Eu sempre gostei de homens altos. Nunca me importei se eram loiros, negros, morenos, ruivos ou a cor que fosse, contanto que fossem grandes. Hoje não
é uma regra, mas já foi. E foi uma regra tão clara que precisou de um belo espécime de estatura baixa para me convencer a praticar a flexibilidade.
Eu tinha quinze anos e ele, além de ser meio palmo mais baixo do que eu, era o cara mais narigudo da face da terra. Desses que a escola inteira tira
sarro, ouve sempre as mesmas piadas imbecis e ainda ri da falta de criatividade dos que precisam desesperadamente comentar os detalhes que fogem dos
moldes sociais. Sabem como é? Devem saber. Todo mundo já cruzou uma figura dessas na vida. O mundo está repleto de babacas loucos para manifestarem a
sua preciosa opinião sobre o rabo do outro.
Pois muito bem… Um belo dia, como sou dada a uma boa conversa, descobri que este rapaz – o baixinho narigudo – era simplesmente o charme em pessoa.
Ao contrário da maior parte dos garotos de quinze anos, ele era agradável, sedutor e observador. Um Dom Juan capaz de deixar qualquer garota babando
depois de algumas horas de conversa. Infelizmente, o descobri tarde. Talvez por influência das malditas piadas dedicadas a ele. Mas, como eu sempre
dizia, antes tarde do que sem a história e acabei aceitando o convite para estudarmos matemática no fim de semana.
Depois de um trabalho escolar exaustivo, eu estava de queixo caído com a inteligência do menino. Pensei em ir embora antes que eu começasse a dar
bandeira do meu interesse, mas não teve jeito. Aceitei mais um convite. O inusitado convite para ajudá-lo a lavar o carro da família.
Rimos, desperdiçamos água, sabão e tempo. Ouvi U2 com menos resistência, dividimos teorias e nos divertimos com histórias infantis. No final, com o
carro lavado, encerado e guardado na garagem. Ele delicadamente me convenceu a continuarmos o bate-papo e a audição das fitas dentro do carro. Foi um
fim de tarde tão agradável que, quando eu vi, estava completamente envolvida pela lábia, beijos, abraços e nariz… que nariz!
– Como é que os garotos da escola podem falar tanto de você?
– Eu não me importo. Deixei de me importar no dia que eu percebi que as pessoas falam dos outros para que ninguém fale delas.
– Mas não te incomoda?
– Não, não mais. Quando eu era pequeno foi difícil. Precisei bater e apanhar muito na escola para entender essa perversidade que existe dentro da
gente. Hoje em dia é quase um elogio… O cara primeiro tenta denegrir a minha imagem com um papo besta de nariz, depois ele tem que engolir o fato
de que, mesmo ele se achando melhor do que eu, minha vida é muito melhor que a dele.
Daquele dia adiante, passei a olhar a beleza por um outro prisma. E toda vez que lembrava dele, pensava como suas características físicas foram
importantes para que ele se tornasse o homem que se tornou. Seu charme, inteligência e precocidade operaram milagres em algumas mentes fúteis. Lista
na qual eu me incluo com orgulho e saudade. Saudade de um Cyrano de Bergerac que nasceu sob medida para mulheres que aprenderam a desfrutar da sua
compainha. A pouca altura e o excesso de nariz fizeram com que ele desenvolvesse a perfeição que, provavelmente, não existiria se ele tivesse nascido
perfeito.



Postado por:Alê Félix
29/05/2003
3 Comentários
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camila

dezembro 28th, 2003 às 21:22

AMEI ESSA HISTORIA.. PIOR QUE TUDO É VERDADE.. QUANDO A PESSOA É BONITA. ELA NAUM SE PREOCUPA COM O RESTANTE… JAH QUE NAUM PRECISA MOSTRAR OUTROS
“DONS”..
🙂


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André Stern

junho 13th, 2004 às 17:31

ESSE post foi demais… tá certo que só li por causa do link no de hoje, mas a conclusão que você deu… fantástico
vou parar de dizer que sou fã para o sucesso não subir à cabeça 😉


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guilherme

junho 17th, 2004 às 14:58

ahhh esse texto tb foi bonito


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