Eu tenho a impressão que leitores de blogs não existem. Desconfio disso há algum tempo, mas amanhã eu
escrevo sobre isto. Vou até a esquina procurar provas que comprovem minha teoria e já volto.
Fui.



Escrito pela Alê Félix
22, novembro, 2003
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Minha linha da vida me confunde – até hoje não consegui entender direito qual é a dela. Me parece curta
demais para um corpo que tem pretensões de viver pra sempre. Talvez seja por isso que optei por viver como se o
meu fim fosse sempre no dia seguinte. O Veríssimo, o filho, diria que um dia eu acerto. C’est la vie! Não
me importo. Enquanto eu vivo assim, tento fazer tudo que me der na veneta. Nada vai me prender tanto para que eu
fique para sempre. Era simples, agora não é mais. Estou na fase onde a linha está repleta de rupturas e, de
alguns anos para cá, tudo dói. O descomprometimento me causa uma tristeza quase uterina. É como se eu tivesse
dito “nãos” demais, como se pudesse ter a independência e todos os caprichos sob controle. Minha vida me traiu.
Minhas atitudes me distanciam de um passado recente e me acorrentam a épocas perdidas. Eu achava que, diferente,
não doeria. Engano, grande engano.
Caminhos simples distraem muito mais a mente. Dão a sensação de que há muito pra se viver. Gostaria de saber
onde foram parar minhas linhas do trabalho e da família. A ausência delas me encheu a vida de culpa e certezas.
Tornou-me uma alma solitária em um mundo onde ninguém deveria ser sozinho. Eu me perdi. E talvez esteja cega. Se
eu estiver, espero que seja pra sempre. Prefiro aprender a andar de olhos fechados do que passar a vida dando
cabeçadas e perceber, com o tempo, que eles sempre estiveram abertos. Maldita e breve linha da vida.
Minha sorte, veio traçada em anéis de Vênus. Dou graças por eles. Tanto na mão direita quanto na esquerda, devem
ser eles que me protegem dos finais tristes. Talvez eu não precisasse de dois. Vivo teimando em dividí-los. Mas
como dividir as marcas da minha existência? Guardarei meus anéis. Deve haver uma explicação pra eu ter nascido
com dois. Alguém deve ter achado que eu precisaria de sorte dobrada… Tomara. Não suporto a idéia de que eu
posso ter roubado um deles, na fila para o nascimento. Eu e a minha culpa, maldita culpa.
No mais, meu maior prazer é a minha profunda linha do coração. É para ela que eu gosto de olhar. Porque é só ela
que me oferece algum tipo de futuro. O resto, é só passado e uma mente imersa no caos.



Escrito pela Alê Félix
22, novembro, 2003
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Mande você também a sua história do primeiro beijo. Se ela foi uma nhéca mole que não vale a pena ser
contada, invente uma. Eu coloco aqui do mesmo jeito. 😉 Mas vê se manda por e-mail, não vá colocá-la nos
comentários porque perde a graça.


Meu primeiro beijo foi bem ridículo. Eu tinha 12 anos e estava sentada na portaria do meu prédio, quando o
Marcelinho, o menino mais bonitinho da rua chegou para falar comigo com um chocolate Bis na mão. Sentou nos
degraus ao meu lado e disse:
– Oi Carol, quer chocolate?
Eu estava com muita vergonha e não respondi nada. Só vi quando ele me puxou e me deu um beijão. Eu, que já sou
rosa, fiquei vermelha, quase roxa. Não sabia o que fazer com aquela linguona no meio da minha boca. Dei-lhe um
empurrão e corri pra casa.
Naquela noite, fui dormir sonhando com Marcelinho, apaixonada, pensando em um beijo totalmente desconjuntado. E,
no dia seguinte, meu pai me acordou perguntando:
– Que história é essa que o porteiro veio me contar que você estava namorando lá embaixo?
E a minha cara pra falar alguma coisa? Fiquei de castigo, mas nunca mais dei bandeira. Imagine se depois disso
ele fosse me colocar de castigo todas as vezes que eu beijei na boca? Eu hein!



