– Mas é tudo farinha do mesmo saco, mesmo! Eu vi você sendo arrastado pelos seus amigos e a sua memória naquela hora parecia boa, boa. Por que agora está dizendo que não lembra da minha amiga, hein?
– Acho que eu perdi alguma coisa… Alguém te chamou na conversa?
– Não. Ninguém me chamou. E já que ninguém chamou, eu vou ali descobrir o que a sua namorada acha dessa história toda.
– Tá louca, menina? Espera aí! Vem aqui…
– Ótimo! Então, já que agora eu fui chamada na conversa acho bom você saber que, não bastasse você ser um traidor de namoradas, você é também uma besta quadrada fofoqueira.
– De onde surgiu essa louca?
– Do Dancing, domingo passado. Eu estava na saída da danceteria quando você foi tirado de lá. E louca vai ficar a sua namorada, quando souber da história dos gemidos em inglês.
– …
– É isso aí. Eu vi você contando para os seus amigos na saída.
Marilu sorriu disfarçadamente com o olhar, o Corcel gelou, mudou a expressão e rapidamente de atitude…
– Olha, eu não lembro muita coisa daquela noite, mas…
Cruzei os braços, Marilu colocou a mão sobre os olhos e virou de lado como se estivesse chocada com a notícia e prestes a chorar.
– Eu não acredito…
– Calma, amiga. Não fica assim. Está vendo o que você fez?
– …
– Não chora… Homens são assim mesmo. Um dia fazem promessas em inglês no banheiro da danceteria e no dia dos namorados levam flores para a outra.
– Ei, ei, ei! Vamos com calma! Eu não prometi nada, não! E a outra nesse caso, é a sua amiga aí.
– Eu não era uma desconhecida!
Foi a própria Marilu que me contou dos gemidos em inglês. Tirou o maior sarro no dia, disse que o casal estava no box, fazendo chamada oral do verbo “to be”, contou para as outras garotas que estavam com a gente… Não era possível que fosse ela. Seria muita cara de pau. Tanta quanto para aqueles olhos vermelhos de choro que ela estava simulando.
– Olha aqui! Pra você eu posso não ter significado nada, mas pra mim você foi muito importante, viu? Precisava ter contado dos gemidos americanos pra torcida do Corinthians? Era pra ser uma brincadeira nossa! Só nossa.
– Não fica assim. Você sabe! Ele é homem. Dois prazeres lembra? Um na hora da transa e outra na hora de contar para os amigos. Eles são todos iguais…
– Não deu pra guardar pra você mesmo, não? Teve que se gabar?
– Eu estava bê-ba-do!
– Ah, é? Então você que explique isso para a sua namoradinha, porque eu vou lá fora agora e vou contar tudo pra ela!
– Não! Espera. Espera aí. Vamos conversar…
– Não temos nada pra conversar com você. Você merecia ter levado várias ovadas do irmão dela. Você iludiu minha amiga, sabia?
Dizer que o Zarolho era o irmão vingador da Marilu foi um erro. Nessas horas, quanto menos informações fáceis de serem desmascaradas, melhor. Nada de citar nomes, nada de inventar parentescos. O problema é que eu normalmente esquecia dessa regra. Me empolgava com a encenação e falava mais do que a boca.
– Olha… está certo. Eu não sabia o que estava fazendo. Me desculpa se eu magoei você, se falei alguma coisa ruim… Eu não lembro, mas desculpa. Tudo bem assim?
– Não.
– Como não? Você quer que eu faça o quê?
Chegamos onde queríamos…
– Além de ter me magoado você ainda quer dar queixa do meu irmão só por causa de um ovinho…
E a cara de pau choramingou de novo… Que atriz! Que amiga mais penosa!
“A cachorra dá um show no banheiro da danceteria, não me conta nada e ainda faz chantagem melhor do que eu. Se eu soubesse chorar desse jeito, nunca mais discutiria com namorado nenhum. Era só chorar e todos os meus problemas estariam resolvidos.”
– Ei, não precisa chorar mais, ok? Eu não sabia que ele era o seu irmão.
