Tenho que pensar em um jeito de vir ao Rio sem precisar de repouso absoluto nos dias seguintes. Os dias se misturaram com as noites, não deu para dormir, não deu para dizer não. Acabei de chegar e parece que meu corpo não desiste: abro a janela, não vejo graça na cama. Ligo o computador só para dividir meu prazer, mas a paisagem clareia minhas idéias e vai – já já – me botar novamente na rua, vai me jogar num banquinho de calçadão só para que eu veja um pouco de sol nascendo. Lá, bem do ladinho dos bêbados, dos marginais, de toda a putaria elegante de Copacabana que ainda trinca as paredes dessas casas de família. Adoro Copacabana… Adoro qualquer lugar que eu tenha bons amigos, mas gosto daqui exatamente pelo contrário. Aqui há uma solidão possível, a inexistência não me assombra tanto. Aqui basta olhar, pensar e agradecer em silêncio. E aqui tem de tudo! Tem, assumidamente, as piores e mais oportunistas espécies… Como é que eu não ia me sentir em casa, não é mesmo? Adoro Copacabana.



Escrito pela Alê Félix
26, outubro, 2008
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– Não deleta o blog não, viu? 🙂
– Oh, menina… Nem esquenta, crise ortográfica passageira.
– Que bom que é passageiro. Eu adoro o seu blog. Acho até que poderia escrever mais, mas sei que você é uma moça ocupada.
– Ah, obrigada. Mas sabe que, mesmo se eu fosse mais à toa, acho que ainda assim escreveria pouco.
– Sim, escrever pouco tem suas vantagens, gera expectativa, as pessoas dao mais valor aos textos, além de poder escrever nos momentos de inspiração.
– Será? Na verdade eu acho cansativo escrever. Tenho uma preguiça danada.
– Serio? Nunca imaginei você com preguiça de escrever.
– Morro de preguiça e não gosto. Sinto necessidade, mas não gosto. Por isso e porque o que eu gosto mesmo é de bater perna, é que escrevo cada vez menos.
– Que ironia… Você escreve tão bem. Achei que saísse naturalmente, sem muito esforço.
– Saí, mas quando acaba parece que levei uma surra.
– Hahaha! Nossa… Quando eu leio o que você escreve, não parece que é assim não. Parece tão leve.
– Sem contar que quando olho no relógio, perdi horas da minha vida com um mísero post. Ter um blog é uma perda de tempo… 🙂
– 🙂
– Poís é… Mas, sei lá, vai ver se não virasse post, surgiria um câncer. 🙂
– Se você fosse guardar só para si, provavelmente viraria. Mas acho legal você ter coragem de falar certas coisas. Como o post que fez sobre a sua irmã. Eu também tenho problemas parecidos com a minha, mas não falo muito sobre isso.
– Melhor falar, hein… Vai que virar câncer! 🙂
– Então acho que vou ter câncer… Hahaha.
– hahahahaha… Quero só ver se for na língua.
– Humorzinho negro, mas continuo preferindo ter o câncer.
– Já que consegue ter humor, não opte pelo câncer… Não faz bem para o cabelo.
– Hahahhahahahahahahahahaha!
– Queridona, vou sair. Odeio esse negócio de horário de verão… 4 horas da tarde e não fiz nada!
– Hum… Acho que você fez sim.
– Anh?
– Acabei de bater na porta do quarto da minha irmã. Ela vai achar que fiquei louca, mas vou tentar conversar com ela.
– Fala pra ela que está longe de ser loucura. Só cagaço de um possível câncer. 🙂
– 😉
– Boa sorte.
– Tomara que isso também te sirva de lição!
– Que?
– Já pensou se você tivesse preguiça de conversar (escrever) pelo MSN com gente que te lê e você nem sabe quem é? Escreva mais, viu! Sem preguiça.
– Ah, vá te catar…
– Beijo e obrigada.
– Depois dessa, espero que sua irmã te arremesse um sapato assim que você entrar no quarto dela.
– Um galo a mais um galo a menos…
– Fui. 😉



Escrito pela Alê Félix
21, outubro, 2008
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Eu devia criar vergonha na cara e deletar esse blog…
Manter um blog devia ser como dirigir: depois de um determinado número de erros, devíamos ser obrigados a voltar pra escola.
Não reparem a indignação… É que acabei de reler alguns posts (algo que nunca faço) e estou morrendo de vergonha, mesmo sabendo que não adianta chorar depois de um acidente estúpido.