Escrito por uma moça baiana cheia de apelidos e que mora em algum lugar entre o caminho das árvores. Para
saber um pouco mais sobre a Carol Eulalio, clique aqui.



Escrito pela Alê Félix
20, novembro, 2003
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O blog começa a lhe fazer mal quando…

  • As pessoas perguntam como foi seu dia e você diz para lerem no blog.
  • Deixa de sair com os amigos para ler comentários.
  • Cria um personagem fictício para comentar no próprio blog.
  • Comenta em vários blogs qualquer coisa, só para fazer propaganda do seu.
  • Dá reload no blog várias vezes para aumentar o número de visitas no contador.
  • Só escreve sobre assuntos que vão lhe render visitas através dos sites de busca.
  • Nunca leu um livro, mas acha que pode escrever alguns.
  • Acha que um dia pode concorrer à ABL.
  • Fica arrasado com críticas e nem consegue dormir.
  • Quando está com outras pessoas, só fala de blogs e posts.
  • Perde completamente a noção de privacidade, põe na banca as piores histórias da família e dos amigos e ainda
    dá nome, endereço e telefone de todo mundo.

  • Não consegue ficar um minuto sequer longe do micro.
  • Quando está longe, não vê a hora de voltar pra casa, conferir as estatísticas, os comentários e escrever
    sobre a sua preocupação em voltar logo para frente do micro.

  • Acha que as pessoas vão surtar se você deletar seu blog e desaparecer.
  • Passa o dia pensando no que postar.
  • Fica deprimido se não há o que escrever.
  • Fica deprimido porque ninguém comenta os seus posts.
  • Fica deprimido se o número de visitantes diminui.
  • Comemora sempre que o contador bate os números redondos.
  • Passa o dia fazendo propaganda do próprio site.
  • Quando entra em um banheiro público, deixa o endereço do blog atrás da porta.
  • Não agüenta nem ouvir falar a palavra blog.
  • Já pensou em tornar-se um serial killer de blogueiros.
  • Colocou uma foto no último post e não vê a hora de ser reconhecido nas ruas.
  • Os fotologs irão transformá-lo em um super astro.
  • Não desgruda mais da máquina fotográfica. Toda imagem vale um post.
  • Não vê a hora de acontecer um novo encontro de blogueiros.
  • Acha que é famoso.
  • Acha que é engraçado.
  • Acha que deveria receber pra escrever no blog.
  • Acha que sua vida vale um filme.
  • Acha que é escritor.
  • Acha que a sua vida é uma merda, mas que ficaria insuportável sem o blog.
  • Acha que é interessante e que suas histórias são impagáveis.
  • Transforma qualquer assunto besta em confusão só pra chamar atenção.
  • Acha que criticar tudo e todos é uma tática bastante original para o blog e você serem admirados.
  • Vive colocando seu nome e o do blog no Google pra ver quem escreveu sobre você.
  • Quando não tem nada para fazer, procura erros de português no blog dos outros.
  • Senta a boca nos comentários dos blogs populares só para ganhar notoriedade.
  • Sabe que tem um português sofrível, mas diz que não se importa e capricha nos erros.
  • Fica indignado ao ver que o seu blog não saiu nas indicações do No Mínimo, Globo, Blogger, Blig e outros.
  • Manda fazer cartões de visita com o endereço do blog.
  • Passa mais de oito horas por dia gerenciando o próprio blog.
  • Noventa e nove por cento dos seus amigos tem blog.
  • Seus últimos relacionamentos amorosos começaram via sistema de comentários.
  • Terminou o namoro via post.
  • Já pensou em pedir as contas do emprego para se dedicar mais ao blog.
  • Quando está com amigos blogueiros e tem uma idéia para um post, avisa logo: “Eu primeiro! Idéia minha! Post
    meu!”

