Dia 12 de Novembro na Feira do Livro de Porto Alegre.

Se você mora ou estará em Porto Alegre nessa data, me avise. Além do André Dahmer (autor do Malvados), eu e alguns autores do livro Blog de Papel, estaremos na cidade até o dia 15 de Novembro.


capadolivromalvados.jpg



Escrito pela Alê Félix
15, outubro, 2005
Compartilhe

Um, um ano tomando todos os cuidados necessários pra não ficar gripada e vem o meu sobrinho e espirra na minha cara logo depois de receber seu presente do dia das crianças.
Uma gripe misturada com os dias mais quentes do ano… Eu vou morrer.



Escrito pela Alê Félix
14, outubro, 2005
Compartilhe

Engraçado, conheci pouquíssimas pessoas na minha vida que possuíam arma de fogo. Acho que duas pra ser mais exata. Vi de perto uma arma, no máximo, meia dúzia de vezes em trinta e um anos de vida e estive sob a ameaça de uma, somente uma vez.
Lá em casa, minha avó sempre dizia que filha dela jamais se envolveria com um homem que precisasse ter uma arma dentro de casa. Dizia: “não brinca com essa gente!”. Todas as filhas e netas concordaram e sempre acharam o ó do borogodó esses caras que falam em armas como se fossem parte do próprio pau. Uma tia minha chegou a terminar um namoro promissor com um sujeito que queria porque queria tirar porte de arma. E sempre nos pareceu uma atitude meio óbvia que, em uma sociedade, quem tem arma é bandido e que aqueles que precisam se defender com uma, ou estão de alguma forma envolvidos com bandidos ou estão com medo de assombração. Sim, porque as pessoas criam fantasmas em suas cabeças. Vocês viram, por exemplo, como o povo que é “NÃO fervoroso” é assustado? É, no mínimo, curioso o pavor que essas pessoas têm de ficar sem poder comprar uma arma. Aliás, queria saber quantas delas já as possui. A impressão que elas me passam é que, no dia seguinte do referendo, todas irão se armar até os dentes só pra fazer valer a lei. Como se estivessem no meio de uma guerra, como se estivessem com medo da vida mais do que de um possível assalto.
É estranho. Estranho saber que algumas, as que já possuem arma, estão fazendo até estoque de balas só por precaução. Estoque de balas pra atirar em quem? E as justificativas, então… uma melhor do que a outra. “Diga não a proibição!” Será que alguém sabe mesmo o que está dizendo quando diz isso? Daqui a pouco esses caras vão querer fazer referendo pra pena de morte e coisas do tipo. Quando eu era garota namorei um cara que foi proibido de andar por conta de uma bala “permitida”. O que ele deveria fazer depois disso? Tirar porte de arma, se esconder em casa e esperar pra dar o troco no próximo cara que tentasse lhe proibir viver? Graças a deus, pelo menos ele, não fez nada disso. Por mais piegas que digam que isso seja, ele disse sim pra vida. Foi tratar de namorar, se arriscar, aprender a dirigir e sobreviver sem suas pernas.
Eu sofri um seqüestro relâmpago dia desses e um amigo me disse: “tá vendo? se você andasse armada a história teria sido diferente”. Diferente do quê? Eu estou viva, estou bem, mal fui assaltada. Eu precisaria ser outra pessoa pra passar por uma situação dessas e achar que preciso de porte de arma no dia seguinte. Teria que pensar diferente, ter uma alma diferente.
Eu acho que é isso… Acho que a essência dessa história toda do referendo é essa. Ela expõe a alma das pessoas, expõe os medos, algo do caráter, expõe o que há por trás de cada discurso, de cada crença, de cada superfície. Não tô dizendo que quem vota SIM é isso e quem vota NÃO é aquilo. Não é nada disso. Tô dizendo que minha vó tinha razão: por melhores que sejam as intenções de um homem, como diabos você vai dormir ao lado dele com uma arma em sua cabeceira? Como diabos você vai viver com alguém que acha que precisa se armar para viver, sem ter nenhum grande motivo pra isso?
As pessoas deviam prestar mais atenção umas nas outras. Já ouvi cada papo furado. Gente dizendo: “você viu essa gente que vai votar SIM que ridícula? Sou da paz, sou da paz, o caralho. Bando de cordeirinhos babacas!”. E eu me pergunto, se o povo que votará SIM é isso, o povo que votará NÃO é o quê? Deixa eu ver se entendi… Ser a favor da paz agora é babaquice? É ruim querer viver em um mundo onde as pessoas não precisem de armas? Hum… sei. Mundo estranho. Mundo cada vez mais estranho. Cheio de jovens sem ideais, pessoas com medo de paz, amor… Gente que acha que precisa se armar. Mais? Como se violência a gente combatesse com violência e isso fizesse sentido.
Veja bem, volto a dizer que acho que existem boas e más pessoas em tudo que é canto. Tanto na galera do SIM, como na galera do NÃO. E seria um absurdo eu dizer o contrário porque tenho grandes amigos dos dois lados. Mas só por um momento, pare um pouco de ouvir os discursos e opiniões e ouça um pouco a sua intuição, o seu coração. Dá uma boa olhada na turma que vai dizer SIM no dia 23 e na turma que vai dizer NÃO. Tenta olhar direito. Não superficialmente, não o que elas dizem e defendem. Tenta olhar o tamanho do desespero que elas carregam no olhar e no tom de voz quando elas se manifestam. Tenta entender porque as pessoas têm tanto medo de uma mudança como essa. Depois que você fizer isso, mesmo que você ainda esteja em dúvida sobre o que votar no dia 23, te garanto que conhecerá melhor você mesmo e as pessoas a sua volta. Até porque escutar e observar sempre será o melhor jeito para se fazer escolhas na vida. Principalmente no que se refere aqueles que você quer e pode brincar.



