Não me recordo de um olhar mais triste, mais verdadeiro, que implorasse por mim mais do que o seu. Não tive que lidar com um amor a primeira vista, mas lembro de ter me enfiado em seus olhos e me encantado de tal forma que nem a distância nem a forma como nos conhecemos me impediriam de tocá-los.
Descobri nesses últimos dias, enquanto eu chorava por tudo o que perdemos, que tudo que eu quis, desde o começo, era te ver sorrir… Daquele jeito que você diz que eu pergunto quando começam a me contar uma boa história, sabe? Insistindo, insistindo e insistindo…
Quis saber porque você não queria me dizer palavra alguma, mas me olhava pedindo que eu fosse de verdade, pedindo que eu tivesse a paciência necessária pra te fazer algum tipo de companhia. Quis saber da sua tristeza, quis saber de onde ela vinha e se era possível acalmá-la. Quis aprender como te fazer sorrir desde sempre… Nem que fosse um meio sorriso enquanto acordava ao meu lado, quase desesperado de tanto cuidado que tinha por mim. Te dei um primeiro sorriso, dois, três, sorri todo meu repertório de sorrisos tentando te ensinar através da imitação ou o do despertar de qualquer paixão que o fizesse perceber as graças da vida. Mas você só sabia me olhar com ternura, desejo, tocar a tela como se eu precisasse de abraço e voltar para o silêncio que te protegia… E foram tantos abraços, tanta ternura que retribui desejo com desejo, mais o tanto de verdade que você exigia. Te dei recomeços, você me deu certezas…
Nos dias que parei de tentar fazer você sorrir, no dia precisei sentir que você existia, só fui tão longe porque eu precisava chorar ao lado de alguém que soubesse como ser triste tanto quanto eu estava. E você me acolheu, tomou conta do meu sono, me levou para o teatro, para o circo, pra passear no parque, para todos os lugares inspirados pela alegria. Em troca da sua proteção te dei um único beijo e fui embora…
Quando voltei, voltei achando que você continuava precisando de felicidades e consertos… Te sugeri a roupa que eu julgava certa, o melhor sapato pra você caminhar sobre o nosso caminho. Te pedi um caminho numa época que havíamos desistido das escolhas. Cortei seu cabelo, sua barba, aparei um pouco da sua raiva. Te dei um nome, uma namorada, uma cidade e uma vida alinhada pra sair do quarto e exibir na rua. Como se eu não soubesse que o que era bom pra mim, não era pra você…
Anestesiado por sentimentos que você nunca havia sentido, provavelmente por toda a ilusão, você me levou pra ver o mar, as montanhas, os limites do céu, todos os pedaços espalhados do mundo que eu precisava juntar. E ainda assim eu só queria te ver sorrir… E você não sorria, não perdoava, se protegia, evitava, se preservava… Gozava com a gratidão ingênua daqueles que acreditam ser incapazes de desejar outra pessoa. Achava que era amor o que qualquer criança desconfiaria que era febre… E eu só queria te dar prazer, te ver gozar, te fazer feliz nos traços do rosto pra nunca mais ninguém duvidar de toda a beleza que eu descobria quando estava em seus braços.
Soube das suas mágoas pela sua boca e te beijei todas as vezes que senti seus lábios curvarem de ressentimento. Acariciei seu peito a cada história triste que você conseguiu arrancar do coração e, juro que tentei te compreender e te aceitar, mas só se fosse pra te ver sorrir…
Agora, depois de tanto tempo, sei que tudo o que te ofereci, quase sem querer, foi sim um grande tanto de amor. Mas era um amor egoísta, desses que cismam com o sorriso e ignoram a construção de um vinculo que está longe de ser momentâneo. Enquanto eu tentava te fazer feliz, você me fez feliz… E, apesar das nossas eternas e opostas certezas, que pena que a gente não viu.



