Meu avô materno é um sujeito que sobe na mesa quando o assunto é política. Discordar dele? Nem pensar! Uma macarronada pós-eleições presidenciais já rendeu um olho roxo em um dos meus tios que ousou defender alguns tópicos do plano de governo do inimigo (inimigo do meu vô). Alagoano, reacionário e dono da melhor pontaria que eu já vi, ele sempre foi de botar medo. Principalmente em mim, que cresci me simpatizando com as idéias anarquistas de araque do meu outro avô, mas não queria de jeito nenhum, envelhecer e perder o equilíbrio em defesa das minhas idéias.
Um dia, no meio de uma conversa, o vô anarquista de araque passou a mão sobre a minha cabeça e suspirou: “graças a deus você será comunista. Não acabará malufista como seu pai ou maluca como o pai da sua mãe.” Na época, como eu era muito pequena, não entendi nada e perguntei se comunista era profissão. Ele gargalhou, arrancou alguns livros empoeirados da estante e pediu que eu guardasse segredo sobre o futuro das minhas convicções – 1979 ainda não era um bom ano para sair na rua dizendo que meu avô havia me chamado de comunista, mesmo que a rua fosse somente o meu playground.
Sua previsão não valeu por muito tempo. Meu tesão por política não durou dez anos e as suas palavras de fé sobre a minha personalidade, só fizeram aumentar o meu medo de um dia acordar e me pegar esbravejando velhos discursos políticos como meu avô materno. Pra falar a verdade, eu tinha certeza de que isso aconteceria, mas lá pelos sessenta anos – nunca com trinta, nunca antes dos quarenta. Como aconteceu nas últimas eleições…
Meu avô anarquista de araque já morreu, o reacionário continua com o dedo em riste e apesar de, hoje em dia, eu me recusar até a sair de casa para votar, nas últimas eleições me senti como se fosse uma espécie de Heloísa Helena acordando em um planeta dominado pela juventude do PFL. Isso nos dias bons. Bem ou mal, a juventude do PFL deve oferecer uma boa catequização política, deve ter integrantes que acham que sabem o que estão fazendo ou que, pelo menos, sabem os interesses de quem estão defendendo. Muito diferente da parte que realmente me incomoda. Uma parte que é toda metidinha a entendida, mas é tapada a ponto de não fazer a menor idéia do que são políticos de direita e esquerda. Se bem que, até aí, tudo bem. Não saber não é pecado. Pecado é essa gente despejar a sua cota de bobagens nas discussões acaloradas e pés-no-saco que rolam em períodos eleitorais. Isso é de matar… E foi nessas horas que eu me peguei esbravejando feito meu avô. Esbravejando até me dar conta de que, no final das contas, minha indignação com essas pessoas e a patacoada chamada de festa da democracia é tão ridícula quanto vestir uma camisa, sacudir uma bandeira e se achar cidadão só porque foi obrigado a escolher os palhaços da vez. Eu sei que é ridículo da minha parte, mas me irrita ver gente jovem que não pensa, não questiona e não se envergonha de ser mais um egocentradozinho do planeta. Compreendo que, depois dos trinta, não seja tão anormal alguém defender idéias capitalistas, mas, convenhamos, é fundamental ser socialista aos dezesseis. É sério. Se você conhece uma pessoa muito velhinha e esquerdista, ela está com problema. Se conhecer uma pessoa nova de direita, saiba que ela também tem problema.
E essa molecada ainda vem bancar a rebelde pra cima de mim… É olhar para o lado e ver que, se essa rebeldia existe, só tem servido para estampar tatuagem sem história, piercing sem ideal e votos sem reflexão. É triste. É triste e esse papo não tem a ver somente com políticos, eleições e sistemas de governo. Tem a ver com escolhas e tem a ver com pensar no mundo e não somente no próprio umbigo.
Mas enfim, nem sei porque estou escrevendo sobre isso. Meu avô paterno não errou na essência da sua previsão, mas ignorou a genética – o desequilíbrio foi inevitável. Minhas crenças juvenis envelheceram e se tornaram tão utópicas que já me fazem ignorar as pessoas ou subir o tom para ser ouvida. Tento acreditar que talvez eu esteja errada sobre a minha geração e as que vieram depois dela. Talvez eu esteja… Ou talvez seja só o fato de que o capitalismo e o socialismo não façam mais o menor sentido. Talvez, hoje em dia, só exista o egoísmo e aí não adianta mais esbravejar.
