O nosso Marco (Blog de Papel e Balde de Gelo) saiu lindo e formoso no Diário de São Paulo de ontem e também será notícia na cidade de Bauru junto com o Dahmer nos próximos dias.
Os Malvadinhos estão sendo notícia por todos os cantos do país. Estou fazendo o possível para colher tudo que tem saído, mas está difícil. Se acharem os nossos livros em algum jornal, revista, etc, me avisem (please!). Esse tipo de material me ajuda a chantagear os compradores das livrarias e distribuidoras. 😉
Abaixo, uma entrevista feita pela Ira Sydronio da PUC-Rio, sobre blogs e a migração da literatura (blog/livro – livro/blog).
Nome, idade, profissão e quanto tempo de blog?

Alessandra Félix, 31 anos, empresária, editora, 4 anos de blog (três de Amarula com Sucrilhos e um ano tentando escrever contos eróticos em um outro blog que acabou morrendo no ano retrasado).
Como começou a escrever?

Comecei a escrever aos treze anos em uma fase meio nebulosa que me fez ficar em casa (sem vida social) durante alguns meses. Comecei a escrever e a ler porque, até então, também não tinha esse hábito. Na época, escrever me salvou de várias crises adolescentes. Também fez com que eu rapidamente parasse de me isolar. As meninas da escola me viam escrevendo durante a hora do intervalo e insistiam para ler os meus rascunhos. Em um primeiro momento, isso fez com que eu voltasse a querer conversar, me sociabilizar. Depois, de tanto suspirarem em volta da minha mesa, meus cadernos começaram a circular pela escola e alunos de várias séries vinham me procurar para que eu escrevesse bilhetes de paquera, cartões, cartas de reconciliação, amor, etc. Fazia montinho em volta da minha cadeira. Elas me procuravam, eu pedia que me dessem alguns detalhes sobre suas vidas para ter um ponto de partida e, algumas horas depois, eu entregava uma folha de caderno com a história delas escrita. A procura era tanta que comecei a cobrar. Era pouca coisa, mas para alguém de treze anos virou um negocião.
Quais são suas influências e o que espera do seu blog?

Ainda hoje eu leio menos do que gostaria. Sou compulsiva por trabalho e quase não me sobra tempo para outras coisas. Quando tenho um tempo livre, invento projetos que acabam me consumindo a ponto de me sobrarem três, no máximo, quatro horas para dormir. Foi o caso da idéia de publicar novos autores. Por conta disso passei a me sentir obrigada a ler as pilhas de originais que passamos a receber. E chega muita coisa que eu não gosto, o que me faz perder um pouco o tesão pelo tempo que eu gasto lendo. Hoje, o que eu espero é em breve ter tempo livre para ler Giovanni Boccaccio, H.L.Mencken, Nelson Rodrigues e os dois últimos da J.K Rowling (não, eu nunca consegui sair da adolescência).
Mas eu acho engraçadas essas perguntas sobre influências. Por que ter um ou outro escritor predileto é uma coisa, mas se deixar influenciar por ele é outra. As influências devem vir de todos os lados: da experiência de vida, da capacidade de observação, dos detalhes que nos cercam e não exclusivamente do que já foi escrito. Senão o cara vira aqueles escritores clones, sabe? Passa páginas e páginas tentando fazer algo espelhado em gente que ele admira. As influências literárias precisam acontecer inconscientemente, caso contrário o sujeito vira um imitador. É fundamental achar o próprio caminho.
Do blog, eu só espero que no meio de tudo isso haja um pouco de tempo pra ele também. Escrever tornou-se remédio. Mesmo sendo uma pessoa saudável, eu sempre convivi com dores existenciais que fervilhavam dentro de mim e que nunca me deixaram em paz. E isso só passou em dois momentos da minha vida: na adolescência na época que eu vendia histórias na hora do recreio e nos últimos anos com o blog. Sendo assim, espero só que eu tenha tempo…
Você teve problemas com o antigo nome do blog “Amarula com Sucrilhos”. O que houve, exatamente?

