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Como diz o Carlos, estou com depressão pós-festa.
Depressão não, porque não estou triste, muito pelo contrário. Digamos que é uma espécie de ressaca pós-festa, mas
não uma ressaca de álcool, uma ressaca de momentos legais. Uma sensação de acordar e “ops! Cadê todo mundo?”.
Os blogs são só as ferramentas, o que vale são as pessoas e a capacidade de se permitir conhecer novas pessoas. O
que vale são as festas!
Foi demais! Esse menino é muito foda!
Pra mim a festa ainda não acabou. Primeiro porque ainda não acordei direito, segundo que, mais tarde, se eu
conseguir, atualizo o site, o escambo e coloco quase dois filmes de fotos… he he he! Tô louca pra ver como elas
ficaram.
Volto mais tarde!



Escrito pela Alê Félix
10, fevereiro, 2003
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Pensa rápido!
Valmir era um cara falante, simpaticão, bom astral, mas era meu supervisor e eu queria um chefe igual ao de todos os
meus amigos normais que tinham chefe. Nada de chefe legal! Queria um chefe mala, alguém que eu pudesse culpar,
reclamar e fazer cara feia quando ele virasse as costas.
Mas que diabos ele queria? Provavelmente me mostrar como ser uma super-vendedora e fechar todos os contratos. Um
exagero sem tamanho, que os supervisores faziam com todos os novatos. Azar, aquilo é que era azar! Eu não queria
ninguém na minha cola durante o dia e tratei de escapar daquela situação. Disse a ele que eu tinha um cliente
agendado no primeiro horário, que não poderia acompanhá-lo… Ele insistiu:
Eu vou contigo no teu cliente. Quero vê-la em ação. Vamos embora.
Blefe puro! Que cliente? Onde eu arranjaria um cliente? Agora sim, eu estava em maus lençóis.
Saímos no meu carro. Precisava me manter pensando e dirigir era necessário para que eu conseguisse, em menos de uma
hora, um cliente agendado.
Meia hora circulando de carro sem saber para onde ir. Direcionei a conversa para o lado pessoal, na tentativa de
evitar que ele fizesse perguntas sobre a empresa que visitaríamos. O papo acabou ficando bom e, conseqüentemente,
não conseguia pensar em uma empresa que eu pudesse chegar na maior cara de pau dizendo que tinha um horário marcado
com o dono da bagaça. A conversa deu uma esfriada momentânea, o silêncio espalhou assombrosamente pelo carro e ele
acabou perguntando sobre o nosso destino. Minha cabeça a mil: Pensa rápido, pensa rápido, pensa rápido!. –
Puxei minha bolsa do banco de trás, pedi que ele abrisse-a com cuidado para não acordar “meu coelho de estimação” e
que procurasse um cartão perdido por lá para que eu me certificasse do endereço. Ele sorriu, se divertiu mexendo na
minha bolsa cheia de quinquilharias femininas, até que sacou das profundezas da dela o cartão do bêbado da noite
anterior. Com sorte, ele não estaria lá e tudo de resolveria; com azar, ele não lembraria do meu nome, nem do que
era vídeo-texto e eu teria que fazer cara de “migué” para o bebum e para o meu supervisor. Só me restava torcer e
tentar.