Crise, só podia ser outra crise. A Marilu sempre fazia bobagem quando estava deprimida. Sua vida, naquela época, se dividia entre sexo casual e uma coleção de paixões mal resolvidas. Transar por transar ainda vá lá, mas sem critério físico ou cerebral algum era desesperador. O cara era um babaca à primeira vista.
– Vamos esquecer tudo isso, ok? Eu não dou queixa do seu irmão e você não conta nada pra minha noiva.
– Noiva?
– Noiva? Você vai casar com a menina e transou com a… comigo?
– É o fim da picada…
Fiquei indignada. Marilu quase riu, mas se recuperou logo e fingiu outra cena de lágrimas. Como chorava bem, aquela maldita! Mas, pelo menos, daquela vez ela titubeou para dizer com quem o Corcel havia transado. Ele não percebeu nada, mas eu percebi. Não que a história do banheiro não fosse digna do seu currículo de maluca em crise por nada e sempre, mas a moça do “don’t stop, please, God!”, não era ela.
——————————–Continua grande. Não acaba logo.
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Escrito pela Alê Félix
5, julho, 2004
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Vá, compre o livro e aproveite para dar um beijo nele e ver a face misteriosa dele.



Escrito pela Alê Félix
3, julho, 2004
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Será que isso faz de mim um tiquinho mineira? Todo mundo pergunta por que eu não tiro o trem da boca e eu nunca soube responder. Acho que está aí a resposta… Meu trem deve vir de Poços de Caldas.



Escrito pela Alê Félix
3, julho, 2004
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Ultimamente tenho achado que ter um blog é desvio de caráter. Estou pegando pesado? Esqueça as exceções e pense bem. Ok, ok, então vamos deixar de lado o caráter de quem pratica post-análise e falar sobre as conseqüências de ter um blog. Um blog é um deformador de ego. Você entra carente e sai pirado, alucinado, obcecado, retardado, viciado e muito mais solitário. Sim, muito mais do que já era, mas com a ilusão de que, depois do blog, você tem alguma coisa ou algumas pessoas. Essa porcaria deixa as pessoas burras e surtadas. Só deve mesmo servir para quem tem quatorze anos, porque pessoas com quatorze anos normalmente estão acima dessas picuinhas de gente que se acha grande. Antes dos blogs, eu não confiava em ninguém com mais de trinta, hoje não confio em ninguém com mais de vinte. Para adultos, ter um blog é regredir, despertar a inveja, escrever com a vaidade, deixar rastros dos seus erros e perder a cabeça com qualquer ameaça ao seu imperiozinho virtual. Exceções à parte, nunca vi tanta gente cínica, arrogante, inescrupulosa, alpinista social-virtual metida a besta como no mundo Blog. Ter um blog é sinal de fracasso em algum departamento da vida. Só pode ser. Eu mesma achei por aqui alguns dos meus departamentos de fracasso. É que no fundo, no fundo, bem lá no fundo, eu sou uma moça carente de afagos… e uma neurótica com mania de perseguição também. Ah! E arrogante e pedante. Não posso esquecer desses dois. São os que mais me incomodam. Mas vou dizer: fazia tempo que eu não me sentia tão ridiculamente estúpida. Só tendo um blog para passar por uma cena patética como a de ontem. Eu não ia contar, mas agora vou. Vou porque eu mereço a humilhação…
Cá estava eu com as nádegas gorduchas estateladas na cadeira em frente ao micro, quando toca um telefone (eu tenho dois sobre a mesa de trabalho). Atendi. Era o Danilo – meu irmão – que ligou para me dar uma aula sobre fundos de investimento (algo que eu não acredito que possa ser bom, mas que ele teima em achar que é). Pobre não tem que investir dinheiro em ações; tem sim é que comprar terra, construir casinhas para outros pobrinhos e alugar tudo. É assim que um pobre sobe na vida – morando na casona em cima das outras casinhas. É simples! Mas, enfim, ele não acredita nas minhas casinhas de aluguel e eu acredito no pai da Scarlett O’Hara: terra é sempre terra. Enquanto não concordávamos, o outro telefone tocou. Atendi com a outra orelha (ainda vou enfartar deste hábito); era um jornalista da TV SENAC querendo agendar uma entrevista com a Daniela Abade. Conversa vai com meu irmão e espera telefônica para confirmação de alguns dados sobre a minha editora e a minha primeira escritora, abri o browser e decidi dar uma espiadinha nos comentários do último post aqui do blog. Foi quando bati os olhos em um comentário que dizia, entre outras coisas, isto aqui:
“Tu não sabe o que eu descobri… tem um filminho teu num site meio pornô. E embora tenha te visto apenas uma vez no lulu, acho que era tu fazendo umas caretas sensuais num elevador”.
