Vocês conhecem a Gláucia Taricano? Ela é aquela moça que tem uma família
linda e que escreve sobre suas vinte e quatro horas como mãe de um jeito todo especial. Lembraram? Aposto que sim. Hoje tem texto dela no Clube da Lulu. Não deixem de ler.
Eu volto mais tarde. 😉



Escrito pela Alê Félix
13, janeiro, 2004
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Já tem um tempo que eu recebi um e-mail falando sobre a briga da Dolly contra a Coca-Cola.
Na época, achei que não passava de uma matéria sensacionalista e que passaria rapidamente. Mas parece que não.
Ontem, pela segunda vez consecutiva, o empresário Laerte Codonho, proprietário da Dolly, afirmava em rede nacional de televisão ter provas de que a
Coca-Cola tentou por várias vezes destruir sua empresa.
Eu me perguntava porque uma multinacional como a Coca-cola se prestaria a este tipo de atitude. Parecia Davi e Golias demais. Briga besta. Porque a
Coca se sentiria ameaçada pela Dolly ao invés da Antarctica, por exemplo. Mas daí eu lembrei de um detalhe que me deixou intrigada. Eu nunca vi
refrigerantes Dolly serem vendido nos grandes supermercados. As poucas vezes que eu lembro de tê-los visto foram nos pequenos mercados. E, quase
sempre, nos mercados de periferia. Liguei para o meu pai – ele manja tudo de mercados de periferia.
Foi então que ele me contou que nos bairros mais pobres, as pessoas só tomam Dolly. Alguns mercadinhos nem se preocupam em comprar outros
refrigerantes, mas Dolly não pode faltar. Segundo ele, porque além de bons e baratos, as pessoas não tem medo de tomar os refrigerantes deles. Sim,
porque refrigerante barato e não muito popular, é sempre uma incógnita quanto à higiene e ao processo de fabricação. Para manter os consumidores
despreocupados, a Dolly criou um projeto que leva freqüentemente alunos de escolas públicas para verem de perto como os refrigerantes são feitos.
Parece que não é de hoje que a Dolly carrega a fama de ser uma empresa organizada, bem equipada e que vem aumentando suas vendas significativamente.
Eles foram os primeiros a vender refrigerante diet no Brasil e, acho que o mais importante de toda a história, se impuseram no mercado como um dos
fortes propagadores da linha de refrigerantes a base de guaraná.
No site, na parte de notícias, é possível ver os vídeos e ler todo o desenrolar da história.
Briga feia, com ameaças de morte feitas pelo ex-diretor da Coca-cola e outras coisas desse tipo. Uma briga que tem tudo para transformar a
preferência entre colas e guaranás em uma guerra. Uma guerra bastante interessante para acompanhar e pensar sobre.



Escrito pela Alê Félix
12, janeiro, 2004
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Alguém lembra o nome de um seriado que falava sobre um juiz que fora do tribunal fazia justiça com as
próprias mãos? Se souberem me digam o nome do personagem e do seriado, ok? 😉 Valeu.



Escrito pela Alê Félix
12, janeiro, 2004
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Vocês já cadastraram seus blogs aqui? Não? E estão esperando o quê? Aproveitem para ler as
novas colunistas do clube. 😉