  • Não perde a oportunidade de ser o primeiro a comentar um post.
  • Sempre que é o primeiro a comentar um post escreve: “Primeiroooooo!”
  • Só encontra seus amigos via ICQ, MSN…
  • Coloca no blog a foto de alguém que não é você, mas jura de pés juntos que é.
  • Quando viaja, não relaxa até achar um cyber café.
  • Fica de mau-humor quando o blog ou suas ferramentas saem do ar.
  • O Weblogger já te deixou de cama por três dias.
  • Anda de um lado para o outro quando o blog sai do ar.
  • Só se relaciona com blogueiros famosos e ignora qualquer um que tenha menos de cem visitas diárias.
  • Fica emocionado quando ganha um award e agradece como se tivesse ganhado o Oscar.
  • Você se informa das novidades pelo Top Links.
  • Anda na rua achando que todos sabem quem você é.
  • Verifica as estatísticas dos blogs antes de se dar ao trabalho de comentar.
  • Já namorou o(a) autor(a) de um blog popular só para ganhar um link.
  • Acha que um link no seu blog vale mais do que ouro em Serra Pelada.
  • Não linka ninguém porque acha que não há blog melhor que o seu.
  • Não linka ninguém porque não quer concorrência.
  • Linka todo mundo porque quer links de todo mundo.
  • Quando você dorme sonha com um template novo.
  • Coloca scripts para evitar que copiem seus textos e imagens utilizando o teclado e o botão direito do mouse.
  • Já pensou em colocar espaço para publicidade no blog.
  • O computador pifa e você pifa junto.
  • A internet fica lenta e você liga no provedor e xinga até a mãe dos atendentes.
  • Não suporta mais escrever no blog, mas não o deleta porque desaprendeu a viver sem comentários.
  • Você grita, se descabela e esmurra o computador quando expira o tempo de postagem e você perde um post
    inteirinho.

  • Seus últimos sonhos de consumo estão todos relacionados ao blog: notebook, câmera digital, webcam, speed…
  • Passa o dia atualizando o blog só para aparecer no Fresh Blogs.
  • Tem custos altíssimos para manter o blog como: domínio próprio, hospedagem, tráfego adicional, etc.
  • Quando está com amigos blogueiros fica calado para evitar que suas idéias sejam usadas por eles.
  • Já pensou em vender o blog, passar o ponto.
  • Pensa seriamente em colocar uma foto sua de nu frontal com o endereço do blog pra ver se ela vira spam e o
    sucesso te leva pra televisão, revistas…

  • Acha que o blog é a sua grande chance de tornar-se uma celebridade.
  • Mente descaradamente, mesmo com o contador aberto, sobre o seu número de visitas.
  • Mente descaradamente sobre o seu número de visitas e, pra não deixar rastro, desapareceu com o serviço
    aberto de estatística.

  • Copia descaradamente velhas idéias e espalha que elas são suas na maior cara de pau.
  • Deseja esganar um pescocinho quando vê que copiaram um texto e ignoraram a autoria (a propósito, este texto
    foi escrito por Alê Félix, do www.alefelix.com.br)

  • Encontra esta porcaria de texto, percebe que esqueceu de citar diversos malefícios causados pelo seu novo
    vicio, o atualiza e perde mais alguns minutos da sua vida postando no blog.