Escrito pela Alê Félix
7, fevereiro, 2003
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Não, não e não!
O dono do bar noturno adorou! O bêbado então, nem se fala! Vibrava como criança com a minha demonstração dos
super-poderes do videotexto. Sai de lá quase meia-noite e com meia dúzia de chopes rodopiando na minha cabeça (eu é
que não ia trabalhar sóbria até aquela hora, era pedir demais!).
O dono do bar me enrolou, me enrolou e não assinou nenhum contrato, disse que me ligaria no dia seguinte. Me
despedi, dei uma sacolejadas pelo bar e sai de lá antes que eu completasse meu segundo dia sem dormir. Botei o pé na
rua quando ouvi o bêbado gritando meu nome:
Alessandra! Alessandra!
Eu? – cacete! Será o benedito? Nem ir pra casa eu consigo!
Meu cartão… meu cartão. Vá ao meu escritório amanhã. Eu quero conversar com você.
Ok. – quanto menos eu falar mais rápido eu vou embora.
Quer uma carona até em casa?
Não. Estou de carro, obrigada – nem se eu estivesse a pé.
Joguei o cartão dentro da bolsa e caminhei em direção ao estacionamento. Entrei no carro, coloquei a chave no
contato e antes de encontrar forças para dar qualquer partida, tive uma das maiores crises de choro da minha vida.
Me sentia perdida, sozinha, incompetente e incapaz de transformar a minha vida desregrada em uma vida normal cheia
de rotina, horários e compromissos. A maior parte das pessoas levam anos para terem independência profissional e eu,
que não conseguia me imaginar com carteira de trabalho assinada, tentava vivenciar a profissão que tantos fugiam.
Não entendia direito porque eu estava insistindo tanto naquela mudança tão radical, minha vida de fotógrafa era tão
boa. E, como se não bastasse, ninguém queria fechar aquele contrato dos infernos. Cinco “nãos” e um bêbado em um
único dia tinham abalado drasticamente minha auto-estima! Eu me sentia um lixo e precisava de uma cama e um bom
travesseiro pra chorar e dormir à vontade. Eu pensaria melhor no dia seguinte.
Cinco da manhã, banho, correria, trânsito, buzinas, Dancing Queen com coreografia de braços dentro do carro pra
acordar, uma piscadela e outra pra começar o dia sorrindo e lá estava eu às sete da manhã novamente.
Ao contrário do dia anterior, tive dó daquelas pessoas. Nada fácil passar o dia levando “nãos”. De onde elas tiravam
energia para estarem ali com suas caras brilhantes? Eu não sobreviveria! Quase morri quando levei o meu primeiro
fora amoroso. Fiquei enclausurada em casa chorando minhas férias de verão, engordei dez quilos e fiz um corte
pigmaleão nos cabelos. Sabe lá o que é isso? Era um “não” que parecia que ia doer pra sempre! Eu olhava no espelho
todo santo dia e achava que morreria de amor por aquele cabeludo insensível. Levei um ano para sarar do “não” que eu
levei do Bofe (apelido do dito cujo)! Foi na sexta série, pouco antes de acabar o ano letivo. Depois daquele dia,
nunca mais tinha levado um “não” pra casa, nem permiti que isso acontecesse. Foi trauma mesmo! Um trauma que eu
achei que tinha superado até o dia anterior onde todos aqueles nãos entraram atravessados pela minha goela e me
fizeram lembrar até do infeliz do Bofe. Eu não era tão forte quanto aqueles vendedores. Não resistiria a mais um dia
de visitas sem resultados positivos. Cogitei a possibilidade de me mandar dali mas, antes que eu considerasse tal
atitude, meu supervisor me pegou pelo braço.
Hoje você vem trabalhar comigo. – cacete! Passar o dia vigiada pelo chefe? Ó deus, me salve e me ensine a
dizer não.
______>> Continua.
Clique aqui para
ler o Post IV – Primeiras impressões sobre o trabalho de cinco mil dólares

Clique aqui para
ler o Post III – A primeira noite no videopapo

Clique aqui para
ler o Post II – A entrevista

Clique aqui para
ler o Post I – O começo de toda a história



Escrito pela Alê Félix
6, fevereiro, 2003
Comentários desativados em O videotexto (Post V)
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Amarula com sucrilhos… éca! Vou mudar o nome deste blog para transtorno bipolar do humor. :-b
Aviso aos navegantes: O Haloscan (sistema de comentários) está lelé da cuca. Os comentários dos dois posts abaixo
foram abduzidos. Espero que eles sejam devolvidos intactos, corados e cheios de saúde.

. . .

04h23m – Sei lá que dia é hoje… Mais uma noite sem dormir. Bah!
A história do vídeo-texto está adiantada. Vou postar vários tecos dela nos próximos dias… ou assim que eu acordar,
dormir e acordar e ficar de bom humor de novo, porque este humor ruim já deu o que tinha que dar e nem eu consigo
mais conviver com ele. Obrigado pelos e-mails, comentários e pelo carinho. Vocês são foda de bonitinhos.
Ah! O Haloscan pirou de novo e desapareceu com novos comentários… hehe! Sosseguem, eles voltarão.
Inté meus amores!