Escrito pela Alê Félix
13, outubro, 2005
Compartilhe

Se vocês acompanham os Malvados do André Dahmer, convoco-os a entrarem na comunidade e deixarem o seu testemunho sobre as tiras. As melhores frases ou depoimentos serão selecionados e incluídos no livro que lançaremos em novembro. O nome do autor do depoimento, assim como endereço de blog (caso tenha) serão devidamente citados no livro, ok?



Escrito pela Alê Félix
12, outubro, 2005
Compartilhe

Diálogo da semana passada, logo depois de ler a matéria da Veja sobre o referendo:

– Na semana que vem tem resposta da Isto É.
– Claro que tem. A Veja levantou, eles só não cortam se forem burros.
– A Veja devia ter publicado essa matéria uma semana antes do referendo. Aí não teria tempo pra concorrência cair em cima deles.
– Qual você acha que será a chamada de capa da Isto É na semana que vem?
– “Nós não somos o centro do Universo, mas a Veja acha que é”.
Dito e feito. Erramos somente na capa da Isto É que veio com a chamada “7 razões para votar SIM, 7 razões para votar NÃO – SÓ VOCÊ DECIDE”. Erramos, mas não erramos tanto. Logo após o especial sobre o referendo, tem uma página inteira dizendo assim: “Nós não somos o centro do mundo. Você é”. Quase cai de costas. Fiz até um ola pra maridon. Eu no lugar do pessoal da Isto É teria pego um pouco mais pesado, mas eles mandaram bem. Foi uma resposta profissional, como todo veículo de comunicação deveria ser.
Hoje a noite, se der tempo, volto pra responder uns comentários e outras cositas sobre o referendo. Ah! Desculpem aí o post da bebedeira, tá? Caos! Agora chega de escrever porque daqui pra frente eu sou uma nova mulher. Sou a feliz proprietária de um personal trainer! Moreno, um metro e noventa e dois centímetros de altura (claro que eu não medi o menino! Meu Olho de Tandera é bom nessas coisas), rei do moletom, musculatura interessante, estrutura dentária promissora e… excelente profissional, excelente profissional.
Acho que maridon vai deletar esse post ou querer direito de resposta… Iu. Mulher casada não pode nem brincar. Droga. Tchau. Fui. Adoniran, meu personal, me espera.