Escrito pela Alê Félix
19, novembro, 2003
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No videotexto, qualquer conversa limitava-se ao uso das palavras. O monitor de tela verde e a conexão de
1200 bps só nos permitia sonhar com imagens descritas, nada além disso.
Provocar um homem significava estimular a sua imaginação e a sua inteligência, o que transformou a experiência
do sexo virtual em conversas que duraram, no máximo, um minuto e meio. Não demorou muito para que eu percebesse
que, ao contrário dos rapazes, eu precisava de preliminares virtuais. Era querer demais, já que muitos deles não
sabiam como uma mulher funcionava nem se estivesse ao lado dela.
Só de vingança, decidi desmascará-los. Entrei com um apelido provocante e diferente do habitual e comecei a
conversar somente com aqueles que eu sabia que freqüentavam os encontros do videotexto. Eu nunca havia ido em
um, mas sabia quem ia e decidi testá-los.
Falar sobre sexo protegida pelo anonimato, me permitia saber o quão imbecis ou interessantes eles eram mas, mais
do que um teste, a brincadeira foi, acima de tudo, divertida.
Homens são definitivamente os bichos mais abestalhados da face da Terra. A mulher pode ser a maior baranga,
dizer que é baranga, mas basta escrever diferente para os trouxas se abrirem como malas velhas. Era patético!
Tudo que eu escrevia podia ter um milhão de interpretações, mas mesmo assim eles babavam. Pena que eu não tinha
nem paciência, nem tesão por homens bobões – teria rido o dobro.
No meio de tantos abobados, um moço auto-apelidado como “Locutor”, se mantinha interessado em saber quem eu era
sem me interrogar sobre como eu estava vestida. Engraçado e bem articulado, ignorei todos os outros chamados e
lhe dediquei exclusiva atenção. Não sei o que me deu. Passamos horas conversando; o dia estava quase amanhecendo
e nada de fazermos as perguntas básicas como idade, descrição física, estado civil e todas essas coisas. Quando
pensei sobre isso, pedi que ele me ligasse.
– Acho que eu estou com um metro e oitenta e sete de altura…
Ele não precisava mais dizer muita coisa, mas falou. Depois de ter escrito horas sem cometer erros gritantes de
português e nem usado as abreviações ridículas que eu odiava, ele me dava sua descrição ao pé do ouvido. Loiro,
cabelo comprido, olhos verdes, nem gordo nem magro, dezoito anos e uma voz de tirar o fôlego. Era um ano mais
novo que eu, mas tinha quase um metro e noventa. Desliguei o telefone ao mesmo tempo que um raio de sol
atravessava a janela e o galo da vizinha cantava. Minha boca, involuntariamente, escancarava um sorriso de um
canto ao outro do rosto. Eu estava apaixonada e aquilo era tudo que eu precisava pra me livrar do ex e do noivo.
———————>> Continua.
Clique aqui para ler o Post I – O
começo de toda a história do videotexto



Escrito pela Alê Félix
18, novembro, 2003
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De todas as palavras e frases jogadas no grande oráculo, a que eu mais gostei foi colocada hoje. Alguém
perguntou:
– Google, quero saber tudo sobre amores eternos.
E ele respondeu:
– Amarula com Sucrilhos, primeira página, segunda opção.
Não sei se a pessoa encontrou o que procurava, mas pensando bem, é só disso que a minha vida é composta. E,
ultimamente, é só sobre isso que eu tenho vontade de escrever. O resto parece bobagem.



