Duas coisas: a primeira é que hoje à noite tem chat – às 21h30m. A segunda, é que eu só mando convites para o orkut quando me coloco à disposição para isto. Fora de post, sem chance por que senão eu fico louca. Por isso, quem pediu e não recebeu ou quem quiser entrar, aproveite agora porque também não é sempre que dá pra fazer essas coisas. É isso. Nome, sobrenome e e-mail nos comentários deste post. Inté.



Escrito pela Alê Félix
19, julho, 2004
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– Não é verdade! Não é verdade, Lu. Eu nunca vi essa menina na minha vida. Eu e você estamos noivos, vamos casar… Ter filhos…
– E vou te trair para o resto de nossas vidas, Chifronilda…
– Escuta aqui, babacão, eu vou botar essa sua vesguice no lugar com a unha, entendeu?
– Xiiiiiiiiii! Estão a pensar que isso aqui é o quê seus pirralhos?
– Calma, Seu Manuel…
– Sem mais provocações, Ivo. Estamos em uma delegacia, se você ainda não percebeu.
– Ordem! Silêncio. Um de cada vez…
– Pára! Pára tudo! Só um minuto Seu Delegado, por favor. O moço do Corcel tem razão em se justificar para a namorada. Eu… eu nunca fiquei com ele.
Silêncio… Até o delegado fez silêncio. Não fazíamos a menor idéia do que a Marilu diria e muito menos se ela realmente havia ficado com o Corcel. Mas, como ela era a rainha do improviso, a única coisa que nos restava era controlar o riso caso a próxima encenação fosse muito esfarrapada.
– Delegado, Seu Manuel… me desculpem por tomar o tempo de vocês. A culpa é toda minha. A verdade é que… a verdade é que o Zarolho fez tudo isso por… por ciúmes de mim.
– Ciúmes? De onde você conhece meu namorado, hein? Que história sem pé nem cabeça é essa, menina? Esse louco de nome esquisito aparece sem mais nem menos atirando ovos na gente e agora vem você com esse papo de que foi por ciúme? Olha aqui garota, se você está apaixonada pelo meu namorado, pode tirar o seu cavalinho da chuva porque ele já tem dona!
Coitada… será possível que não passa pela cabeça dessa menina que o namorado manda a maior brasa por fora? Como o amor pode cegar tanto as pessoas?
Fiquei com pena da moça, mas estava muito mais preocupada com o rumo daquela conversa. Marilu parecia insegura e, se ela usasse a desculpa que eu havia dado ao Corcel de que ela e o Zarolho eram irmãos, estávamos ferrados. A namorada e o delegado já sabiam que eles eram só amigos e a confusão de informações seria difícil de ser administrada…
– Controle-se, garota! Eu nunca fiquei com o seu namorado, ok? É que…
Deus ajuda mesmo os caras de pau. Duvido que a Marilu conseguisse sair daquela situação se contasse somente com a sua imaginação fértil. Graças a uma intervenção divina, um time inteiro de voleibol feminino invadiu a delegacia. Minto! Um time não; dois. E, aos berros, um guarda tentava explicar para o delegado que aquele fuzuê tratava-se de uma briga começada na final de um campeonato estudantil…
– Seu delegado, não me leve a mal não, mas dá pra gente fazer uma pausa pra ver a mulherada se descabelando?
– Ivo!
– Porra, Voadora! Vai beliscar a bunda da mãe, moleque!
– Se eu for preso pelos seus desacatos a autoridade você vai ver quem é que vai ficar descabelado.
– Eu já não mandei vocês dois fazerem silêncio?
– Pô, Seu Manuel! Pra quê? A gente mal consegue se ouvir… Isso aqui tá melhor do que Corinthians e Palmeiras. Quem diria que esse dia dos namorados seria tão maneiro… Putzgrila! Olha essas minas!
– Agora lascou…
– Não tô acreditando…
– Ninguém vai dar um jeito nisso, não?
– Silêncio ou eu vou mandar prender todo mundo!
– É ruim, hein, doutor… Num tem cela pra todo esse povo, não.
– E alguém pode me dizer como é que essa gente toda veio parar aqui?
– Foi aqui no Ginásio ao lado, doutor! A diretora da escola me disse que no último set o pau comeu, foi parar na rua e seguiu pra cá. Tem torcedor, jogadoras com metade da bunda de fora, gandulas, técnicos e até juiz de olho roxo.
– E essa mulherada quer o quê? Terminar a partida aqui na minha delegacia? Dê um jeito nisso até eu resolver esse caso aqui!
– Eu? Como doutor?
– Quer ajuda?
– Ivo, dá um tempo!
– Só tô me oferecendo como reforço, caramba!
– Quando é que esse dia vai acabar, hein? Não vejo a hora do sol nascer e essa noite virar passado.
– Pior é que, se vacilar, o sol amanhã pode nascer quadrado…
– Vira essa boca pra lá, Alê!
– Reza, Voadora, reza…
——————————–Continua.
Para ler o Post I, clique aqui.