Escrito pela Alê Félix
31, março, 2011
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Alessandra diz:
Aí eu encanei que Jesus sofria bulling por ter que trabalhar dando noção pra ovelha, gostar de uma garota de programa e ser filho de mãe solteira. Daí, de saco cheio do papinho reaça e preconceituoso da época, deve ter botado a cachola pra funcionar e percebeu que tudo aquilo não passava de uma grande sacanagem social, sacal, comportamental e blábláblá. Começou a pensar nas relações humanas, na pataquada toda que ditava o que era certo e errado… Igual a gente faz quando bebe além da conta e fica inteligente, sabe? Provavelmente ele começou o papo todo tentando pregar o amor livre, deve ter plantado umas ervas estranhas nos pés dos morros enquanto pensava, a fumar maconha com uns desocupados, a ver umas alucinações através dos raios solares dos fins das tardes, passou a chamá-las de pai num dia que bateu as nóias por não ter tido pai, o discurso sobre amor livre certamente atraiu a galera igual aquele show que os Beatles fizeram em cima de um prédio, o rei não deve ter curtido o zumzumzum em torno disso tudo, rolou a caguetada básica do amigo e bum! Tiraram Jesus pra cristo, deve ter batido um ataque de catalepsia e – quando ele voltou ao normal – a lambança do cristianismo que atravessaria séculos estava armada…
Rubens diz:
De onde veio isso?
Alessandra diz:
De lugar nenhum, só tava aqui pensando… Acho que foi isso que aconteceu! Você não acha que pode ter sido isso? Porque olha só… Depois de tanto pensar e me estrepar nessa vida, ando pensando no amor de forma bem semelhante a que Jesus pensava. Mas eu não sou muito crente, só penso mesmo na importância do amor verdadeiro na vida da gente, na construção das relações de afeto, na desconstrução dos preconceitos e de todas as coisas babacas que aprendemos sem querer e só atrapalha.
Rubens diz:
Esse texto é seu?
Alessandra diz:
Não é um texto, cabeça! É só um pensamento que tô dividindo com você… Quer fazer o favor de me ajudar a pensar aqui? Então… Acho que, na verdade, o que deve ter acontecido é que Jesus começou a história toda falando de relação! Igual a gente em boteco. Imagina o quanto ele devia ser zoado por gostar de uma mulher falada, ser filho único, mãe aparentemente solteira, as ovelhinhas não facilitavam… Ele era alvo fácil pra trol, concorda? Aí deve ter se isolado nos morros, pensando à béça sobre todas essas coisas ruins da humanidade, elevou a parada do papo sobre o amor pra uma linha de pensamento mais ampla e a negada toda pirou o cabeção! Não faz sentido isso pra você? Meu, o cara só tava falando igual a gente fala quando fala sobre amor, sociedade… Aposto até que ele deve ter falado pra geral que transava com a Mada porque ele era livre pra amar quem ele bem entendesse! Viiiixi, deve ter sido um escândalo falar de cutuco naquela época…
Rubens diz:
Hahahahaha! Vai ser assassinada por uma facção cristã radical.
Alessandra diz:
Tipo, imagina se ninguém falasse de amor no mundo e aí a gente começasse a ter os papos que a gente tem no meio da praça… Não ia pipocar de gente pra ouvir? O assunto devia ser amor livre, os amigos maconheiros começaram a escrever as viagens que eles tinham porque deviam ser pensamentos mega revolucionários pra época! Tudo igual a gente faz quando tem ideias maneiras e inventa de querer escrever livro! Sendo assim, nem deve existir nada de deus… Só amor! Vixiiii… tô achando que acabei de descobrir o que realmente aconteceu na época do lorão… Será que era lorão mesmo? Já ouvi dizer que era negão… naquela música… lembra? Cara, eu sou um gênio. Jesus me pagaria um pau. Deus era só uma questão de paternidade sendo resolvida através das aberturas da percepção causadas por alucinógenos. Deus não existe! O que é uma pena porque eu me amarrava à beça na ideia de morrer e ver que ele é uma espécie de Pedro Bial e que eu abriria os olhos do lado de lá e teria uma galera me aplaudindo e deus dizendo “Estamos de volta!”… Mas putz, acho que não existe mesmo não. Deus era só uma viagem de Jesus, um amontoado de papo filosófico sobre afetividade, sobre o amor! Foi tudo sobre o amor!
Rubens diz:
“Deus é Amor”.
Alessandra diz:
Caraaaaaaaaaaaaaaaca! Jesus pagaria pau pra você também.