Escrito pela Alê Félix
17, novembro, 2003
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Vestido de noiva? Não. Definitivamente aquilo não estava nos meus planos. Eu sei que existem modelos lindos,
mas estávamos falando de um com gola e mangas bufantes, manequim 38. Minha bunda, nem por um milagre, entraria
naquilo e a belezura da minha futura sogra queria que eu o reformasse e desse um jeito de usá-lo. Eu tentei ser
educada, mas foi impossível.
– A senhora tem dois?
– Dois o quê?
– Dois vestidos de noiva.
– Como assim?
– Vou precisar de dois modelos como este para fazer um pra mim. Se bem que, se a gente tirar a gola e arrancar
as mangas, talvez dê pra aumentar a parte do quadril. O que a senhora acha?
Declaramos guerra…
– Não acho que seja necessário.
– E eu não acho necessário me casar vestida.
Foi um ato falho. Sou obrigada a confessar que a frase era outra.
– Pretende entrar nua na igreja?
– Nua, de véu, grinalda e buquê.
Eu poderia ter corrigido, mas guerra é guerra. Foi ela quem começou. Falei sério. Eu jamais me casaria peladona,
mas aproveitei os atropelos verbais e mantive a conversa no nível que ela queria.
– Ótimo! Sua nudez requer tanta dieta quanto o que seria necessário para você entrar no meu manequim.
Eu dei risada. Dou risada quando fico indignada ou nervosa. É incontrolável.
– Dona Clara…
Respirei fundo e parei de rir.
– … acho que eu preciso comunicá-la que eu gosto do meu corpo do jeito que ele está. Preciso avisá-la também
que não farei nada nos próximos meses para diminuir o tamanho da minha bunda 46. Primeiro, porque o limite dela
é 42 e eu não pratico auto-mutilação. Segundo, porque o seu filho ficaria decepcionado. Eu gosto do meu corpo,
gosto de verdade, mas o seu filho morreria por ele.
Foi a coisa mais arrogante e mentirosa que eu já disse em toda a minha vida, mas foi, de longe, a melhor. Ela
perdeu a voz e eu só não saí daquela casa batendo portas, porque fui salva pela aparição do Rodrigo. Ainda bem!
Eu só queria ir pra casa, me enfiar debaixo das cobertas e repensar minha vida. Me despedi dos convidados do
jeito mais educado que mamãe me ensinou, dei desculpas de boa moça, sorri até doer as bochechas, fechei a cara
para o Rodrigo e entrei no carro.
– O que você e a minha mãe conversaram?
– Ela quer que eu me vista de bolo no dia do casamento.
Ele ficou em silêncio…
– Eu não caso de vestido de noiva de jeito nenhum!
– E você pretende vestir o quê? Uma manta hippie?
Era um casamento condenado ao fracasso! Talvez, como qualquer outro, mas aquele cheirava cada vez pior.
– Alê, eu te adoro! O que você quer com esse tipo de discussão?
Eu fiquei em silêncio…
– Alê, olha pra mim. A gente não tem muito tempo pra discutir essas coisas. Eu quero casar em paz, ter
filhos…
– Manta hippie? Manta hippie? Quem você acha que eu sou? Só porque eu tenho uma ou duas peças de roupa como esta
você acha o quê? O que você sabe sobre mim? O que você sabe sobre hippies?
– Não é nada disso…
– Nem vestido de noiva, nem filhos! Me adora? Então deveria saber que estes eram itens que estavam fora da minha
lista de presentes.
Saí do carro e bati a porta. Eu estava ficando boa em fechar portas. Ele abriu a janela e tentou dizer alguma
coisa que eu não entendi. Ignorei. Eu não o entendia nunca e era recíproco. Nossa sorte era sabermos brigar.
– Outra coisa: se nos seus planos estava vestir-se de pingüim, esqueça! Ou você esquece, ou terá uma noiva com
um nariz de palhaço entrando na…
Por que é que eu não pensei em todos os detalhes antes de dizer sim só pra pirraçar o ex?
-… entrando em algum lugar que tenha porta, passarela ou qualquer coisa parecida!
– Uma igreja! É este o nome do lugar onde as pessoas casam!
– Nem morta!
Cheguei arrasada em casa. Gorda e mal vestida. Era assim que eu me sentia. Dei a melhor resposta da minha vida,
mas as palavras da senhora minha sogra e meu futuro marido me tiraram o sossego. Onze horas da noite, dias
horríveis e agora aquela história de casamento.
Pensei em dar uma volta, arejar a cabeça e procurar os amigos, mas estava me sentindo um lixo. Sem sono e ainda
com resquícios de ódio a manequim 38, decidi ligar o videotexto e me divertir um pouco.
– Sexo virtual… isso deve ser divertido!
———————>> Continua.
Clique aqui para ler o Post I – O
começo de toda a história do videotexto



