Não vou olhar para o relógio. Que o tempo passe no tempo certo pra me fazer acordar.
Não vou andar em círculos. Vou caminhar até a cama e tentar descansar.
Não vou abrir a geladeira, não há amor no freezer.
Não vou abrir a janela, não quero mais cair.
Não vou dar ouvidos, não vou dar mais nada.
Não vou sair por aí, não quero estar em nenhum outro lugar que não seja aqui.
Não vou tocar no telefone. Chega de conversar…
Não vou ler, não vou escrever, não vou me entreter com outra dor que não seja a minha.
Há luz, mas não me parece haver saída.
Não vou procurar motivos, não vou entrar em desespero.
Nasci sozinha, vou morrer sozinha, já era tempo de aprender a dormir sozinha.
Vou começar tudo de novo… reaprender a respirar, rezar e esperar o dia clarear. Odeio essa parte!
Mais uma noite em claro, mais uma noite no escuro…
Mais uma noite em claro, mais uma noite no escuro…
Horas intermináveis sem dormir hoje, amanhã, depois de amanhã até que o sol entre por alguma fresta de janela, volte a cegar os meus olhos e me faça sonhar um pouco mais. É só esperar pelo grito do sol, da vida lá fora, daquelas ilusões que nos arrancam da cama pra nos jogar em algum outro caminho que preste, que nos faça crer. Um grito feito grito de amigo, de pai e de mãe quando eles aparecem pra nos educar e a gente curte. Um daqueles que urgem com voz professoral… “Toma jeito! E vai se deitar, vai descansar, vê se dorme!”.
E a gente obedece. Eu obedeço. Obedeço feito menina mal educada que só precisa nessa vida de um bom corretivo. Obedeço como quem espera que um pouco de luz acessa espante meus fantasmas. Um pouco de luz… No escuro eu não consigo dormir, mas durante o dia sou super herói…

E aí ela voltou a me atormentar… “Daqui a pouco é hora de criar vergonha nessa cara, daqui a pouco é hora de levantar, daqui a pouco você vai se arrepender de ter deixado a vida de lado, só pra remoer passado. Eu sei que você curte essa choradeira babaca, esse caminho estreito e limitado da dependência emocional mas daqui a pouco é dia, daqui a pouco acaba, daqui a pouco te enterram. E aí? Vai preferir o quê? Viver ou se enfiar em outra relação?”.

Não era uma voz amiga, nem de pai, nem de mãe. Era só uma versão de mim mesma, desdenhando de mim dentro da minha cabeça, uma voz fria e aparentemente sensata, que não é de falar muito, mas que fala o suficiente pras lembranças não me deixarem dormir.

Escrito por Alê Félix



Postado por:Alê Félix
02/03/2011
1 Comentários
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Luze Azevedo

março 2nd, 2011 às 12:41

às vezes não sei o que você precisa, noutra tenho certeza. com certeza, não tenho certeza! se criança fosse umas palmadas [“Toma jeito! E vai se deitar, vai descansar, vê se dorme!”.], já teria resolvido. mas, você cresceu e não viveu a menina. foi aborrescente, casou mulher e não viveu menina.

essa sua escuridão me parece a busca de um “eu”, que tá dentro de você [a menina], e foge de mim.

ao ler esse “post” não pude deixar de imaginar-me ao sabor de um vinho, um charuto e o som de Vanessa Rangel cantando à minha consciência:
Eu sinto a falta de você
Me sinto só
E aí!
Será que você volta?
Tudo à minha volta
É triste
E aí!
[cadê suas palavras, suas falas minha alegria de rir e chorar com cada texto seu.]

O amor pode acontecer [ e vai…]

De novo prá você [com certeza, essa eu tenho!]

Palpite!… [da Vanessa Rangel. eu tenho certeza!]

escreve, que a Luz volta; escreve, que o amor sairá do Freezer; escreve, que você não morre sozinha; e, eu, sempre leio!

com certeza assim, sempre ficará, dentro de outra pessoa, que não fica sozinha!


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