Escrito pela Alê Félix
11, janeiro, 2004
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Cinco horas da manhã e nós duas conversando. Combinamos acordar por volta do meio-dia. Ligaríamos para o
Kiko, passaríamos na casa do Murilo e sairíamos os quatro. Parecia um bom começo, tanto para as nossas relações
de amizade quanto para os possíveis namoricos.
Muito antes do inicio da tarde, fomos acordadas pelo barulho estridente de uma ave que parecia um papagaio. Meus
irmãos, empolgados com a aquisição do ser gritante, corriam em volta das nossas camas enquanto a Aruska tentava
calar a ave com uma dentada certeira.
– Tira esse bicho de cima de mim!
– É um papagaio! Temos um papagaio! Temos um papagaio!
– E que tipo de droga vocês deram pra ele ficar assim?
Meus irmãos não tinham idade para saber o que eram drogas, mas nem mesmo a pergunta bem humorada da Marilu me
fez sorrir naquela manhã. Eu não havia acordado bem e a culpa não parecia ser do papagaio.
Recuperadas do ataque matutino, saímos de casa sem que meus pais fizessem muitas perguntas. Parecia um milagre
digno de me arrancar algum tipo de alegria, mas meu humor continuava péssimo. Mal cumprimentei o Murilo. Da casa
dele, ligamos para o Kiko, marcamos de nos encontrar em frente ao museu e seguimos nosso destino.
Durante todo o percurso, tive que agüentar o Murilo tentando me dar o beijo interrompido na noite dos meteoros.
Um sol infernal, o motorista do ônibus em alta velocidade, a Marilu quieta no banco ao lado e o Murilo querendo
conversar, beijar… Minha cabeça parecia que ia explodir. Eu não distinguia mais a minha insegurança daquele
mau estar. Me esquivei dos beijos, mas segurei em sua mão na tentativa de buscar algum conforto. Ele deve ter
compreendido o gesto como um sinal afirmativo do namoro e me deixou em paz.
Quando chegamos no MAM, as coisas pioraram. O Kiko e a Marilu perceberam o meu estado e acharam que era melhor
manter distância. Àquela altura, eu já estava agressiva.
Todas as alamedas, aquela exposição e as pessoas a nossa volta só aumentavam a minha indisposição. Murilo não
sabia mais o que fazer e, na tentativa de não estragar o dia de todo mundo, sugeri que saíssemos do museu e
caminhássemos um pouco pelo parque.
Em busca de sombra e água fresca, paramos próximos ao lago e ficamos conversando. O bate-papo descontraído e a
brisa fizeram com que eu me animasse um pouco, o suficiente para que o casalzinho feliz me deixasse a sós com o
Murilo novamente. Ele, por sua vez, voltou a insistir no beijo e eu, exausta de tanta resistência, deixei…
“Ok, vamos lá. É só um beijo. Já treinei beijo de língua na minha mão, em frente ao espelho e com uma maçã.
Não há o que temer. Hum…beijinho roubado bom! Mas e agora? Não me olhe desse jeito… Vem, eu deixo você me
beijar… Ah, bom. Pensei que tivesse desistido. Você não deve saber disso, mas beijar meus lábios com a minha
aprovação também está bom. Abraço bom… Opa! Estranho… Iu! Que língua é essa? Precisa enfiar esse troço na
minha boca com tanta força? Ai meu dente! Ok, está tudo bem. Foi só uma arranhadinha. Acontece. Mas será que
podemos voltar aos beijinhos? Hum, passar essas mãos pelo meu rosto e cabelo está muito bom… Mas e eu? O que
eu faço com as minhas? Vou deixá-las aqui nos seus ombros antes que eu faça bobagem. Uma coisa de cada vez…
Não! Babação não! Não vou pensar na troca de micróbios, não vou pensar na troca de micróbios, não vou pensar na
troca de micróbios… Este é o tipo de nojo sem cabimento! Caramba, esse menino não deve saber o que está
fazendo. Pra que bloquear a minha traquéia? Ar, eu preciso de ar. Ok, ok… Respirar! Eu preciso controlar a
respiração e relaxar. Pensamento positivo… Não há o que dar errado. Impossível que eu faça isso pior do que
ele. Vamos tentar… Ei, será que eu posso misturar minha língua com a sua? Iu, nada bom desse jeito. Devolva
minha língua! Como pode esse menino ser tão cobiçado pelas meninas? Parece um camaleão. Isso não é um beijo, é
um bote. O que ele pensa que esta fazendo com o céu da minha boca? Isso faz cócegas e não parece nada nada com o
beijo que eu achei que você me daria. Vai me asfixiar, seu imbecil! Ufa, ainda bem. Obrigada, deus! Suave,
melhor. Me deixa descobrir com calma como isso funciona. De onde vem essa tontura? Que cara será que ele esta
fazendo? Não estou me sentindo bem… E se eu abrir o olho só um pouquinho? E se eu abrir e ele perceber?
Duvido. Ele voltou a se concentrar na extração das minhas amígdalas, não deve estar pensando em abrir os olhos.
Vou olhar e pronto! Não ria. Não ria, Alessandra! Segure este riso! Não há porque rir. Se esse menino me apertar
mais um pouco e o sol aquecer a terra só mais um tiquinho eu vou cair dura e seca nesse chão. Ah, não! Não babe
tanto, não babe tanto, por favor… Meu estômago não está legal. Calor insuportável… Quer saber? Chega! Babar
mais do que a minha cachorra é um pouco demais para o meu gosto”

Me afastei do Murilo e o “chega” escapou dos meus pensamentos e saiu pela minha boca em voz alta. Eu não estava
bem.
– O que foi?
Não soube o que dizer. Olhei para o Murilo, para aquele lugar, para mim e tudo me embrulhava o estômago. Não
sabia mais se era o sol ou uma febre. Comecei a transpirar e a sentir o corpo fraco e dolorido. Tive vontade de
chorar sem ter a menor idéia de onde vinha aquele monte de sensações e reações. Foi tudo muito rápido. E eu
deveria ter chorado, mas nunca ter dito o que eu disse.