Minha reação na hora:
– Danilo, falo com você depois. Tchau!
– Mas o CDB é uma opção para…
– CDB pra mim sempre foi e sempre será Casa Da Banha. Tchaú!
– Estou falando pra você que é…
– Tuuuuuuuuuuuuuunnnnnnnnnn….
Desliguei um e…
– E quando ela estará na FLIP?
– No dia 09, no Casarão do Cunha, à partir das 21 horas. Ela participará da noite de autógrafos na Noite da Permuta de Idéias ao lado da Paula Foschia que é editora responsável pela Editora Candide e escritora do livro “Primavera Eterna”. Também estarão presentes o Paulo, autor do livro “O Cabotino” e outros escritores. Só preciso checar a data e o horário, mas só terei esta informação amanhã.
– Certo. Então aguardo o seu contato amanhã para combinarmos a participação dela no programa Mundo da Literatura. Obrigada pela atenção.
– Por nada. Até amanhã e bom dia pra você.
Com os dois telefones no gancho, li novamente o comentário e pensei:
“Mais um anônimo filho da puta querendo me sacanear. Era o que faltava… vídeo pornô. Será possível? Não lembro de ter transado em nenhum elevador… Não depois que encheram essas porcarias de câmeras. Droga. Melhor investigar quem é esse cara no Google, nos IPs, no FBI… Site inexistente. Droga, droga, droga. Esse comentário deve ser uma charada. Vamos ver… Qual é a desse cara? Sóbria, eu tenho certeza que não fiz cara sensual em elevador nenhum. Não nos últimos dez anos. Será? Não, não… Não fiz nada. Tenho certeza. Só se eu tenho uma sósia, uma irmã bastarda por parte de pai… Mas eu sou a cara da minha mãe. Impossível. Será que minha mãe teve gêmeos quando nasci, deu a outra pra alguém e eu tenho em algum lugar do planeta uma irmã gêmea que é atriz pornô? Uma Úrsula? Não, não… Seriado americano demais para o meu gosto. É sacanagem desse pateta! Deixa ver de onde vem esse trem… Bicu? Sei… Pensa que engana quem? Vou mandar um e-mail para o seu alter-ego antes que o seu suposto vídeo me transforme na Paris Hilton do mundo blogueiro. Afe! Paris Hilton do mundo blogueiro é bizarro. Deixa pra lá. Deve ser algum engraçadinho querendo atenção. Como tantos outros que vira e mexe aparecem para encher o meu saco.”
Mas quem disse que eu deixei pra lá? Pensei no cretino um dia inteiro. Fui dormir pensando. Mesmo com a certeza absoluta de que eu jamais poderia ser a protagonista da suposta cena do elevador. Dormi, sonhei com alguma coisa que não me lembro mais e acordei às cinco da manhã falando sozinha:
– Claro! É da história da mulher do pires! O cachorro comeu meu sutiã, eu sai de lá fazendo caretas de nojo dentro do elevador e o porteiro achou que…
Ah! Não vou contar o final dessa história. Ela está nos rastros de erros dos arquivos deste blog. Uma vergonha, mas graças a Deus não tinha vídeo pornô nenhum! Eu é que sou retardada. O Bicu, um leitor novo que se enfiou nos confins dos meus arquivos, esmiuçou post por post, saga por saga, leu toda a história da “Mulher do pires” e me fez perder uma noite de sono porque eu estou louca, paranóica, afetada e com mania de perseguição. Deus me livre! Que presunção a minha achar que alguém perderia seu tempo tentando destruir minha imagem de moça de família. Hehehe… Tudo por culpa de um blog, esta maldita ferramenta deformadora de egos. E eu achando que o problemático era o coitado do rapaz… Me internem, por favor.
