– Pronto…
– Oi…
– Oi… Tudo bem?
– Não…
– O que houve?
– Desculpa te ligar assim, mas eu preciso de ajuda.
– O que aconteceu? Aonde você tá?
– Na estrada…
– Você tá dirigindo? Você tá machucada? Me diz aonde você está…
– Tá tudo bem, não se preocupa… Só preciso que você converse comigo.
– Por favor, pára de chorar um pouco, encosta o carro e me diz direito aonde você tá…
– Não tem como parar agora… Eu tô na Dutra, num trecho que talvez seja mais perigoso o acostamento do que a estrada.
– Você foi pro Rio?
– Não…
– E tá voltando de onde?
– Você quer mesmo saber?
– …
– Eu só tava tentando me apaixonar por outra pessoa…
– …
– …
– E não conseguiu?
– … Não.
– …
– Por favor, conversa comigo…
– Porque pra mim, Ale…?
– Porque você é a unica pessoa que eu consigo pedir socorro… E eu tô me sentindo sozinha, tô com medo, com sono, com frio… tô com medo de dormir dirigindo.
– Não dá nem pra parar o carro até esgotar de chorar?
– Me deixa chorar…
– Deixo…
– Só preciso que você me faça companhia… Já já eu devo chegar em casa.
– Tudo bem… Eu tô aqui.
– …
– Que bom que você ainda não arranjou outra pessoa… Se tivesse conhecido alguém, acho que a essa hora eu não teria muitas opções pra pedir ajuda.
– Você devia me conhecer o suficiente pra saber que se eu estivesse com uma mulher que não entendesse uma situação como essa, quem iria embora era ela…
– …
– …
– …
– Por favor, pára o carro, eu tô preocupado com você dirigindo assim… Não é certo você chorar tanto, Ale…
– Não foi certo o que fiz com você. Eu nunca mereci alguém como você… Não foi certo a gente ter termi…
– …
– …
– Ale!?
– …
– Alê!? Fala comigo! Que barulho foi esse?
– …
– Fala comigo! Tá tudo bem? Ale!? Ale!?
– …

Um pequeno prejuízo, alguns hematomas, uma dor no peito que não passa não por estar “brava”, mas por estar de volta ao meu juízo e com a certeza de que – se você sai da casa de alguém chorando, no meio da noite e essa pessoa não se importa com o estado do seu retorno – nem você nem ela deveriam olhar para trás. É assim que se desfaz um encanto… Através dos fatos, do grau de importância e do tamanho dos hematomas.



Escrito pela Alê Félix
5, maio, 2011
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Agora que eu sei que meu sobrinho vai com a minha cara, tenho visitado o peste com mais frequência, tipo… Todas as tardes possíveis!
E aí eu fui pegá-lo na escola, ele entrou no carro, olhou pra minha cara e sem eu dizer nada além de “e aí?” e veio com essa…

– Tá feliz, hein?

Olhei pra ele com cara de quem reconhece um talento, um que todos nós temos lá em casa, o talento de ler as pessoas, seus rostos, suas expressões e movimentos sem que elas precisem necessariamente nos contar uma história…

– Eu tô mesmo… Como é que cê sabe?
– Você tá ouvindo uma música da XUXA, Alê! Ou você tá MUITO feliz ou tem MUITO problema!

PS – Não faço ideia de como é que a música “marquei um X, um X, um X no seu coração”, foi parar no meu rádio naquele momento… Uma distração que deixa claro que eu realmente estava feliz, com a minha cabeça cheia de bons pensamentos enfiada na alegria gritante das boas lembranças e NÃO que eu tenha MUITO problema. Molequinho mais… Grunf! Não sei pra quem puxou…

PS 2 – Passamos o resto da tarde pensando em músicas que deixam a gente de bom humor, que nos fazem sorrir e seguir em frente com um pouco mais de ânimo. Ele ficou de pensar e, me contar depois, quais as que tem esse efeito positivo sobre ele. Eu também fiquei de fazer minha lista. O que, aliás, não tá nada nada fácil. Mas deve ser só porque ando naturalmente feliz, independentemente dos poderes das músicas tristes, pesadas, ruins ou até mesmo dos poderes da dona Xuxa contra o baixo astral.

Mas a questão é: e você? Que músicas te fazem levantar dessa cadeira com uma disposição maior, uma postura melhor?



Escrito pela Alê Félix
3, maio, 2011
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