuidado…

Para Wil, onde quer que esteja, mesmo sabendo que talvez nunca mais passe por aqui. Espero que esteja bem, que fique bem e que a vida volte a lhe sorrir o quanto antes, de todas as formas que desejar. Vou continuar rezando para que encontre seu melhor lugar no mundo, suas melhores pessoas, uma mulher melhor e um futuro que faça todo o sentido. Obrigada pelo amor que só questionei por desespero ao perdê-lo, por me obrigar a desistir. Ainda sinto medo de nunca conseguir, mas agora eu quero. E quero começar desejando o que houver de melhor para o seu caminho. Seja feliz, mocinho. Você merece. Merece muito. Nunca se contente com nada menor do que a paz que lhe faz bem. Vou continuar rezando e, apesar de você não acreditar, espero que encontre e que se encontre novamente. Se agora eu escrevo é porque esse é o meu deus e só agora te sinto solto, me sinto forte, posso nos desejar boa sorte.



Escrito pela Alê Félix
22, setembro, 2011
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Houve um tempo que eu só sabia perguntar o porquê. Não só por ter interesse sobre as coisas, mas pela vaidade de ouvir dos adultos que curiosidade era sinal de inteligência. Cresci enchendo a orelha do meu pai, quando a única coisa que eu precisava ouvir era “porque eu te amo, mesmo você sendo chata desse jeito”. Ok, a parte do “mesmo você sendo chata desse jeito” – naquela época – teria sido o primeiro passo para criarem uma boa serial killer, mas o resto certamente teria me economizado anos de terapia e convivência com os namorados errados. Entre ser amada e ser inteligente, óbvio que eu daria uma banana enorme pro meu cérebro. Inteligente eu nasci, dependia só de mim. Agora… amor? Esse sempre foi meu departamento mais complexo e nunca gostei dessas coisas que dependem de troca. Todo o resto: de onde viemos, pra onde iremos ou qualquer fórmula matemática, física ou mágica seria só buscar em alguma enciclopédia ou ter o mínimo de atenção sobre o que acontecia a minha volta, que descobriria entre os segundos da vida ou da morte. Com oito anos de idade posso garantir que já poderia dar aulas sobre isso, mas no que diz respeito a reciprocidade de afeto… Puta que o pariu, que busca de aceitação é essa que fazem a gente se meter?
Ainda hoje me sinto procurando explicações, teorizando emoções para compreender razões, buscando no amor um sentido maior para viver, mas… Quer saber? Eu cansei. Chega de culpa, de amar narcisos e de brigar comigo. Chega de querer que goste de mim quem não dá a mínima pra mim. Seja por identificação, desafio ou qualquer outro complexo trauma psicológico… Chega. Chega até de quem me dá a máxima! Ando de saco cheio de deixar minha vida passar mediocremente a espera do desejo e do tempo de qualquer amor mané ou do reconhecimento familiar ou da muleta oferecida pelos melhores amigos ou da dose bem servida e oferecida por qualquer criatura que eu ache divertida, desfrutável ou inspiradoramente inenarrável. Há outros prazeres lá fora. Tem que haver… E tá claro que a errada da história sou eu, já que também não há nada de amor no que ofereço. Não há paixão nenhuma por aqui, só obsessão. Não passo de uma obcecada, doente, intratável e consumida pela necessidade de experiências um pouco mais intensas do que as tradicionais rotinas oferecem. E, se é essa minha doença, chega de tratamento. Tá mais do que na hora de parar de bancar a controlada, equilibrada, a certinha, a boazinha, a bem comportada, a que coloca obstáculos para quem me diz sim e se arrebenta por quem me diz não. Mais do que na hora de tirar o pé do freio e enfiá-lo no acelerador, seja por quem for. Se vai doer em alguém eu não sei, mas chega de viver procurando respostinha em amorzinho daqui, vidinha dali, relaçãozinha de acolá, paixãozinha sem sentido pra lá e pra cá, sincronicidade sexual com ares de espiritual, um final sem garantia pra morrer sabe lá deus aonde. Há algo de muito maior lá fora… Eu sinto. E vai que zelar pela curiosidade seja realmente a opção mais inteligente? Não sei o que vou encontrar ignorando as histórias que construo no lugar que chamo de coração, só para privilegiar os meus olhos e a minha pele, mas vou me permitir descobrir. Que desperdício de vida, meu deus… Um choramingo por gente, queixas e cobranças e posses. Como se nossa vida não fosse só nossa! Como se tivéssemos tempo a perder ou outra vida pra nos salvar! Meio que já passei desse tempo, sabe? Tá começando a me parecer cafona e débil, tudo o que soava como o melhor do romantismo. Além do mais, de verdade? Dotada de toda a razão que um bom copo pode me dar, algo me diz que se eu procurar bem – preferencialmente bem longe da simplicidade babaca e confortável de toda relação equivocada pela cegueira da paixão ou da retidão – acabarei encontrando uma resposta decente para os meus porquês. E não vai ser uma explicação duvidosa e reticente, mas alguma poesia inexplicável e memorável sobre toda essa merda de vida. E o resumo do meu copo, nesse dia, será mais ou menos assim: chega de achar bonito ver as moças levando seus animais de estimação para passear no parque e os castrando em pet shop. Está aberta a temporada de caça e, apesar do meu amor aos animais, eu sou sniper e vou viver como tal.