Escrito pela Alê Félix
5, fevereiro, 2003
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Primeiras impressões sobre o trabalho de cinco mil dólares.
Pior do que acordar cedo para trabalhar é ir para o trabalho sem ter dormido. Não compreendo as regras do mundo
profissional. Por que uma empresa de vendas quer ver a cara dos funcionários às sete da manhã? Pra se certificar de
que o cara acordou? Se não houver produção a pessoa não recebe, por que então as empresas acham que haveria
sabotagem do funcionário? Por que diabos eu não podia ter ficado na cama trabalhando em casa, pelo telefone ou coisa
parecida?
Aquele era o meu primeiro dia de trabalho, tive que controlar os meus impulsos de rebeldia profissional e dar um
jeito de não parecer uma morta viva. Já que tinha sido uma opção mudar de vida, no mínimo eu precisava respeitar os
horários impostos, mesmo sabendo que eu não me adaptaria facilmente.
Cheguei na Teletel me arrastando. Corri para o banheiro, lavei o rosto e fiz cara de empolgada (expressão padrão no
rosto dos bons vendedores da empresa). Era ridículo, não existem vencedores em horário comercial. Das oito às seis
todos somos escravos, mesmo que bem remunerados. Aqueles caras estavam na profissão errada, eram atores de primeira
linha e com uma fachada impecável sempre: sorrisos estampados e hálitos de pasta de dente, roupas engomadas e beges,
cabelos escovados e barbas feitas exalando bozzano. Um bando de gente tão limpa que chegava a brilhar. Sempre achei
que alguns deles não faziam sexo. Ninguém tão lustrado consegue trepar à vontade. Nada contra os princípios da
higiene, muito pelo contrário, mas acho estranho o excesso de limpeza calculado e cobiçoso. Além disso, sexo tem que
ter um quê de suor, de saliva, de roupa amassada, cabelo despenteado. Pensar em sexo com uma figura que beira o
branco do Omo todo santo dia faz com que a minha mente fértil pense um monte de esquisitices sobre a pessoa. Neura
minha ou não, além de não curtir muito o asseio intencional, ainda tinha dificuldades com o assédio natural e
saudável que os ambientes de trabalho proporcionam. Não dava para levar a sério cantadas de vendedores. Não
conseguia deixar de ver a estratégia de venda na atuação dos moçoilos. Vê-los seduzir as pessoas o dia todo com um
papo mole a troco de uma boa comissão, me fazia rir e desconsiderar qualquer outro tipo de interesse.
Definitivamente não tinha a menor graça ser uma das três mulheres de uma equipe de quarenta homens com aquele
perfil.
Depois de um discurso de motivação do gerente, liberaram os vendedores para as visitas diárias. Bocejei aliviada e
saí daquele recinto de Listerine para a busca dos meus cinco mil dólares mensais. A grande vantagem de você não ter
motivação sexual para ir ao trabalho é que você foca a sua energia no salário e foi isso que eu tratei de fazer.
Eu não tinha dúvidas de que o meu cofrinho da Turma da Mônica, no final do mês, estaria cheio de doletas. Era tudo
muito fácil: era só apresentar o vídeo-texto, fechar o contrato de locação do equipamento pela maior quantidade de
meses que eu conseguisse e pronto! Duvido que alguém resistiria àquela maravilha do século vinte! Era batata! Cinco
mil dólares na mão e um terminal de vídeo-texto portátil para brincar nas horas vagas. Mas não foi bem assim…
Minha primeira visita foi um “talvez”, a segunda, um “não”, a terceira, um “chá de cadeira”; na quarta me botaram
pra falar com o office-boy e na quinta, às oito horas da noite em um bar noturno na estrada do guarapiranga tive que
explicar como o sistema funcionava para o dono do bar e para um freguês bêbado que decidiu bater o recorde mundial
da pentelhice. Às minhas custas óbviamente.



Escrito pela Alê Félix
4, fevereiro, 2003
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Há muitos anos (nem me lembro quantos, porque eu era muito pequena) cortei o dedo brincando com uma faca de mesa.
Sangrava tanto, tanto, que eu achei de verdade que todo o meu sangue sairia do meu corpo e eu morreria no colo da
minha mãe. Não lembro de ter gritado e ficado tão desesperada como naquela ocasião. Mas o mais curioso é que eu acho
que foi a partir daquele dia, que a minha encanação com a morte começou. Passei a lidar com a minha vida como se ela
estivesse sempre prestes a acabar.
Tem dias que eu esqueço, nem penso nisso. Tem dias que eu choro de medo, tem dias que eu peço para o maridon me
abraçar e dizer palavras engraçadas mas, na maior parte do tempo, eu tento viver o mais rápido possível… às vezes,
rápido demais. Tão rápido que, muitas vezes, acho que me preocupo mais com o roteiro da viagem do que com a
paisagem.
Será que eu perdi alguma coisa?

. . .

A ironia do post acima é que eu comecei a escrevê-lo direto na ferramenta do blogger e não em um arquivo de texto
para poder salvá-lo enquanto digitava. Prá variar, o tempo foi passando, eu fui escrevendo, não salvei nada, cliquei
no “postar e publicar”, o tempo expirou e eu perdi tudo! Tratei de reescrevê-lo imediatamente, enquanto ainda estava
fresco na memória. Só então compreendi a ligação entre o que eu tinha escrito e o que havia acontecido com o post
perdido por conta da minha “pressa”. A minha pergunta foi respondida, sim estou perdendo muita coisa.



Escrito pela Alê Félix
3, fevereiro, 2003
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Tem dias que eu acordo com um sol brilhando dentro de mim.
Não entendo direito o que o faz despertar, mas estou de olho nele e um dia eu descubro. Só sei que, quando acordo
com ele no peito, as manhãs ficam mais claras e cheias de contraste, a vida fica mais simples e as pessoas mais
bonitas. Até a cara amassada de sono fica mais engraçadinha.



Escrito pela Alê Félix
1, fevereiro, 2003
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