Hoje – Siciliano – Shopping Higienópolis – a partir das 19 horas



Escrito pela Alê Félix
11, abril, 2003
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Tenho a impressão de que não estou acostumada com situações onde tudo corre bem. Estou acostumada com a minha vida sempre virada de ponta cabeça e
com pessoas e situações que precisam de mim para consertá-las. Uma estranha necessidade de ser útil, de precisar que o caos se estabeça. Quando tudo
dá certo, não precisam de mim; consequentemente, não sirvo pra nada.
Estou há uma semana, procurando pêlo em ovo. Cheguei a encanar com a idéia de que eu estava com uma doença terrível e sem cura. No sábado ninguém me
tirava da cabeça que o vermelho da minha bochecha se alastraria por todo o meu corpo e que em poucos meses minha pele estaria como as fotos que eu
encontrei pela internet.
Não estava deprimida, não estava eufórica, não estava nada. Decidi brigar com o maridon (meu lazer predileto). Não adiantou muita coisa. Ele ficou
gripado. Sacanagem, brigar com um enfermo. Quis destruir o computador por causa de um pau em um arquivo de texto. Maridon chegou perto para ver o que
era e o micro sarou de repente.
Que tristeza, estava absurdamente triste. É óbvio que estou feliz que tudo está saindo conforme o previsto. Achei que era só tristeza temporária
causada pela sensação de inutilidade, mas me enganei.
Parei o carro em um lugar proibido (quem sabe não aparece um marronzinho para brigar comigo?) e fui entregar os livros na Siciliano, quando o celular
tocou. Maridon atendeu, era o Marco. Pensei: “porra, será que nem o Marco Aurélio vai neste lançamento?” (encanei que fiz uma divulgação de merda,
assim poderia passar a noite toda afundada no micro enviando e-mails). Peguei no telefone, crente de que era desculpa. Encanei na semana passada que
ele não ia com a minha cara, mais um bom motivo para que ele não fosse ao evento. (presunçosa do caralho!).
Só enxerguei as merdas que eu venho fazendo quando desliguei o telefone. Ele ligou pra desejar boa sorte, pra saber como iam as coisas, pra dizer que
daria tudo certo, que o livro ia vender pra caralho…
Um dia a Bianca me disse que não conseguiria trabalhar do jeito que eu trabalho porque achava que era uma forma muito solitária de trabalhar. Só hoje
fui capaz de compreendê-la.
A única coisa que eu precisava era da energia positiva da ligação do Marco. Sou muito nova na vida deste menino pra dizer qualquer coisa a respeito
dele, mas hoje eu entendi um pouco mais deste megacarinho que todos sentem por ele. Pode parecer sensibilidade besta da minha parte, mas ele me
passou uma boa dose de tranqüilidade.
Estamos sempre correndo, sempre muito ocupados para dar bom dia, desejar felicidades, expressar carinho, dizer obrigado, estar presente, sorrir,
pedir desculpas e, principalmente, ocupados demais para torcer pelas pessoas que a gente gosta.
Vou dormir, já que está tudo sob controle e tenho tempo de sobra neste momento, vou descansar para acordar cedo e distribuir pedidos de desculpa e
“obrigados”. Fiz, falei e escrevi muita besteira nos últimos meses.



Escrito pela Alê Félix
11, abril, 2003
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A campainha tocou. A Daniela e a Camomila esperavam impacientes os livros chegarem da gráfica. Desceram correndo as escadas e abriram a porta. O
motorista do caminhão queria saber onde descarregar a mercadoria. Impacientes, elas pediram que ele colocasse as caixas com os livros no meio da rua.
O motorista seguiu as orientações enquanto fazia graça para as duas moças. Subiram para tomar um café e esqueceram dos livros. Quando me contaram
corri para guardá-los, mas era tarde demais.
Um carroceiro havia passado, recolhido a tonelada de papel encaixotado do meio da rua e vendido para o papeleiro. No sonho, eu andava de um lado para
o outro da calçada e pensava: e agora? O que é que eu vou fazer, se o lançamento do
livro
é amanhã?



Escrito pela Alê Félix
10, abril, 2003
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Dia de Clubinho
Melzinho na chupeta
A maior parte dos homens que eu conheci jurava de pés juntos que não compreendia o funcionamento de uma mente feminina. Faziam cara de surpresos,
confusos e muitas vezes pareciam indignados com o comportamento e atitudes das mulheres. Mas – putzgrila! – o que há de tão complicado?
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Escrito pela Alê Félix
9, abril, 2003
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Vocês não esqueceram do lançamento do livro nesta sexta-feira, né? Taí o convite e o endereço do site. Vocês vão me ajudar a divulgar este trem ou tá
difícil? Pô, vai ter água mineral na faixa. 😉 Quanto ao horário, começa às 19 horas mas vai até umas onze, onze e pouco. Até às 22h30m é certeza
que a livraria estará aberta.