Escrito pela Alê Félix
19, julho, 2004
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Eu quis ser diplomata (queria impressionar meus pais), mas a faculdade era em Brasília e aquelas ruas sem gente que eu via na TV, me assustavam.
Quis ser socióloga (era a minha cara), mas eu era imatura demais para estudar por prazer e tinha muito medo de morrer como o Zéca morreu.
Passei no vestibular de jornalismo (eu adorava aquela universidade, aquela cidade, aquelas pessoas e a turma de amigos do Belo Adormecido). Queria mudar pra lá aos poucos, mas eu não sabia fazer nada aos poucos. Durou pouco. A carreira era indiferente.
Pensava em ser escritora (todas as vezes que a minha tristeza ficava maior que eu) e cheguei a escrever um livro aos quatorze anos, que foi destruído um dia antes da Lina me apresentar para a moça que cuidava dos contratos da sua editora.
Entrei na faculdade de Direito (puro azar) e sai no segundo semestre com o estômago embrulhado depois das aulas do doutor Irineu e de conhecer tanto aluno fechado, e com valores e ambições estranhas.
Dizia que eu seria a primeira mulher presidente da república neste país (só para fazer charme para os menininhos da UNE), mas eu acho que renunciaria a qualquer cargo público antes do primeiro semestre. Os políticos profissionais se pareciam muito com os alunos da faculdade de Direito.
Quis ser primeira dama (ele me impressionava com seus discursos), mas percebi muito cedo que ele era uma farsa. Uma farsa facilmente corruptível e que não iria muito longe. Graças a deus, não foi.
Quis ser terapeuta (achei que era melhor pagar cinco anos de faculdade do que cinco anos de terapia), mas decidi não mascarar os meus próprios problemas cuidando da sanidade alheia.
Cantora de ópera… Como eu quis cantar como a Mércia (doce ilusão). Mas percebi que não bastava ser gorducha, teatral e ter uma voz engraçada. Compreendi nas primeiras aulas que a música era um idioma que eu nunca dominaria com maestria e que eu tinha uma alma pop demais para crescer em um ambiente erudito. Precisaria nascer de novo.
Violoncelista (Era sexy! E eu queria ser uma espécie de bruxa de Eastwick), mas não seria mais fácil do que cantar ópera. A carga horária era alta e me sobraria pouco tempo para as festas, farras e fins de semana.
Fui assistente de um leiloeiro (eu era muito nova, era louca para trabalhar e a Silvia me contratou depois que a convenci de que, dali pra frente, me disfarçaria de adulta para sempre ), mas eu bagunçava demais naquele lugar. Fui embora poucos meses depois quando a brincadeira acabou. Nunca mais consegui desfazer a promessa.
Atriz… Quase cai na ribalta (pura falta do que fazer), mas descobri que eu só sabia ser convincente na vida real. Em outros palcos, minha canastrice seria facilmente identificada. Cinco minutos antes da primeira aula da oficina da Clara, dei adeus ao teatro e troquei o exercício da árvore pelo de história da fotografia.
Fui fotógrafa (adorava dizer que eu era fotógrafa, todo mundo que eu conhecia achava bacana e eu era menina. Uma menina boba.) e não demorou muito para que eu transformasse a luz das imagens, na luz que eu buscava para me tornar independente financeiramente. Com o tempo, minha miopia anulou o pouco talento que eu poderia explorar e eu não estava preparada para ser uma adolescente endinheirada, sem ser independente.
Eu achava que era vendedora, mas o Mendes dizia que eu era representante comercial (só queria férias de mim mesma). O anúncio do jornal parecia o botão de boot que eu precisava dar na vida, mas os aparelhos de videotexto eram só uma janela para um universo paralelo ao meu.
Comprei um bar noturno (puro interesse estético. Aquele era o local de gente mais bonita e louca por metro quadrado da cidade). Achei que estava comprando um pedaço bom do meu passado e dos meus velhos amigos, mas o tempo passou e eu não fui capaz de acompanhá-lo.
Quis ser qualquer coisa no Alasca (eu queria fugir das pessoas), mas desisti quando a Lucy do ICQ me contou dos ursos comedores de gente, dos terremotos, vulcões e da tristeza nos olhos daqueles que chegavam lá para se esconderem do mundo.
Quis ser qualquer coisa em Porto Seguro (eu estava apaixonada). O carnaval passou, o trio elétrico pediu que eu ficasse, e eu fiquei. Fiz as melhores fotos que os meus olhos captaram, vendi minha alma quando entreguei aqueles negativos, o moço de carreira promissora despedaçou meu coração, a paixão virou uma dor insuportável e eu voltei chorando para São Paulo. Nunca mais fotografar fez sentido.
Fui sócia de uma empresa (um momento de entusiasmo entre quatro grandes amigos que acabou virando contrato), mas a gente fazia mais reuniões filosóficas do que profissionais em uma época na qual o dinheiro era mais importante do que as indagações existenciais.
Eu quis ficar com a editora quando meus amigos foram embora (o objeto social tinha sido redigido sob encomenda para a minha vida), mas até hoje sinto falta deles. Queria que ela fosse um galpão onde novos e velhos amigos estivessem por perto, os sonhos se tornassem realidade, todos ganhassem o necessário e o expediente acabasse depois do almoço, no boteco da esquina. Mas a gente complica tanto as nossas vidas…
Ando querendo ser pescadora em qualquer mar que o meu coração aportar, mas eu não entendo essa danada dessa vontade. Se sou incapaz de matar até pernilongos, como posso viver da morte dos peixes?
Deve levar um tempo pra gente compreender que todas as escolhas fazem parte de um único caminho com um monte de caminhozinhos menores que só servem para confundir a nossa cabeça. Eu devo ter precisado querer tudo que eu quis e ter conhecido as pessoas que eu conheci, para ser quem eu sou hoje. E, talvez, o que eu sinta hoje seja necessário para viver o dia de amanhã. Não sei. Não sei mais da minha vida. Sempre achei que soubesse, mas nunca soube. Ela sempre me leva para os caminhozinhos que quer. E quando eu digo não, ela me faz de trouxa, abre crateras na minha estrada, põe neblina no meu horizonte e me faz dar voltas. Voltas e mais voltas… até eu deixar de ser medrosa e permitir que ela me apresente detalhes, opções, pessoas e lugares que vão sempre me convencer a mudar, a conhecer e a dizer uma quantidade menor de “nãos”. O engraçado é que, do pouco que eu quis e do outro tanto que eu fiz, eu me apaixonei muito mais pelas pessoas que eu encontrei do que pelos caminhos que eu arrisquei. Essa é uma hipótese assustadora, mas estou começando a achar que a minha sina é gente.



