– Deve ser mau humor.
– Estou dizendo pra você que não é!
– Depressão?
– E eu sou mulher de ter depressão?
– Então é frescura!
– Quase…
– Conta de uma vez!
– Se eu contar, você jura que não ri da minha cara?
– Claro que eu vou rir da sua cara! Conta logo.
– Pessoas felizes me aborrecem. É isto. Pronto! Falei.
– Sinto lhe informar, mas o nome disto é inveja.
– Não! Longe de mim. Minha própria felicidade me enjoa tanto ou mais do que a dos outros.
– E você está feliz?
– Há um tempão… e é um saco!
– É compreensível…
– O que há de compreensível em alguém que não dá valor à sorte que tem?
– Sua natureza é insatisfeita demais para sobreviver a qualquer tipo de estabilidade. Você não é primeira e não
será a última mal agradecida pela boa vida. Além do mais, felicidade nunca foi garantia de satisfação a longo
prazo para ninguém.
– Não é estranho?
– E o que não é estranho? Se você reparar direito, nem as criancinhas gostam mais das histórias felizes. Elas
querem ação, cabeças degoladas, jatos de sangue… Basta olhar para o rosto dessas garotas. Se elas sorrissem
como as misses, esses desfiles de moda estariam tão arruinados quanto o Miss Brasil. Todo mundo diz que quer ser
feliz, meu bem, mas é só por falta de assunto.
– Passamos a vida falando em felicidade e, quando a encontramos, ela se transforma em monotonia em menos de seis
meses…
– Fale por você, querida! O máximo de felicidade que eu pude vivenciar durou uns onze minutos. E quer saber?
Ainda bem! Pela sua cara, eu não troco meus onze minutos pelos seus seis meses de jeito nenhum!
– É, vai ver que o barato é só a procura…



Escrito pela Alê Félix
4, dezembro, 2003
Compartilhe

É incrível a quantidade de bobagens que fazemos quando estamos perdidos. Sabem aquele ditado que diz “pra
quem não sabe pra onde ir qualquer vento é bom”? Papo furado. Se você não sabe onde ir, fique em casa. Se
possível, durma! Esqueça o caminho, o vento, os ditados e tire uma soneca. Era o que eu deveria ter feito
naquela noite. Que idéia estúpida, ficar de teretetê no videotexto! Ainda por cima com um moleque! Um sujeito
com aquela voz… e bundão! Ele me ligava nas horas mais estranhas, desligava sem dar tchau e, como se estivesse
fugindo da polícia, falava sussurrado a qualquer hora do dia. E mais, vivia dizendo que não podia me encontrar
pessoalmente porque precisava cuidar da avó.
Eu deveria ter desconfiado quando pediu que eu não ligasse pra ele. Justificou o pedido com a desculpa de que a
avó tinha problemas mentais e não suportava o barulho do telefone. Um papo louco! Passei um mês achando que
estava apaixonada por uma voz que me fazia esquecer o ex e me dava forças para romper o noivado com o clone, mas
que vinha de alguém que parecia mais esquisito do que o Adolfo. Um mês
querendo conhecer o garoto da voz grossa e ele se esquivando.
Um mês envolvida neste pesadelo até o dia que acordei com o ovo atravessado e decidi mandar os três para o
inferno. Mas não antes de ver o loiro cabeludo de perto. Contrariando o pedido dele, eu liguei.
– Ou você me dá seu endereço agora ou nunca mais fala comigo.
– Mas…
– Ou isso, ou me esqueça.
– Por que não podemos ir com calma?
– Porque não. Eu tenho que casar nos próximos meses e estou de saco cheio de você me evitando e ao mesmo tempo
dizendo que me adora. Se gosta de mim, deveria querer me conhecer.
– Mas a minha avó…
Eu tinha vontade de esganá-lo quando ele metia a avó na história…
– Você me dá seu endereço, eu te dou um abraço, vou embora e juro que nunca mais te incomodo se você não quiser.
Mas não falo mais com você sem saber quem você é.
Ele deu o endereço com a condição de que eu estacionasse o carro na frente do prédio onde ele morava e
conversássemos dentro do carro. Eu aceitei, anotei o endereço e combinamos de nos encontrar duas horas depois.
Bizarria por bizarria, eu aceitei, mas achei melhor ir prevenida. Como medida de segurança, chamei meu melhor
anjo protetor: a Sueli.
A Sueli era a minha amiga que não fazia perguntas, uma espécie rara no universo feminino. Uma garota fantástica
que eu conheci na época do ginásio e que se tornou uma grande amiga de favores absurdos. Dessas que eu podia
ligar no meio da noite, pedir pra ela me seguir de carro até um determinado lugar e chamar a polícia caso o
locutor fosse uma roubada. Ela era tão incrível, que ouvia os meus pedidos com a cara mais tranqüila do mundo,
levantava uma sobrancelha vez ou outra, mascava seu chiclete e dizia somente: “Ok”. Nenhuma pergunta. Uma menina
tão surpreendente, que me deixava constrangida de expor a minha natural curiosidade quando era ela quem
precisava de mim. Precisei de alguns anos para me adaptar à praticidade e amizade quase masculina da Sueli. Nos
tornamos a amiga-quebra-galho uma da outra. Mentiras, desculpas esfarrapadas, ligações investigativas, amiga
álibi, armação de tocaias, perseguições, me vigiar com o intuito de garantir a minha segurança e jogar água fria
em uma mulher louca, era com a Sueli e o seu fofinho (um fusca verde cheio de adesivos heavy metal).
Conferi pelo retrovisor a chegada do fofinho, ajeitei o cabelo e os brincos e pedi para o porteiro avisar no
802. Conforme combinado, aguardei ansiosamente que o viking da voz de veludo aparecesse, entrasse no meu carro e
mudasse os rumos da minha vida.

———————>> Continua.
Clique aqui para ler o Post I – O
começo de toda a história do videotexto



Escrito pela Alê Félix
2, dezembro, 2003
Compartilhe

Sobre o post abaixo, eu definitivamente mordo, mas não é todo dia… E respondi todos os comentários nos
próprios comentários. Tentarei fazer isso mais vezes. Eu sei, já prometi isso antes e não cumpri. Mas agora que
o destino decidiu que eu não devo ter filhos, terei mais tempo.
Ah, obrigada pelos parabéns. O aniversário tinha tudo pra ser um fracasso, mas foi bacana e eu ganhei presentes
familiares e simbólicos. Ganhei uma boneca dela
e uma palhacinha dela. Aos trinta anos e para
alguém resistente e metida a durona como eu, eles foram mais importantes do que vocês podem imaginar.



Escrito pela Alê Félix
1, dezembro, 2003
Compartilhe

Por que a maior parte das pessoas acha que eu sou nervosinha? Por que vocês pedem a minha autorização pra me
linkarem em seus blogs? Por que algumas pessoas têm medo das minhas possíveis reações? Por que é que quando eu
escrevo algumas coisas parece que eu estou brava quando na verdade só estou me divertindo? Por que é que todo
mundo que entra naquele chat e vê a minha foto acha que eu estou puta com alguma coisa?
Caralho, eu sou um doce! Não deu pra notar ainda? angry_smile.gif



Escrito pela Alê Félix
1, dezembro, 2003
Compartilhe