Sabem aquelas caras e bocas que as mocinhas dos filmes fazem quando morrem no final? Pois é,
sempre que eu vou parar no hospital me dá uma crise daquelas. Por melhor que seja o quadro médico,
sempre que tem alguém por perto eu me faço de “prestes a morrer”. Eu acho romântico, oras! Vou
fazer o quê? E é romântico. Uma vez cheguei até a fingir que a respiração parou. Interrompi a
frase no meio, deixei a cabeça despencar para o lado, fiz uma boca mole, fechei os olhos
repentinamente e engoli o ar. O namoradinho da vez quase teve um ataque. Pena que durou pouco. Na
primeira sacudida que ele me deu eu descambei de rir. Se eu tivesse conseguido segurar o riso só
mais um pouquinho, talvez ele tivesse chorado ou chamado os médicos. Teria sido mais divertido.
Não entendo como ele não se separou de mim naquele dia.
Enfim, até ontem achei que fosse gripe, mas eu estava cada vez pior. Tudo bem que qualquer
dorzinha me deixa de quarentena, mas dessa vez o babado parecia sério. Como a febre não baixava,
dramaticamente, a contra gosto, fui levada ao hospital. E já que estava lá… tchãran! Caras e
bocas de prestes a morrer. É incontrolável.
Horas depois, quarto de hospital, maridon segurando minha mão e eu ainda com ares de despedida
(ninguém vai levar a sério a minha morte no dia que ela acontecer de verdade). Aproveitei para
tratar de assuntos do meu interesse pós morte…
– Se eu morrer você vai casar de novo?
– Vou.
Maridon nunca soube brincar. Está escolado dos meus dramas mexicanos. Sorri, um sorriso de
hospital e não desisti de vivenciar a melhor parte de uma internação…
– E você vai gostar mais dela do que gostou de mim?
– Isto é impossível.
Que bonitinho… Está vendo como funciona? Todo mundo se abre como mala velha no leito de morte.
Mesmo quando já está esperto. E olha que era pra ser só a gripe da galinha preta, mas aí o médico
entrou no quarto e…
– É dona Alessandra, a senhora pode estar com dengue.
Eu deveria ter ficado assustada, mas me acabei de rir. De todos os males que podem levar alguém
para um hospital, a dengue é a menos romântica. Não dá pra fazer tipo com dengue. A palavra dengue
por si só já é ridícula. Maldito fim de semana na praia. Bah! Devo ter sido picada por um dos
trezentos milhões de mosquitos daquele lugar e estou com dengue.



Postado por:Alê Félix
04/02/2004
Comentários desativados em Era pra ser só dengo, mas… Comentários
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Déia

fevereiro 5th, 2004 às 20:31

É impossível não rir com o final do post! Eu aqui super preocupada achando que você estava
malzona, e você me escreve que riu na cara do médico quando ele disse que estava com dengue?! Como
não rir?!?!?!?
Bom, espero que melhore logo!!
Bjus=*


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ratapulgo

fevereiro 8th, 2004 às 20:02

Alê
O seu texto cheio de cahrme e degue da mulher brasileira foi pro Copy & Paste.
obrigado e melhoras,


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wagner luis vitcoski

janeiro 30th, 2007 às 8:51

Adorei seu jeito de escrever, as palavras que escolheu, então a dengue não é uma doença romântica?
Achei isso genial. Seu texto é cheio de estilo e humor, me lembra até….. bem, deixa pra lá,
senão vc pode ficar muito convencida.hehe. parabéns.