———-> Continua
Clique aqui para
ler o primeiro post da saga do primeiro beijo



Escrito pela Alê Félix
9, janeiro, 2004
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O O Clube da Lulu está de volta. Com novas
colunistas, sem ombudsman e com três novas seções. Agora vocês podem se cadastrar no site para comentar e, no
caso das moçoilas, participarem do Links Femininos – que será uma lista de blogs e sites feitos por mulheres.
Outras colunistas e novidades serão incluídas nos próximos dias. Aguardem e participem.



Escrito pela Alê Félix
8, janeiro, 2004
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– Por que você não tira os comentários do amarula com sucrilhos?
– Porque não.
– Os seus textos são muito legais, mas só adolescentes analfabetos comentam ali. Isso queima o seu filme.
– Você nunca foi adolescente? Ou foi tão traumático que você tratou de esquecer?
– Fui. Mas sabia escrever. Não bancava o retardado escrevendo errado propositalmente como esta geração Hello
Kitty
faz.
– Não vou proibir ninguém de comentar no blog, muito menos pra fazer tipo.
– Eu faço qualquer coisa pra não ver essas aberrações trocando todas as letras possíveis por um x ou por
caracteres estúpidos.
– Um dia essa molecada vai se ligar de que precisa escrever direito pra ser compreendida, pra se comunicar
melhor… Se eu puder, eu ajudo; mas atrapalhar o processo com essa visão pedante e presunçosa de que somos
melhores do que eles porque tentamos escrever corretamente, eu não vou mesmo.
– Duvido que eles realmente leiam o que você escreve. Só comentam pra fazer número.
– Pode ser. Mas o que faz você acreditar que os seus leitores lêem o que você escreve?
– A forma como eles escrevem. E eu filtro meus leitores. Quero ser lido por gente inteligente.
– Filtra? Como? Detector de QI? Hahhahaha! Olha, não é por nada não. Eu já li seus textos e os comentários
feitos por lá. Não se iluda. Até para as ilusões precisamos de um pouco de bom senso. Por que você não relaxa e
tenta se divertir um pouco escrevendo?
– Eu não escrevo por diversão, eu faço literatura.
– Ah, é? Bom, por mais que doa eu vou ter que te dizer uma coisa: Você só tem um blog! E, do jeito que você
trata esse assunto, você transforma todos os textos e comentários de blogs no resultado de uma tremenda
masturbação coletiva. Um babando ovo no outro ou babando por si próprio. Eu tô bem fora… Meu sistema de
comentários fica. Pelo menos, entre adolescentes, é um pouco mais difícil encontrar gente tão arrogante quanto
você.

Enquanto esse papo besta rolava em uma janela do MSN, em outra eu conversava com uma garota que acabou de fazer
quatorze anos e é uma das pessoas que eu mais gosto de conversar hoje em dia. E acho que não é pra menos…
Garota Matrix diz:
Eu não gosto de falar. As pessoas me chamam de “a garota que não fala”. Bah! Como se a vida fosse só de
palavras…
Alê Félix diz:
E como se todos estivessem interessados em ouvir…
Garota Matrix diz:
Eu gosto de ouvir. Ou pelo menos tentar… :b

