Voltei a dirigir de forma perigosa e, mesmo sabendo que já passei por isso antes, não consigo me controlar. Sarei no período que estava casada, mas acho que preciso que algo mais forte que eu me faça parar… Não quero que seja necessário, óbvio.
Três multas por excesso de velocidade, duas por não respeitar faróis vermelhos, uma por estacionar em lugar proíbido, uma por não usar cinto de segurança e outra por circular na contramão… Minha cara, né? Incontrolável, impaciente, arrogante, indestrutivel, rebelde… Burra!
Pouco antes de casar eu dirigia um pouco pior, mas naquela época não havia esse festival de radares e eu andava menos sozinha. O banco do passageiro ocupado é um “algo mais forte”…
Era bom não ter que pagar em dinheiro o preço das minhas lutas… Voltar pra casa de madrugada vendo o velocimetro bater os cento e dez, cento de vinte kilometros por hora na marginal era uma espécie de terapia de paz interior antes de chegar em casa, discutir com meu pai, desmaiar sobre a cama e acordar chorando dos pesadelos diários onde eu tentava sem sucesso agredir alguém (meu pai), gritar verdades para alguém (meu pai), mas só conseguia acordar com o peito arrebentado e chorar sem ninguém (sem ninguém). E era sempre assim, era sempre um vai e vem de confusões ignoradas nos dias seguintes e remoidas no inconsciente.
Ele simplesmente esquece tudo depois de ler o jornal e tomar o seu café da manhã… Não conversa, não é coerente, não se desculpa. Age como se nada tivesse acontecido depois de um ou outro surto, age de acordo com suas conveniências e não acredito que alguém saiba realmente o que se passa dentro daquela cabeça. E, pra não enlouquecer com hipóteses, aprendi a guardar as explicações carmicas positivas e a passar cafés depois de acordar dos meus pesadelos…
Eles voltaram logo depois que o Rube pegou a chave do apartamento… Meu pai tem me ligado todos os dias pra saber se estou bem. Tenho dito que sim… Óbvio.



Escrito pela Alê Félix
31, julho, 2007
Compartilhe

Tanto disseram para gostarmos mais de nós mesmos, que não vejo mais ninguém gostando de ninguém.