Escrito pela Alê Félix
10, outubro, 2005
Compartilhe

conversando com um amigo, ele me perguntou porque eu não havia escrito sobre o seqüestro. Eu escrevi, mas escondi. É que eu estava tão triste naquela semana, que seria impossível olhar pra isso fora do rascunho.
Mês passado. Post escrito alguns dias depois…
Ontem, por volta das sete da manhã, um cara armado bateu na janela do meu carro e mandou que eu abrisse a porta do passageiro. Deu a volta pela frente do carro e eu pensei em atropelá-lo, mas não consegui. Ele entrou e mandou que eu “sentasse o pé”. Meus pés tremiam, minhas mãos tremiam e eu comecei a chorar enquanto guiava.
Ele estava nervoso. Olhava para trás o tempo inteiro e não parava de dizer que só queria se mandar dali. Eu também queria… Queria ir pra bem longe dele, daquela arma e de um pedaço da minha vida. Queria, tanto quanto ele, fugir para algum lugar que não tivesse um destino a me perseguir.
Minha bolsa estava embaixo do banco e ele não a viu. Assim como não me viu esconder o celular ao meu lado, pouco antes dele entrar no carro. Toda vez que ele tirava os olhos de mim, eu apertava os botões do aparelho e rezava para que caísse em casa e o Rube atendesse. Sem saber onde aquele seqüestro relâmpago poderia dar, eu torcia para que a idéia desse certo, ele ouvisse o que estava acontecendo dentro do carro e avisasse a polícia.
O cara perguntou se eu tinha dinheiro comigo, eu disse que não. Disse que tinha acabado de sair de casa para abastecer o carro e que só estava com o cartão de crédito. Em alguns momentos, eu me desesperava, achava que ele dispararia aquela droga de arma contra mim e acabava usando meu melhor escudo… Menti, disse que eu tinha filhos pequenos e que eles estavam me esperando para levá-los a escola. Disse que o caçula tinha apenas quatro anos e que era altista. Não me perguntem o porquê da mentira, achei que não bastaria dizer que as crianças tinham problemas de saúde. O problema teria que ter um nome se eu quisesse ser convincente e sobreviver. Disse que se acontecesse alguma coisa comigo eles ficariam sem ninguém porque eu não tinha marido e nem família… Tudo o que eu queria naquele momento era abraçar meu marido e minha família, tudo o que eu não queria naquele momento era ter filhos e considerar a possibilidade de morrer e deixá-los crescerem sozinhos. Ele, por sua vez, me interrompia dizendo que só queria ir embora, que nunca quis matar ninguém… E eu me perguntando quantas coisas ruins somos capazes de fazer mesmo sem querer.
Irritado com o trânsito, ele pegou o cartão de crédito que estava no console e mandou que eu parasse em um banco pra sacar dinheiro. Eu pedi que ele visse a data de adesão do cartão, disse que era um cartão novo e que só era usado para crédito. Era verdade, mas, com medo da falta de dinheiro estender a situação, pensei em avisar que a bolsa estava embaixo do banco. Pensei, mas as palavras não sairam.
O trânsito estava lento e ele queria, de qualquer jeito, que eu encontrasse um banco ou caixa automático na avenida onde estávamos. Eu disse que não fazia idéia de onde teria um, mas ele não acreditava e dizia pra eu acelerar. Uma viatura da polícia passou por nós e ele foi muito claro quando disse pra eu ficar quieta se quisesse continuar viva. A viatura passou, ele mandou que eu pegasse a marginal Tietê.
Mais trânsito, mais nervosismo. Mandou que eu parasse de chorar e fechasse totalmente o vidro para não chamar atenção. Disse pra seguirmos até o terminal rodoviário e continuava repetindo que só queria ir embora. Foi quando me dei conta de que o sujeito estava tão desesperado quanto eu, que ele não pretendia me matar e, talvez, só precisasse mesmo de dinheiro para fugir dali.
Chegando no terminal ele saltou do carro levando somente o cartão de crédito. Saiu correndo, escondendo a arma no corpo. Saiu sem desejar que eu tivesse boa sorte as crianças… Que crianças? Que sorte? Ele fugiu, eu voltei pra casa. Voltei chorando e sem nenhum abraço a minha espera. Sem abraços, sem família, sem filhos, sem nenhuma vida que valesse a pena ter sido preservada.