Escrito por Alê Félix

* esclarecimento sobre o post acima: esse é um texto de humor, não o leve a sério. Não foi escrito para ofender ninguém, nem nenhuma religião.



Escrito pela Alê Félix
26, março, 2011
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Veena Malik é atriz, embaixadora do Paquistão e participou da versão indiana de um reality show, na linha dos “Big Brothers” da vida. A moça foi condenada por suas ações dentro do programa e confrontada por pessoas como o mulá islâmico, que aparece no vídeo alegando (mesmo sem ter visto o programa) que a moça desonrou a cultura paquistanesa. Veena foi extremamente firme em sua defesa, coerente, sensível e me fez pensar quantas de nós teriam a força que ela teve pra segurar o choro e não abaixar a cabeça para o que boa parte da sua cultura prega, quantas de nós consegue zelar pela correção de nossos atos mesmo quando aos olhos dos outros estamos erradas…

Espero não esquecer das lágrimas da Veena.



Escrito pela Alê Félix
24, março, 2011
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Juro, eu me sinto mal por usá-lo da forma que usei. Mas você sempre soube, você ainda sabe, nunca foi por falta de amor. Eu não deixo de amar um homem, só perco a vontade de lhe escrever… O amor se mantém, o desejo se mantém, mas palavras se esvaem e eu finjo que tudo não passa de mais um erro meu.

Sim, eu me sinto mal por ser assim. É como se, ao invés de amor a primeira vista, eu sofresse de inspiração a primeira vista. Me sinto na obrigação de pedir desculpas no final. O que você quer pelas histórias que me deu? Foi como se, seduzi-lo, fosse fundamental para a minha alma e não para a minha vaidade. Não ofereço amor em troca de amor… Contanto que despertasse em mim tudo o que ainda me restasse de poesia e vontade, eu te daria o que quisesse, o que precisasse, o que desejasse. Por apenas alguns dos versos que você me levou a tecer, eu aprenderia a como te amar com devoção, para sempre se fosse da sua vontade. Te ensinaria a morder e mastigar cada momento de prazer que desconhece. Era só me manter com vontade de te escrever… Só.

E agora, me sinto a egoísta da sua história. Como se só me interessasse deitá-lo no meu colo, acalmá-lo com todo o afeto que necessita, para depois confundi-lo com um pouco mais de paixão. Como se, cada abraço meu, fosse um movimento indiscreto para me aproximar dos seus ombros, passear minha língua pela sua orelha, nuca, pescoço… Só para experimentar da sua jugular e descrever o gosto. Só para descobrir suas cicatrizes, mapear o seu corpo, percorrer suas lembranças, descobrir os adjetivos certos, a narração menos entediante, o ritmo mais preciso, a rima mais comovente.

Me sinto mal… Não sinto mais vontade de escrever, acho que não te amo mais. Desculpa. Eu sei. Não é culpa sua. Não repare quando outro estiver em seu lugar. Não é pessoal. É só inspiração, talvez um pouco de provocação. Uma história… Nada além de uma história.



Escrito pela Alê Félix
15, março, 2011
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Pelo direito de desejar em voz alta ou se rastejar por um homem ou fazer qualquer outro tipo de papelão dentro de casa ou em rede nacional. :-/

Toda quinta-feira uma turma de amigos se reúne para jantar e assistir Big Brother. Não vejo o programa, mas estive com eles em alguns dos encontros no último mês. Logo no primeiro jantar, dei graças a deus por não estar perdendo tempo diariamente com o programa, de tão chatos que me pareceram os integrantes. Todo mundo muito forçado, mas me simpatizei por uma moça de voz engraçada, que não parava de falar um minuto sequer, não ouvia ninguém e que – segundo me disseram – estava correndo atrás de um rapaz bem esquisitinho e que a tratava com uma indiferença quase patética.

