Não quero mais ter pressa. Pra nada. Nem para pagar minhas contas, nem para tirar minhas férias, nem para aproveitá-las o máximo possível tirando fotos pra dizer que vivi, nem muito menos para que a aposentadoria me traga a paz que eu mereço. Nada de pressa para esperar pelo amanhecer, muito menos pressa para amar. Quero respirar fundo e agradecer. Não quero mais viver correndo. Correr me fez esquecer. E eu nem vi. Como foi que cheguei aqui? Trabalhar para comer? Acelerar para evitar o medo? Buscar qualquer prazer para esquecer? Daqui a pouco chega o fim… E eu nem sei se quis que fosse assim. Gastei todo meu latim, desperdicei tanto nanquim, perdi toda minha forma tupiniquim e nem aprendi a sorrir para as rimas pobres, muito menos para as ruins. Quero ter tempo para ver a graça naqueles que erroneamente julguei sem graça. Quero dar meu tempo e meu beijo só para quem tiver paciência para aprender a gostar. Quero tempo pra intimidade, lealdade, para as verdadeiras amizades. Quero ouvir. Ler e compreender. Tempo para escrever e me corrigir. Saborear o que me for dado no prato e na boca pelo simples prazer de experimentar. Quero o tempo de aprender a me relacionar antes da fuga do ficar. Quero quem prefira se perder na cama e na estrada ao invés dos encontros a espera da morte que separa. Quero parar de olhar para o relógio… Feito boba atrás da felicidade como se ela fosse uma linha de chegada. Quero a serenidade para caminhar e parar pelo caminho, pedir mais uma e apreciar a paisagem. Não… Eu não faço a menor ideia de como foi que cheguei até aqui. Toda essa minha pressa, para onde ela me trouxe? Todas as minhas urgências, quem foi que resolveu? Todos os prazos, quando foi que acabaram? As cobranças, as emergências, as relevâncias. O caos que me arrastou pro vazio. Esse vazio que me levará doente pra cama, imobilizará meus músculos e me pedirá ironicamente para respirar mais um pouco no final… Respirar e olhar aonde foi que me meti. Tive tanta pressa… Pressa pra chegar em lugar nenhum. Pressa para entrar e sair de todas as minhas caixas, regras, vidas que circularam a minha. Pressa para ver os remédios fazerem efeito e me curarem da minha própria pressa. A pressa que vai me obrigar a ver a porta da morte bater diante do meu último piscar de olhos, sem que eu tenha entendido pelo menos um mísero segundo. Sem nem sequer ter compreendido e atendido os pedidos mais simples do meu corpo, do meu coração… Toda essa pressa, tanta pressão. Depressa só se desperta a merda da depressão. Ter pressa, seja para o que for, de um jeito muito sutil e traiçoeiro, só revelou minha falta de habilidade, minha falta de vontade, meu desespero para ir embora daqui. Pressa, é só pressa para morrer. E eu ainda nem sei se quero… Toda a pressa que nos desperta, toda a pressa que nos faz dispersar e desconectar… Da alma.



Postado por:Alê Félix
05/09/2011
6 Comentários
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Vívian Freitas

setembro 5th, 2011 às 11:21

Me identifiquei. Mas acho que só vou parar de ter pressa quando começar a viver.


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julia

setembro 7th, 2011 às 14:31

Me identifiquei demais….. pressa, aliada a ansiedade, nos faz correr sem olhara para o que realmente importa….. nem sempre sabemos onde estamos, como saberemos onde vamos?

como sempre, o texto, muito bom…


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Barbara Stein

setembro 7th, 2011 às 23:59

É, acho que a maioria das pessoas que vive atualmente nesse mundo caótico se identifica com essas palavras, que por sinal foram muito bem escritas.
Em resumo, me apaixonei pelo blog, é minha primeira visita mas espero poder ” com calma ” visitar muitas e muitas vezes, estou adicionando a lista de blogs que recomendo, espero que não se importe, é sempre bom compartilhar conteúdo de qualidade.
Beijos querida :*


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*margaridanegra*

setembro 8th, 2011 às 10:48

gostei…
sempre disse que vivi no “FF” e agora eu quero viver no “play” rsrs.


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claudia

setembro 13th, 2011 às 9:05

obrigada,lembei que respiro.beijos


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Anthony, Cristian, Bruno, Gabriel

setembro 29th, 2011 às 14:09

Estamos fazendo um trabalho de Português você nos ajudou muito, obrigado


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