D.
novembro 7th, 2004 às 15:49
Jussara
novembro 7th, 2004 às 16:19Eu poderia tirar meia duzia de frases desse texto e eterniza-las. Não é por menos que todos sentimos falta dos seus posts. Seu desequilibrio é sempre bem-vindo.
novembro 7th, 2004 às 18:35 Adorei seu avô anarquista de araque.
Se soubesse disso antes, teria pedido emprestado.
TATI
novembro 7th, 2004 às 21:49cade + posts da saga do primeiro beijo??
decio
novembro 8th, 2004 às 7:36oi alê,
esse mundo é mesmo esquisito, estranho.
já viu a comunidade malufista no orkut?
são tantos, e tão jovens também.
não cheguei a conclusões ainda.
beijos
décio
Carol Marinho
novembro 8th, 2004 às 16:08Oin :}
É bom voltar aki depois de tanto tempo e ver q vc continua a mesma desequilibrada de sempre 🙂
Gostei tb de saber q agora vc tem um ajudante. (ainda tem né?)
Sei q já prometi muitas vezes em entrar aki todos os dias pra saber qual é a desse chat q eu nunca entendi, mas não consigo :/
Bom, espero um dia conseguir te encontrar no msn com um tempinho a mais pra conversar. Só te achei uma vez, e pareceu q vc não estava de bom humor… (alguma vez vc ja teve isso? 😡 )
Beijão 😛
novembro 8th, 2004 às 17:45 oie Alessandra Felix!!!
eu estava procurando sobre os Felix e acabei te axando .. espero q entre em contato cmg … =)
keria saber da onde é sua familia .. pq talvez até podemos ser parentes!!
bom vou ficando por aki .. e até mais …
se quiser .. entra no meu flog:
http://www.fotolog.net/fernanda_felix
ou no meu blog:
http://www.fefelix.weblogger.com.br
;*****
novembro 9th, 2004 às 9:56 eu ñ acho o egoísmo o fim da picada. pra mim o q eh pior é o conformismo “é assim msm, ñ adianta tentar mudar, vivamos assim”
novembro 9th, 2004 às 17:18 Sou mais PT, ouço de todos os lados que PT é porcaria e a prefeita um lixo, mas e daí? Quero só ver agora, com o Serra. “Serra faz”. Faz porra nenhuma, arruma algumas coisas na área da saúde, e depois não tem como dizer que ele não cumpre porque o prometido é o pouco que ele sabe fazer.
Eu comento sem muita coerência e not even there.
novembro 10th, 2004 às 9:15 Não entendo tb Alê…
Como muitos jovens e até crianças conseguem vestir camisas de prefeitos .ou vender seu voto porque ele é mais social que o outro candidato ou porque meu pai gosta dele ou isso ou aquilo!…
Acho que a maioria vota pelas qualidades não pela razão não pelos principios…
Gostei muito oque você citou..
“sem ideal e votos sem reflexão. É triste. É triste e esse papo não tem a ver somente com políticos, eleições e sistemas de governo. Tem a ver com escolhas e tem a ver com pensar no mundo e não somente no próprio umbigo.”
Abraços!
novembro 10th, 2004 às 11:16 estranh o é o mundo que habitamos
novembro 10th, 2004 às 12:21 Pior de tudo é o bush querer comemorar a releição dele aqui no brasil….
Da uma olhada…..
“George W. Bush, presidente reeleito dos EUA confirmou que virá prestigiar o carnaval
carioca no próximo ano. Bush não é o primeiro da família a assistir aos desfiles
das escolas de samba no Rio de Janeiro. Em 2002 sua mãe Bárbara Bush compareceu
a festa junto a um enorme esquema de segurança e levou boas recordações da animada
festa brasileira.
A principal preocupação do presidente é em relação a sua segurança, e para isso
a CIA e o FBI já contataram a Polícia Federal e a ABIN (Agência Brasileira de
Inteligência) para dar inicio ao planejamento do esquema de segurança que irá
ser montado para garantir a integridade do presidente norte-americano. Não está
descartada a mobilização do exército brasileiro em uma operação especial para
garantir a estabilidade na cidade.
Em comunicado, a assessora do presidente e da casa Branca Linda Stuart descarta
um possível encontro entre Bush e o presidente Lula. Linda deixa claro que
Bush fará a viagem em caráter turístico, durante suas férias.
