Uma amiga minha escreveu dizendo que anda muito brava com o rumo desse blog. Disse que acha um absurdo eu aderir a esse movimento de publieditoriais e mais absurdo ainda que eu misture as campanhas recebidas no meio de posts que eu escreveria normalmente, sem que tivesse grana nenhuma envolvida. Como ela é amiga velha (não de idade, mas de tempo de amizade), respondi o e-mail assim…
Saudade de você, sua cretina! Por onde você anda? Sua aversão por telefone aumenta ainda mais a distância entre a gente, sabia? Mesmo depois de tantos anos, confesso que não entendo como você consegue não ter aderido ao movimento dos celulares. Mas não posso reclamar. Acho que é por conta dessas bizarrices da sua personalidade que gosto tanto de você. Por isso e porque foi graças a você que um dia me tornei fotógrafa. Eu nunca te contei porque sempre me senti muito amadora, tinha acabado de fazer o curso de fotografia (mentira, nem cheguei a conclui-lo) e inventei de colocar um anúncio no jornal dizendo que eu era fotógrafa de casamentos, aniversários, modelo-manequim-e-vendedoras-de-shoppings.
O anúncio saiu em uma quarta-feira e no sábado eu estava na porta de uma igreja com a minha Nikon F2A, um flash comprado naquele mesmo dia, vários rolos de filme com 36 poses e a cara de pau que até hoje me leva a fazer coisas maiores do que meu cérebro. Quando a noiva chegou foi que me dei conta de que aquela era a primeira vez que eu pisava em uma igreja católica, que eu nunca tinha visto um casamento católico e que se eu fizesse merda com o álbum de fotos daquela noiva gordinha ela ia me socar até a morte. Eu tinha quinze anos de idade, acredita? E acho o máximo você nunca ter perguntado minha idade…
Na época, coloquei o anúncio porque achava que precisava ajudar em casa, precisava ajudar a pagar as prestações da câmera, precisava descobrir logo como ganhar a vida. Coisa de menina pobre e responsável. Apesar de você ter nascido rica, eu sei que você também sabe como é se sentir assim. Mas foi por deus e por você que tudo deu certo naquela noite… Quando meu flash parou de funcionar achei que não teria mais jeito, que a gordinha ia me rogar a maior praga da minha existência e que minha mal começada carreira de fotógrafa teria um fim ali mesmo.
Antes que eu derrubasse as primeiras lágrimas – sem que eu dissesse nada – você pausou sua filmadora e disse pra eu fuçar na sua mochila e ver se não tinha por lá algum flash ou bateria que servisse no meu. Foi graças a você que tudo correu bem, que a gordinha ficou feliz por eu ter tido a sensibilidade de fotografá-la nos melhores ângulos e me indicado todas as futuras noivas da companhia feminina de kung-fu de São Paulo. Graças a ela e a você depois daquele dia minha vida virou de ponta-cabeça, eu passei a acreditar que era fotógrafa de verdade e recebi por isso durante quase dez anos da minha vida.
Nunca te agradeci por isso… Obrigada, minha amiga querida.
Quanto aos possíveis publieditoriais do blog, não seja boba. Eles são como flashs, vindos das mochilas de algumas empresas. Salvam a nossa pele de vez em quando e nos fazem acreditar que somos bons com as palavras.
E já que estamos falando em publieditoriais e eu odeio escrever, vou aproveitar o e-mail que vai pra você e transformá-lo em um. Aproveita e dá uma clicada nesse link aqui, da promoção Rexona. Tenho certeza de que você também vai curtir contar suas histórias. Alguns desodorantes mudam tanto quanto a gente, minha amiga. É a vida… Com todas as mudanças e adaptações necessárias, é a vida. 😉