Fiquei interessada pelo casal e meus amigos me contaram a história toda que rolou entre a Maria e o Mauricio, a saída dele do programa, a fofoca que ele ouviu de outra participante sobre Maria ser garota de programa e blablablá…

De cara, achei uma sacanagem fora do comum ele não contar a ela o que ouviu na casa de vidro, sobre ela ser garota de programa. Me pareceu claro, pela expressão indignada do Mauricio de Copacabana, que esse era o ponto chave da sua mudança de interesse por Maria. Compreensível que ele não queira se relacionar com uma prostituta, mas daí pra achar que Maria devia se dar por satisfeita com a volta desinteressada do rapaz, sem nenhuma explicação plausível, achei um pouco demais.

Maria não é o tipo de menina que está acostumada a levar toco de menino nem aqui nem na China. Ela é indiscutivelmente bonita, simpática, engraçada. Pode ser chata, mas é da natureza feminina perder a medida da chatice quando não entende o que está acontecendo. Se essa garota levou mais do que duas dispensadas na vida, foi muito. Aí ela entra em um reality show, fica com um cara que parece interessado mas que saí do programa um e volta em seguida completamente diferente. Convenhamos… Óóóóbvio que qualquer pessoa no lugar dela, estando em um jogo onde os integrantes batalham pela aprovação nacional, acharia que Mauricio foi pra rua, soube de alguma informação negativa sobre ela e por isso não a quis mais. E, não necessariamente sobre ser garota de programa (já que talvez ela nem seja de verdade), mas qualquer outro tipo de rejeição popular que o fizesse querer se afastar. Que mulher no lugar dela dormiria em paz dentro daquela casa com esse tipo de dúvida?

Não sei se é esse o motivo que a faz correr atrás dele. É só uma hipótese. Ela pode estar apaixonadinha de verdade, pode lidar mal com toco, pode ser maluca, pode ser um pouco de tudo isso e pode ser o que for. Sei é que eu olho pra Maria e acho ela uma graça de menina, uma rara figura que não fica fazendo tipo pra conquistar homem, não faz o jogo babaca que nos ensinam há décadas: “Quer conquistar um homem? Seja uma garota difícil, não demonstre interesse, não ligue no dia seguinte, espere sempre por ele, não dê na primeira noite, não dê muito, peça um tempo pra pensar quando ele te pedir em namoro, negocie sexo, negocie compromisso, cuidado com as suas roupas pra não parecer vulgar, tem que ser santa na rua e puta na cama, não seja muito puta na cama, cuidado com isso, cuidado com aquilo, não fale alto, não ria alto, não seja muito alegre, não, não, não, não, não, não seja quem você quiser ser! Nunca seja quem você realmente quiser ser!”.

Eu ODEIO essa castração social que ainda fazemos – mulheres e homens – com a alma feminina. Todas as mulheres que eu conheci na vida, todas – sem exceção – gostam mais de sexo do que todos – sem exceção – homens que conheci na vida. E antes que essa vire a questão principal do post, não me refiro a quantidade, mas a qualidade. Homens falam, falam, falam… Mulheres normalmente pensam em sexo, tentam fazer sexo, conversam com amigas sobre sexo e até estudam sobre sexo. Mulheres estão sempre tentando melhorar a qualidade da vida sexual (mesmo quando não se interessam tanto, mesmo que nunca tenham gozado), por julgarem importante pra saúde, pro homem que ela ama e pelo bem da relação. E, mesmo assim, todas elas – sem exceção – fazem silêncio sobre isso, porque foram massacradas com o ensinamento de que o correto é silenciar sobre o assunto, deixar o homem acreditar que é ele quem gosta mais, quer mais. Fazemos isso porque fomos ensinadas que é assim que se tem que amar um homem, respeitando as vontades dele acima das nossas. Nem questionamos se isso faz algum sentido ou não. Dizem pra nós mulheres que falar a verdade para um homem pode desmasculinizá-lo, mas sempre me perguntei que tipo de prazer eu teria com um homem que achasse masculinizante eu omitir e reprimir meu desejo por ele…