Fonte: Folha Online”
novembro 10th, 2004 às 17:55 Ah, Lessandra…
“O direito de escolher os palhaços da vez” tem tudo a ver com o que eu penso.
Votei nulo sim – e de nada serviu nada disso. E eu me pergunto qual o sentido de ter direitos, se você não tem acesso à verdade. Tenho o direito de escolher quem vai me representar – e eu lá sei quem são esses caras?
novembro 10th, 2004 às 22:47 Mais um post muito bom, e concordo totalmente quando você descreve a juventude de hoje em dia da qual infelizmente faço parte; mas não acho que ela seja muito diferente das tantas outras, apenas tem mais acesso a coisas que não sabe usar ou não busca saber do que se trata. E como outros, não confio nada nada no Serra. Se não tiver nada para fazer, devo ser o milésimo pentelho que pede isso, veja os meus textos no blog. São apenas aqueles que têm o meu nick. Desculpa incomodar. Continue escrevendo assim, dá gosto de ler. Beijos.
novembro 11th, 2004 às 9:38 Poxa, o Amarula com Sucrilhos era tão legal…Por que você não aproveitou a onda e fazia um comercial pros dois??????? Aproveitava o Ibope!
Marcello Dornelles
novembro 11th, 2004 às 11:30Trin Trin,
Você perdeu um ponto pela frase: “Sou mais PT”.
E ganhou outro pelo cabelo.
Hubba, hubba, hubba…
novembro 11th, 2004 às 11:31 Ah, Dornelles, deixa eu escolher PT, vá. Serra é mais interesseiro do que se imagina.
novembro 11th, 2004 às 16:50 Nem esquerda, nem direita; religião: o consumismo.
novembro 13th, 2004 às 21:43 Oi Alê! Concordo com as coisas que você disse… Sabe, eu tive que trabalhar de mesária de novo nessas eleições e eu vi muita criança de 16 anos colocando a mão na urna e se dizendo excercer a cidadania. Será que eles sabiam o que significa cidadania? Fala sério… Esse país tá perdido… Bjos
novembro 14th, 2004 às 9:21 Na verdade há todos os tipos de eleitores na fauna brasileira. Uma coisa, porém, é unânime: Todos têm a certeza mais que absoluta que têm razão nas suas convicções e discutem mais por paixão do que por embasamente. Dependendo da região e do tamanhoda cidade o eleitor mais comum é oque é amigo-parente-conhecido do candidato e vota nele por isso. Por incrível que pareça, em todas as regiões ainda existem os cabos eleitorais de cabresto. Seja aquele que mantém seu curral com rapadura e farinha ou o patrão que faz de seus funcionários eleitores da sua própria cédula (embora não existam mais cédulas eleitorais). No fim, no balanço final, acho tudo isso fascinente, menos vestir a camiseta e ir pras ruas fazer barulhode vencedor. Mal sabem eles que perdemos, independentemente do resultado.
novembro 14th, 2004 às 21:36 Dona Alessandra anda tão rápida quanto eu pra atualizar…
novembro 17th, 2004 às 13:00 Não, não. Tá pior… hahaha =P~
novembro 17th, 2004 às 21:21 Saudade da Saga do 1º beijo… E o livro, sai ou não sai?? Eu qrooo!!
Bjus =*
Sérgio
novembro 18th, 2004 às 20:32Ainda não atualizou????
Está ficando sem novas idéias pra escrever? Tá caro o provedor pra ficar deixando ele às moscas.
Carol
novembro 19th, 2004 às 7:08Poxa!!! Nem o Dornelles vai dar as caras???
Não deixa a gente sem notícias não…
novembro 19th, 2004 às 8:45 aaaahhhh ale volta a postar!! to com saudade de ler seus postas maravilhosos e muito bem escritos!
bjus
dezembro 2nd, 2004 às 20:49 O Brasil está mais ou menos assim: Cada um cuida do seu o resto que se F***.
depois de ouvir do Zè “amigo do Waldomiro e fico nervoso” Dirceu que propriedade é mito e ver a população de ovelhinhas entregando as armas para o inimigo, vou embora para a Argentina!!!
A minha opinião é a da sua ultima frase “Talvez, hoje em dia, só exista o egoísmo e aí não adianta mais esbravejar.” Infelizmente não vejo mta saída ou msm esperança p isso. Sei q é pessimismo da minha parte, mas por enquanto é o q posso dizer. Beijos pra vc.