Escrito pela Alê Félix
15, julho, 2004
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Pra quem me pediu – antes de ontem no chat – a música do Raul Seixas que fala sobre um tipo de amor que eu não sei se pode dar certo, mas que eu não acho hipócrita, tai.
A MAÇÃ (Raul Seixas / Paulo Coelho / Marcelo Motta)
Se este amor
Ficar entre nós dois
Vai ser tão pobre amor
Vai se gastar
Se eu te amo e tu me amas
Um amor a dois profana
O amor de todos os mortais
Porque quem gosta de maçã
Irá gostar de todas
Porque todas são iguais
Se eu te amo e tu me amas
E outro vem quando tu chamas
Como poderei te condenar
Infinita é tua beleza
Como podes ficar presa
Que nem santa num altar
Quando eu te escolhi
Para morar junto de mim
Eu quis ser tua alma
Ter seu corpo, tudo enfim
Mas compreendi
Que além de dois existem mais
Amor só dura em liberdade
O ciúme é só vaidade
Sofro mas eu vou te libertar
O que é que eu quero
Se eu te privo do que eu mais venero
Que é a beleza de deitar
Na prática pode ser completamente impossível, mas eu me esborrachei de chorar quando ouvi essa música pela primeira vez. E percebi que na vida eu só soube amar como quem ama ter um carro bacana, a casa dos sonhos, a profissão planejada ou um estojo de lápis de cor com trinta e seis cores. Quando eu crescer e deixar de sentir prazer sendo dona, talvez eu queira amar assim.



Escrito pela Alê Félix
14, julho, 2004
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Viciei no chat. Hoje, às nove. Espero vocês. E não reclamem da falta e abduções de posts. Quando eu vinha só pra postar, vocês queriam conversar. Agora eu quero conversar! E todo mundo tá careca de saber que eu não sei fazer duas coisas ao mesmo tempo. CHAT. Fui. Volto às nove.