Para o Bicu: Queridão, obrigada pelos afagos. Eu lembrei da mulher do pires antes do seu e-mail explicativo, e morri de rir – antes e depois. Ah! E antes que eu esqueça, abra um blog. Como você pode ver, é divertido. 🙂 Só espero que as pessoas cheguem até aqui cientes de que este post foi um post leve e sem intenção de agredir ninguém. Apesar de não parecer em um primeiro momento, eu escrevi rindo e EXAGERANDO – que é o que eu faço melhor na vida. Enfim, nem tudo que parece é, e se eu tiver que explicar, aí sim eu vou ficar brava. Acho que já expliquei… é uma merda. 🙂 Beijo, menino! Adorei.



Escrito pela Alê Félix
2, julho, 2004
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Quando a Marilu e eu entramos na delegacia, o Zarolho e o Corcel ainda esperavam a vez para falar com o delegado…
– Enquanto a namorada do Corcel estiver grudada no pescoço dele, não temos como fazer nada. E agora?
A garota não parava de acariciar os cabelos do namorado. Coitados, tive pena. Dia dos namorados, briga, delegacia, ovo… que pesadelo. Mas aí eu lembrei do Dancing… Não dava pra entender como é que o infiel e a Marilu se atracaram por lá, se eu estava presente e não vi os dois juntos. De qualquer forma, se não fosse blefe da Marilu, ele bem que mereceu a omeletada.
– Você não ficou com esse cara…
– Hum…
– Como vai dizer que ficou, se não ficou?
– Com a namorada por aqui, não dá pra gente fazer nada… Droga!
– Hum, sei… Pode deixar, eu dou um jeito. Mas depois eu quero saber direitinho essa história do Dancing.
Precisávamos de um guarda. De preferência um que não soubesse dizer não para mulheres aparentemente indefesas e inocentes.
– Seu guarda, pode me fazer um favor?
– Pois não.
– Não é por nada não, mas é que o nosso amigo – aquele ali do cabelo enroladinho – arranjou uma briga com o rapaz que está sentado no banco com a namorada. A mãe da menina está lá fora esperando ela no carro e pediu que avisássemos. Só que não dá pra gente avisar por que o nosso amigo pode achar que estamos conversando com o inimigo. Entendeu? Chato, né? Será que o senhor pode avisá-la? É só ir até ali e dizer que a mãe dela acabou de chegar e que está lá fora no estacionamento. Resumindo: a mãe dela soube que ela está aqui, não quer entrar e quer falar com ela lá fora. O senhor faria essa gentileza pra gente?
Qualquer um faria o que eu quisesse para sair de perto de mim quando eu falava atropelado daquele jeito. Era um dom que fazia os homens mais velhos me obedecerem e os da minha idade fugirem. O guarda não seria exceção. Olhou pra nós com pinta de quem entendeu melhor o decote da Marilu do que o que eu havia dito, não fez perguntas e seguiu em direção ao casal…
– Funcionou!
– E quando foi que não funcionou?
– Eu sei! Mas a facilidade é sempre surpreendente.
– Agora você despista o Zarolho enquanto eu puxo o Corcel de canto. Assim que eu virar o corredor e estiver a sós com ele, você larga o Zarolho e volta pra me ajudar. Alê, não vai esquecer: independente de como estiver o papo entre nós, você aproveita os ganchos, joga frases sobre o dia do Dancing e improvisa o máximo que conseguir.
Seguimos o combinado, mas despistar o Zarolho não foi fácil…
– E aí?
– Esperando…
– Relaxa, menino! Vai dar tudo certo.