Escrito pela Alê Félix
15, novembro, 2003
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Foi a Aruska, nossa dobermann de estimação. Ela não era violenta como diziam que os dobermanns eram, mas não
podia ver ninguém da minha família correndo perigo que atacava. Eu jurava que ela estava presa! A danada veio de
mansinho, aproximou-se de nós, viu aquela atracada de bocas e só avançou quando já estava bem próxima. Enorme e
forte, seu golpe foi certeiro. Suas patas me derrubaram e seus dentes abocanharam um teco da mão do Murilo. Deu
pra ver a marca dos dentes dela – alguns chegaram até a perfurar a carne. Sangrou um pouco e não foi possível
socorrê-lo. Antes que eu pudesse pensar em um curativo, ouvimos o chamado do meu pai. Ele acordou com um
barulho, viu que estávamos na garagem e soltou a Aruska. Ouvimos os passos dele se aproximando do portão e, como
os meninos tinham mais medo do meu pai do que da cachorra, deram no pé antes mesmo que eu os avisasse. Foi o
tempo certo do Murilo sussurrar…
– Te vejo amanhã?
– Eu passo na tua casa.
… e desaparecer.
Eu e a Marilu, despistamos meu pai com um papo furado de que haviam pessoas na rua à procura dos meteoros. Ele
olhou para o céu – o tempo fechado – não quis saber de conversa – ordenou que entrássemos e fossemos dormir.
Bem que tentamos adormecer, mas como dormir depois de um dia como aquele?
A Marilu com a cabeça no mundo da lua por causa do Kiko e eu dando um certo “graças a deus” por aquele beijo
trágico e breve. Por um lado, como não deu tempo, eu não precisava me preocupar se ele havia percebido ou não
que eu não sabia beijar. Por outro, eu ainda me sentia sem saber o gosto que aquela experiência tinha.
– Ele te beijou?
– Mais ou menos…
– Até a Aruska beijou o Murilo antes de você…
– Isso! Ria, ria da minha vida antes que eu ria da sua. Quero ver você rir depois que eu contar para o Kiko que
você abestalhou depois que o conheceu.
– Se você contar eu te mato!
– Deus, obrigada! Nunca imaginei que um dia você fosse ficar vulnerável, Marilu. Bendita a hora que eu te
apresentei o Kiko.
– Aí, nem me fala! Essa merda dói…
– É eu sei…
– Sabe nada! Não acho que você seja apaixonada pelo Murilo.
– Acho que não sou mesmo. Quando ele está longe, eu acho que eu gosto; quando ele está perto, eu tenho vontade
de desaparecer.
– Alê, vê lá o que você vai aprontar! Ele terminou com a namorada por sua causa.
– Ah, ele tinha uma namorada em cada esquina!
– Mas não está com mais ninguém. Se você não queria nada com ele, não deveria ter enrolado até agora.
– Não é que eu não queira… Eu não me sinto segura ao lado dele. Fico estranha. Não é uma sensação boa. Às
vezes é bom, mas quase sempre é ruim. Entende?
– Não. E não quero nem ver onde isso vai dar.
– Não vou terminar com ele. Nem sequer começamos…
– Combinaram alguma coisa para o fim de semana?
– Mais ou menos. Pensei em ir até o MAM terminar um trabalho escolar amanhã. Acho que vou chamá-lo para ir
comigo.
– MAM? Museu de Arte Moderna?
– É. Por quê o espanto?
– Cada programa que você arranja para fazer com o namorado… Já ouviu falar em cinema? Playcenter? Praça Pôr
do sol? Qualquer outro lugar que não envolva a escola?
– E quem disse que é um programa para namorados? Vou eu, ele e você.
– De jeito nenhum!
– Por favor! Preciso que você vá, caso contrário não tenho nem como sair de casa.
– Ah, não! Pelo amor de deus, Alê!
– Custa, Marilu? Por favor… eu faço qualquer coisa que você quiser.
– Não.
– Te dou este caderno de recordações, novinho em folha.
– Não gosto dessas bobeiras.
– Minha carteira da OP!
– Marca, éca!
– Qualquer um dos meus cartuchos do Atari.
– Pac-man?
– Pode ser.
– Não, obrigada.
– Convido o Kiko pra ir com a gente!
Um sorriso de um canto ao outro abriu no rosto dela.
– A que horas mesmo?

———-> Continua



Escrito pela Alê Félix
13, novembro, 2003
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