Site do Livro
www.editoragenese.com.br/livro



Escrito pela Alê Félix
8, abril, 2003
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Invasão de domicílio
Uma senhora grandalhona abriu a porta.
– Por favor é aqui que o Adolpho mora?
– Sim, pode entrar. Ele…
– Onde ele está?
– No quarto…
– A senhora é a mãe dele?
– Sou…
– A senhora, por favor, venha comigo.
Puxei a mulher pelas mãos e entrei pelo apartamento à procura do dito cujo. A porta do quarto estava aberta, a tela de fósforo verde do XT em fade
out
. A conexão com o videotexto havia sido desligada rapidamente pelo Adolfo que estava com a cara mais assustada do mundo.
– Ué? Desligou por quê? Por que não deixou ligado? Não quer que a sua mãe veja o que você anda escrevendo? Conta! Conta pra ela!
Ele não abriu a boca. Cabisbaixo, ele permanecia imóvel; como se estivesse levando uma bronca da mãe, como se fosse uma criança de cinco anos.
– Seu filho estava me ameaçando de morte. Ele estava agora há pouco no videopapo, escrevendo um monte de besteiras. A senhora me desculpa entrar aqui
deste jeito, mas fiquei indignada com a atitude do seu filho. Eu sei que ele já é um homem, que já tem quase trinta anos mas, se acontecer alguma
coisa comigo, vocês vão ver só! Ele…
– Trinta anos?
– Vinte sete… Que diferença faz?
– Vinte sete? Não. – Ela balançava a cabeça debilmente. – Meu filhinho acabou de fazer dezoito anos.
– O quê?
Deu um nó na minha cabeça. O Adolfo com o queixo afundado no peito…
– Deixa eu ver seu RG.
Ele mudo, imóvel. A mãe que se mexeu. Pegou uma carteira que estava sobre a cabeceira da cama, tirou a carteira de identidade e apontou a data de
nascimento.
– Tome minha filha, está aqui. Não fique brava com meu filhinho, não.
– Mas este RG não é… O nome que está escrito aqui é Adonísio…
– É que o Nisinho não gosta que o chamem pelo nome de batismo. Ele prefere Adolpho, mas isso é brincadeira do meu filhinho.
O Adolpho (com “ph”, como ele dizia) estrangeiro de vinte e sete anos era, na verdade, o Adonísio da Silva. Tinha dezoito anos e havia nascido em
Sergipe. Os pais também eram brasileiros. Por um segundo saí do meu estado de fúria e olhei à minha volta. As paredes do quarto tinham prateleiras de
cima a baixo; vários, vários livros. Livros didáticos em inglês e alemão, muitos cadernos de estudo por correspondência em diversas áreas e muitos,
mas muitos, livros sobre a segunda guerra mundial e Adolph Hitler.
Voltei meus olhos para aquele garoto e para a sua mãe. Minha primeira impressão da senhora grande, porém frágil e idosa deu lugar à visão de uma
mulher assustadora. Sua voz fina, seu jeito pausado e sinistro de falar, de tratar o filho como se fosse um bebê, todos aqueles elementos começaram a
me causar uma onda de pavor. Me dei conta de que tinha insanamente invadido a casa de alguém para apontar o dedo no nariz de um moleque. Um moleque
que visivelmente cresceu sofrendo todo tipo de discriminação. Tanta que, sob a segurança do seu quarto, usou todos os meios de comunicação
disponíveis na época para se proteger e se transformar em outra pessoa. Eu não conhecia aquela gente, não sabia nada sobre eles e nem do que eram
capazes. E eu? Eu estava no território inimigo, expondo a vida deles. Um friozinho de medo atravessou minha coluna de ponta a ponta. Virei as costas
para os dois e saí a passos largos sem me despedir. Já estava no meio do corredor, em direção à sala, quando ouço um estrondo de panelas caindo no
chão. Uma porta foi aberta ao meu lado.
– Ahhhhhhhhhhhhhhhh!
– Ahhhhhhhhhhhhhhhh! Quem é você?
– Ela é a miguinha do Nisinho, meu véio…
Nem respondi! Ouvi de longe a vozinha estridente da mãe do “Nisinho” e sai correndo em direção à porta. Amedrontada, avistei uma chave na fechadura,
arranquei-a de lá, bati a porta, dei duas voltas na chave, passei a identidade do moleque que estava colada na minha mão por baixo da porta, respirei
fundo, olhei para o número 666 do apartamento, fiz o sinal da cruz pela primeira vez na vida e fui embora correndo pelas escadas. Passei verde pelo
porteiro, dei-lhe a chave e falei:
– Ó, entrega no meia, meia, meia, falô? Valeu, obrigada e adeus!
Corri antes que ele pronunciasse qualquer palavra. Entrei no carro, engatei a primeira marcha e saí cantando pneu.
– Deus-me-livre-e-guarde!
Clique aqui para ler o Post I – O começo de toda a
história



Escrito pela Alê Félix
7, abril, 2003
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Um dia desses, me peguei pensando nas pessoas que odiei.
Odiar sempre me fez muito mal. Um mal que doía e eu não sabia onde. Um mal tão mau, que me impedia até de chorar em paz. Continuo com o mesmo hábito
de sempre: afundo o rosto no travesseiro e escondo até os soluços.
O danado já doeu muito e ainda dói quando aparece. Às vezes penso que ele nunca mais vai voltar. Penso que já aprendi a controlá-lo, que ele não me
pega mais, que eu não tenho mais idade pra isto mas, quando eu menos espero, ele vem e bum! Se esparrama pelo meu peito, meu estômago, enrijece meus
ombros, muda a expressão do meu rosto, esgota minha mente e explode; explode e faz o maior estrago; explode, faz estragos e não vai embora; fica por
ali, me atormentando por algumas semanas.
Acho engraçado este povo que diz que não odeia ninguém. Duvide-o-dó!
Se a gente pensar com coragem para assumí-lo, faz até uma lista.
Um dia desses eu faço a minha.



Escrito pela Alê Félix
5, abril, 2003
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E não é que a garota propaganda de Salvador está hospedada aqui em casa? Quem sabe
ela não fica até o dia do lançamento?



Escrito pela Alê Félix
4, abril, 2003
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