Dia desses fui em um chá de panela de uma amiga nova. Amiga de namorado. Dessas que a gente sabe que sempre será amiga pela metade porque ele a conheceu primeiro. Mas eu me esforço nesses casos… Deve estar no meu DNA gostar do pacote completo. Nunca consegui me apaixonar por uma pessoa somente. Tenho que namorar a familia, os amigos, preciso gostar do lugar que lhe pertence. Foi assim que eu aprendi a gostar de uma cidade que tem mais contras do que prós, foi assim que me surpreendi com portas fechadas, mas tentei compreender sorrisos de histórias dificeis, foi assim que chorei numa brincadeira de barbante…
Aconteceu que a amiga nova se tornou muito querida em pouco tempo, sabe? Talvez por ela ser corajosa, simpatica, franca… Uma boa garota, dessas que atravessa qualquer estado em busca de uma história melhor. Dessas que não tem medo de gente.
E lá estava eu, depois de ter perdido meu melhor amigo e cruzado o país pra chorar mais um pouco, bem no meio de uma reunião entre os melhores amigos dela e agregados (como eu) a tiracolo.
A idéia era fazer uma roda, enrolar um pedaço de barbante entre os dedos e contar histórias. Não, eu não tinha nada pra contar. Mas meu pedaço era grande e comecei a falar sem saber direito o que dizer, e… E comecei a chorar. Chorei por perceber que meu jeito fez minhas relações serem mais superficiais do que eu gostaria, chorei por não ter mais uma casa cheia, chorei pela amizade da amiga nova que partia sem histórias pra gente contar. Enrolei, falei que sentia muito o fato dela partir enquanto eu chegava e me senti ridicula. Chorando eu gaguejo, soluço, faço caretas horrorosas e não falo coisa com coisa. Devem ter achado que eu tinha problema. Ninguém entendeu porque uma semi-desconhecida sentia tanto aquela despedida. Eu queria ter dito que eram lágrimas de quem sabe o quanto é dificil abrir mão, sabe? Queria ter dito que estava chorando por saber que sou uma péssima amiga mesmo quando pareço rodeada de gente querida, e que a admirava muito por ter construido relações tão verdadeiras. Não consegui. Eu nunca consigo dizer o que quero e o que sinto.
Ela foi embora, eu fiquei mais um pouco, voltei, fui, estou sem bussola. Com asas, mas ainda sem um norte que me dê a certeza de que encontrei uma casa que eu possa abrir para os amigos construirem histórias ao meu lado e mais uma familia que eu possa chamar de minha.



Escrito pela Alê Félix
29, março, 2007
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Queria ter sido só amiga dos meus ex. Se eu pudesse voltar atrás, não teria namorado nenhum deles. Não pelas coisas ruins, bem longe disso… Digo que não namoraria porque não queria que a falta de beijo se transformasse em distância. São meninos que falo até hoje, mas é um falar tão superficial que me faz carregar um rastro de tristeza toda vez que me despeço. Ligamos nos aniversários, somos simpáticos e gentis, vez ou outra espiamos nossos perfis sem deixar recado, evitamos fazer graça, fingimos que entre nós nunca existiu um “nós”, transformamos boas lembranças em assuntos tabu. Sinto saudade de conversar à toa, sabe? Jogar conversa fora com intimidade sem que haja aquele ranço de segundas intenções. Aliás, porque ex tem sempre que interpretar o que existe por trás de um simples “bom dia”?
Com o passar dos anos, ser namoradeira pode se tornar um problema… Me sinto como se tivesse trocado amizades de uma vida inteira por beijos na boca. Beijos passam, grandes amigos não. E eu odeio essa parte que parece um repeteco de roteiro. Todas as separações parecem iguais e, por mais que a gente se esforce, é dificílimo zerar e estabelecer um vinculo saudável depois de um fim. Fim de amizade me parece desperdício de tempo, de energia, parece que nunca foi amor…
Juro que estou na última tentativa. Posso me separar quantas vezes for necessário, o que me parte o coração é perder o amigo, não o tesão. Se não der certo dessa vez, minhas próximas paixões só vão ganhar abraço e aperto de mão. Porque se existe algo no toque que aos poucos inibe o amor, serei a primeira a dar um passo para trás. Quero amores pra sempre nessa minha vida. Os amores raros que só experimentei quando vieram vestidos somente de amizade.