Sobre as atitudes de Maria, o que mais tenho ouvido enquanto acho graça é: “Maria não tem amor próprio”, “Maria não se dá o valor”, “Maria é vulgar”. Vou ser um pouco grosseira com meus amigos e amigas que participam desse coro e espero que eles e você que faz parte dessa turma me perdoe por isso, mas vou dizer o que penso porque Maria tem me inspirado a dizer o que penso. Se você tem dito essas coisas sobre ela, saiba que o que você está fazendo é espalhar velhos julgamentos sobre comportamento feminino num mundo que deveria ser melhor do que já foi para as mulheres. Essas frases super educativas deixam claro como a nossa evoluída sociedade acredita que uma mulher deve se portar… E isso não é bom! Você não vê que não é bom!? Você é uma pessoa careta, conservadora e não sabe se divertir e muito menos se deixar levar por uma boa sedução. Você está castrando o desejo de uma mulher livre, que faz o que lhe dá na telha e o faz com humor, com paixão, com toda a graça que a juventude, a beleza e o tesão podem proporcionar num processo de conquista. Homem pode, mulher não pode, né? Eu sei, eu sei… vocês vão alegar a parte vulgar. Uma banana pra parte vulgar! Vulgar é se fazer de boa moça pra dar golpe do baú, vulgar é parar de tomar anticoncepcional e não avisar o parceiro, é negociar sexo por bom comportamento do marido, vulgar é abrir mão do prazer pra viver de aparências… Eu também aprendi que ser vulgar é feio. Vi três episódios do programa, mas não sei se preciso mais do que isso pra achar uma porção de exemplos femininos e masculinos, muito mais vulgares do que o jeito da Maria.

Eu sei que não sou uma mulher comum, que não sou referência comportamental pra mulher nenhuma, que tenho atitudes muitas vezes mais parecidas com a de uma louca varrida como a Maria do que as de uma donzela que precisa ser protegida feito tanta mulher maquiavélica que existe por aí. Penso em menino desde os cinco anos de idade, fui emancipada aos dezesseis anos por ser muito saidinha e sai de casa com dezoito por ser muito assanhada. Já fui dona de um bar noturno e ao invés de aproveitar a farra casei com meu sócio e fui a mulher mais fiel e apaixonada do mundo. Fali e sobrevivi ao lado dele, enquanto alimentavam minha fama de maluca. Mantenho hoje três empresas diferentes de um jeito que costuma assustar grande parte dos homens comuns, sou sócia da ex-prostituta mais famosa do Brasil em um site e loja virtual de produtos eróticos femininos e dou uma banana para o que pensam (os seres humanos médios) sobre ela e a minha decisão de trabalhar hoje em dia ao lado dela. Gosto de sexo muito menos do que os homens acham que eu gosto, acho anti-higiênico ficar com uma pessoa por ficar, sou incapaz de me entregar completamente a um homem que eu não confie e goste verdadeiramente. Não me orgulho disso, só trato de respeitar minha necessidade de afeto tanto quanto meu desejo por orgasmos. Nunca quis ter filhos, nunca quis me casar de véu e grinalda e tive três longos relacionamentos que chamei de casamento. Um número de homens absurdamente menor do que a maior parte das moças direitas desse país assumem ter tido, por não poderem falar abertamente sobre quantidade sem parecerem vulgares. E, um número muito menor do que os homens acreditam que uma mulher com esse currículo acima realmente teria. A questão é: nem tudo o que vocês pensam que é certo é certo numa mulher. Mulher é um ser que essencialmente não faz sentido e deveria muito ser respeitada por isso de vez em quando.

Me separei há alguns meses e, sempre que vejo a Maria, dou graças a deus por “ter feito a Maria” e deixado claro para o meu ex-marido que no começo da separação eu o queria de volta. Fico me imaginando seguindo a cartilha que diz que o certo seria eu dar um tempo, esperar que ele voltasse no tempo dele e não no meu, e dou risada. O desejo é meu, o tempo é meu, não acho humano ensinarem para uma mulher que o certo é ela esperar pela natureza masculina enquanto anula a própria.

Às mulheres que esperam, digo que espero de todo o meu coração que um dia vocês morram enquanto esperam. E que, lá no céu, alguém seja capaz de mostrar a vocês a quantidade de vida que perderam enquanto faziam o papel social supostamente certo. Quero ver a cara de panaca de cada uma, se vendo desperdiçar vida por causa de homem. E olha que digo isso sendo uma das maiores curtidoras de sofrimento causado por menino que já vi. Mas eu sofro no meu tempo, em busca da minha verdade e não dando um tempo.