Escrito pela Alê Félix
10, outubro, 2005
Compartilhe

Passei a semana tentando escrever um post sobre o raio da minha opinião sobre o referendo, mas não consegui tempo para o blog. Não, o post abaixo não foi sobre o meu possível “sim”, “não” ou “talvez”. O post abaixo foi sobre abuso de poder, manipulação e blá, blá, blá…
São cinco horas da manhã, estou completamente acordada e eu só queria ser o tipo de pessoa que acorda sem olheiras as oito da manhã. Tenho trabalhado mais do que o meu normal. Eu sei, eu sei… meu normal sempre foi anormal. Fuga, fuga, fuga. Ando cansada e, ao mesmo tempo, com uma coragem que não permite mais que eu corra sem sair do lugar. Estou feliz e estou confusa. Descobri que eu tentei me matar na última década. Mesmo não suportando a idéia da morte, eu estava tentando acabar com a minha vida. Descobri que eu nasci com uma força que nunca coube em mim. Hoje quero que ela caiba, quero merecê-la.
Não consigo parar de chorar. Acabei de ver a história de amor mais bonita que alguém já imaginou. Por que diabos, pra mim, a paixão é a única coisa que faz sentido nessa vida? As pessoas tentam se matar o tempo todo… eu, você, todos nós. A gente tenta se matar quando se anula, quando deixa de ser quem a gente é, quando constrói um cercadinho e não deixa ninguém entrar porque acha que vai doer. Que doa… mas que não doa antes de acelerar meu pulso, corar minhas bochechas, mexer na minha fé, revirar meus pensamentos e dizer que gosta de mim por algum motivo que repare o meu espelho. Que doa. A gente só reclama mesmo. Odeio reclamações. Elas me lembram inflamações. Inflamação, inflamar, inflamada… Inflamar parece uma palavra bonita, mas é disso que a gente morre. Foi o Perricone que disse isso, eu não sei de nada. Vou só comer o Mirtilo que ele mandou porque eu quero sarar, quero meu espelho reparado, quero parar de reclamar e de inflamar.
Achei que eu nunca mais fosse me embriagar de nada nessa vida. Que engraçado, que ilusão achar que gente louca pode reagir de forma positiva a um tratamento de choque. A gente é o que é e eu não me conformo de ter deixado isso acontecer. Que idéia de merda ter passado tantos anos tentando ser uma pessoa mais equilibrada, mais bacaninha, mais sensata, mais, mais, mas… um “mas” bem grande pra tudo que eu achava que era melhor pra mim. Minha natureza é o que há de melhor em mim, nossa natureza é o que há de melhor em todos nós.
Eu gosto da imaginação da gente… Deus nos deu um Olodeck. Como é que se escreve isso mesmo? Foda-se. Não vou corrigir nada. Eu nunca faço isso, vou fazer agora por que? Como a gente se perde nessa porra de vida. Como a gente se perde pensando na bosta da carreira, da grana, do referendo… hahahahhaha. Tão bom poder escrever nossa risada. Eu ria muito, hoje eu me desespero. Você leu o comentário da Zel? Eu conheci a Xel em um… Xel… hehehe. Eu conheci a Zel em um sushi, mas ela teve que ir embora logo e a gente nem conversou direito. E ela é incrível e eu só percebi depois desse comentário. Ela é de uma franqueza tão absurdamente incrível que isso a torna especial e engraçada. Eu devia ter percebido… aquele casaco de pele, naquele dia, era, no mínimo, um sinal interessante. OK, eu não devia escrever agora. Hora ruim… não bom. Tô ferrada… vou acabar postando essa merda só pra morrer de vergonha e acumular mais uma desculpa pra dar fim nesse treco um dia.
A mãe de uma garotinha me mandou um e-mail lindo que até hoje eu não respondi porque nunca soube como retribuir amor, carinho. Se eu escrever pra ela dizendo que eu a amo por ter salvado meu coração em um dia de tristeza será que ela acredita? Tanta gente que passou por aqui já fez isso por mim, tanta gente vive fazendo… Eu sou uma vaca a maior parte do meu tempo. Que bicha ruim eu virei. Santo deus tô falando igualzinho as minhas tias.