Escrito pela Alê Félix
27, março, 2007
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Quando sai da casa dos meus pais, “fazer a mudança” se resumiu a arrastar até o carro um mochilão de roupas que aprontei no meio de uma discussão com meu pai e a choradeira omissa da minha mãe. Entre o “não” que disse a ele e o “não se preocupa” que disse a ela, arrumei tudo e fui embora. Em menos de uma hora, a bagagem (como era pouca…) estava no banco do passageiro e as preocupações (como eram poucas…) sobre o futuro se dissipavam a medida que me sobrava espaço para afundá-las no acelerador.
Um ano depois, nova mudança. Sem grana e com um fardo de fracasso enorme sobre as costas, tive que carregar um ano inteiro de tranqueiras feitas sob medida e com o peso da madeira de lei. Vendi peça por peça de um sonho adolescente, respirei aliviada no dia dez e fechei em paz a porta de um apartamentinho vagabundo e perfeito que me deu toda a energia que eu precisava para recomeçar e arranjar um jeito de pagar as dívidas.
Cinco anos passaram, vi meus amigos irem embora e os sinais de mudança voltarem. Troquei um computador por um carro velho que mudou minha vida de um extremo ao outro da cidade e das perspectivas. Foram várias viagens, foi um alivio pagar a conta da minha teimosia.
Hoje, treze anos depois da minha primeira mudança, penso na minha mochila de roupas e me pergunto como foi que consegui precisar de um caminhão, como foi que me tornei tão responsável pelas minhas malas e pelas malas de outras pessoas. A gente cresce pensando nas coisas que quer ter quando crescer e, depois de grande, não sabe mais distinguir entre posse e possuído. Não sei mais se tenho tudo o que preciso ou se o que preciso é não precisar ter.
Saudade do mochilão cor-de-rosa e carvão que se encaixava nos meus ombros e me apresentava a liberdade… Saudade só dele. Dele e do pé no acelerador.



Escrito pela Alê Félix
14, março, 2007
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Vida virada de ponta cabeça, impossível escrever qualquer coisa que eu não me sinta na responsabilidade de deletar no dia seguinte. Então, eu fico assim quietinha, inventando espaços pra falar de amenidades. Nessas horas, o melhor que a gente pode fazer é usar a criatividade e a energia pra colocar a vida no lugar certo e, nas horas vagas, deixar a cabeça descansar com bobagens do tipo ver TV, manter um blog, escrever sobre TV ou qualquer outra besteira que não deixe triplas interpretaçôes, escrever sobre os cacos que tentamos juntar e não postá-los por medo que eles cortem além de nós… Aceitar a proposta para trabalhar com marketing político, mudar pra Brasília e tentar manter meu coração e corações inteiros no meio desse tanto de virada.
Já, já eu volto. Provavelmente, livre.



Escrito pela Alê Félix
11, março, 2007
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Alessandra Felix diz:
Fala, passamal!
Fonte Segura diz:
Falai, passabem.
Fonte Segura diz:
Tá assistindo Heroes?
Alessandra Felix diz:
Não, paredão Diego-JohnnyBravo X Flávia-HebeCamargo.
Fonte Segura diz:
Tá perdendo Heroes…
Clique aqui para continuar…



Escrito pela Alê Félix
7, março, 2007
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Sabe o tipo de gente que deixa tudo pra amanhã? Pois é… Até quando acordo faço isso. Abro os olhos e desejo imensamente que eles despertem somente no dia seguinte. Ou na noite seguinte… Tentar enxergar no escuro é mais estimulante. Às vezes, menos doloroso. Olho pra trás e porções de portas abertas com pessoas falando sozinhas, gente chamando pra briga, algumas olhando pra ver até onde sou capaz de ir sem recuar… Na verdade, não é por teimosia. Se eu fechá-las, por mais libertador que seja pra quem leva uma portada, como poderia visitar meu passado se eu o libertasse para seguir sem mim? Como poderia dormir sem meu tanto de confusão, sem meus planos de, amanhã, acordar e resolver ou resgatar um por um. Amanhã… Não consigo deixar de ser a egoísta, a mimada, a… Chega. Amanhã… Meus amanhãs são cheios de um nada qualquer que disfarço tentando ser criativa ou falastrona. Sonhei que eu escrevia minhas poucas lembranças no algodão de um vestido rodopiante. Um vestido que eu fazia girar, girar e girar até todas as letras se misturarem e eu me sentir livre pra arrancá-lo de mim. Você sabia que todas as mulheres sonham em mostrar os seios no meio de uma multidão? Delete as exceções, elas não me interessam. Espécies me interessam, individuos nem tanto. Peitos cobertos são algemas da liberdade feminina… A Kátia é testemunha do quanto isso é libertador. Ela está numa das minhas portinhas abertas, com várias outras amigas de carnaval e adolescência, num apartamento de praia, no décimo nono andar, onde – protegidas pelo anonimato das festas de rua – ficávamos bêbadas e fingíamos suicídio de peito aberto. Eramos engraçadas… Mesmo que fosse só pra nós mesmas, eramos engraçadas. Uma mulher só é realmente livre quando ela não precisa fazer média, tipo, não precisa falar só pra agradar, nem esconder o passado, nem sentir vergonha de seus vexames, nem deletar posts no dia seguinte. Essa foi boa… Eu sei, eu sei… Esse aqui não passa de amanhã.
Argh! Odeio bebidas doces. Demoram, confundem e engordam. Por que estou escrevendo isso? Por que você está lendo? Quero ser sóbria… Talvez, amanhã eu me esforce… Amanhã, amanhã, amanhã! Amanhãs não passam de hoje.



Escrito pela Alê Félix
1, março, 2007
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