Agora pouco acabei de ler na UOL, três “especialistas” dizerem um monte de bobagem sobre os “erros” que Maria cometeu ao tentar reconquistar Mauricio. Na boa? Com todo respeito aos especialistas, fazia tempo que eu não lia tanta baboseira. Cada erro dito por esses caras nada mais é do que um adestramento feminino para que as mulheres sejam aceitas por homens inseguros, uma cartilha babaca e hipócrita de como conquistar um sujeito através de artimanhas e atitudes que não revelam os verdadeiros desejos, a verdadeira personalidade. Se uma mulher é naturalmente como eles dizem que é o certo ser, ok. Parabéns! Seja feliz do seu jeito, felicidades, minha nega! Mas, se uma mulher não é assim, please… Não tentem transformá-la na virgem imaculada que a nossa cultura machista e cheia de falsos moralismos julga ser a adequada. É ridículo! Vou colocar o link pra matéria do UOL lá no final do post, mas o resumo da ópera dito pelos três especialista foi o seguinte:

1) Seja indiferente, não provoque seu parceiro, anule totalmente seus interesses por outros caras enquanto você é desprezada por quem você realmente gosta, pois isso pode ser interpretado como provocação de ciúmes e isso é muito feio.

2) Não peça perdão. Homem pedir perdão é bonito, mulher pedir desculpa é coisa de quem não se dá o valor. Isso é muito feio pra uma mulher.

3) Desejo explícito de mulher não é excitante! Homem gosta disso, homem não gosta daquilo, não faça o que você quer, faça o que for necessário e “socialmente correto” para ter um homem. Uma mulher manifestar explicitamente os desejos é uma coisa muito feia.

4) Conforme-se com um fora, mesmo que o cara não tenha a decência de te contar que o fez porque deu ouvidos a uma fofoca. Não se conformar é muito feio!

5) Não tente seduzir com striptease e confissões sobre masturbações, isso não é uma coisa natural em rede nacional, só escondidinho na sua casa. Pra todo mundo ver é muito feito!

6) Homem não gosta de mulher bêbada, histérica, ansiosa, que fala e se exibe demais. Homem não gosta, homem não gosta, homem não gosta… Mude já pra conquistar o seu homem bêbado, histérico, ansioso, que fala e se exibe demais. O jeito dele de agir diz que ele tem a personalidade forte, mas o seu jeito de agir é considerado vulgar e isso é muito feio!

7) Seja misteriosa, arrogante, monte um personagem que seja mais facilmente comestível aos olhos do seu donzelo. Ser igual a Maria é muito feio…

Depois da pataquada toda acima, me sinto aliviada de dizer que não tenho a menor vergonha de dizer o que sinto, o que eu desejo, de pedir perdão, de eventualmente ser explícita, de me dar tanto valor a ponto de saber que não sou mulher para qualquer homem e que o mínimo que vou esperar do que vou escolher é que ele seja honesto quando me disser sim e quando me disser não. Me sinto aliviada por nunca ter pertencido ao grande grupo de mulheres que aceitam esses conselhos de especialistas só para garantirem um homem pra chamar de seu. Por não fazer a menor questão de fazer tipo, não castrar minha personalidade e meu desejo pra fazer bonito no salão… que alívio! Fico feliz de ver a Maria ser a Maria em rede nacional. Acho meio que certo que ela pegue uma Playboy muito bem vendida porque ela é uma linda, que saia dali para algum Zorra Total da vida porque ela é um quadro de humor pronto, que o Mau Mau nunca se dê conta da mulher que perdeu porque ele é mega tapado e que ela continue tendo o homem que ela quiser ter, sendo a puta mulher pra casar que muitos homens querem mas poucos merecem.

Sempre quis dizer isso e nunca tive coragem, mas não há nada que eu goste mais do que um homem que me deixe a vontade para conquistá-lo, que compreenda meu tempo, que me deixe acreditar que eu o seduzi. É bom ser conquistada, mas eu me sinto tão super gostosa quando conquisto. Que mal há nisso?