Escrito pela Alê Félix
18, outubro, 2008
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Fui educada para não dizer tudo o que penso, mentir sobre o quanto ganho, guardar no silêncio as minhas histórias, não confessar meus desejos mais íntimos e evitar possíveis amantes. Fui educada para comemorar em silêncio tudo o que me fizesse bem, como se o meu bem agredisse os outros de alguma forma. Por sorte, as vezes acho que estou desaprendendo tudo o que aprendi… Cada dia que passa tenho menos a esconder, mentir ou manipular. Incluindo palavras, dinheiro, histórias, desejos e amantes. Já ouvi dizer que o nome disso é maluquice… Eu tenho chamado de bom senso, coerência e vida boa.



Escrito pela Alê Félix
17, outubro, 2008
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Uma amiga minha escreveu dizendo que anda muito brava com o rumo desse blog. Disse que acha um absurdo eu aderir a esse movimento de publieditoriais e mais absurdo ainda que eu misture as campanhas recebidas no meio de posts que eu escreveria normalmente, sem que tivesse grana nenhuma envolvida. Como ela é amiga velha (não de idade, mas de tempo de amizade), respondi o e-mail assim…
Saudade de você, sua cretina! Por onde você anda? Sua aversão por telefone aumenta ainda mais a distância entre a gente, sabia? Mesmo depois de tantos anos, confesso que não entendo como você consegue não ter aderido ao movimento dos celulares. Mas não posso reclamar. Acho que é por conta dessas bizarrices da sua personalidade que gosto tanto de você. Por isso e porque foi graças a você que um dia me tornei fotógrafa. Eu nunca te contei porque sempre me senti muito amadora, tinha acabado de fazer o curso de fotografia (mentira, nem cheguei a conclui-lo) e inventei de colocar um anúncio no jornal dizendo que eu era fotógrafa de casamentos, aniversários, modelo-manequim-e-vendedoras-de-shoppings.
O anúncio saiu em uma quarta-feira e no sábado eu estava na porta de uma igreja com a minha Nikon F2A, um flash comprado naquele mesmo dia, vários rolos de filme com 36 poses e a cara de pau que até hoje me leva a fazer coisas maiores do que meu cérebro. Quando a noiva chegou foi que me dei conta de que aquela era a primeira vez que eu pisava em uma igreja católica, que eu nunca tinha visto um casamento católico e que se eu fizesse merda com o álbum de fotos daquela noiva gordinha ela ia me socar até a morte. Eu tinha quinze anos de idade, acredita? E acho o máximo você nunca ter perguntado minha idade…
Na época, coloquei o anúncio porque achava que precisava ajudar em casa, precisava ajudar a pagar as prestações da câmera, precisava descobrir logo como ganhar a vida. Coisa de menina pobre e responsável. Apesar de você ter nascido rica, eu sei que você também sabe como é se sentir assim. Mas foi por deus e por você que tudo deu certo naquela noite… Quando meu flash parou de funcionar achei que não teria mais jeito, que a gordinha ia me rogar a maior praga da minha existência e que minha mal começada carreira de fotógrafa teria um fim ali mesmo.
Antes que eu derrubasse as primeiras lágrimas – sem que eu dissesse nada – você pausou sua filmadora e disse pra eu fuçar na sua mochila e ver se não tinha por lá algum flash ou bateria que servisse no meu. Foi graças a você que tudo correu bem, que a gordinha ficou feliz por eu ter tido a sensibilidade de fotografá-la nos melhores ângulos e me indicado todas as futuras noivas da companhia feminina de kung-fu de São Paulo. Graças a ela e a você depois daquele dia minha vida virou de ponta-cabeça, eu passei a acreditar que era fotógrafa de verdade e recebi por isso durante quase dez anos da minha vida.
Nunca te agradeci por isso… Obrigada, minha amiga querida
.
Quanto aos possíveis publieditoriais do blog, não seja boba. Eles são como flashs, vindos das mochilas de algumas empresas. Salvam a nossa pele de vez em quando e nos fazem acreditar que somos bons com as palavras.

E já que estamos falando em publieditoriais e eu odeio escrever, vou aproveitar o e-mail que vai pra você e transformá-lo em um. Aproveita e dá uma clicada nesse link aqui, da promoção Rexona. Tenho certeza de que você também vai curtir contar suas histórias. Alguns desodorantes mudam tanto quanto a gente, minha amiga. É a vida… Com todas as mudanças e adaptações necessárias, é a vida. 😉



Escrito pela Alê Félix
15, outubro, 2008
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E aí eu bato o pé dizendo que nunca mais isso, nunca mais aquilo e – quando vejo – tô eu aqui, com meu tudo de novo, sem dar a menor chance pra esse papo de “nunca mais”.
Que bom ser assim tão sem palavra…

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Escrito pela Alê Félix
15, outubro, 2008
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Trecho do quinto capítulo…
Foi fácil aprender a gostar de bebidas doces, mas não foi nada simples aprender a lidar com os receios masculinos. O namoradinho daquela época dizia que me respeitava, não ousava tocar meu corpo, além da minha cintura, e – como eu nunca havia experimentado nada além de beijo – achava que o respeito era só falta de desejo.
O açúcar e o álcool me ajudaram a excitá-lo a ponto de…

Clique aqui para ler tudinho, tudinho.



