Contar e recontar a história de como nos conhecemos, igual ao dia que passamos no Pé pra Fora.
Ver você chegando no meu portão, tocando a campainha, olhando pra janela e me esperando jogar a chave… Igual a primeira vez que veio aqui em casa.
Trocar emails como se fossem cartas, trocar cartas como se fosse amor, mensagens como se palavras nos bastassem, posts daí e de cá como se precisássemos nos manter em segredo.
Te beijar sem o desespero da minha saudade…
Banho quente jogando conversa fora, outros filmes no meu futon, mais cobertores e vinhos na sua cama, meu queijo e o seu tomate seco na minha mesa.
Andar de mãos dadas.
Suas mãos…
Conversar abraçada.
Quentinho…
Morder seu nariz.
Seu rosto que me faz sorrir…
Deslizar meus dedos pelas suas mãos enquanto tagarelávamos…
Acarinhar seu coração enquanto te sentia triste…
Cabular o dia, dar a partida, ignorar todo o resto da vida só pra cuidar um pouco de mim e de você.
Compartilhar amigos…
Esbanjar carinho…
Passar outras tardes, noites e manhãs sem nos darmos conta das horas, adivinhando as horas…
Outras estradas… Escrever outras histórias.
Ouvir suas músicas, passar as minhas…
Dirigir, ver você dormir…
Esperar a intimidade chegar…
Conseguir dormir.
Brincar de pensar…
Brinde de garrafa…
Brinde de arco-iris, brinde de estrelas…
Brinde no café da manhã…
Café misturado com leite frio e pão na chapa com muita manteiga toda santa vez, iogurte com frutas e inveja do seu pedido pra mim.
Ouvir você falando de política.
Ouvir você falando das crianças.
Ver o seu jeito e seus olhares diante da vida que passa a nossa volta…
Sentir tanta vontade de escrever…
Escrever.
Seu livro.
Meu livro.
Nossos livros.
Caminhar na praia…
Caminhar pelas ruas e praças de qualquer lugar…
Pararmos pra você fumar, pra eu pensar, pra bebermos, pra tentarmos enxergar, pra descansar, pra abraçar, pra viver.
Passarmos mais tempo em pousadas como aquela da serra…
Dormirmos até mais tarde em pousadas como aquela da praia…
Vivermos nossos dramalhões mexicanos em paz e encontrarmos um jeito de rir e contá-los depois de superados…
Passar no final da tarde no seu trabalho e me perder em pensamentos sobre nós e gravatas e paletós e vestidos pra embrulhar presentes.
E ir contigo até o seu Armazém e ir contigo até o meu Armazém…
E conhecer o seu Arpoador e ver você no sol do meu Arpoador…
Suas vindas pra São Paulo e o resto da tarde comigo depois das reuniões…
Passar mais tempo beijando em vez de falando, mais tempo namorando em vez de pensando, passar o tempo sem pensar no tempo, sem dar tchau com o coração apertado, sem pensar em tudo que queriamos deixar de lado.
E conseguir dormir ao seu lado, dividir o colchão, o chão, meu coração. Aprender a te dar fôlego para enfrentar os dias, tirá-lo durante as noites…
Acordar com café, com sorriso de bom dia.
Tentar te fazer feliz… Me manter feliz.
Dar um ponto final para a confusão de sempre, uma exclamação para o seu coração meio cheio ou meio vazio, tirar a interrogação da minha porta aberta, sem saber se fecha ou espera mais um pouco.
Interromper de vez minhas lágrimas, por nunca saber o que fazer pra jogar nessa barriga quentinha, pelo menos uma mísera larvinha.

Amo você. E era o suficiente pra ter arriscado esperar o tempo nos dizer se ele se tornaria história ou estória. Mesmo diante da nossa imatura e dramática necessidade de deletar, amo você. E por tudo aquilo que desejei que vivêssemos, mesmo que fosse só um pouco mais.

Lembra se puder, se não der esqueça… De algum jeito vai passar.



Escrito pela Alê Félix
7, agosto, 2011
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zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz
zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz… Nada. Nada que preste.

No vazio. De novo. Com os dedos emperrados na tecla do nada, na falta de desejo, jogada de pijama nesse processo de queda, focado nos próximos tombos da realidade. Acordei com o coração armado, caçando ladrão. Levantei acendendo luz, procurando assombração. O notebook desligado embaixo do travesseiro ao lado. Sem mesa, sem muso, com as mãos e a imaginação ao alto. Cercada, imobilizada, com medo de reagir e contar tudo o que sinto, matar uns dois ou três. Um de susto, um de saudade, o outro de verdade. Não sei o que me faz mais mal… Estar sem escrever ou escrever sem estar.
O jeito é acordar e ir trabalhar… Encher meus dias com as mais sábias das distrações humanas, essa que nos recompensa com trocados, estrelas fora do peito, qualquer merda que não nos faça pensar nem gozar pelos motivos certos. Ou… Quem sabe? Posso tentar enganar de vez esse maldito vazio que teima em me manter sequestrada. Posso fazê-lo acreditar que é Síndrome de Estocolmo… Se funciona com os homens, há de funcionar com o vazio.



Escrito pela Alê Félix
3, agosto, 2011
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Não guarde mágoa de um final mal escrito. Fui sua amiga, amiga e amiga… Sempre. Acima da mulher e da amante, sua amiga. Você me ensinou a abraçar, eu te ensinei a arriscar. Não me ignore depois de tantos sorrisos, do nosso tanto de beijo molhado de esperança. Reinvente minha culpa, reescreva nossa história quando achar conveniente, mas não me diga que esqueceu as tardes de chuva. Não finja que o tempo não passou ao me encontrar por acaso na rua… Não há paixão sem uma dose de lágrima, não há choro apaixonado que mereça uma vida inteira de espera. Não minta para me manter distante, não minta para me afastar da sua cama. Seus maus pensamentos são orações de devoção pelo meu corpo, tanto faz se quiser jogar fora todos os lençóis. Sinto muito por ter ligado e te acordado. Sei que é tarde, mas queria saber por onde tem andado, mostrar que aprendi a abraçar demorado. Não precisávamos ter desligado pra sempre, não precisávamos ter nos enganado. Não finja que o tempo não passou ao me encontrar por acaso na rua… Me deixa saber que num pedacinho bom da sua memória, mesmo que hoje estejamos completamente cansados um do outro, ainda há saudade pra nos fazer sorrir e bagunçar os lençóis mais um pouquinho. E, no mais, quando for capaz, me perdoa… Porque sem perdão a gente não voa.

Outro post escrito por mim em 2007… Na época, também sem título e sem um ou outro detalhe que acabei mudando agora, ao reler. Em São Paulo novamente. Feliz pelos novos olhos, triste por ser essa mulher bocó, fraca e condenada a não sarar nunca dessa maldita doença que é a saudade.



Escrito pela Alê Félix
2, agosto, 2011
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