Pouco depois de nos encontrarmos em Jacareí, rumo a Paraty, segundo as palavras dele

Já na estrada perguntei a ela que caminho pretendia fazer até Paraty – pois pensei na estrada que liga Taubaté a Ubatuba, ainda que seu trecho de serra fosse meio chatinho, pois, que me lembrasse, a qualidade do asfalto por lá não era grande coisa. Pensei (mas não sugeri) que poderíamos também descer pela Tamoios – a estrada que liga São José dos Campos a Caraguatatuba -, mas teríamos que pegar um longo caminho beirando o mar. Ao que ela me respondeu que, segundo o GPS, havia um acesso logo ali na altura de Guaratinguetá, passando por Cunha, que já daria direto na cidade de Paraty. Naquele momento alguma coisa soou na minha cabeça… Cunha… Paraty… O que eu já tinha ouvido falar desse trecho mesmo? Bem, não devia ser nada de importante… Limitei-me a responder “Legal, vamos por lá então! Bendito aparelhinho de GPS, hein?…”

Enquanto isso, pelos caminhos da minha cabeça…

No final do ano passado fiz uma viagem de carro com uma amiga que estava prestes a casar. Somos amigas desde garotinhas e, logo depois de ouvir todos os detalhes sobre a decisão dela e do namorado de morarem juntos, minha primeira reação foi:

– Despedida de solteira!

E a dela foi…

– Hum… Quantos dias?

Passamos trinta dias na Califórnia, alugamos um Mustang conversível, dirigimos de San Diego a San Francisco, entregamos o carro em Las Vegas, falimos em Bahamas e ambas confessamos que em vários momentos só o que queríamos eram poderes paranormais para nos teletransportar para nossas casas. Sabe quando alguém tem poucos graus de miopia, não usa óculos e esquece que ela aumenta com o tempo e a falta das lentes? Nossa viagem foi uma lente de três graus. Nos demos conta do passar do tempo, percebemos que não gostávamos mais das mesmas rotas e transformamos o silêncio em um terceiro passageiro.

Conclui muita coisa sobre viagens de carro na despedida de solteira da minha melhor amiga, mas as mais importantes foram:

1) Acertar a sintonia entre duas pessoas dentro de um carro é mais difícil do que atravessar o deserto de Nevada. A pé.
2) Respirar fundo. Três vezes. Principalmente quando começar a desejar que uma ilha ou alguém que você ama, desintegrem do planeta e reapareçam em Marte.
3) Sempre questione o seu GPS. Sempre.

Quando voltamos para o Brasil, quase aplaudimos o pouso do piloto no aeroporto de Guarulhos. Ela casou, eu me separei e nós duas só não nos separamos pelos bons milagres da amizade. Desde então, mesmo que seja de São Paulo a Praia Grande por uma única tarde, penso duas vezes sobre o caminho sugerido e a companhia escolhida. Sempre. Quer dizer… Quase sempre. Eu fiquei tão contente com o sim que ele me deu para aquela “viagem de uma hora pra outra” até Paraty, que realmente descartei qualquer possibilidade de algo dar errado. Além do mais, quando o GPS disse para seguirmos em frente e virarmos a direita para a cidade de Cunha, alguma coisa soou na minha cabeça… Cunha… Paraty…Virar a direita… Esse baton não tá legal… Beleza! Conheço o caminho. Não tem o que dar errado.

Não pensei em mais nada, muito menos depois de encontrá-lo em Jacareí. Esqueço da vida, ao viver a vida… Você deve saber como é. E foi estranho imaginar que o tempo passa e as pessoas realmente mudam. Estranho pensar que hoje em dia tenho mais afinidades com ele do que com uma amiga que me viu crescer e existir em tantas fases. Não é fácil acertar a sintonia das relações… As vezes a gente fala de mais, as vezes de menos. As vezes a música completa, alegra, distrai. As vezes ela atrapalha, confunde ou se faz necessária. Pessoas que conhecemos há anos se tornam completas desconhecidas da noite para o dia e, outras, que acabaram de chegar, parecem saber quem somos há trezentos anos. É estranho, mas curiosamente me parece bom…

E no banco ao lado, aos olhos dele…

Prosseguimos viagem com o excelente proseio de sempre. Acho absolutamente incrível como a gente consegue ter assunto o tempo todo, todo o tempo. Normalmente nossas conversas fluem naturalmente por horas a fio… Fizemos uma providencial parada para um café e esticar as pernas. Na altura da cidade de Aparecida, viramos à direita, rumo à segunda estrela e seguimos em frente até o amanhecer…

Mas eis que o amanhecer mal havia chegado e estava pronto para nos pegar muito cansados – e bem quando chegávamos em Cunha, depois de uma excelente estrada com um ótimo asfalto (e, deveríamos ter percebido, bem pouco trânsito). Concluímos que, faltando apenas cerca de 30 quilômetros para chegar, seria uma boa idéia descansar em algum hotel ou pousada em Cunha mesmo – até porque, por conta da FLIP, todas as pousadas DO MUNDO em Paraty deveriam estar lotadas. É lógico que rodamos aquela cidade deserta, às cinco e meia da manhã, e não nos deparamos com viv’alma. O único hotel facilmente encontrável era, na realidade, uma pousada.

E nada de ninguém atender a campainha – ainda que insistentemente tocada. Pô! Custava terem atendido? Só porque nem sequer os galos ainda tinham se aventurado para seu canto matinal? Bem, sendo assim, resolvemos então prosseguir viagem, até porque a parada e o frio intenso do lado de fora do carro serviu para despertar do cansaço. Ou seja, em última análise, tocamos a campainha e saímos correndo, tal qual velho costume de criança…

Continua… Um pouquinho de , misturado com o pouquinho de cá.



Postado por:Alê Félix
20/07/2011
2 Comentários
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*margaridanegra*

julho 20th, 2011 às 12:29

i’m sitting waiting wishing…
😉


[…] lá quanto cá, essa história ainda […]


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