Minha escolha por um time de futebol é anterior a minha própria capacidade de lembrar dos fatos. Meu bisavô
Alfredo, corintiano fanático da zona leste de São Paulo, tinha poucos prazeres acima daqueles que o seu clube lhe
proporcionava. Viu a fundação do clube quando garoto, assistiu aos primeiros jogos, as primeiras vitórias e
doutrinou os filhos, netos e a primeira bisneta na paixão pelo futebol e pela camisa do Corinthians.
Eu tinha uns dois anos de idade quando ele começou a me ensinar o nome do time que eu deveria torcer. Eu não lembro
disso, obvio. Mas é o que me contam até hoje. Como boa bisneta que fui, adotei pra mim o time que o bisa queria.
Cresci corintiana em uma família insandecida por futebol. Minhas lembranças vão desde passar os fins de semana com
toda a família reunida assistindo aos jogos pela TV até acompanhar meus irmãos nos jogos de futebol de salão. Um
deles quase jogou no São Paulo, e até hoje, não entendi porque não deu certo. Ele jogava pra cacete! Mas foi melhor
assim. Pensando bem, se tivesse acontecido, estaríamos todos enfartados.
Tenho uma avó de 90 anos, que não enxerga muito bem, não ouve direito, anda com dificuldade e confunde meu pai (que
é seu filho) com um irmão que ela tinha e que já morreu. No entanto, é uma palmeirense como poucas, sabe o nome de
todos os jogadores atuais, os dias dos jogos. Ouve, no radinho de pilha, todas as partidas do time do coração que já
não bate com tanto vigor. Sabe, por mais incrível que pareça, o nome dos árbitros, dos bandeirinhas e não perde um
Mesa Redonda. É em dia de jogo que a vó volta a ser uma menina e que vibra e se emociona.
Liguei agora para minha avó para ver como ela estava. Ver o Palmeiras ser rebaixado jogando contra o Vitória não
deve ter sido fácil. Ela não quis atender, pediu para o meu tio avisar a todos que ligassem que ela só atenderia ao
telefone se fosse para conversar sobre boas noticias. De partir o coração…
Eu, mesmo corintiana, não queria perder o nosso arquiinimigo. É o mesmo que o Super Homem ficar sem o Lex Lutor ou o
Homem Aranha sem o Duende Verde. O que será da Gaviões sem a Mancha Verde? Que graça terão as finais contra o São
Paulo?
No final das contas, quase acabei chorando junto com os torcedores palmeirenses.



Postado por:Alê Félix
17/11/2002
1 Comentários
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juan jose

março 17th, 2005 às 12:18

licores


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