– Tanto faz… Estou cansado dessa vida.
Ops! Se o papo ficar profundo eu não terei como correr daqui. Preciso desconversar urgente! Mas, coitadinho do Zarolho…
– Oh, Zarolho… Também não é assim, né?
– Posso te contar um segredo, Alê?
Não, não… agora não.
– Claro!
– A única coisa que eu queria agora era ter uma namorada pra passar a mão na minha cabeça e ficar ao meu lado. Como o Corcel…
E o Zarolho inventou de vir com aquele papo mela cueca bem naquela hora… Eu precisava agir rápido.
– Zarolho, senta aqui…
Respirei fundo, segurei sua mão e…
– Nós ligamos para o Seu Manuel e ele deve chegar daqui a pouco.
– Eu não pedi para ligarem.
– Estamos em uma delegacia, esqueceu? Na falta de um advogado em um lugar como este, o seu Manuel poderá ser bastante útil. Além do mais, ele se preocupa com você do mesmo jeito que nos preocupamos.
– Sei, sei… Se preocupam tanto que me seguiram.
– O que não deixa de ser um jeito de dizer que gostamos de você.
– Alê, sem essa.
Eu precisava sair dali…
– Será que tem um bebedouro por aqui? Estou com sede…
– Não sei… E a Marilu? Onde foi?
– Anh? Ah! Foi procurar o delegado. Ver se ele vai demorar e… Putz! Eu fiquei de ajudá-la.
– Ajudar a procurar o delegado?
– É… pois é. Bom, vou lá então…
– Sabe, eu andei pensando e acho que vou parar de estudar e cair na vida. O que você acha?
Isso lá é hora de falar sobre isso?
– Acho um absurdo! Olha, o quer que você esteja pensando em fazer agora, não pense. Não é um bom momento para pensar. Eu preciso ir lá fora agora, mas…
– Minha mãe está sabendo que eu estou aqui?
– Não. De jeito nenhum.
– Ufa…
– Regra número um, esqueceu?
Enfim, um sorriso… – Coitadinho. Droga! Vira e mexe ele vinha com essa história de jogar a vida para o alto e largar mão de tudo…
– Zarolho, eu sei da sua vida. Sei o quanto você já se deu mal, o quanto se esforça e o tamanho da revolta que você sente por não ter uma vida comum, um nome simples e uma família menos complicada. Mas é aquilo que você disse no carro: todos nós fracassamos, temos nossos problemas, defeitos… Não interessa se o Voadora é bonitinho, se o Ivo coleciona medalhas, se a Marilu tem os pais mais liberais do mundo e se eu sou a mais inteligente da turma…
Rimos…
– O mais inteligente sou eu, Marilu é a mais esperta e você tem que se contentar com o segundo lugar nos dois quesitos.
– Eu me contento…
– Está rodeando para chegar aonde, Alê?
– Estou rodeando para dizer você tem razão sobre aquela conversa no carro. Que somos um bando de incompetentes mesmo. Principalmente nas nossas relações.
– Eu falei na hora da raiva… Vocês não são incompetentes.
– Somos sim! Claro que somos. E não falo só de amor… Falo das relações de forma geral. Família, amigos… Parece incrível, mas até hoje eu não sei quando eu estou ajudando e quando estou atrapalhando.
– Desculpa ter falado da Maria… Peguei pesado.
– Teria doído menos se tivesse falado do Nando, mas na boa. Já passou. Afinal de contas, para que servem os amigos, se não para cutucar as feridas?
– Para curar as feridas…
– Sabe que de vez em quando você me parece muito mais bonitinho do que o Voadora?
– Vai a merda, Alê!
– Bom, eu preciso mesmo ir para algum lugar antes que seja tarde demais…
– Eu acho um inferno essa fase de namoros, sabia? Às vezes eu queria poder dormir e acordar com quarenta anos.
– E se aos quarenta estivermos na mesma?
– Não… Impossível. Toda menina ajeitada que fala “oi” pra mim, eu me apaixono. É uma desgraça. Aos quarenta isso não deve acontecer.