Escrito pela Alê Félix
9, outubro, 2008
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Já tem um tempinho, um ou dois meses, estive no escritório da trupe O Teatro Mágico. Não os conhecia, embora já tivesse ouvido falar. Também não lembro exatamente o que ouvi, mas frases soltas vinham à minha cabeça, mais ou menos, assim “são palhaços que cantam”, “é o novo Legião Urbana”, “o público dos caras é fanático e de alma vazia, comprariam qualquer idéia um pouco mais revolucionária”. Não dei muita atenção. Não por desrespeito às pessoas que disseram – já que nem me lembro de onde vieram as vozes – mas porque raramente dou ouvidos sem ver, ouvir e sentir por mim mesma. As críticas ficaram na memória, mas eu queria ver com meus próprios olhos o Renato Russo, vestido de palhaço, encantando almas vazias.
Cheguei ao Memorial da América Latina, com uma amiga que também não os conhecia e, antes de entrar, me perguntou por que o nome “O Teatro Mágico”. Na dúvida, com medo de entrar numa roubada, o que ela queria era ter a certeza de que não acabaria a noite de sábado enfiada numa espécie de festa infantil. Entramos na fé: ela esperando que a noite valesse a pena, eu esperando que eles não fossem menores do que a minha intuição dizia. Eu não queria que fosse mais um show, queria acreditar neles…
Quem me conhece e, talvez aqueles que sacam um pouco do meu trabalho, sabem o quanto me empenho para ver livre o que nos resta de arte nesse começo de século. Desde 2001, quando comecei com a idéia de publicar livros de escritores que estavam surgindo através da internet, repito incansavelmente que ainda há no mundo uma porrada de cordas pra gente rebentar, um mundão de tranqueiras e asneiras pra gente transformar. Hoje, depois de tantas mudanças na minha vida pessoal e tanto aprendizado, mesmo quando me falta fé, ando com a sorte abençoada de atrair pessoas que admiro e respeito pelo olhar e pela postura diante da vida. Entrei no Memorial da América Latina com a mente aberta, desejando que o encontro me encantasse. Aí o show começou…
Logo na primeira música, a voz de Fernando Anitelli (cantor da trupe) se misturou com a voz do público que lotava impressionantemente o Memorial. Digo que é impressionante porque eu sabia que eles eram um grupo sem patrocionadores, sem jabás, só com a internet e o suor a favor deles. E era uma multidão de jovens, velhos e crianças, mas tão unida, que podia estar facilmente disfarçada de uma única geração. O som contagiava pelo ritmo e pela vibração das pessoas. Foi impossível ficar sentadinha e arrumadinha na cadeira que gentilmente me ofereceram. Levantei, grudei no palco e não demorou muito para que a minha alma vazia se rende-se aos acordes, às cores e ao coro. Aliás, que coro… O público do grupo é parte do show e não há imbecilidade maior do que dizer que aquelas pessoas comprariam qualquer idéia. Eles não compram nem CDs! Eles acompanham a trupe exatamente porque Fernando canta liberdade, canta poesia, oferece de graça a leveza que nos falta no dia-a-dia. Não, não é por pão-durice que eles não compram. A relação com a música é outra e todos ali falam a mesma língua.
Eu tenho um coração facinho para quem me faz rir, crer e pensar… Vivo dizendo isso, alguns de vocês já sabem. Meia dúzia de músicas depois, eu já estava sacolejando, sorrindo, questionando, batendo palmas. Às vezes, sou resistente as palmas… Não gostei da iluminação. Queria um pouco mais de luz para ver cada detalhe do palco, cada ator, palhaço, músico, malabarista, contorcionista, cada cor ou ausência de cor. A acústica do lugar me irritava toda vez que eu não entendia as letras. As letras… Por mais legal que seja a mistura de maracatu, hip-hop, samba, rock e o som que dá na telha de eles fazerem e que tira total a nossa bunda da cadeira, eram as letras que eu queria ouvir nitidamente no meio daquilo tudo. Precisei chegar em casa e fuçar na internet atrás delas… Que menino danado esse Fernando! Que povo bacana e talentoso ele conseguiu reunir ao lado dele. Lembrei das várias vezes que ouço dizerem que a geração atual é burra, perdida, acomodada, vazia… Lembrei que a geração dos anos setenta teve que lutar para existir, a