Algumas pessoas, assim como os textos de quem escreve diariamente, evoluem…



Escrito pela Alê Félix
7, janeiro, 2004
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Pouco antes da meia-noite, chegamos em casa. Depois de correr a cidade em busca dos ingredientes da
prosperidade, eu estava exausta, com fome e pensando seriamente em voltar pra casa e passar o reveillon
dormindo. Pensei, mas não fui. O contato excessivo com o universo feminino misturado com aquele clima de vida
nova causaram danos rápidos na minha razão. Eu já estava quase convencida de que deveria aderir às mandingas
daquelas duas.
– Preciso de algo lilás. Nem que seja um lenço.
– Lilás? Lilás dá azar.
– Quem disse?
– Eu.
– Desde quando?
– Desde a minha terceira desgraça. O maior fora que eu levei na vida foi em um dia que eu estava com uma blusa
lilás. Lembra aquele dia do Aqui Agora? Sutiã lilás. No dia que o bar faliu? Calcinha lilás.
– Quanta lingerie lilás…
– Era um conjunto, mas foram usados separados.
– Cheguei! Está tudo aqui: folhas de louro para colocar na carteira, notas de um real para colocar no sapato…
e tenho um problema. Tudo bem eu tomar banho aqui? Minha chave quebrou no portão e agora preciso de um chaveiro
para entrar em casa.
– Claro! Mas corre porque falta pouco pra meia-noite.
– Obrigada, Lu! Você tem mel?
– Tem em um pote ao lado do xampu.
– Mel?
– Sim, mel! Para adoçar os relacionamentos amorosos, dona Alê.
– É, mas eu uso sempre… Só pra reforçar a simpatia.
– Vocês estão de brincadeira.
– Você não usa mais lilás! Está surpresa com o quê?
– É diferente…
– Vou tomar banho com a porta aberta. Assim participo da conversa.
– Ainda bem, assim posso fazer xixi.
– E eu arrumar este cabelo…
– Como é que você consegue arrumar o cabelo e beber ao mesmo tempo?
– Pronto incomodada! Agora minha taça de vinho não te perturba mais.
– Valeu. Assim eu tomo também.
– Sabia que era golpe.
– Bom, hein…
– Bom e caro. Por isso não tome, saboreie…
– Vinho e xixi, a combinação perfeita.
– Nem pense em fazer coco!
– Já disse que é xixi!
– Não esqueçam de pôr a nota de um real dentro do sapato. Ouvi dizer que esta simpatia é das quentes.
– Eu não vou colocar.
– Por quê?
– Estou de chinelo! Colocar dinheiro no chinelo é o mesmo que começar o ano perdendo dinheiro.
– Alê, não estraga. Mete um tênis neste pé e não bagunça o coreto.
– Não quero. Quero passar de chinelo.
– Isso! Não só o reveillon, mas janeiro, fevereiro… o ano todo de chinelo e pobre.
– Ah, as calcinhas amarelas e as roupas de cama estão nesta sacola em cima do cesto. Dêem uma olhada pra ver se
vocês gostam.
– Essa calcinha é minúscula! Eu não caibo aqui.
– Foi a única que eu achei na loja da Cris. Dá um jeito!
– Dar um jeito? Só se eu conseguir um cirurgião plástico que me faça uma lipoescultura em cinco minutos.
– Encolhe a bunda que cabe.
– Você acha o quê? Que a minha bunda é feita de linho?
– Boa idéia! Eu tenho uma minissaia de linho vermelha. Quase esqueci da peça vermelha. Acho que vou colocar ela
e uma camisa branca. Vocês não vão usar nada vermelho?
– Meus brincos. Roubei da minha irmã.
– Bonito, mas tire esta cabeça daqui antes que você molhe a gente.
– Tem que ser vermelho, vermelho? Não serve meu chinelo?
– Teu chinelo é laranja, Alê!
– E o laranja é o quê? Amarelo com vermelho.
– Você que sabe. Não quer paixão no próximo ano? Tudo bem. Problema seu.
– Sem paixão não parece bom… Deixa eu ver…
– Ah! Meu vinho! Vai derramar! Ficou louca?
– Pronto. Agora, além do vermelho do meu laranja, eu tenho uma mancha vermelha na calça. Acho que é o
suficiente. Mais do que isso pode parecer uma tentativa extra conjugal.
– Sabe quanto custou esse vinho?
– Não se preocupe. Seu saldo bancário está garantido pela simpatia do dinheiro no sapato.
– Alê, coloca uma roupa branca. Assim não tem perigo dessa mancha vermelha manchar a sua reputação.
– E o que o branco pode aliviar o vermelho?
– Simples, o vermelho representa a paixão e o branco a paz. É o equilíbrio que um casamento precisa.
– Isso é impossível.
– O quê?
– Paz e paixão no mesmo lugar. Impossível. Quando a paixão entra pela porta a paz sai pela janela. E
vice-versa.