– É… A gente se apaixona umas três vezes por semana, acha que vai morrer se não ficar para sempre ao lado da figura e um mês depois ela vira um pé no saco.
– Essa fase eu desconheço. Se eu passasse do primeiro estágio já estava de bom tamanho.
– Será que nenhum amor adolescente é eterno?
– Não sei. Quando eu for um velho eu te conto. Hoje eu só queria mesmo é beijar na boca.
– Bom, aí eu já não posso ajudar. E chega desse papo! Vou atrás da Marilu. Mas olha, uma coisa é certa sobre a eternidade: de todos nós, você é o único que sempre foi e sempre será o tesão da vida do Voadora. Disso eu tenho certeza.
Ganhei um tabefe leve no braço, mais um sorriso e sai correndo. A Marilu já devia estar em apuros. E estava, pelo jeito que olhou pra mim. Quando me aproximei, eles fizeram uma pausa, mas não pararam de falar. A conversa parecia nervosa… Tentei me situar antes de abrir a boca.
– No Dancing. Estou dizendo que foi no Dancing, no banheiro das meninas, logo depois de você desmaiar de bêbado e os seus amigos te salvarem de um possível coma alcoólico.
– Não delira, garota! Eu não fiquei com você…
– “Ficou”, não! Você transou comigo. E prometeu que me ligaria no dia seguinte, disse que estava apaixonado…
– Eu nunca te vi na vida!
E não é que aquele era o cara do banheiro feminino? Por aquela eu não esperava. Eu não estava por perto quando o pegaram e colocaram pra fora da danceteria, mas parecia ser ele mesmo. E se ele era o cara do banheiro, a Marilu só podia ser a moça dos gemidos em inglês…
Que perua traidora! E eu pensando que ela estava falando de uns beijinhos apenas… Por que ela não me contou sobre eles antes? Ei, boa lembrança a dos gemidos em inglês. Acho que já dá pra eu me meter na conversa. Mas, que depois ela me paga… ah, se paga! Pra que serve uma melhor amiga, se não para dividir um bafão deste tamanho?
——————————–Continua e não acaba logo. Não mais. 😐
Para ler o Post I, clique aqui.



Escrito pela Alê Félix
29, junho, 2004
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Se você está lendo os posts “O ovo negro e os incompetentes no amor” e está
curioso(a) para saber quem era a Maria dos Pacotes, aguente firme. Em breve ela será escrita, mas não aqui.



Escrito pela Alê Félix
27, junho, 2004
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Na entrada da delegacia, encontramos um telefone público. Ainda era cedo, ainda bem! Se fosse muito tarde da noite e precisasse acordar o Seu Manuel para resolver uma pendenga como aquela, eu estaria frita. Ele era um homem de padaria: dormia tarde e acordava antes do sol nascer. Um bom sujeito, mas vivia para fazer dinheiro e voltar para a sua Lisboa. Éramos todos crianças quando o conhecemos. Ele mudou para o bairro e, em seguida, inaugurou a panificadora “Pôr do Sol do São Francisco”. Quando tiraram a faixa de cima do nome, o Zarolho odiou e a primeira coisa que falou para o português foi:
– Oh, Portuga! Por que não botou “Eu Sou o Pão do São Francisco”?
E ele riu. Riu e, nos meses seguintes, se encantou tanto com o interesse que o moleque demonstrava pela fabricação dos pães e pela cara de pau de contar piadas de português, que decidiu educá-lo e torná-lo seu braço direito. Não mudou o nome da padaria, mas adotou o Zarolho. Solteiro, impossibilitado de ter filhos, sem jeito com as mulheres, quarentão e obcecado pelo trabalho, Seu Manuel encontrou no bairro muito mais do que um lugar para sobreviver. Se fosse um dia qualquer, talvez ele não se importasse de ir atrás de nós para livrar a cara do Zarolho, mas naquele dia, não seria tão simples assim. Ele estava de coração partido e, talvez, a última coisa que ele quisesse ver, fosse a cara de um nós.
– Alê, liga você!