O que aconteceu foi que, apesar dos meus trinta e um anos e me achar muito sabidona, eu sou uma pessoa ingênua. A gente vive em uma época onde o poder maior está nas mãos das empresas. E era óbvio que ao registrar um domínio na internet, com duas marcas registradas, isso me causaria problemas. Infelizmente eu não pensei sobre isso antes. O nome era uma referência a um dia importante da minha vida. Dessas coisas que, depois de anos, a gente comenta com os amigos: “E aí? Lembra daquele café da manhã que misturamos amarula com sucrilhos?”. Foi assim que a expressão virou o nome do blog e, posteriormente, um domínio próprio. Isso, até que um belo dia os advogados brasileiros da Southern Liquer (empresa africana que produz a bebida Amarula feita da fruta que se chama Marula) me enviaram uma intimação solicitando que eu cancelasse o domínio e também o endereço antigo que eu tinha no Blogger. Eu cancelei as URLs que era o que eles podiam exigir, mas continuei com o blog em um endereço genérico: www.licordemarulacomflocosdemilhoacucarados.net
Como surgiu o convite para integrar o elenco blogueiro do Livro Blog de Papel? Qual a proposta do livro? Vocês planejam outros projetos juntos, outros livros?

O Nelson Natalino teve a idéia e começou a convidar as pessoas. E era algo que eu queria fazer há bastante tempo… Tanto que, no começo dos blogs, chegamos a abrir o site Clube da Lulu que tinha uma proposta semelhante, mas que acabou não virando livro por falta de um bom coordenador.
Quando o Nelson me fez o convite eu recusei participar como escritora porque não me sentia confortável com a idéia de escrever em outro lugar que não fosse em um blog. Mas aceitei publicá-lo porque já conhecia todos os autores, com a vantagem de ter o Nelson ao meu lado coordenando o projeto.
A idéia era que houvesse Blog de Papel 1, 2, 3… Mas eu conversei com o Natalino essa semana e chegamos a conclusão de que não temos como fazer isso. O Blog de Papel era pra ser um encontro de pessoas que escrevem e tem blogs. No meio do caminho incluímos os ilustradores que deram um charme todo especial para os contos narrados. E foi tão prazeroso e gratificante fazê-lo que seria muito estranho transformá-lo em um projeto puramente comercial depois disso. Ele não nasceu com esse propósito. Outros livros com vários autores poderão ser escritos, mas não com o nome Blog de Papel.
Além do mais, por uma questão prática de contabilidade, os direitos desta edição foram doados para a APAE de Lagoa Vermelha que também é administrada por uma blogueira e que vem passando por grandes dificuldades nos últimos anos. Pode parecer nobre da nossa parte, mas foi a praticidade que nos levou a essa decisão. E não vamos, de forma alguma, usar esta doação para tentar vender mais livros. Não seria correto nem mesmo com a APAE.
O blog começou como um espaço para falar o que quiser de uma forma criativa, debandou para diarinhos rosas e hoje caminha para um grande revelador de talentos literários. E, como uma das blogueiras mais lidas, como você define o blog? Como vê o futuro dessa ferramenta?

Acho que estamos no meio do processo. Os blogs estão revelando talentos literários há alguns anos. Daniela Abade, Marco Aurélio dos Santos e Daniela Macedo são provas disso.
Hoje em dia todo mundo que quer escrever está abrindo blogs e é este o caminho certo. Não acredito que o aumento da quantidade de blogs com pretensões literárias vá banalizar o mercado. Quem diz isso está com medo da concorrência e não existe concorrência em literatura. Quanto mais blogs, maiores as chances de boas revelações, mais livros, mais leitores. Não há nada de ruim nisso. Muito pelo contrário.
É verdade que todo bom blogueiro gostaria de ir para os papéis, lançar um livro, mas acontece um movimento oposto dos leitores. Não é de hoje que a crise da literatura assaltou a juventude que, só voltou a ler, com a internet e seus blogs. Qual a magia que o blog tem para atrair um público tão difícil de conquistar?