dos anos oitenta para crescer, a dos noventa para não morrer, mas e agora? Agora que tudo parece conquistado, temos a impressão de que não há mais pelo que lutar, não é mesmo? Que ilusão! Como achar que não há nada para mudar em um mundo ditado por consumismos, dinheiro por dinheiro, ditaduras aparentes e amarras comerciais e emocionais? Como as pessoas podem achar que não há nada acontecendo quando há toda uma gurizada quebrando códigos, construindo novas ferramentas, novas linguagens, lendo uma rede de informações, ao invés dos livros que a seção dos “mais vendidos” diz para eles lerem? Só porque eles ouvem o que eles querem e compram apenas quando vale a pena usar? Só porque eles não estão nas ruas com bandeiras em punho? Que estupidez achar que a aparente apatia de um adolescente – escondido no escuro do seu quarto – não pode ser iluminada pela arte, comunicação e elevação através de downlouds e janelas redesenhadas!
O Teatro Mágico não é um grupo de palhaços que cantam. São pessoas simples, da periferia, gente comum que não teria muito espaço no mundo se não fosse realmente boa no que faz. Mas você pode não gostar… Gosto é gosto apesar do meu desgosto quando não gostam do que eu gosto.
O show acabou e segui para a coletiva que eles dariam para a imprensa. Não se impressionem. Tudo o que o grupo conseguiu foi de forma independente, graças à internet. Lá, não estava a Rede Globo ou a MTV. Estavam a TV IG, TV Vírgula, TV Gospel… Não, nem pense! O “Deus” do “Teatro Mágico” é a fé que nos move, não o “Deus” da igreja dali ou daqui. Os mais fiéis devem curtir pelo simples fato de que a liberdade da trupe é tanta que ela não oferece julgamentos, ela abraça e agradece a quem vai até ela.
Assisti à coletiva por curiosidade, até o fim. Queria ouvir mais dos integrantes, conhecer melhor aquelas pessoas que, de alguma forma, eu estava atraindo. E ouvi o repórter perguntar para o Fernando por que eles não iam para uma gravadora. Ele, bem humorado, com um puta trabalho sério (sério de bem feito, de respeito, cheio de peito), do jeito dele, respondeu algo, mais ou menos, assim:
– Quando uma gravadora nos perguntou por que não queríamos trabalhar com eles, já que estávamos indo aos shows de bicicleta, respondi que era porque nós assistimos ao filme “ET” e acreditamos que nossas bicicletas voam.
Palhaço que canta? Palhaços que cantam? Quem será que foi o palhaço que transformou o palhaço num tom pejorativo? A iluminação e a acústica são detalhes, eles vão melhorar. Aquelas criaturas são do aprendizado, não da arrogância. Isso é visível mesmo quando acabamos de conhecê-los. Estão abertos as mudanças, ainda vão surpreender muita gente.
Minha amiga me agradeceu o convite, eu preciso agradecer à trupe. Foi como se eu tivesse ido a uma festa. Uma festa boa, com um belo DVD de lembrança, quase tão boa quanto uma festa de criança.
Cheguei em casa, liguei para o meu irmão que andava desistindo da música e pedi que ele viesse ver o DVD comigo. Uma tentativa irmã de dizer a ele que sonhos são realizáveis e que ignorar nossos talentos é o nosso grande pecado. Ligamos a TV, o DVD, dei play e, alguns minutos depois, ele me disse:
– Ale, a gente conheceu esse cara no sarau do KVA! Você não lembra?
Essa história do sarau do KVA aconteceu há anos… O KVA era um lugar aqui em São Paulo onde uma garotada se reunia para recitar poesias, cantar e fazer magia. Deu uma explosão na minha memória. Fui uma única vez e, daquele encontro, lembro da minha revolta por não ter uma vida que me permitisse estar ali naquele momento. Lembro de ter saído de lá pedindo a deus que minha vida voltasse a ser minha, que um dia eu pudesse voltar a ser eu mesma e pudesse de, alguma forma, estar mais próxima de vozes que se parecessem com a minha. Eram tempos difíceis e eu não comecei esse texto para falar deles, mas foi muito bom ver que hoje o que eu digo é o que eu faço e que reencontrei o sarau mágico que um dia me fez voltar a acreditar em renovações e no futuro. Como diria Fernando, que os dispostos continuem a se atrair.
www.oteatromagico.mus.br



Escrito pela Alê Félix
6, outubro, 2008
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