– Cadu? Oi, é a Shirley…
– Shirley? O que foi que aconteceu?
– Calma Cadu! Eu nem falei nada… você está bem?
– Aconteceu alguma coisa com a Alessandra? Ela foi atrás do flash, não foi?
Minha irmã prendia o nariz com os dedos pra não rir. Ele devia estar tão preocupado com o que tinha acontecido na noite anterior, que ela não
resistiu.
– Olha, eu acho que está tudo bem. É que eu estou sozinha em casa, minha mãe ligou e está com ela no hospital.
– Hospital?
– É… ela foi pegar o dinheiro de volta, teve um tiroteio na favela e levaram ela de ambulância para o hospi… Cadu? Cadu? Você está aí? Cacete,
não tem ninguém no telefone!
Peguei o telefone da mão dela. O telefone estava mudo, ninguém respondia. Desliguei.
– Como assim? O que ele disse? O que você falou?
– O que eu falei? Tá louca? Você ouviu o que eu falei! Será que ele desmaiou? É um tonto esse seu namorado, hein? Que cabeça de jerico!
– Ele é um amor, não fala mal dele! Mas… puta-que-o-pariu, Shirley! E agora?
Por um momento, ficamos as duas rindo desesperadas, sem saber o que fazer. Ligávamos para a casa dele e só dava ocupado. O telefone estaria fora do
gancho? Sem saber que atitude tomar, tivemos a brilhante idéia de ligar pra uma vizinha que pudesse nos ajudar. Graças ao serviço de auxílio à lista,
encontramos um nome conhecido. Minha irmã ligou.
– Alô. Por favor a dona Eulália?
– Ela mesma.
– Oi, é a Shirley que está falando, irmã da Alessandra.
– Ah! Shirley do céu! O que aconteceu com a sua irmã?
– Até a senhora já sabe?
A Shirley jogou a mão sobre a testa. Como ela não entendia meus sinais, comecei a sussurrar: – Pede pra ela avisar que o telefone está fora do
gancho. – Levei um pontapé.
– Então dona Eulália, eu estava falando com o Cadu e ele esqueceu o telefone fora do gancho…
– Ah, mas ele ficou tão aflito que saiu cego à procura de um táxi.
– Saiu? Táxi?
– O quê? O quê? – Grudei o ouvido no aparelho. Precisava ouvir o que a vizinha dizia.
– O carro dele está com o Papo (o pai). Ele saiu correndo atrás de um táxi e está indo pra sua casa.
– Ahnnnnn! Mas…e agora? Ele é louco?
– Não fala que é mentira. – Ajoelhei e implorei, grudada nas pernas da minha irmã. Ela deu um croque na minha cabeça e me empurrou com a perna.
– Dona Eulália, faz tempo que ele saiu?
– Nem cinco minutos. Foi todo mundo com ele! A Marisa (a mãe), a Daniela (a irmã), o Bênio (o irmão) e a Fifi (a poodle preta).
– Até a Fifi?
– Eles saíram com tanta pressa que levaram a cachorra junto. Olha, me dá noticias da Alessandra assim que ela voltar do hospital, viu?
– Claro… ligo sim. Um beijo pra senhora.
Ela desligou o telefone e ficou olhando pra minha cara.
– Lascou! E agora?
– Como é que aquele louco do seu namorado faz um negócio desses?
– Ai, chega! A gente precisa pensar em uma solução. Daqui no máximo a uma hora eles estarão aqui.
– A gente uma ova! Problema seu. Vou dizer que você me obrigou e não quero nem saber. Vire-se, cada um com seus problemas.
– Eu faço tudo que você quiser se você me ajudar a sair dessa.
– Meu! A hora que a mamãe chegar e souber essa história ela vai matar a gente!
– Puta-que-o-pariu! Esqueci da mamãe!
– O que é que tem a mamãe?
Parada na porta da sala com pose de açucareiro, o tom de voz da minha mãe prometia várias chineladas. Explicar o ocorrido não seria nada fácil.
Continua…



Postado por:Alê Félix
01/04/2003
Comentários desativados em Primeiro de abril do mal (parte II) Comentários
Compartilhe

Comments are closed.