A magia é a primeira pessoa. Se você contar uma história na primeira pessoa a atenção do leitor será maior porque estamos mais abertos aos bons causos, as fofocas. A curiosidade é inerente ao ser humano e os textos escritos na primeira pessoas estimulam muito mais a nossa curiosidade por nos fazer acreditar que são histórias verídicas.
O grande mérito dos blogs é que ninguém precisa escrever na primeira pessoa, mas a ferramenta é tão propicia a isto que acabou gerando uma série de histórias que nos pegam pelo colarinho. O que não siginifica que tudo tem que ser autobiográfico. Quem quiser fazer diário, faça. Não a nada de mau nisso. E quem quiser ser escritor pode se aproveitar disso. Tem que aprender a surpreender o leitor, a enganá-lo (no melhor sentido). Se as pessoas gostam de histórias narradas dessa forma, dê a elas o que elas querem e tente conquistá-las. Um leitor conquistado estará sempre aberto para o que mais o autor puder lhe oferecer. E quem sabe o interesse dos leitores não seja o começo para o fim da nossa velha crise literária?
Na sua opinião, ao que se deve a maior parte da nova geração de escritores surgirem dos blogs?

Acho que tem a ver com aquele pedaço da canção do Milton “todo artista tem que ir aonde o povo está”. Os blogs surgiram, conquistaram um número expressivo de pessoas e com eles vários escritores que escondiam o talento em gavetas e cadernos velhos estão podendo se expôr e ser lidos sem o filtro absurdo que existe no mercado editorial. A mídia, as editoras e livrarias são grandes responsáveis pelo fato dos livros não serem acessíveis. A editoras filtram o que será lido, a mídia dita o que será vendido e as livrarias acham que merecem ganhar metade do valor de cada livro. Os blogs vieram para quebrar completamente essa regra. Na internet os escritores têm o seu próprio veículo de comunicação, não precisam de intermediários e de nenhuma aprovação que não seja a do seu próprio leitor.
Você se vê postando em blogs daqui há 10 anos? Qual a longevidade do Licor de Marula com Flocos de Milho Açucarados (se é que já pensou nisso)?

Eu mudo de idéia o tempo todo então é difícil dizer qualquer coisa. Já pensei várias vezes em parar de escrever no blog, mas as pessoas que circulam por este universo me impressionam e emocionam de tal forma que nunca consegui abrir mão dele. Sem contar que escrever posts é uma delícia… Não sei, não. Eu posso até deletar o meu Amarula com Sucrilhos com URL genérica um dia, mas certamente estarei presa a algum blog secreto.



Postado por:Alê Félix
25/11/2005
0 Comentários
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Giselle

novembro 25th, 2005 às 9:01

“A editoras filtram o que será lido, a mídia dita o que será vendido e as livrarias acham que merecem ganhar metade do valor de cada livro.”
O aumento da procura e contínuo interesse por blogs pode ser justificado exatamente por meio dessa sua colocação… em se tratando de blogs, o leitor é quem filtra o que será lido, sem a intervenção de editoras, enquanto a mídia serve (quando se presta a isso) apenas como instrumento de divulgação. Sendo que, a maior forma de divulgação, na minha opinião, é a indicação encontrada nos próprios blogs.
=)


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Marcelo

novembro 25th, 2005 às 11:25

Gostei muito do que você disse sobre as influências literárias. Também acho estranho esses escritores que moldam o trabalho na admiração que sentem pelo estilo de outros escritores. Muito boa a entrevista.


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Julio

novembro 25th, 2005 às 11:28

Aleeeee, o povo quer saber!!! (imitando vc nos chats da verdade): Qual era o endereço do seu blog erótico????? HAUHAUHAUA!


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Nana

novembro 28th, 2005 às 9:59

E que venham tantos outras migrações como esta…inspiradora…adorei a entrevista e fiz um tour por seu blog. Parabéns e talvez seja isso mesmo, não dá para parar de escrever, de blogar, de postar, de soltar e deixar viver aquilo que nos lateja as temporas e mentes requerendo vida própria…palavras ow palavras…saem, tomam pernas e lá estão elas nas vitrines das livrarias que a editora escolheu.
Parabéns, Alê!!! Sucesso sempre!!!
Nana
http://www.singlethought.zip.net – visite-me quando puder


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Plyn

novembro 28th, 2005 às 18:52

Você tem reconhecimeno. Uma conquista muito bonita. Parabéns.


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Ira Sydronio

novembro 29th, 2005 às 8:39

Ale, minha querida, infelizmente não pude ir no lançamento dos livros aqui no RJ. Uma pena. Foi uma surpresa você colocar a entrevista aqui e esse feedback vai ser importante para a matéria.
Obrigada pela entrevista, novamente. Você foi um amor.
Beijocas.


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