Tenho a impressão de que não estou acostumada com situações onde tudo corre bem. Estou acostumada com a minha vida sempre virada de ponta cabeça e
com pessoas e situações que precisam de mim para consertá-las. Uma estranha necessidade de ser útil, de precisar que o caos se estabeça. Quando tudo
dá certo, não precisam de mim; consequentemente, não sirvo pra nada.
Estou há uma semana, procurando pêlo em ovo. Cheguei a encanar com a idéia de que eu estava com uma doença terrível e sem cura. No sábado ninguém me
tirava da cabeça que o vermelho da minha bochecha se alastraria por todo o meu corpo e que em poucos meses minha pele estaria como as fotos que eu
encontrei pela internet.
Não estava deprimida, não estava eufórica, não estava nada. Decidi brigar com o maridon (meu lazer predileto). Não adiantou muita coisa. Ele ficou
gripado. Sacanagem, brigar com um enfermo. Quis destruir o computador por causa de um pau em um arquivo de texto. Maridon chegou perto para ver o que
era e o micro sarou de repente.
Que tristeza, estava absurdamente triste. É óbvio que estou feliz que tudo está saindo conforme o previsto. Achei que era só tristeza temporária
causada pela sensação de inutilidade, mas me enganei.
Parei o carro em um lugar proibido (quem sabe não aparece um marronzinho para brigar comigo?) e fui entregar os livros na Siciliano, quando o celular
tocou. Maridon atendeu, era o Marco. Pensei: “porra, será que nem o Marco Aurélio vai neste lançamento?” (encanei que fiz uma divulgação de merda,
assim poderia passar a noite toda afundada no micro enviando e-mails). Peguei no telefone, crente de que era desculpa. Encanei na semana passada que
ele não ia com a minha cara, mais um bom motivo para que ele não fosse ao evento. (presunçosa do caralho!).
Só enxerguei as merdas que eu venho fazendo quando desliguei o telefone. Ele ligou pra desejar boa sorte, pra saber como iam as coisas, pra dizer que
daria tudo certo, que o livro ia vender pra caralho…
Um dia a Bianca me disse que não conseguiria trabalhar do jeito que eu trabalho porque achava que era uma forma muito solitária de trabalhar. Só hoje
fui capaz de compreendê-la.
A única coisa que eu precisava era da energia positiva da ligação do Marco. Sou muito nova na vida deste menino pra dizer qualquer coisa a respeito
dele, mas hoje eu entendi um pouco mais deste megacarinho que todos sentem por ele. Pode parecer sensibilidade besta da minha parte, mas ele me
passou uma boa dose de tranqüilidade.
Estamos sempre correndo, sempre muito ocupados para dar bom dia, desejar felicidades, expressar carinho, dizer obrigado, estar presente, sorrir,
pedir desculpas e, principalmente, ocupados demais para torcer pelas pessoas que a gente gosta.
Vou dormir, já que está tudo sob controle e tenho tempo de sobra neste momento, vou descansar para acordar cedo e distribuir pedidos de desculpa e
“obrigados”. Fiz, falei e escrevi muita besteira nos últimos meses.



Postado por:Alê Félix
11/04/2003
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