– Eu não! De jeito nenhum. Liga você que deu a idéia.
– Dei a idéia, mas você se dá melhor com ele.
– Não, Ivo! Não vou ligar. Ele deve achar que o que aconteceu com a Maria dos Pacotes foi culpa minha.
– E quando é que você vai deixar de achar que a culpa foi sua?
– …
– Então liga você, Marilu!
– Dá aqui esse telefone. Isso não será necessário, mas…
Marilu ligou. Foi tranqüilizadora e direta. Ela era boa nisso. Entendia dos adultos melhor do que todos nós. Dava as piores notícias de um jeito tão natural que fazia o problema parecer menor. Dizia que nenhuma tragédia adolescente é tão trágica quanto pintam e que era só evitar o suspense e frisar sempre que não haviam mortos, nem feridos.
– Pronto. Ele está vindo. Agora eu preciso contar uma coisa, mas vocês vão ter que me prometer que vão ouvir, não vão fazer perguntas e vão fazer o que eu disser. Depois eu explico o que vocês quiserem.
– Lá vem…
– Voadora, custa você concordar comigo uma vez na vida? É pelo bem do Zarolho. Se tudo der certo, quando o Seu Manuel chegar estará tudo resolvido.
Se o Seu Manuel o considerava como um filho, o Voadora o considerava o amor da sua vida. Voadora, tinha sentimentos contraditórios pelo Zarolho. Ora o menosprezava, ora sentia ciúmes de suas amizades, ora o elogiava, mas nunca o deixava na mão. Pelo bem do melhor amigo, até fazer acordos com a Marilu e comigo, que ele vez ou outra implicava, ele faria.
– Ok. Qual é o plano?
– Ótimo. Alê, vou precisar principalmente de você. E de vocês dois… Caso haja briga.
– Vixe, já vi que vai sobrar pra mim…
– Relaxa, Ivo. O Voadora é que é o bom de briga aqui.
– Capoeira não é uma luta, capoeira é uma arte! Quando é que vocês vão entender isso?
– Bom, o negócio é o seguinte: eu conheço o cara do Corcel. Fiquei com ele no final de semana passado.
– No Dancing?
– É…
– Mas não é possível, Marilu. Você estava com o…
Ela passou a mão no nariz, eu fiquei quieta. Aquele era o nosso sinal. O sinal do “concorde com tudo que eu disser. Depois eu explico.”
– Deixa eu ver se entendi… Você ficou com o cara e ele está com a namorada na delegacia. Ou seja, a não ser que ele tenha arranjado uma namorada do último domingo pra cá, ele chifrou a namorada com você?
– Bingo, Voadora!
– Marilu se você não fosse tão inteligente eu casaria com você…
– Ivo, presta atenção. Eu vou entrar com a Alê na delegacia e, na primeira oportunidade que tivermos, eu vou puxar o cara de canto e conversar com ele.
– Mas você vai dizer o quê?
– Deixa comigo. O único problema é que, se o papo não funcionar, você e o Voadora terão que inventar uma história para o delegado. Tudo bem pra vocês?
– Feito.
– Eu detesto mentira, mas se é por uma boa causa…
– Alê?
– Precisa perguntar?
E não precisava mesmo perguntar. Se fôssemos uma gang, a Marilu seria a mentora de grande parte dos nossos crimes. Não era novidade trabalharmos em equipe por diversão ou para livrar a pele de alguém. Podíamos até acordar com a consciência pesada no outro dia, mas na hora não dava pra escolher voltar pra casa e dormir.
——————————–Continua.
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Escrito pela Alê Félix
26, junho, 2004
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Tô afim de ir em um(a) sobrenatural… Alguém aí tem uma indicação quente? Precisa ser em São Paulo – não vou viajar pra saber do futuro, é muito sacrifício pra pouco benefício. Mas, veja lá! Não vá me indicar um Walter Mercado da vida. Se for dar o contato do sobrenatural, se possível me conta antes o tamanho da adivinhação.



Escrito pela Alê Félix
26, junho, 2004
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