Briguei com meu irmão porque ele não sabe receber presentes. Tô falando do mais velho. O mais novo sabe, o mais velho não. O mais velho entre os meninos porque eu sou a mais velha de todos eles. Mas não é só porque eu nasci primeiro. É porque eu nasci velha e, gente que nasce velha, é muito boa nesse negócio de dar bronca, aplicar sermão, ser chata pra caralho. É por isso que, às vezes, eu faço tipo e alimento a idéia que eles têm de que eu sou uma puta irmã do caralho de legal. Eu sou uma vaca por isso também… Só dou sermão para que eles não vejam o quanto eu preciso de um. Aliás, o Navegantes me deu um bom esses dias aqui nos comentários. Muito bonitinho… Teve também uma garota que disse que eu sou como os gatos. Que só gosto de quem não gosta de mim… Bonitinha ela também. Pior é que eu acho que ela tem razão e eu não gosto nada nada de ser assim. Também não gosto da idéia de ter animais de estimação… Antes eu achava que gostava de cachorros e não gostava de gatos. Mas eu não tenho nada contra os gatos, eles são interessantes. Na verdade eu não gosto muito é de pessoas muito carentes porque, pessoas muito carentes, se enchem de animais de estimação e tratam os pobres como se fossem barbies. Ah! Isso não tem lógica. Esquece. Eu não tenho bichos e sou carente assim mesmo, embora nunca vá admitir isso ou deixar transparecer minhas fragilidades e necessidade de afeto. Mas o meu irmão não sabe mesmo ganhar presente. Isso é fato. A gente dá alguma coisa pro cara e ele fica puto porque diz não precisar de nada. Ele se orgulha de achar que tem tudo o que precisa, de ter conquistado tudo o que tem. O problema é que ele ainda não aprendeu a cuidar do amor que ele conquista… Porque a gente só dá presente quando tenta exteriorizar o que sente no coração e ele ignora tudo o que vem do coração só pra dar uma de durão e não deixar transparecer o quanto ele carece dessas coisas. Vixe, repeti até as palavras… Tô falando dele ou de mim? Ou de nós dois? Ele é ridículo. Assim como muitos de nós não sabemos receber presentes e somos ridículos. Presente, presente, presente…
A gente vive reclamando do presente e sonhando com o futuro ou com o passado. Deve ser como dar um duro danado pra comprar um carro e, depois de adquiri-lo, pensar só no próximo. Ou como faço eu, que acho que nenhum presente vai conseguir superar os presentes que já foram dados. Tem gente que gosta mais das conquistas e quando o presente é um presente, não tem conquista. Deve ser por isso que ele fica assim quando ganha algo. Briguei com ele e eu sou pior do que ele, não igual. Também não sei cuidar do amor que recebo. Não sei cuidar de nada. Nem de bicho, nem de planta, nem de gente. Eu sou uma egoista que só pensa em se auto afirmar e é por isso que, gente como eu e meu irmão, só vai viver feliz para sempre com alguém, enquanto houver jogo de sedução. Porque o amor não nos interessa, nunca interessou.
A história de amor na televisão era linda… Ele deu o coração dele pra ela. Ele vai viver dentro dela. Não, não… foi um caso de doação de órgãos mesmo. Doar um órgão é uma história de amor. Uma história de amor que engana a morte. A única história de amor que tenta ser pra sempre de verdade. E eu vou dormir. Dormir, acordar e afundar esse post no meu mar de rascunhos inúteis, no meu cesto de vexames. Tem gente falando na rua… Tá clareando. Claríssimo. Passarinho. E nem é o passarinho boemio que começa a cantar sozinho as três da manhã. Seis da manhã… Caralho… Tá tudo girando e foi só um copo de vinho… Dois?