– Alê, não é assim! O ditado da janela é outro… tem um lance de janela, amor e dinheiro. Não tem nada de paz
e paixão, não.
– Eu sei Milóca! Mas o ditado do amor e do dinheiro é furado. O meu, da paz e da paixão, é melhor.
– Eu não concordo com você.
– Pois deveria. É simples! Se você está apaixonada não pode viver em paz e se você está em paz é porque não
esta apaixonada. E se você acha que está apaixonada e em paz é porque a paixão já virou amor. Paz e amor é
possível. Paz e paixão, não. São incompatíveis. Viram como eu tenho razão?
– …
– …
– Não vejo a hora de vocês duas casarem.
– Nós duas porque? Eu já fui casada! Esqueceu?
– Melhor você se trocar rápido ou vai passar o ano novo de toalha.
– Menos de um ano não conta. Você terminou antes de sofrer. Isso é experimentar e jogar fora. Casamento pra
valer tem que ser como gostar de jiló. Você sabe que é amargo, mas não deixa de comer. Você cuspiu o jiló. Não
valeu, minha linda!
– Cuspi mesmo! Não quero um casamento jiló, quero um casamento brigadeiro.
– Então aproveita e pede pra Alê te apresentar o Evaristo.
– Evaristo?
– É, Alê. Aquele marrom bombom, gordinho e cheio de espinha que mora perto do apartamento da praia. Lembra? Um
brigadeiro! A Milóca vai amar.
– Passo… Nunca ouvi tanta merda!
– Sua memória é que nunca foi das melhores…
– Que seja. Mas acho bom que saibam da minha nova resolução de ano novo. Não quero saber de homens tão cedo.
– O que é isso? Uma confissão dos seus planos homossexuais para o próximo ano?
– Não. Esta é uma confissão celibatária.
– Lu, quer apostar?
– Ela agüenta dois meses.
– Cinqüenta reais que não dura trinta dias.
– Fechado.
– Vocês adoram perder dinheiro… é incrível.
– Não azara. Eu não jogo, faço cálculos baseados em fatos reais. Não tenho como perder.
– Mudando de sorte para estratégia, não é má idéia fazer planos para o ano novo. O que vocês acham?
– Eu acho ótimo! E, como eu estou cansada de fazer tudo certinho, acho que daqui pra frente vou fazer tudo ao
contrário. Vou operar o estômago, começar a usar drogas e soltar a franga de vez.
– Gostei disso. Tirando a parte das drogas e do estômago…
– Então você não gostou de nada porque a sua franga nasceu solta.
– Graças a Deus, querida! E que Deus conserve!
– Não é por nada não, mas a macumbaria já acabou? Podemos descer para comer?
– O nome disso é simpatia, Alê…
– Farinha do mesmo saco. Lixo do mesmo saco!
– Ignora. Alê sempre foi uma mulher de pouca fé. Ignora.
– Bom, falta pouco pra meia-noite. Melhor a gente correr. A champanhe está na geladeira?
– Está.
– Tem que guardar a rolha em uma toalha branca durante a primeira semana do ano.
– Ah, pára de inventar! Está na cara que isso é obra de algum desocupado que inventou essa moda só pra
sacanear. Nunca ouvi falar de guardar a rolha!
– E desde quando você ouve?
– Desde hoje cedo quando vocês duas afetaram os meus tímpanos com a merda da campainha e…
– Um minuto! Um minuto! Falta só um minuto para o ano novo! Onde está o mantra?
– Mantra?
– É. E não implica! Repete com a gente:
Fui puxada para repetir as palavras que algum apresentador de programa vespertino mandou. Atravessamos o ano de
mãos dadas, enquanto a Lucimara lia o mantra em voz alta para nós, para a mãe, a irmã e para uma tia dela que
estava no telefone.
Quando tudo parecia chegar ao fim, do nada, a mulherada começou a chorar. Eu não entendi porque, mas como eu não
agüento ver gente chorando, comecei a chorar também. Ficamos lá abraçadas, chorando e dando pulinhos de feliz
ano novo. Cinco mulheres e mais uma do outro lado da linha telefônica. Um homem presente se sentiria um extra
terrestre. Dona Alzira, a matriarca da casa, interrompeu o ritual nos chamando para a ceia.
Na mesa, as superstições continuavam presentes: farofa, arroz, lentilha, uvas, bolinhos de arroz, romãs,
champanhe e…
– Peru e frango? Vocês passaram o dia preparando simpatias para a virada do ano e fazem peru e frango? Peru e
frango ciscam para trás!
Elas me olharam como se eu tivesse dito o maior dos absurdos e responderam unânimes…
– Ah, isso é bobagem.



Escrito pela Alê Félix
6, janeiro, 2004
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