Escrito pela Alê Félix
30, julho, 2007
Compartilhe

Acabei de sonhar que estava com a minha família em um ponto de onibus, minha mãe pegou um taxi com meu sobrinho, meu pai um onibus com meu irmão, eu fiquei pensando, pensando, pensando… E me dei conta de que devia ter ido com eles porque meu celular estava sem bateria, sem crédito, e eu não fazia a menor idéia de onde estava. Subi as escadinhas do onibus que estava parado no ponto sem saber pra onde ele ia porque me deu desespero não sair do lugar só porque não sabia pra onde ir.
Sentei em um dos primeiros bancos, ao lado de uma moça de cabelos cacheados que não gostou nada nada de dividir o espaço e se espalhou um pouco mais antes que eu me acomodasse. Tentei lembrar o nome do onibus que meu pai pegou, tentei lembrar algum nome de rua, alguma esquina conhecida, alguma paisagem familiar… Nada, nenhuma lembrança, nenhuma pergunta, nenhuma resposta, silêncio dentro, barulho fora… Segui sozinha até o ponto final.
Wil foi embora ontem de manhã, Rube voltou do hotel a tarde e tirou do bolso a chave do apartamento e o contrato de locação assinado. Disse que arranjou uma namorada só porque pedi para o Wil ficar aqui em casa dessa vez, pedi um tempo para o Wil porque preciso aprender a ficar sozinha… Vestimos os sorrisos e expressões dos civilizados… e dos hipócritas.
Machucados devem sangrar um tempo… Devem sangrar sem curativos porque curativos fazem esquecer da dor e da cicatriz, mas um dia eles precisarão ser descartados e trocados por outro e outro e mais outro até encararmos as feridas como elas realmente são quando estão abertas, sujeitas a infecção, expostas ao tempo, sarando com o tempo, formando suas próprias cascas de proteção.
Quando eu tinha uns dezesseis anos queimei a batata da perna no escapamento da moto de um moço bonito que dizia ser louco para me dar uns beijos, mas era noivo e carregava o peso da nossa diferença de dez anos de idade. Com uma garota de dezesseis, mesmo sendo grandalhona e falastrona, isso pesava, mas não o empedia de me levar da escola pra casa.
Minha mãe sempre teve pavor de motos e muito mais de imaginar suas filhas montadas nelas. Quando vi o tamanho da queimadura a dor foi menor do que pensar no que diria a ela e lembrar que, no dia seguinte, viajariamos de férias para o Rio de Janeiro. Vocês não fazem idéia do que é cuidar de uma queimadura na perna sob o sol carioca, nas areias de suas praias e com a vaidade dos biquinis e minissaias da adolescência.
No meio da viagem, já formando casquinha, liguei pra uma amiga que me contou que o moço da moto havia adiantado o casamento e a festa seria naquela noite. Sentei num banquinho perto do orelhão e sem querer comecei a cutucar as beiradas daquela casca que anunciava uma grande cicatriz… Mexi, mexi, arranquei um téco, deu vontade de tirá-la inteira e soltei um “ai” de lágrima e de dor de cotovelo disfarçado de machucado na batata da perna.
Aos dezesseis anos somos uns otários corajosos… Levantei, entrei com fé na fila do orelhão, esperei minha vez com a impaciência dos que acham que a batalha será uma barbada, liguei para o moço da motoca e…
– Você não pode casar!
– Alê?
– Por que você adiantou o casamento?
– Eu…
– Você não gosta dela… Você gosta de mim! Eu sei que sou muito nova pra você, sei que meus pais te odeiam e a sua noiva levaria um choque porque ela nem deve saber que eu existo, mas ainda dá tempo de contar e… Espera só um pouquinho… Dá pra segurar esse seu cachorro, por favor?
– Anh?
– Nada… Um cachorrinho aqui na fila… Peraê.
– Que?
– Moça… Ele é pequenininho, mas late muito alto. Atrapalha!
– Você tá me chamando de pequenininho?
– Não! Tem um cachorro de verdade aqui, não tô falando de você não. Imagina que eu faria uma analogia dessas… Só porque você tem uma CB400 e ele é pequinês?? Então… Ainda dá tempo de você contar tudo apesar de não ter muito o que contar porque nunca aconteceu nada demais entre a gente. Só dizer que você descobriu que me ama. Só isso. Diz que não gosta mais dela e que… E se você inventar uma doença contagiosa? Moça, dá pra segurar esse cachor… Pára! Sai daqui! Me solta! Solta! Larga. Me larga droga de cachorro idiota! Aaahhhh….
A ridicula da menina foi mexer na coleira do demoniozinho, ele pulou do colo dela, danou-se em cima de mim e depois de eu ter pago o mico de correr de um mísero pequinês em pleno calçadão de Copacabana, ele ainda me mordeu bem na queimadura. Sim, a mordida de um cachorro possuído pelo capeta misturada com as casquinhas de queimadura causada por uma CB400… Fora o medo de pegar raiva.
Não peguei… Acho. Demorou pra sarar, a cicatriz existe até hoje apesar de ser imperceptivel a maior parte do tempo. Ele casou, ouvi dizer que separou e casou de novo mais umas três vezes e acabei de perceber que não consigo lembrar o nome dele de jeito nenhum…
Se eu der sinais de que estou apaixonada ou envolvida com alguém nos próximos seis meses, atirem em mim. Preciso deixar sangrar sem curativos.



Escrito pela Alê Félix
28, julho, 2007
Compartilhe

Por conta dessa bagunça aérea, a correria dos clientes e a vinda do Wil pra São Paulo, só vou para o sul na semana que vem ou na próxima. Aviso depois. Agora, beijo porque ele volta já já para Brasilia e São Paulo está muito fria para ficarmos longe das cobertas. Fui.



Escrito pela Alê Félix
26, julho, 2007
Compartilhe

No próximo dia 25 vou a trabalho para Curitiba e, em seguida, para Sapiranga (26/07) no Rio Grande do Sul e Porto Alegre (27, 28 e 29 de Julho). Vou aproveitar para ver amigos queridos e outros que só conheço por aqui. Se você é de uma dessas cidades e quiser sair pra tomar um café, me avisa, tá? 😉