* Se ela precisou de um mês pra se recuperar de um morteiro, não vai ser por amor que vou viver chorando.



Escrito pela Alê Félix
21, setembro, 2011
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Passei um bom tempo olhando firmemente nesses olhos e tentando me ver. Enxerguei um pouco, lembrei de mais um pouco, me encontrei em um lugar que sei que ela e eu desejamos, mas feito para que nos perdêssemos. Não sinto falta desse medo, não sinto falta da urgência de ir embora, nem da insatisfação. Sinto falta desse silêncio, mas foi ele que me contou que sempre fomos assim, tristes assim. E que a única coisa que aconteceu nesses anos todos é que aprendemos bem a mentir, a refletir e a pagar a conta para fugir. Olhar nos meus próprios olhos não tem me feito bem… Não tem.



Escrito pela Alê Félix
18, setembro, 2011
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Nunca – A Banda Mais Bonita da Cidade



Escrito pela Alê Félix
18, setembro, 2011
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Depois de um fim de semana único e indescritível pela ilegalidade de alguns momentos, ontem, uma amiga francesa que estou corrompendo os valores com um pouco de travessura, me mandou um torpedo dizendo – entre outras coisas lindas – que tem muita sorte por ter me conhecido. Hoje, um amigo argentino que morou os últimos dois meses aqui no Brasil e se tornou meu grude predileto e das criaturas que mais sinto falta, me mandou um email dizendo que sou um presente que a vida lhe deu e que não vai deixar que a distância nos separe. Agora, entro no Facebook e a prima do meu primeiro namorado (nem vou dizer quantos anos atrás pra não denunciar a idade) me diz que tá pra ganhar nenê, quer me ver e que nunca vou deixar de fazer parte da família…
Aí, venho aqui pro blog, escrevo um post, dou o link no Facebook e um psiquiatra conhecido, mas que sempre desejei ser mais próxima, me clica no “curtir” da nota, dando sinais de que eventualmente me lê. Fiz graça com o fato de que suas opiniões eram quase um laudo médico e ele me responde assim: “Alê, você foi a única que conseguiu soltar a camisa de força até hoje.”

Na boa? Isso é esquisito. Sem nenhuma falsa modéstia, é uma sequência de carinho um tanto quanto estranha. Ninguém merece tanto amor desse jeito, a não ser que esteja prestes a morrer e é isso que tô achando. Mais uma dessas e vou ter certeza de que tô pra morrer, com alguma doença terminal e tá todo mundo sabendo menos eu! Sério. Se ainda fosse na época do Orkut, que tinha aquela opção brega e necessária nesses tempos que precisamos de testemunho pra dizer o quanto amamos e admiramos alguém, ok. Mas, nesse caso, sem nenhum motivo e espaço pra afeto, só posso achar que é a morte chegando! Sabe como é? Aquelas coisas que acontecem sincronizadas com o universo e tal… Sabe? Pra fazer a vida parecer que teve sentido e tal… Nem careço! Podem parar já! Tô em paz. Tudo que faço, faço por mim e não por vocês. Quase nem dou a mínima pra vocês.
Sendo assim… Oremos para que eu esteja delirando e eles tenham desperdiçado a hora certa da minha declaração. Tenho fé de que ainda enterrarei todos eles mas, se eu der azar de ir primeiro, só digo uma coisa: quero a frase do meu amigo psiquiatra na minha lápide! É a coisa mais bonita que já me disseram, ele cravou no meu coração cada letra, assim que li. Favor não esquecerem. Na lápide! Grata.