Escrito pela Alê Félix
13, julho, 2004
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Chat hoje à noite. Às nove. Depois de Two and a Half Men.
Tão ficando bons esses chats, hein? Dose dupla do bem essa de hoje. Preciso encomendar uma lista de perguntas para a Gi. O menina boa de jogo da verdade… Valeu pra quem veio. Beijo e até. Eu aviso dos próximos por aqui.



Escrito pela Alê Félix
12, julho, 2004
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Putz! Fui dormir e esqueci o chat aberto. 😐
Sorry.
Aliás, belo chat. Preciso abrir o danado mais vezes.



Escrito pela Alê Félix
12, julho, 2004
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Fiz um quase bate-volta na sexta-feira à noite. Fui para Santos no sábado de manhã, comemorar o aniversário da minha avó e ontem, no fim da tarde, já estava de volta. No carro, maridon e eu vínhamos conversando sobre Chico Buarque, Gil, Caetano e Djavan. Eu, dizendo que não entendia muito essa unanimidade pelo Chico, que gostava mais do “homem” Gilberto Gil, do que de sua música, que hoje faço parte da unanimidade sobre Caetano e que, apesar de não dar a mínima para o Djavan até uns dois meses atrás, depois de ouví-lo mais e melhor, estou babando…
– Gilberto Gil é do caralho.
– Pode ser, mas, pra mim, sua música ainda é só legal. É uma pessoa importante para o país hoje, parece ser um sujeito admirável, é um excelente cantor, mas eu não gosto tanto assim das músicas. Agora, a babação generelazida por Chico Buarque, eu não entendo. Nunca entendi. Nem nos discos, nem nos livros e muito menos na gostosura. Ele é “C”, talvez “C+” pela fofoca no dia seguinte com as amigas.
– O cara é bom…
– Ok, mas não entendo por que tanto estardalhaço. São aqueles olhos, pode acreditar. As pessoas tem essa piração por pele morena misturada com olhos claros.
– Que diferença faz a cor dos olhos do cara? Não é sobre isso que estamos falando.
– Puro interesse estético…
– Você precisa fazer o mesmo que fez com o Djavan. Precisa ouvir Chico Buarque direito.
– É… pode ser. Mas “A”, ele nunca vai ser. O cara hoje é o Menudo das balzaquianas e uma espécie de deus dos trintões intelectualóides. É impressionante.
– Melhor pra você. Assim você não precisa entrar para a fila de trintonas que cultivam o sonho histérico de dar pra ele.
– Não é a minha praia. Meus sonhos são cultivados em ambientes reais e não platônicos.
– Ah, é? E quando você passou a semana tendo sonhos eróticos com aquele cara da novela? Como é mesmo o nome dele?
– Quer parar de queimar meu filme? Isso nunca aconteceu…
Farei isso. Vou ler o raio do Budapest que todo mundo reverencia e ouvir as músicas do moço com a mente mais aberta. Hoje mesmo já dei um tapa nas notícias sobre a FLIP para ver se lia alguma declaração que me despertasse um pouco mais para a pessoa que ele é. Eu tenho dessas… Preciso gostar da pessoa, ver que ela cumpre um papel maior, achar que ela vale a pena como ser humano tanto quanto valem os seus talentos. É uma merda, mas eu sou assim. Se o cara é um filho da puta, não faço a menor questão de saber o que ele anda fazendo de sua vida profissional. E a minha definição de “filho da puta”, neste caso, nada tem a ver com o fato do cara ser do bem ou do mal. Tem mais a ver com a influência de suas idéias do que com as manchetes das revistas sobre sua vida particular ou as críticas sobre o seu trabalho. Por exemplo: quando ele dá uma declaração dessas para um jornal, muito me agrada…
Chico afirmou que costuma, ao ler entrevistas de escritores, pensar: “Que gente esquisita!”. “Todos dizem que seus escritores preferidos são Kafka, Flaubert e Dostoievski. Aí um diz: “Não leio meus contemporâneos”. Se ele não lê, quem vai ler?”, disse, defendendo que os pares sejam menos solitários. “É bom que escritores saiam da toca, brinquem, joguem bola, bebam no botequim.”
Instado por uma pergunta, Chico também criticou a crítica. “O que existe no Brasil é a crítica dos jornais, que é de péssima qualidade. E isso vale para música, literatura, todas as artes”, disse. E, ao falar sobre como acompanha as traduções de seus livros em inglês, francês, italiano e espanhol, foi modesto e sarcástico: “Eu falo mal essas línguas, quase tão mal quanto Fernando Henrique Cardoso”.

Vou ouvir as músicas do menino… Fui.



Escrito pela Alê Félix
11, julho, 2004
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