Escrito pela Alê Félix
20, julho, 2007
Compartilhe

Pra quem vai da zona norte para a zona sul de São Paulo pela 23 de Maio, antes de passar pelo aeroporto, é necessário passar por cima da ponte Bandeirantes. Sempre que passo por ali e vejo um avião pousando encostado sobre as nossas cabeças, minha imaginação fértil cria os mais diversos desastres aéreos… A ponte já foi destruída por um Boing, pousos feitos sobre os carros, prédios enfileirados derrubados. Mas nunca, dentro da minha cabecinha desastrenta, o prédio da Tam seria o alvo de um avião da própria Tam. Talvez, porque meu trabalho me faça ir até a Variglog e a Tam pelo menos três vezes por semana, por conhecer os funcionários, porque não é fácil pensar que as tragédias podem estar tão próximas.
Desde que caiu aquele avião em agosto do ano passado instalou-se nesse país mais do que um problema de estrutura nos transportes aéreos. Além dos fatos, impregnou-se em nós a sensação de que a qualquer momento outro acidente grave aconteceria e, agora, estamos todos com a sensação do “eu avisei!” repetida várias e várias vezes como se fosse um mantra que não salva embora nos torne poderosos.
Viajei mais no último ano do que em todos os outros anos da minha vida… E eu tinha pavor de andar de avião. O medo passou mesmo diante do céu caótico que descobrimos que temos… Nem sei como, mas passou. Passou depois de um dia que tive uma crise de choro dentro do aeroporto sem saber direito se era porque eu estava vivendo uma fase meio frágil ou se eram só meus caláfrios aéreos. Voltei pra casa, cancelei o vôo, liguei a TV e soube da queda do avião que estava voltando de Manaus. Eu acredito em energias, sabe? Acredito que somos capazes de captar energias e de alguma forma materializá-las. Talvez, eu nunca consiga explicar direito essas coisas que penso e entendo que elas possam soar como encanações ridiculas, mas sinto como se todos nós – visualizadores de tragédias – fossemos um pouquinho responsáveis por elas. Quando minhas tragédias mentais eram muito fortes e ocupavam espaço demais na minha mente, ex-maridon dizia que eu devia voltar pra yoga e me dedicar a meditação. Acho que todos nós deveríamos tentar…
Acordei agora pouco, abri a caixa de e-mails e meu irmão dizia:
Fica andando para cima e para baixo de avião, viu???? Sua maluca!!!!!!!!!
É o jeito dele de dizer que me ama mas, na minha cabeça, evitar não é uma forma de solucionar problemas e sim constatar que eles existem. E, se existem, quero mais é estar pronta.



Escrito pela Alê Félix
18, julho, 2007
Compartilhe

Fiz 14 de 16. Queria ser uma mosquinha pra ver o resultado de alguns machões. 🙂
Cliquem aqui e me digam quantos acertaram.



Escrito pela Alê Félix
12, julho, 2007
Compartilhe

Este é o primeiro feriado que passo sozinha desde… Acho que desde sempre. Nem lembro disso já ter acontecido. Estava casada há doze anos, separada e com ele morando aqui em casa há um ano e meio, separada e namorando alguém de outro estado há um ano e quase seis meses. Também não lembro quando foi que estive solteira pela última vez… Acho que não fico solteira-solteira desde… Desde os quatorze anos. Acho. Não tenho certeza. E sempre achei que fossem estranhas as pessoas que não conseguem manter relações mais longas, mas… Mas hoje a estranha sou eu que – depois de tantos e tantos anos – está querendo aprender a ficar sozinha e ter espaço pra outros tantos interesses que perdi entre uma relação e outra. E é uma merda não ter feito isso direito antes… Uma merda ter evitado. Não, essas coisas não acontecem por acaso. Algumas pessoas são pateticamente mais carentes do que outras. Sempre morri de medo de solidão e lidar com isso agora parece ridiculo e imaturo.
Não está sendo um feriado fácil… Vi dois filmes, uns dez episódios de seriado, comecei a ler um livro (sem interesse comercial!), lavei a louça (pasmem!), escrevi dois posts quase no mesmo dia, sai pra jantar sozinha em um restaurante onde ninguém entra sozinho e acho que vou arrumar minhas eternas bagunças domésticas… Enfim. De vez em quando dá uma sensação horrorosa no peito, as horas diárias de sono passaram da quatro para duas, mas pelo menos não estou voltando da rua e olhando atrás das portas. Menos mau…
Quando eu era adolescente e meus pais viajavam, ficar em casa era uma espécie de presente divino pedido em orações e mais orações. Quinze minutos depois deles baterem o portão o quintal já estava preparado para as festas, várias amigas dormiam por lá e o namorado se animava para brincar de casinha. E eu achava que quando morasse sozinha seria daquele jeito, e consegui sair de casa antes dos vinte anos só por causa daquela sensação boa de liberdade, mas casei meia hora depois de colocar o pé na rua. Fiz tudo errado, né? Podia ter passado por essa droga de solidão na época que “ficar sozinha” era sinal de sono chegando. Agora eu tô ferrada… Não tenho mais tanto saco para as festas, as amigas ou estão casadas ou desesperadas, prefiro brincar de escritório do que de casinha e não consigo mais dormir. Acho que vou passar o resto do feriado na casa dos meus pais…



Escrito pela Alê Félix
9, julho, 2007
Compartilhe