Há muitos anos eu trabalho em casa e, até muito pouco tempo, isto me incomodava bastante. Achava que pessoas, como eu, que trabalhavam fora de um
escritório cheio de lantejoulas podiam parecer amadoras, menos capazes… entre outras crenças que a pressão das aparências e dos velhos conceitos
sobre bons empregos ainda geram nas nossas cabeças. Levei muito tempo para relaxar e perceber que eu adoro trabalhar em casa e que tudo que eu faço
brincando, eu faço melhor. Desde então, não admito que me peçam para fazer diferente.
Adoro acordar e passar o dia de pijama no meu escritoriozinho doméstico. Atender o telefone sem fio esticada no sofá nos dias de bode, bater papo com
os amigos pelo ICQ entre a resolução de um ou outro problema, ler os livros que nos enviam tomando sol na varanda e poder mandar tudo à merda no meio
do dia sem ter que dar explicações ou agüentar caras feias. Adoro falar de trabalho só com hora marcada ou por telefone, o muro da minha casa me
preserva dos desgastes diários de relacionamento. Adoro não ter horários, não receber ordens e não ter que dá-las.
Num mundo imbecil, onde a maior parte das pessoas, ricas ou pobres, só pensa em dinheiro e fama, me sinto cada dia mais feliz com a minha vidinha
simples, barata e livre. O dia de amanhã eu não sei, mas hoje ela me satisfaz e é isto que importa. Conheço poucos pensamentos mais castradores do
que aqueles que levam à aposentadoria.
Mesmo em paz com meus ofícios, sinto que algumas coisas ainda precisam ser resolvidas. O conforto de ter um escritório a alguns segundos da minha
cama é uma dádiva em muitos momentos, mas às vezes me causa alguns aborrecimentos porque acabo trabalhando e confiando mais do que deveria.
Um dia desses, dando uma entrevista pelo telefone, a jornalista questionou o possível crescimento da editora. Eu respondi que não quero que ela
cresça, não do jeito que estamos acostumados a ver empresas crescerem. Eu já dizia isto para os amigos e familiares, mas quando disse a ela, tive
certeza de que era realmente o que eu queria. É que esta é uma questão que se torna um paradoxo quando se nasce pobre. Quando nascemos pobres
acreditamos que o trabalho serve pra gente subir na vida, por isto precisei de alguns anos pra compreender que não queria subir pra porra de lugar
algum. Meu trabalho não é a minha vida, só preciso que ele alimente-a. E quando digo isto, quero dizer que ele não passa da ferramenta que eu escolhi
pra não depender de caridade.
Há pouquíssimo tempo eu era obcecada por trabalho, mas não voltarei a ser. Acho deprimente viver pra trabalhar, transformar o trabalho no que há de
mais importante. É, no mínimo, muito pouco criativo, seja ele qual for.
Não quero funcionários, não quero uma carga tributária mais complexa e menos justa do que a que eu sou obrigada a pagar, não quero trabalhar com
pessoas que eu não gosto e não confio, não quero ser patrão, não quero ser empregado, não quero sacanear pessoas para conquistar meus objetivos, não
quero fazer balancetes no final do mês, não quero pagar propina, não quero participar das máfias, das tribos, nem da massa.
Gosto de saber que minha única funcionária fixa é uma pessoa que fica puta comigo se eu passo mais de uma semana com a cara amarrada e que penso na
vida dela como se fosse a minha, porque sei que, bem ou mal, ela depende de mim e eu dependo dela. Gosto de saber que muitos dos meus amigos
participam dos projetos profissionais que eu me enfio e que muitos dos que não são amigos podem se tornar. Definitivamente não trabalho com gente
cretina, não pago mais micos do que o extremamente necessário e não trabalho mais do que vivo. Isso nunca fez bem pra minha alma, nem para o meu
humor.
Preciso de diversão e prazer, tanto ou mais do que de dinheiro, para sobreviver. E isto não é um luxo; é uma escolha. Uma dura escolha que exige
atenção constante e trabalho dobrado, mas outro tipo de trabalho. O trabalho de pensar diariamente sobre o que você quer e o que não quer para sua
vida, o trabalho de dar bananas ao invés de distrair-se correndo atrás de cenouras.



Escrito pela Alê Félix
11, julho, 2003
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Não me importo com a estrada que escolhi porque me sinto à vontade para virar à direita, à esquerda ou fazer retornos, quantos retornos eu
quiser, porque tanto faz olhar para trás, para frente ou para os lados, o azul do céu estará sempre escapando pelos vãos dos meus dedos, mas sempre
nas minhas mãos.
Quem rabisca o meu destino sou eu e os riscos do meu caminho não se parecem com uma linha reta, porque eu vivo embriagada da vida. Mas que diacho de
pensamento é esse? Que linha? Que caminho? Que estrada, se eu mal sinto meus pés no chão?
estrada.jpg



Escrito pela Alê Félix
10, julho, 2003
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Uma coisa é não ir com a cara do bichano outra coisa é maltratá-lo. Controlem-se e deixem de se exaltar antes que alguém denuncie este blog ao Ibama.
Logo eu, que espanto pernilongos assoprando-os porque tenho dó de espantá-los no tabefe. Eu só não gosto de gatinhos pendurados no meu pescoço,
desfiando minhas roupas ou me lambendo. Tenho uma boa lista de seres e coisas que eu não gosto, mas nada tanto e por tanto tempo assim. Pensando bem
eles são até interessantes, desde que eu cá, eles lá.