Maria me fez ter saudade da menina desmiolada que eu sou quando me apaixono, quando sou obrigada a fazer a Maria da relação pra tentar entender um moço cabeça dura. Meus amigos dizem que falo isso sobre ela porque não vejo o programa, porque ela é burra, porque isso, porque aquilo… Realmente não me interessa nada disso. Gente burra pra mim é gente que quer padronizar as almas desse mundo, é gente que não aceita que essa menina seja do jeito que ela sentir…

Gente burra, pra mim, é gente que acha que homem é um bicho tão inseguro que seria incapaz de amar e respeitar uma mulher que diga que o deseja em sua boca, misturando a palavra e a língua com leite condensado.

Deveríamos ser mais Maria, muito mais Maria…

O link da UOL? Aqui.

Escrito por Alê Félix



Escrito pela Alê Félix
13, março, 2011
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O primeiro contrato deve ter sido inventado por alguém muito correto, só para nos fazer pensar. Aí, um dia, alguém muito ingênuo foi lá e assinou. Segundos depois, algum comerciante malandrão abriu um cartório na esquina.

Contratos devem ter sido inventados para se tornarem a maldição dos otimistas, a salvação dos distraídos e a arma dos astuciosos.

Quando um contrato se faz necessário é porque existe uma grande possibilidade de não sabermos aonde estamos nos metendo. No que diz respeito as coisas ligadas ao dinheiro, ok. No diz respeito aos vínculos afetivos, nem assim.



Escrito pela Alê Félix
12, março, 2011
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Não vou olhar para o relógio. Que o tempo passe no tempo certo pra me fazer acordar.
Não vou andar em círculos. Vou caminhar até a cama e tentar descansar.
Não vou abrir a geladeira, não há amor no freezer.
Não vou abrir a janela, não quero mais cair.
Não vou dar ouvidos, não vou dar mais nada.
Não vou sair por aí, não quero estar em nenhum outro lugar que não seja aqui.
Não vou tocar no telefone. Chega de conversar…
Não vou ler, não vou escrever, não vou me entreter com outra dor que não seja a minha.
Há luz, mas não me parece haver saída.
Não vou procurar motivos, não vou entrar em desespero.
Nasci sozinha, vou morrer sozinha, já era tempo de aprender a dormir sozinha.
Vou começar tudo de novo… reaprender a respirar, rezar e esperar o dia clarear. Odeio essa parte!
Mais uma noite em claro, mais uma noite no escuro…
Mais uma noite em claro, mais uma noite no escuro…
Horas intermináveis sem dormir hoje, amanhã, depois de amanhã até que o sol entre por alguma fresta de janela, volte a cegar os meus olhos e me faça sonhar um pouco mais. É só esperar pelo grito do sol, da vida lá fora, daquelas ilusões que nos arrancam da cama pra nos jogar em algum outro caminho que preste, que nos faça crer. Um grito feito grito de amigo, de pai e de mãe quando eles aparecem pra nos educar e a gente curte. Um daqueles que urgem com voz professoral… “Toma jeito! E vai se deitar, vai descansar, vê se dorme!”.
E a gente obedece. Eu obedeço. Obedeço feito menina mal educada que só precisa nessa vida de um bom corretivo. Obedeço como quem espera que um pouco de luz acessa espante meus fantasmas. Um pouco de luz… No escuro eu não consigo dormir, mas durante o dia sou super herói…

E aí ela voltou a me atormentar… “Daqui a pouco é hora de criar vergonha nessa cara, daqui a pouco é hora de levantar, daqui a pouco você vai se arrepender de ter deixado a vida de lado, só pra remoer passado. Eu sei que você curte essa choradeira babaca, esse caminho estreito e limitado da dependência emocional mas daqui a pouco é dia, daqui a pouco acaba, daqui a pouco te enterram. E aí? Vai preferir o quê? Viver ou se enfiar em outra relação?”.

Não era uma voz amiga, nem de pai, nem de mãe. Era só uma versão de mim mesma, desdenhando de mim dentro da minha cabeça, uma voz fria e aparentemente sensata, que não é de falar muito, mas que fala o suficiente pras lembranças não me deixarem dormir.

Escrito por Alê Félix



Escrito pela Alê Félix
2, março, 2011
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