Escrito pela Alê Félix
9, outubro, 2005
Compartilhe

Algumas das lições que meus professores da época da escola tentaram fixar na minha mente foram:

1) vote
2) informe-se
3) questione

capaveja.jpg capa380.jpg

Mesmo quando a aula era de matemática, era essa a mensagem que recebíamos no final. Acho que isso aconteceu porque eu estudei, a maior parte dos anos, em uma escola estadual onde os professores eram extremamente politizados. Sendo assim, não tinha como ser diferente. Eles sabiam que, devido às limitações estruturais do ensino, o máximo que podiam fazer pelos alunos era ensiná-los a pensar. O resto dependeria de cada um.
Durante muitos anos eu segui as lições que me foram passadas. Até que um dia aconteceu da lição número três anular as duas primeiras. Isso aconteceu nas eleições de 2002 quando eu decidi não votar, não justificar e dar uma banana para o sistema eleitoral e político deste país. Na época eu já tinha um blog e lembro de ter feito vários posts falando sobre a farsa da obrigatoriedade do voto. Lembro de ter ligado até para o TSE e nem eles sabiam me dizer o que realmente acontecia com as pessoas que ignorassem as eleições. Desde então estou irregular com essa minha obrigação de cidadã e, garanto a vocês, que nenhum bicho papão me comeu. Com o benefício de que me sinto aliviada de saber que não contribuí com o plano de assalto à sociedade dos mocinhos e velhinhos que escolheram a política para se beneficiar do grande esquema da democracia, da grande ingenuidade do povo. Simplesmente não acredito mais na ladainha de que é votando que mudaremos alguma coisa neste mundo. Hoje em dia só acredito que poderá haver mudanças quando a lição número três anular a lição número um – e não somente na minha cabeça, mas na sua também.
A lição número dois foi mais difícil de ser anulada. Primeiro porque a informação mora na nossa casa, bem na frente do móvel que deveria servir para breves momentos de reflexão: o sofá. A gente chega em casa exausto, abre a porta pra ter o mínimo de paz, senta no sofá e, antes que seja possível organizar um tiquinho de idéias, ligamos a televisão, o rádio ou pegamos uma revista que nos bombardeia de informações. E isso não é ruim. Quer dizer, não deveria ser. Não deveria, se realmente os profissionais de comunicação se prestassem a cumprir os juramentos que eles, certamente, fizeram quando se formaram em jornalismo. Não deveria ser se eles não dessem tanta prioridade para as suas opiniões e se não existisse uma coisinha delicada e simpática que me fez desprezar a grande maioria dos meios de comunicação, assim que o descobri: o jabá.
O jabá nada mais é do que um presente, um mimo. Um agrado que as empresas mandam para os jornalistas quando querem induzí-los a escrever sobre seus produtos ou serviços. E como jornalistas – quase sempre – levam muito a sério ética e comprometimento com a verdade, os jabás – quase sempre – viram notícia. O jabá é um exemplo leve e que explica bem como funcionam as pessoas e os veículos de comunicação. Na verdade, políticos (todos) e jornalistas (nem todos) sempre me transmitiram, em essência, as mesmas características de personalidade. Ambos começam suas carreiras por vaidade, necessidade de poder e idealismo. E ambos se tornam facilmente corruptíveis a partir do momento em que o idealismo é obrigado a lutar contra dois monstros tão grandes como o poder e a vaidade. É claro que isto pode acontecer com qualquer profissão, mas neste caso basta um mensalinho aqui para o cara votar ali. Basta um presentinho aqui que alavancamos seus negócios ali. Os presentinhos, eu sei que funcionam muito bem com matérias sem grande destaque, mas sempre me perguntei que tipo de “acordo”, “contato” ou “presente” existe quando a notícia vira matéria de capa. Foi assim que comecei a cagar e andar para revistas, jornais, etc. Foi assim que quase tive um treco quando passei pelo caixa do supermercado e vi a capa da Veja dessa semana: “7 razões para votar NÃO”.

Praticamente nas vésperas do referendo das armas, a principal revista do país decide, ao invés de INFORMAR, colocar em negrito e letras garrafais a “sua opinião”? Fiz uma cara de asco, mas considerei a possibilidade de que já tivesse saído ou sairia na próxima semana uma edição com “7 razões para votar SIM”. Mas aí me perguntei se haveria matéria para tanto e achei que algo estava errado. Enfrentei a minha aversão aos grandes veículos e comprei a dita. Abri antes de chegar no carro, com a esperança ingênua daqueles que esperam o mínimo de decência das pessoas e empresas que acham que têm algum poder. Abri, fui até a página 77 e lá estava novamente: “7 razões para votar não na consulta que pretende desarmar a população e fortalecer o contrabando de armas e o arsenal dos bandidos”. Em seguida – o pior – a confissão cara de pau:

 “ Nas páginas seguintes, VEJA alinha sete razões pelas quais JULGA correto votar NÃO no referendo sobre o comércio de armas de fogo convocado para o próximo dia 23. O voto no referendo é obrigatório, como nas eleições. O Estado brasileiro vai fazer a seguinte pergunta aos cidadãos: “O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?”. VEJA ACREDITA que a atitude que melhor serve aos interesses dos seus leitores e do país é incentivar a rejeição da proposta de proibição. O sucesso de uma consulta popular deriva, antes de mais nada, da correção e da honestidade da questão a ser respondida pelos cidadãos. A pergunta que será feita no referendo das armas é um disparate. Ela ilude o eleitor. É uma trapaça, pois, mesmo que o SIM vença por larga margem, “o comércio de armas de fogo e munição” no Brasil vai continuar.  ”

Grifos, negritos e maiúsculas foram feitos por mim.

Há uns dez anos eu tirava sarro da cara das pessoas que passavam a semana repetindo as notícias lidas durante o fim de semana. O assinante recebia uma VEJA da vida no domingo e saia repetindo as matérias para os colegas como se as opiniões dos jornalistas das revistas fossem dele, como se ele nunca tivesse visto aquilo escrito antes e como se tivesse pensado sozinho sobre todas aquelas questões. Era como se o cara carregasse uma faixa estampada na testa dizendo “Eu não penso, a Veja pensa por mim!”. Arght!
Ontem à tarde terminei de ler a matéria me perguntando quem é a “VEJA”; quem é a entidade “VEJA”, que acha que a gente precisa tanto assim de sua opinião; quem é a “VEJA”, que acha que sabe o que é melhor para o país. Quem é a “VEJA”? Ela é o jornalista Jaime Klintowitz, que assinou a matéria? É o senhor Eurípedes Alcântara, diretor de redação? Ou é o redator chefe Mario Sabino? Ou a “VEJA” seria alguém acima destes pobres funcionários com cargos bacanas? Nada contra essas pessoas, mas, se é pra eu levar em consideração a opinião de alguém, eu quero saber quem é a figura! Ou seriam as figuras? Figurões? Da editora Abril ou alguém de fora, interessado em continuar vendendo doces para as crianças? Quem é a “VEJA”, afinal? Quem é a “VEJA” que acha que deve opinar – ao invés de informar – em casos como este que são tão complexos? Se eu votar NÃO e um dia meu sobrinho morrer baleado pelo coleguinha da escola que encontrou a arma que o pai guardava dentro da gaveta, posso culpar a “VEJA” por ter induzido a população a manter armas de fogo por hobby? Quem é a “VEJA”? Por que eu devo acreditar que essa matéria está mais preocupada com a segurança da população do que com os cofres da indústria de armas? Quem me garante que esta matéria não é mais um tipo de “acordo” entre indústria e veículo de massa? Por que eu devo acreditar que há correção e honestidade nessa matéria? Quem será que está iludindo quem? Quem está trapaceando? Que interesses existem por trás de uma matéria tão explicitamente posicionada? Pelo menos uma resposta me parece clara: todos nós vimos, neste domingo, que revista e jornalistas não estão cumprindo com a ética e com o dever.

Engraçado, quem diria que a lição número dois me faria rever minha posição sobre a lição número um? Eu já estava em dúvida sobre a minha posição diante do voto nesse tipo de caso, mas, depois dessa, vou regularizar meu título de eleitor. Somente para este referendo, mas vou. O bom é que, quando eu decidi não votar mais, todo mundo me disse que eu pagaria uma fortuna em multas para regularizar meu título, além do mico e blá-blá-blá. Agora, pelo menos, vou poder contar para vocês como é simples não votar quando acharmos que não devemos votar e votar, quando acharmos que devemos votar.
Quanto à VEJA (quem quer que seja a “VEJA” e a quem quer que essa entidade se submeta), ou ela é uma revista burra ou deve achar que seus leitores são burros. Obviamente, a vaidade e necessidade de poder deles me faz acreditar que a segunda opção é a correta. Isso me faz lembrar de duas frases: “o problema de quem tem poder é achar que terá poder para sempre.”, dita por maridon. E outra que um dia eu emendei à dele: “é só a gente parar de pagar e comprar coisas dessa gente que esse tal de poder vai para o brejo rapidinho, rapidinho.”. Pobres assinantes…



Escrito pela Alê Félix
2, outubro, 2005
Compartilhe