Escrito pela Alê Félix
10, julho, 2003
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Eu odeio mudanças! Não as da vida, as da vida são bem-vindas porque quando elas são boas me fazem rir à toa e, quando são ruins, me fazem rir
depois de algum tempo. Agora, mudança de provedor… que porca miséria! Eu não aguento mais tantas migrações virtuais. Decidi que quero ficar
milionária, de uma vez por todas, só pra chamar um homem da Granero que carregue todos os meus arquivos de um lado para o outro enquanto eu tomo sol
em uma ilha qualquer do Caribe.
E olha que eu reclamo de barriga cheia! Recebi ajuda de todos os lados: A Lia, minha
protegida e agora sócia, me fez um template. O Jaime meu amigo, ex-sócio e novo sócio em um novo projeto, instalou o Movable Type, fez a migração, me suportou e me deu suporte.
O Marco, nosso querido Marco de cada dia nos dai hoje, cedeu generosamente a base do
seu template. (A senha e o login do JMC estão sendo negociados por e-mail. Mandem
suas ofertas!). O Lambreta, meu futuro parceiro de tirinhas e cartunista da casa, desenhou
meu elefantinho de estimação que ficou no servidor do blogger, mas que deverá vir pra cá no futuro.
E o maridon… ai, ai o maridon. Maridon apagou o gato do Botero, meteu uma canga na gordutcha, aumentou a parede, fez botões, arrumou meus
comentários, aprendeu a mexer no movable type só pra me ajudar, aguentou meu humor instável, me deu aulas de física e matemática enquanto eu tentava
mexer no photoshop e ainda arranjava tempo pra dizer que os peitos da gordinha do Botero não faziam jus aos meus… (Palavras do maridon. Longe de
mim, fazer propaganda enganosa no meu próprio blog.)
Às vezes eu acho que não mereço os amigos e o maridon que eu tenho. Porque, mesmo depois de tanta ajuda, eu ainda tenho coragem de dizer que preciso
do homem da granero, caribenhos, dinheiro…

granero1.jpg
Me disseram que nínguém por aqui se lembraria do velho comercial da Granero. Aquele do “manhêêê, o homem da Granero chegou!”. Claro que lembram…
Mas será possível que só pirralhos visitam este blog? 🙂



Escrito pela Alê Félix
8, julho, 2003
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Aissiquiu
Valdirene queria vingança, nada além da mais pura e saborosa vingança.
– Não é possível que aquele cachorro-cretino-canalha passasse tantas horas grudado no micro atrás de mulheres sem que eu percebesse! Um sem
vergonha! Um mau-caráter! Como pôde me enganar durante todos estes anos? “Estou trabalhando, estou trabalhando, estou trabalhando… ”
Mentiroso-cara-de-pau! Dinheiro que é bom, nada! Mas eu juro, Clotilde… Ele pagará com sangue a humilhação que estou vivendo!
Diante do espelho do banheiro do shopping, sua expressão era a de uma demônia pronta para tirar a vida do marido traidor. A amiga, preocupada, botava
panos quentes:
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Escrito pela Alê Félix
5, julho, 2003
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Eu devia ter dito “não”, mas tudo aconteceu tão rápido… E também não era justo que os meus medos resistissem ao azul calcinha dos olhos daquele
menino. Além do mais, no momento que o Ivo me contou que o Murilo queria me namorar, todo o meu desprezo por ele se transformou em uma paixonite
desenfreada.
Apaixonar-se tão facilmente e com tamanha intensidade é um privilégio dos imaturos e, naquela época, eu me apaixonava e desapaixonava por pessoas e
por coisas no espaço de tempo que separava o fim de uma tarde dos raios de sol do dia seguinte. Pode parecer coisa de gente mimada, mas esses surtos
de paixão ainda me cheiram a presentes que a vida nos dá e, durante anos, tive muito medo de que um dia eu deixasse de senti-los.
Achava que envelhecer trazia responsabilidades suficientes para ignorarmos as necessidades e tempestades do coração. Hoje em dia, acho que isto só
acontece com quem tenta se proteger do lado emocional da vida ou com aqueles que acabam matando de uma vez por todas o adolescente que já foi. Não
digo que seja necessário arrastar toda a adolescência para a fase adulta, seria uma imbecilidade. Mas um pouquinho da sua essência precisa ficar. Se
o pirralho que existe dentro de nós vai embora, nosso brilho vai junto e a falta desta energia pode transformar os anos de qualquer ser humano em um
verdadeiro tédio.
Sete dias pra dar uma resposta! Onde eu estava com a cabeça? A ansiedade me fazia contar cada segundo. Desconheço sensação pior do que a de esperar
que algo aconteça. Minha pouca idade só me dava bagagem para ficar aflita. E no auge do meu desespero, tive uma idéia que me fez tirar os olhos do
ponteiro do relógio. Uma idéia que me fez crer que o melhor remédio para a ansiedade feminina é a indústria da beleza. Basta ver para onde vão as
mulheres na iminência dos grandes acontecimentos de suas vidas.
Achei que seria um abuso pedir dinheiro aos meus pais para ir a um salão de beleza, por isto transformei meu quarto em uma clínica de estética
caseira. Foram dias de exercícios físicos e dietas absurdas, máscaras faciais à base de gema de ovo, açúcar e suco de limão (como se eu precisasse
disso aos treze anos), dormi todos os dias com algodões umedecidos de chá de camomila nos olhos para evitar pés de galinha e olheiras (como se alguém
precisasse disso aos treze anos), fiz vários preparados de babosa na tentativa de ver as madeixas mais compridas (como se o comprimento do meu cabelo
fosse esclarecer as dúvidas que brotavam na minha mente) e ouvi música, muita música, no máximo do volume que Clique aqui para ler o Post I – A saga do primeiro beijo.



Escrito pela Alê Félix
1, julho, 2003
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