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Eu devia ter uns quinze anos e estava completamente apaixonada por um punk vestido de roupinhas pontiagudas e cabelo de índio de cinema. Homens… Sempre me ferrei! Não reparem, ando triste com a espécie. É possível que eu fale mal deles nos próximos posts. Bem mal, tá?
Mas então… Aquele aborígene só precisava de um bom banho, máquina dois, vergonha na cara e da Super Nani. Mas, na falta dessas coisas, decidiu se converter ao movimento punk e parar de me ver.
Problemática que sou, achei logo que a culpa era minha, que eu devia ter feito algo errado ou dito alguma bobagem que ele não gostou. Fui procurar o cidadão e o encontrei cercado de uma tribo. Me viu, virou de lado, continuou conversando, fingiu que não me conhecia. Voltei chorando pra casa, escrevi uma carta e joguei por cima do portão. Ele não respondeu… E passou um dia, dois, três, quatro… e eu nunca suportei ver o silêncio e o tempo agindo sozinhos.
Fui até o guarda-roupa, peguei uma calça jeans, tesoura e minha única camiseta preta. Rasguei e desfiei tudo. Vesti, olhei no espelho e achei que ainda faltava algo… Doeu, levou alguns minutos, mas passei a tesoura na cabeleira longa e deixei um pouco abaixo das orelhas. Tentei arrepiar com gel, não ficava… Liso demais. Tentei de tudo e o tempo só passando, passando, quando… “Vou colori-lo!”. Eu devia ter pensado num jeito decente de fazer isso, mas usei guache e cola tenaz. No final da história eu parecia mais um trabalho escolar do que uma adolescente rebelde, mas fui pra rua mesmo assim.
Até hoje acho que muitos vizinhos não me reconheceram porque, mesmo aqueles que me conheciam, desviavam a cabeça. Não liguei. Segui até a casa dele, ninguém atendeu, fui até o local onde a tribo se reunia e…
– O que você fez!?
Morri de vergonha. Ele parecia perplexo, os amigos riram…
– Fiz você falar comigo.
Depois disso, lembro que a gente brigou, ele disse que se afastou porque eu merecia coisa melhor, porque ele não era bom o suficiente, porque eu tinha futuro, precisava de um cara certinho e blá, blá, blá… O convenci de que eu era tão imprestável quanto ele e namoramos mais alguns meses com a condição de que ele ia ter que engolir uma namorada com roupas inteiras e cabelos penteados e que eu me esforçaria para não dizer aos amigos dele que o que eles precisavam era de chineladas paternas.
Foi uma das melhores épocas da minha vida. Hoje em dia ele é dono de uma softhouse no Canadá, maridão de uma moça linda e cabeluda, pai de duas meninas encantadoras… Sempre foi um cara certinho.
Nós? Falamos por e-mail sempre que é dia da árvore… É sério! O guache e a cola do cabelo não saiam de jeito nenhum, virou uma lambança, usei até água raz batida com babosa e óleo de amendoa, mas nada fez ele voltar ao normal. Quando me dava conta do estrago, eu chorava e ele dizia que cabelos eram como árvores… Foi o suficiente pra elegermos uma data especial, mantermos o carinho, lembrarmos das maluquices da adolescência e do cabelo bom que um dia eu tive.
Falando em cabelos, o que você acha de passar 5 dias num Spa do hotel Hyatt?



Postado por:Alê Félix
08/11/2007
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