PS – Paulo… 🙂 Sorrio toda vez que leio a frase. Depois dessa, cê ganhou um lote enorme no meu coração e na minha lápide, tá? Nem sei, viu… Coisa linda. Amei num tanto… Ainda mais você sendo psiquiatra, sabe? Mais ainda depois de ter dito que não é papinho de médico, que vocês não dizem isso pra todas… Olha, mesmo que tenha sido, a frase é minha e ninguém tasca. Bonito de verdade. Obrigada. Não vou esquecer nunca que foi você que me deu o melhor laudo médico que eu poderia receber na vida e depois da vida. 🙂



Escrito pela Alê Félix
9, setembro, 2011
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Não quero mais ter pressa. Pra nada. Nem para pagar minhas contas, nem para tirar minhas férias, nem para aproveitá-las o máximo possível tirando fotos pra dizer que vivi, nem muito menos para que a aposentadoria me traga a paz que eu mereço. Nada de pressa para esperar pelo amanhecer, muito menos pressa para amar. Quero respirar fundo e agradecer. Não quero mais viver correndo. Correr me fez esquecer. E eu nem vi. Como foi que cheguei aqui? Trabalhar para comer? Acelerar para evitar o medo? Buscar qualquer prazer para esquecer? Daqui a pouco chega o fim… E eu nem sei se quis que fosse assim. Gastei todo meu latim, desperdicei tanto nanquim, perdi toda minha forma tupiniquim e nem aprendi a sorrir para as rimas pobres, muito menos para as ruins. Quero ter tempo para ver a graça naqueles que erroneamente julguei sem graça. Quero dar meu tempo e meu beijo só para quem tiver paciência para aprender a gostar. Quero tempo pra intimidade, lealdade, para as verdadeiras amizades. Quero ouvir. Ler e compreender. Tempo para escrever e me corrigir. Saborear o que me for dado no prato e na boca pelo simples prazer de experimentar. Quero o tempo de aprender a me relacionar antes da fuga do ficar. Quero quem prefira se perder na cama e na estrada ao invés dos encontros a espera da morte que separa. Quero parar de olhar para o relógio… Feito boba atrás da felicidade como se ela fosse uma linha de chegada. Quero a serenidade para caminhar e parar pelo caminho, pedir mais uma e apreciar a paisagem. Não… Eu não faço a menor ideia de como foi que cheguei até aqui. Toda essa minha pressa, para onde ela me trouxe? Todas as minhas urgências, quem foi que resolveu? Todos os prazos, quando foi que acabaram? As cobranças, as emergências, as relevâncias. O caos que me arrastou pro vazio. Esse vazio que me levará doente pra cama, imobilizará meus músculos e me pedirá ironicamente para respirar mais um pouco no final… Respirar e olhar aonde foi que me meti. Tive tanta pressa… Pressa pra chegar em lugar nenhum. Pressa para entrar e sair de todas as minhas caixas, regras, vidas que circularam a minha. Pressa para ver os remédios fazerem efeito e me curarem da minha própria pressa. A pressa que vai me obrigar a ver a porta da morte bater diante do meu último piscar de olhos, sem que eu tenha entendido pelo menos um mísero segundo. Sem nem sequer ter compreendido e atendido os pedidos mais simples do meu corpo, do meu coração… Toda essa pressa, tanta pressão. Depressa só se desperta a merda da depressão. Ter pressa, seja para o que for, de um jeito muito sutil e traiçoeiro, só revelou minha falta de habilidade, minha falta de vontade, meu desespero para ir embora daqui. Pressa, é só pressa para morrer. E eu ainda nem sei se quero… Toda a pressa que nos desperta, toda a pressa que nos faz dispersar e desconectar… Da alma.



Escrito pela Alê Félix
5, setembro, 2011
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